História Eu sou a Pierrot - Sonho e Palhaço

Estava em um ambiente totalmente escuro. E não via nada. Até que um holofote se ascendeu distante, iluminando meu rosto. Pude ver algo parecido com um teatro. Então uma garota caiu no chão. Ela usava um vestido parecido com o da minha Marionete, mas não usava coroa. Cheguei mais perto quando notei ela se mexer. Então percebi que estava com linhas de linho em minhas mãos, como se fosse uma forma de controlar aquela pessoa. Tentei levantá-la e inexplicavelmente ela levantou. Uma luz do "palco" onde eu estava se ascendeu em cima dela. Vi a menina com pele pálida, olhos fechados, vestido vermelho mas estavam rasgados nos lugares onde as cordas passavam. Vi a corda puxando sua pele enquanto segurava para que ela manter-se de pé e saia sangue onde essas cordas passavam. Inclusive no alto na cabeça. Soltei as cordas imediatamente e corri para abraça-la. Enquanto a abraça, tentava estancar o sangue com minha roupas e fazê-la acordar, mas ela não acordava. Outra linha apareceu em minha mão. Eu a ergui e tentei encontrar onde estava a outra marionete. Encontrei, parecia a minha marionete palhaço. Apesar de essa pessoa estar toda machucada assim como a outra, estava com uma mascara que me fez rir instantaneamente e não conseguia parar. Esta marionete se mexeu virando a cabeça para o lado. Cada movimento que o palhaço fazia eu ria cada vez mais.

Acordei em seguida. Meu quarto já estava clareado pelo sol. Esfreguei os olhos tentando esquecer o que havia sonhado. Bom, eu sempre acreditei em sonhos. Acho que devo começar a procurar essas marionetes o quanto antes pra "cortar as cordas". Levantei da cama e caminhei até a mesa onde o palco das marionetes estava. Deitei minha cabeça na mesa e olhei para os bonecos inanimados.

Por quê eu? Como essa brincadeira atinge as pessoas que esses bonecos representam? Como cortar? É uma maldição? Preciso ter certeza disso antes de fazer qualquer coisa. Sei que se parar de movê-los posso morrer...  Então talvez simplesmente cortar não seja a melhor opção. 

Olhei para os rostos da princesa e do palhaço a pensar em como encontrá-los...

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Bip-bip! Bip-bip! Bib-bib!...

Abri os olhos com dificuldade e tristeza. Mais um dia chato e depressivo, pensei. Sou Deise Hatsune, tenho 20 anos e sofro de depressão. O motivo? Minha vida é um inferno que se resume a risos sem fim. Meio contraditório não acha?

Mas é exatamente isso. Ja faz uns 5 anos mais ou menos que tudo isso começou. Acordei em um dia com dor nas articulações e membros como se estivessem cordas amarradas a eles. Saí para ir à escola naquele dia e enquanto passava na rua, todos ao meu redor iam rindo de mim, baixinho ou alto, discretos ou indiscretos. Na escola, qualquer coisa que falasse era motivo de gargalhada. Comecei a me cuidar mais pensando que fosse minha aparência mas nada mudou. Além disso comecei a tombar, derrubar coisas e cair quase que frequentemente, o que dava ainda mais motivos de risada. Ninguém me levava mais a sério e minha depressão foi crescendo. Saí de casa pra me isolar dessas pessoas mas não adiantou, logo tive que começar a trabalhar mas fui despedida por fazerem todos rirem. 

Quando cheguei à sala, vi um panfleto que não estava lá antes. 

" Problemas de auto-estima? Venha fazer aulas de teatro conosco! Rua Pi 63"

Teatro é? Hum... Por que não? 

Eis que a cena surge em meu pensamento: qualquer movimento fará os outros alunos rirem, inclusive a professora. Acho que não deveria fazer... 

Olhei novamente o panfleto e dei de ombros. Não tenho nada a perder mesmo... Afinal é só um teatro bobo.

Abri a porta, coloquei os fones de ouvido e com o panfleto na mão fui andando em direção ao teatro...