Como mágica, no momento em que termino de sair do banho ouço a campainha tocar. Eu havia chegado da escola havia algum tempo, e o relógio ainda marcava 2:25. Para quem combinou de vir às três, posso concluir que Harry sofria de um leve grau de ansiedade para encontros.
Eu já tinha tudo em mente. Ou quase tudo. Pra ser sincera, eu falei a primeira coisa a qual passou pela minha mente criativa naquele momento, e agora precisava agir como quem tinha tudo sob controle. Eu só precisava pensar em algum lugar de última hora para cumprir meus objetivos. Além de ter uma ótima desculpa para ficar à sós com Harry, sem Liam ou Alicia, coisa que andava meio difícil nas últimas semanas.
– Mel? – ouço minha mãe me chamar ao abrir a porta do meu quarto.
– Hm? – respondo sem olhar para ela.
– Acho que você tem visitas.
Eu continuava concentrada em ajustar a lente da minha câmera.
– Manda o Harry entrar.
Minha mãe sorriu de modo discreto e saiu, dizendo alguma coisa a qual eu não consegui decifrar. A porta só foi aberta novamente depois de alguns minutos, e eu, como estava muito ocupada ajustando a Canon em minha mão, não percebi quanto tempo ele ficou parado ali na porta, apenas me observando. Talvez alguns segundos.
– Oi. – disse por fim.
– Oi, Harry. – me levanto da poltrona, colocando a câmera no meu pescoço – O que está fazendo aqui tão cedo?
Seus olhos dão uma passada pelo cômodo e depois ele dá de ombros como quem não quer nada.
– Sei lá. Estava passando aqui perto e resolvi chegar um pouco mais cedo para te ver. – ele diz vindo em minha direção. Harry dá uma rápida olhada para a porta, verificando se estávamos sozinhos, para depois segurar meu rosto com as mãos e me dar um demorado selinho.
Eu definitivamente ainda não me acostumei com isso. Na verdade, eu nem pensei muito sobre o que essa nossa pequena decisão de “aproveitar momentos” iria significar daqui para frente. Até porque tudo permanecia apenas entre nós dois. Ainda continuávamos amigos? Amigos coloridos? Ou estávamos na fase de apenas “ficar”? Se um dia chegarmos a contar para alguém, eles nos classificaram como “namorados”?
Não. Mil vezes não.
– Harry, você mora no Upper East Side. É do outro lado de Manhattan.
A atenção de Harry é tomada pelo mural que eu possuo na parede ao lado da minha cama.
– E daí? – ele indaga. Nisso, seu olhar para em uma foto em específico no mural, a qual eu estava vestida de líder de torcida – Espera, você é líder de torcida?
– E daí que um ser humano normal não sairia do outro lado da cidade para vir para cá apenas “por acaso”. – cruzo os braços e encaro a foto em discussão – Era. Até o ano passado. E não ouse tirar essa foto daí.
– Líderes de torcida são legais. – ele pega a foto nas mãos ignorando totalmente o que eu havia dito. Na foto, eu estava com o uniforme das líderes de torcida da escola e pompons nas mãos – Por que deixou de ser uma? E sobre vir aqui, ok, eu admito, estava curioso para saber o que você estava preparando.
– Mais conhecido como ansiedade. – eu brinco, voltando a me sentar na poltrona e desistindo de tentar impedi-lo de bisbilhotar as fotos alheias – E não sei. – me refiro a sua pergunta sobre não ser mais uma líder de torcida – Acho que ficar reproduzindo dancinhas coreografadas e torcendo por alguns jogadores de futebol americano deixou de ser minha praia. Além disso, a Hailey está muito feliz ocupando muito bem o meu lugar.
– Hailey? A menina da boate?
– Ela mesma.
Harry coça a cabeça e finge pensar.
– Hmm, cabelo escuro?
– Aham.
– Chata?
– Um pouquinho.
– Que te deixou com ciúmes?
– Eu não fiquei com ciúmes dela.
Harry para de falar e me lança um sorriso sacana.
– Harry, pare de tentar colocar rivalidade onde não tem.
– Não é o que parece. E não parece ser desse modo que ela pensa. Não é você quem diz que “rivalidade feminina é ridículo”?
– Rivalidade feminina é ridículo. Espera, andou olhando o meu Facebook?
– Talvez. – ele admite e eu lanço-lhe um olhar cortante – Vocês já brigaram? Ou alguma coisa do tipo? Ela age como se você fosse a pessoa mais desprezível do mundo e deixa isso bem claro para quem quiser ouvir.
Eu balanço a cabeça, olhando para os meus pés.
– Não. Digo... Eu não sei. Pelo menos não que eu me lembre. – digo com sinceridade. Harry me olhava atento – Eu só sei que desde a sua chegada em nossa escola, nunca trocamos mais que meia dúzia de palavras. É como se ela tivesse chegado e escolhido uma pessoa aleatória para odiar, porque não há motivo plausível para tudo isso. – dou de ombros – De uma hora para a outra ela começou a me olhar feio e a querer as coisas que eu possuía. Minha mochila, meus brinquedos e até as minhas notas. Era estranho, porém éramos apenas crianças, então eu não dava muita bola. Mas hoje em dia percebo que ela continua me vendo como um obstáculo.
– Você já tentou conversar com ela? Saber seus motivos? – Harry indaga.
– Sempre que eu tentava sorrir ou ser legal, ela automaticamente se afastava. – explico, enquanto me recordava de quando tínhamos doze anos de idade – Alicia diz que é inveja, mas eu não acredito. Deve ter algum motivo melhor do apenas inveja.
Harry deve ter percebido o quanto falar sobre aquilo me deixava chateada, pois sua expressão muda e ele dá um grande sorriso com covinhas para mim:
– Ok, vamos parar de falar sobre isso. Aliás, srta. Kingston, por que eu estou aqui mesmo? – ele indaga mudando de assunto, mexendo em algo na sua mochila preta.
– Bem, nós...
De sua mochila ele tira uma câmera Canon parecida com a minha, só que em um modelo bem mais novo. Minha boca se abre em surpresa.
– Harry, seu riquinho de merda. – eu digo, pegando o aparelho nas mãos e admirando-o. Ele dá risada – Olha pra isso. Deve ter custado uma fortuna.
Harry dá de ombros e sorri.
– Prometo que deixo você se divertir com o meu brinquedinho mais tarde.
Eu raciocino o que ele acaba de falar e pisco freneticamente. Ok, isso tinha um duplo sentido.
– HARRY! – eu grito e ele arregala os olhos, entendendo o que eu quis dizer.
– Melissa... Você tem a merda de uma mente suja! – ele dá risada e eu escondo o rosto com as mãos – Por Deus, eu sou um cavalheiro! Eu estava falando disso! – ele aponta para a sua câmera, parecendo tão constrangido quanto eu por ter pensado esse tipo de coisa – Mas enfim, agora me diz que não vamos precisar de câmeras e vamos ficar aqui no seu quarto o dia inteiro? Eu posso te dar vários beijos em troca, se é isso que você quer.
Eu e minha boca grande.
Eu coloco a mão no peito, fingindo surpresa por sua ousadia. Por dentro, não deixei de considerar essa proposta tentadora.
– Desculpe Styles, mas isso terá que ficar para a próxima. – seus olhos se acendem maliciosamente como se dissessem “então vai ter próxima?”. Eu o ignoro – Temos muito o que fazer hoje. Vem, eu já chamei um táxi. – pego em sua mão é arrasto-o para fora do meu apartamento – Vamos dar uma voltinha por Nova York, baby. De novo.
Harry me olha um pouco confuso, mas não hesita nem um segundo em me seguir.
[...]
– Central Park? Sério? – Harry pergunta logo após sairmos do táxi.
Eu havia dito o destino para o motorista sem dizer especificamente o nome do lugar, alegando a Harry que era uma surpresa. Ele não conhecia muita coisa da cidade como eu conhecia. Tudo bem que eu pensei no Central Park dez minutos antes de sairmos, mas isso era detalhe. O que importava era que estávamos em frente ao parque mais famoso de Manhattan.
– Por que não me disse antes? Eu moro a algumas quadras daqui. Você me fez atravessar a cidade para depois voltar para cá? – Harry continua a tagarelar sobre a minha escolha de lugar.
– Harry, para de reclamar e vamos logo. – o puxo pelo braço, adentrando o lugar. – Vir ao Central Park nunca é demais.
– O que viemos fazer aqui, afinal? Melissa, eu estou ficando curioso. – ele praticamente implora – Por que não me conta o porquê de estarmos aqui?
– Não está óbvio? – aponto para as câmeras penduradas em nossos pescoços.
– É, eu já percebi que vamos fotografar. Seja lá o quê. – dá de ombros – Mas você é Melissa Kingston e não faz nada por acaso. Com certeza há um motivo muito mais complexo nessa sua cabeça.
Eu reviro os olhos com o pensamento de Harry já me conhecer extremamente bem e saber exatamente como a minha cabeça funciona.
– Tudo bem, eu quero te mostrar a cidade de um jeito diferente. O meu jeito de ver a cidade. – explico, sendo o mais sincera possível. Antes de eu continuar a minha explicação, uma borboleta azul passa perto do meu rosto e eu não hesito em apertar o clique da câmera rapidamente – Viu? Quero te mostrar os pequenos detalhes.
– Você está sendo o que eu fui para você em Paris? – ele pergunta.
– Como assim?
– Uma guia-particular. Já fomos na 5th Avenida, no Empire State Building, na melhor boate da cidade, e agora no Central Park. É quase um tour. E sério, considerando a minha afeição por viagens, eu estou gostando bastante de conhecer tudo com você.
Eu rio.
– Se é assim que prefere chamar. Tudo bem. Eu acho justo.
Nós andamos em silêncio por um tempo, apenas admirando o que estava ao nosso redor. Árvores tão grandes e de folhas verdes vibrantes, estátuas, pequenos lagos, e claro, a quantidade absurda de pessoas que passava por aquele lugar diariamente. Não era à toa, o lugar era lindo. Eu mesma não perdia uma oportunidade de visitá-lo.
Certo momento, eu paro em frente a uma árvore e encaro o rosto de Harry, que provavelmente se perguntava o porquê de termos parado ali.
– Harry, olhe para frente. – aponto – O que você vê?
Ele franze o cenho antes de responder.
– Uma árvore. – diz como se aquilo fosse óbvio.
– Sim, é uma árvore. Mas... – me aproximo de um dos galhos da mesma – Se você olhar bem, vai ver que há muito mais por trás disso.
Ele também se aproxima e olha para a mesma direção que eu. Eu me referia a um casal de pássaros que havia feito um ninho ali. E no ninho, havia filhotes de passarinhos. Sem flash e sem assustar os animais, eu capto uma foto daquela cena. Harry faz o mesmo, sorrindo encantado pela nossa pequena descoberta.
Eu sempre dizia a ele sobre sermos especiais por nós mesmos e que deveríamos enxergar além do óbvio, coisas desse tipo. A diferença é que agora eu estava mostrando na prática, e estava dando certo. Mostrei a ele alguns lugares bons para fotos, como a Bow Bridge, onde tiramos foto do grande lago e da paisagem que o acompanhava. Também o Sheep Meadow, o melhor lugar se você quiser fazer um piquenique por ali.
Harry sorria e tirava fotos de tudo o que lhe interessava. Inclusive de mim. Mesmo com os meus protestos para parar de tirar fotos minhas e se concentrar na verdadeira paisagem, Harry sempre se aproveitava de momentos meus de distração para apertar o clique e me pegar desprevenida. Certo momento, eu me lembro de algo que com certeza Harry ia gostar de ver.
– Aonde nós vamos? Você vai ficar me puxando para todo lado, agora? – ele brinca.
– Um lugar que você vai gostar muito!
Tivemos que andar um pouco para chegarmos ao nosso destino, considerando que aquele lugar era enorme. Mas quando chegamos, pela sua expressão, Harry havia reconhecido o lugar na hora.
– Harry, bem-vindo ao Strawberry Fields! (1)
Harry estava encantado. E não era apenas encantado, do jeito que ficou quando descobriu o ninho de passarinhos, mas um encantado do tipo “meu Deus, isso é incrível”. A cena estava se repetindo, só que do jeito reverso. Eu também fiquei assim quando Harry me mostrou o Louvre e, principalmente, a Mona Lisa.
O Strawberry Fields é o lugar no Central Park que qualquer fã dos Beatles gostaria de conhecer. É um grande mosaico no chão, em branco e preto, com a palavra “Imagine” ao centro. Era uma homenagem à morte de John Lennon, já que estava direcionado para o edíficio onde ele morava e também onde fora assassinado. “Strawberry Fields” fazia referência à música dos Beatles “Strawberry Fields Forever”.
– Melissa... Você... Meu Deus! – ele exclama, rindo – Você tem noção do quanto estar aqui é emocionante?
– Sim. Foi por esse motivo que achei que iria gostar. – sorrio de volta.
Harry ficou admirando aquilo por um bom tempo, não perdendo a oportunidade de tirar algumas fotos.
A melhor parte de andar por aquela parte, eram os músicos. Não era difícil encontrar pessoas com um violão tentando mostrar o seu trabalho para os visitantes do dia.
Eu estava andando distraída, quando sinto as mãos de Harry puxando a minha cintura e colando nossos lábios ali mesmo, no meio de todo mundo, sem mais nem menos. Beijar-me em público fazia oficialmente parte do vocabulário daquele garoto, disso eu tinha completa certeza. Um beijo doce e terno, tão acolhedor como uma cama quente. Seus braços me envolviam como se quisesse me proteger de tudo o que estava ao redor. Eu abraçava sua nuca correspondendo totalmente ao seu ato.
Só nos afastamos quando ouvimos algumas palmas e uma música invadir nossos ouvidos. Era um dos músicos de rua, cantando especialmente para nós, fazendo algumas pessoas pararem para observar-nos. Eu podia sentir o meu rosto ferver por toda aquela exposição, mas não deixei de rir nervosamente com a situação. Harry era pessoa mais descontraída que eu conhecia. Como ele conseguia não ficar com vergonha e agir normalmente depois desse beijo digno de filme de Hollywood em pleno Central Park?
E não para por aí. Harry se aproxima do músico e cochicha algo em seu ouvido. Logo depois, o homem lhe entrega o seu violão com um sorriso de lado. O que diabos ele estava fazendo agora?
Ele segura o violão e dedilha algumas notas. Espera, desde quando ele tocava violão? Seria essa mais uma de suas mil e uma qualidades? Quando ele adiciona voz às notas musicais, eu não consegui fazer nada a não ser o observar ainda boquiaberta.
“Now you're standing there right in front of me
(Agora você está aqui bem na minha frente)
I hold on, it's getting harder to breathe
(Eu me seguro, está ficando difícil respirar)
[...]
I saw in the corner, there was a photograph
(Eu vi na esquina, há uma fotografia)
No doubt in my mind, it's a picture of you
(Sem dúvida na minha mente, é uma foto sua)
It lies there alone in its bed of broken glass
(Ela está aqui sozinha na sua cama de vidro quebrado)
This bed was never made for two
(Esta cama nunca foi feita para dois)
Don’t let me go.”
(Não me deixe ir embora)
(Don’t Let Me Go – One Direction)
Quando eu digo que Harry Edward Styles é uma caixinha de surpresas, eu falo sério. Completamente, definitivamente, absolutamente... sério. Harry olhava fundo em meus olhos enquanto cantava aquela canção tão bonita, mesmo eu nunca tendo a ouvido. Sua voz rouca e de sotaque carregado combinava direitinho com a canção. Deus, ele estava praticamente fazendo o que as pessoas chamam de “serenata”. A diferença é que ele não jogou pedrinhas na minha janela à noite.
Eu tentava dividir minha atenção entre a canção de Harry e o próprio Harry. Ele era tão bonito. Eu nunca havia visto suas esmeraldas verdes brilharem tanto igual agora. Seus cabelos longos e encaracolados estavam de um jeito bagunçado, e três dos botões de sua camisa estavam abertos como de costume, deixando um pouco de suas tatuagens à mostra. Seus lábios avermelhados se moviam de um jeito fofo, e ele não parava de sorrir para mim. Por que é que eu estou pensando essas coisas? Harry Edward Styles está mesmo cantando para mim, ou eu estou enlouquecendo?
Uma salva de palmas invadiu o ambiente. Harry e eu estávamos cercados de pessoas, todas batendo palmas e falando coisas do tipo “eles são tão fofos”. Ele faz uma reverência e devolve o violão ao músico ao seu lado, que acabou ganhando um bom dinheiro por causa da apresentação de Harry. Este, claro, negou com todas as forças ficar com o dinheiro que o músico lhe oferecia, dizendo que não seria justo.
O músico nos agradeceu por fazer de seu “show de rua” um sucesso, e depois disso eu e Harry andamos lado a lado em direção à saída do parque. Achei a atitude dele com o moço digna do príncipe que era. Acabamos parando e sentando no pé de uma árvore no meio do caminho.
– De todas as coisas que eu desejava fazer um dia, alguém cantar para mim era uma delas. – digo aleatoriamente, ainda não acreditando no que havia acabado de acontecer.
Harry sorri e me puxa para mais perto.
– Você gostou?
– Harry... – eu dizia, com a voz falhando um pouco – Aquilo foi incrível! Desde quando você toca violão? Aliás, desde quando você canta? – eu estava quase dando gritinhos de alegria.
Ele apenas dá de ombros.
– As aulas de música três vezes por semana tinham de servir para alguma coisa.
Eu balanço a cabeça. Esse garoto era inacreditável.
– Por que eu? – eu pergunto.
Harry franze o cenho, confuso.
– Como assim?
– Por que está sendo tão legal comigo? Eu digo, por que você me escolheu?
A minha pergunta era totalmente estranha, sem sentido e um pouco insegura. Mas isso estava entalado na minha garganta e eu precisava perguntar. Por que eu? A garota americana normal? Por que um príncipe faria tudo isso por mim? Isso era tão confuso quanto fórmulas de física.
– Por que está me perguntando isso agora? – ele diz, sem deixar de sorrir.
– Só me responda.
Harry não pensou muito para responder.
– Eu não te escolhi, Melissa. Foi você quem me escolheu no momento em que pediu para eu tirar aquela foto. – diz – Se há um culpado por eu estar agindo agora como um bobo apaixonado, a culpada é você desde o começo.
Não era essa a resposta a qual eu esperava. Mas eu não podia negar que Harry tinha um incrível dom com as palavras. O meu coração batia a mil por hora e quase saltava pela boca, uma sensação estranha acompanhada de frio na barriga.
E eu era a culpada.
Se havia alguém que era a culpada por tudo isso estar acontecendo, esse alguém era eu. Porque eu o escolhi. Merda, eu não havia parado para pensar nisso.
– E por que eu? – Harry repete a minha pergunta, parecendo estar se divertindo com aquela conversa – Por que eu estou aqui com você? O real motivo?
Olho para ele e suspiro.
– Harry, deixa eu te contar uma coisa. Eu sempre gostei de colecionar fotos e isso é um fato. Fotos são pequenas memórias eternizadas em um papel. – eu repito o que eu havia lhe dito em nosso segundo dia na França – Mas há algum tempo eu percebi que não bastava apenas colecionar momentos em fotos. Também é preciso viver esses momentos, e é isso que eu estou fazendo. Estou colecionando momentos dos meus dois jeitos preferidos ao mesmo tempo.
– E aonde eu entro nisso?
– Você está comigo nas minhas melhores memórias. Seria justo você estar aqui participando desta também.
Ele pareceu suficientemente satisfeito com a resposta. Ficamos um tempo naquela mesma posição observando o pôr-do-sol alaranjado no céu, em um silêncio confortável. Observávamos as pessoas passeando com suas famílias, músicos com seus instrumentos e o céu escurecendo aos poucos. Olho para o lado discretamente e vejo nos olhos esverdeados de Harry um sentimento de calmaria e paz, e fico feliz por fazê-lo sentir-se assim. Eu não queria sair dali nunca mais, porém eu ainda era Melissa Kingston e tinha hora para chegar em casa em dias semanais.
– Acho que está na hora de irmos. – eu sussurro – Minha mãe deve ter me ligado pelo menos trinta e sete vezes. – aponto para o celular desligado em meu bolso.
Harry faz uma careta de decepcionado, mas acaba aceitando. Nós nos levantamos e pegamos nossas coisas para dirigirmo-nos à saída do Central Park. Andávamos lado a lado na calçada, ainda em silêncio, mas eu ainda podia sentir o leve sorriso em sua expressão. No entanto, levo um susto ao ver sua expressão ir de serena para assustada de um minuto para outro, e ele me puxar rapidamente para trás de um carro preto na rua. Seus olhos agora estavam arregalados, e ele respirava descompassadamente.
– Harry! O que houve?! – eu pergunto também assustada.
– Shh! Fale baixo! Ele não pode nos ver aqui. – ele sussurra, colocando o dedo indicador na minha boca – Eles... Eu... Deus, essa foi por pouco! – ele passa a mão no cabelo.
– Ele? Ele quem? Quer me falar o que está havendo? – digo em um tom um pouco mais baixo.
– Um segurança do meu pai. Aqui. – nessa hora fui eu que arregalei os olhos.
– O quê? Onde? – olho para os lados e Harry me puxa de volta.
– Eu acho que ele já foi embora. – Harry diz e levanta a cabeça lentamente – Temos que sair daqui o mais rápido possível.
– Harry, mas... O que eles fazem aqui? – indago confusa, enquanto observava Harry chamar um táxi – Digo, em Nova York?
Um táxi para a nossa disposição e Harry abre a porta para eu entrar, sendo seguida pelo mesmo.
– Há vários deles por aqui, ainda mais nessa parte da cidade. Meu pai não está aqui para me vigiar, mas tem quem faça isso por ele. Guardas do castelo são obrigados a fazer um juramento que consiste em obedecer meu pai a todo custo, e se isso for descumprido, você automaticamente é um fora da lei. – explica, olhando pela janela e conferindo se não havia mais nenhum – Eu fiz um acordo com meu pai, mas “quem garante que eu irei cumpri-lo”? – diz essa última frase com uma voz grossa, que eu suponho ser uma imitação de seu pai.
– E Liam? Ele é um guarda, não é? E ele não te impede de ficar perto de mim e nem de entrar em boates proibidas. Liam é um fora da lei?
Harry ri.
– Não, Liam está apenas em treinamento. – esclarece – Ele ainda não fez o juramento, então, tecnicamente, ele não está cometendo crime nenhum.
– Então ainda dá tempo de ele desistir, se quiser?
– Sim, se ele quiser. O que eu duvido. – admite, sorrindo – Liam quer seguir os passos do pai. Além disso, ele acredita que quando eu assumir o trono, o país terá um grande avanço. E ele quer estar lá oficialmente como um guarda quando isso acontecer.
Foi minha vez de sorrir e chegar mais perto dele. Harry passa seu braço em volta de mim e eu aconchego minha cabeça em seu ombro.
– Tenho certeza que você será um ótimo rei. – fecho os olhos e suspiro, sentindo o cheiro de perfume em seu pescoço.
– E o mais bonito. – ele completa.
– É, isso também. – eu rio.
– Você vai estar lá, não vai? – ele se vira para me encarar.
– Aonde?
– Na minha coroação.
– Harry, eu gostaria muito, mas... Você mora na Europa! Como você quer que eu vá pra lá? Por teletransporte ou aparantando? (2)
– Prometo que pego um pouco de pó de flu emprestado do Harry Potter para você. Peço para meus guardas virem te buscar, não sei. Mas você tem que estar lá.
Eu balanço a cabeça, não acreditando no que eu estava ouvindo. Harry era mesmo inacreditável! Ele queria que eu estivesse lá! Na sua coroação! Eu, Melissa Kingston!
– Esse não é o caminho para o seu apartamento. – eu comento, percebendo apenas agora que tínhamos saído do Upper East Side e estávamos quase em Midtown.
– Eu sei. Vou te deixar em casa primeiro. – diz naturalmente.
– Harry! – o repreendo – Por que pelo caminho mais complicado?
– Eu gosto de desafios. – dá um beijo calmo em minha testa, deixando a frase como um duplo sentido – Além do mais, quero dar aquele famoso beijo de despedida em encontros, digno de comédias-românticas. Sempre quis fazer isso.
– Aquele em que o mocinho beija a mocinha na porta de casa enquanto os pais dela espiam pela janela? – levanto uma sobrancelha.
– Exatamente. – balança a cabeça – Eu consegui te dar dois beijos dignos de filmes em apenas um dia, Melissa. Você deveria me agradecer.
– Ok. E que tal três? – sorrio de lado para ele, que não hesitou em sorrir maliciosamente e colar nossos lábios de novo. Mas dessa vez era dentro de um maldito táxi, à lá Chuck Bass e Blair Waldorf.
Harry estava certo, ele era realmente muito bom em dar beijos dignos de filmes. A única coisa que eu mais temia era quando esse filme acabasse.
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