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História Ex Nunc - Demônios do passado


Escrita por: Aoneko-Lee

Notas do Autor


Mais um capítulo dessa fic, acho que não demorou muito.
Obrigada pelos comentários e favoritos.. :3 fico muito feliz com isso.

Boa leitura

Capítulo 2 - Demônios do passado


Fanfic / Fanfiction Ex Nunc - Demônios do passado

As ruas estavam imundas ao extremo, repletas de sangue e destruição. Corpos se espalhavam por toda parte, seja de aliados ou inimigos, a tragédia era a mesma para os dois lados. Construções desmoronadas e em chamas chamavam mais a atenção do que a morte em si.

A Soul Society nunca estivera em tamanho caos em toda a sua história.

Ichigo caminhava com dificuldade, tentava desviar dos destroços espalhados pelo chão, mas mal podia se manter de pé. Sentiu um calafrio na espinha ao ouvir a voz mais uma vez.

“Está vendo o que você fez?”

— Eu não fiz isso, porra! — Ele gritou olhando para o céu, de onde aparentemente a voz vinha. — Foi você!

“Eu e você somos um, meu filho perdido.”

O corpo de Ichigo, já instável, oscilou por pouco não desabando no chão.

“Você queria isso, você fez isso acontecer.”

— Não é verdade… Eu não queria isso! — Ichigo gritou recebendo apenas o silêncio vindo dos céus. — Eu não fiz isso… Eu não queria… — Os joelhos cansados falharam levando o corpo ferido de encontro ao chão da rua de pedras em ruínas. — Eu não queria fazer isso… Estava tentando salvar a Soul Society… Me perdoe...

Ichigo sentou-se de uma vez abrindo os olhos para o quarto neutro e totalmente organizado em que agora vivia na mansão Kuchiki. Seu corpo estava encharcado de suor e seus olhos ardiam.

Ele passou a mão pelo rosto, secando-o e só então se dando conta que além do suor seu rosto estava molhado por lágrimas.

— Merda.

O ruivo ficou em pé alongando o corpo e sentindo dor em todos os membros ainda debilitados pela falta de uso. Passou a mão pelos cabelos ruivos se perguntando onde havia tomado banho no dia anterior, ainda estava perdido na mansão Kuchiki.

Ele abriu a porta do quarto a procura de um funcionário, observou o jardim envolto em escuridão, o sol estava longe de surgir no leste e não havia qualquer pessoa acordada naquela área.

Sentiu a brisa gelada tocar a pele umedecida pelo suor e a lembrança do sonho perturbador piscou em sua mente. Ele cobriu os olhos com as mãos, negando as cenas de crueldade que lhe surgiam. Cambaleou para trás até suas costas tocarem a parede. Semelhante ao seu pesadelo, ele se rendeu a gravidade escorrendo pelo apoio até estar sentado no chão de madeira.

Começou a jogar a parte de trás da cabeça contra a parede que o sustentava, em uma tentativa patética de afastar a memória e o latejar constante atrás de seus tímpanos.

Se xingou em pensamento por estar tão assustado com um pesadelo. Passou a respirar profundamente até sentir os batimentos cardíacos que pareciam um tiroteio dentro de seu crânio se normalizarem.

— Ichigo? — A voz contralto soou ao lado de seu braço esquerdo. — Tudo bem?

Ele se virou para Rukia que acabara de abrir a porta do próprio quarto e encarava o amigo preocupada. Certamente as pancadas auto infligidas do ruivo acordaram a garota.

— Tudo… Está tudo bem. — Murmurou encarando o jardim a sua frente.

— Aconteceu alguma coisa? — A morena encarava o corpo do amigo, ele estava tenso e com a pele brilhando com a luz da lua. Ela supôs corretamente que era suor.

— Não… Já disse que está tudo bem. — Ele se esforçava ao máximo para parecer firme na resposta.

Rukia estreitou os olhos para o perfil sério e não pensou duas vezes antes de agir. Com um baque surdo o peito do pé dela atingiu a orelha do ruivo e um som semelhante soou quando o corpo dele acertou rígido o chão de madeira frio.

— Idiota, pare de agir assim!

— Desgraçada… Quem tem que parar é você! O que tem na cabeça para me atacar assim? — Os gritos soaram mais alto do que deveriam no silêncio pacífico da mansão Kuchiki.

— Dá para calar a boca? Vai acabar acordando todos os funcionários e o nii-sama se continuar com essa gritaria!

— Deveria pensar nisso antes de me chutar na cara!

— Eu te chutei por dois motivos, primeiro: — Ela ergueu o dedo indicador enquanto colocava a mão esquerda na cintura. — Não sabe mentir e eu não aceito que minta para mim. — Ela ergueu o próximo dedo e fechou os olhos antes do desfecho da sentença. — Segundo: pare de agir como um covarde chorão. Se está com um problema resolva, não fique sozinho sentindo pena de si mesmo. Se não puder resolver, peça ajuda a um amigo. É para isso que eu estou aqui, idiota.

— Rukia… — Ichigo olhava incrédulo para a figura imponente de 144cm que permanecia em pé, agora com os braços cruzados o encarando. — Não sei o que tem de errado comigo. — Ele levou as mãos aos cabelos ruivos e passou a esfregar os dedos neles olhando para o chão.

A morena respirou profundamente e se sentou ao lado dele. Os dois olharam para o chão por alguns segundos antes de ela dar o diagnóstico.

— Não posso te ajudar sem mais informações.

— Eu tive um pesadelo, mas era verdade, eu sei que era uma lembrança.

— Com o que você sonhou? — Os olhos violetas/azuis, vasculhavam o rosto envolto em sombras do Kurosaki atrás de pistas.

— Com Yhwach, ele me mostrava coisas… Ele dizia que eu tinha feito essas coisas, eu negava, mas no fundo eu sei que fiz.

— Que coisas?

— A Soul Society, o Hueco Mundo e o mundo real destruídos por mim.

— Besteira, você nos salvou, nada foi destruído.

— É, mas na lembrança… Sonho, no sonho, eu destruía tudo e matava vocês.

— Só que isso não aconteceu, nós estamos vivos e você está vivo. Não pode ficar se atormentando com coisas que nem aconteceram.

Ichigo coçou a cabeça fechando os olhos, sabia que a amiga tinha razão. Mesmo assim se convencer disso estava sendo mais trabalhoso que o esperado.

— Certo… — Ele recolheu as pernas forçando o corpo para cima, ficando mais uma vez em pé. — Vou tentar dormir mais um pouco antes de amanhecer.

Ela se levantou percebendo que Ichigo estava mais calmo.

— Vou fazer isso também, diferente de você, tenho trabalho amanhã. — Disse dando um tapa no braço dele. — Oyasumi.

Ichigo acenou e retornou ao seu quarto. Deitado mais uma vez em seu futon ele tentou dormir, mas sempre que fechava os olhos as imagens das atrocidades que sabia não serem reais brincavam com sua mente.

O ruivo virou o corpo de lado socando o chão ao lado de seu leito e praguejando mentalmente por ser tão fraco em ceder às provocações de um cara que nem mais vivo estava.

No quarto ao lado uma morena se encontrava sentada no chão com as costas apoiadas na parede que a separava do ruivo. Impotente, Rukia abraçava os joelhos esperando que uma ideia milagrosa surgisse em sua mente para tirar Ichigo dessa aflição.

— O que eu faço com você, idiota? — Sussurrou retórica e fechou os olhos encostando a testa no joelho enquanto ouvia os grunhidos, quase de dor, vindo de trás da parede à suas costas.

-

Ichigo escutava sem dar atenção um monólogo de Rukia, que bajulava o irmão mais velho enquanto eles observavam os serviçais da mansão retirarem os restos do desjejum dos três.

— Kuchiki-san, os visitantes chegaram. — Falou um funcionário parado à porta da sala de jantar, interrompendo a fala da morena.

Sem pensar duas vezes Ichigo se colocou de pé seguindo pelo corredor de onde o homem viera. Pode ouvir a voz embargada pelo choro de Yuzu ainda no corredor, ele parou uns passos antes da porta ouvindo Karin repreender a caçula pelo drama.

O ruivo não queria parecer ansioso em vê-los, embora estivesse. Ficou uns instantes ouvindo os resmungos dos demais convidados quando sentiu um leve tapa em seu ombro.

Virou para encarar o pequeno ser de olhos azuis/violetas que lhe incentivava com o olhar a seguir em frente. Eles caminharam juntos até alcançar a porta de correr da grande sala pouco decorada em que os visitantes do mundo real aguardavam.

Ichigo arrastou a porta dando de cara com um grupo colorido e tão ansioso quanto ele. Yuzu foi a primeira a se fazer notada por ele, especialmente por estar chorando e quase se jogar no pescoço do irmão. Por pouco os Kurosakis não caíram sobre Rukia que observava a cena atrás do ruivo.

— Onii-san… Eu estou tão feliz… Tive tanto medo. — Choramingava a garotinha que parecia ter crescido uns cinco centímetros e engordado uns três quilos, ou,talvez Ichigo que estivesse mais fraco que o normal.

— Medo de quê? Eu estou aqui, tudo está bem.

— Sim… — Choramingou em resposta apertando os braços ao redor do pescoço dele.

— Ae, pare com isso, Yuzu. Assim você vai matar o Ichi-nii. — Reclamou a outra gêmea, tentando disfarçar a vontade de abraçar o irmão.

Ichigo colocou a menor no chão e caminhou até a irmã morena a abraçando. A garota tentou protestar, mas logo se rendeu e apertou com firmeza o corpo do ruivo.

Eles soltaram o enlace e Ichigo olhou para o pai que menos de um segundo depois se jogou sobre o primogênito, que por pouco não foi atingido por um chute no rosto.

— Quer me matar, velho? — Gritou Ichigo com Isshin que estava caído no chão sobre os destroços da parede que atravessara.

— Vejo que seus reflexos estão bons mesmo depois de dormir todo esse tempo, filhão. — O ex-capitão ergueu o polegar e piscou para garoto.

Revirando os olhos, Ichigo voltou a olhar para o resto do grupo que aguardava ansioso pela atenção do antigo colega de classe.

— Ishida, Inoue, Chad, é bom ver vocês. — Ele disse sorrindo para os companheiros.

A ruiva deu alguns passos em sua direção e quando pareceu que ia falar algo ela começou a chorar ainda mais alto que Yuzu e cambaleou até o amigo que da ultima vez que vira estava dormindo.

— K-Kurosaki-kun…. Eu… Eu… — Ela não conseguiu dizer mais nada, apenas ficou parada em frente ao ruivo olhando para baixo e se abraçando para conter os tremores involuntários causados pelo choro.

— Tudo bem, Inoue… Está tudo bem. — Ichigo não sabia exatamente o que fazer, então levou a mão a cabeça dela e deu algumas batidas de leve em apoio a ela.

Apesar de Ichigo não ver, as bochechas da garota se tingiram de cor-de-rosa esquentando consideravelmente.

— Me desculpe, Kurosaki-kun… — Ela ergueu o rosto secando as lágrimas. — Eu não queria chorar, mas achei que… Achei que… — Ela caiu no choro mais uma vez e sem se dar conta do que estava fazendo, projetou o corpo para frente acabando com a cabeça apoiada na clavícula dele.

Mais uma vez sem reação Ichigo pousou a mão na cabeça dela. Inoue se sentiu tão em casa encostada no corpo dele que não deu ouvidos a sua vergonha que gritava para que se afastasse imediatamente.

Localizado a direita de Sado, no fundo daquela sala, Uryuu ajeitou os óculos enquanto olhava para qualquer coisa em uma parede vazia. Rukia observou a expressão melancólica do moreno e, secretamente, compactou com ele.

A tenente, e todo o universo, sabiam dos sentimentos românticos de Orihime para com Ichigo. O que Rukia também suspeitava há um tempo e agora tinha certeza, era que Uryuu nutria emoção semelhante pela ruiva.

Talvez por apoio à Ishida, ou por qualquer outra falha emocional adquirida com o convívio com humanos, Rukia se sentia extremamente incomodada com a cena dos ruivos naquela sala e uma lembrança em especial voltava a atormentar sua mente.

Uryuu percebeu o olhar dela e retribuiu em concordância. Os dois morenos pareciam menos felizes que o resto das pessoas na sala.

Apesar de parecer uma eternidade, apenas alguns segundos haviam se passado quando Byakuya tocou o braço de Rukia a surpreendendo.

— Está na hora.

Ela olhou para dentro da sala, queria trocar algumas palavras com seus amigos do mundo real, mas seu irmão tinha razão. Sem mencionar que ela não fazia parte do que estava acontecendo naquela sala, não se encaixava entre os vivos.

— Hai, nii-sama.

Como um estalo, Orihime se deu conta de onde estava e, apesar do cheiro que tanto amava a atordoar, ela se forçou a se afastar do peito de Ichigo.

— Me desculpe, Kurosaki-kun… — Ela falou se sacudindo, corada e tentando rir para esconder seu constrangimento. — Não sei o que deu em mim. Acho que não estou bem da cabeça hoje.

— Não tem problema, Inoue. — Ichigo disse para confortar a colega, mas no fundo a atitude tinha causado certo desconforto nele. Nunca tivera qualquer intimidade com a ruiva e estava confuso sobre o que tinha acontecido ali. Ele olhou em volta imediatamente dando falta de alguém. — Onde Rukia foi?

— Kuchiki-san estava aqui? — Questionou Orihime que secava o rosto ainda rubro.

— Sim, estava bem atrás de mim. — Falou o Kurosaki coçando a cabeça e olhando confuso para a porta vazia.

— Ela saiu, Kurosaki. — Respondeu o quincy ajeitando os óculos e jogando um olhar significativo ao amigo shinigami. Infelizmente Ichigo não compreendeu a intenção do moreno.

-

Já passava do horário de almoço, mas Rukia não sentia qualquer vontade de comer ou descansar. Esteve tentando focar sua mente no trabalho durante toda a manhã, mas sua cabeça fazia questão de viajar a todo momento.

Provavelmente, rever os amigos e o reencontro, mais do que dramático de Inoue e Ichigo, despertaram memórias que a morena preferia esquecer.

-

Rukia chegava do trabalho cansada, mais uma vez muito depois do horário normal. Seu bantai estava um caos depois da guerra e a crise era agravada por estarem sem um capitão.

Mesmo assim ela não foi comer ou deitar. Caminhou, como fazia todas as noites, até o quarto ao lado do seu e levou a mão ao puxador da porta de correr. Parou antes de concluir o movimento ao ouvir a voz da amiga vindo lá de dentro.

— … então depois a Matsumoto-san me mostrou uma loja onde vendem kimonos lindos. — Falou a ruiva. Não era surpresa ela estar com o ruivo, mas normalmente nesse horário Orihime não estaria mais tentando curar Ichigo. — Eu comprei um rosa, te mostraria, mas acho que não faria diferença. — Ela soltou uma risada triste. — Quando você vai acordar? — A voz dela começou a tremer, Rukia sabia que estava chorando. — Kurosaki-kun, por favor volte. — Ela chorava alto nesse momento, a morena abriu uma brecha na porta, mas Inoue não notou. — Eu disse a mim mesma que esperaria você estar pronto, mas… Mas acho que isso não vai acontecer, não é? — Rukia pode ver ela se curvar sobre ele enquanto pousava a mão esquerda em seu rosto. — Ao menos uma vez eu gostaria de sentir…

Os olhos violetas/azuis se arregalaram vendo os lábios da ruiva tocarem superficialmente aos do garoto adormecido. Com o peito esmagado por uma das piores sensações que já sentiu, Rukia saiu sem ser notada de lá.

Correu. Correu o máximo que pode sem um destino em mente, apenas queria sair dali.

Parou na guarita que dava entrada à mansão. Não era capaz de identificar o sentimento que lhe corroía, mas era ruim. Se deu conta da crescente raiva pela amiga que estava para explodir em sua garganta.

Mas que direito ela tinha de sentir isso? Ela não podia proibir a Orihime de beijar Ichigo, nem tinha uma razão para isso ou para a raiva que sentia.

Respirou profundamente antes de caminhar lentamente para seu quarto. Não importa o que sentisse, sufocaria tudo no mais profundo de sua alma e continuaria amando sua amiga como sempre fez.

-

Foi desperta da lembrança dolorosa por Renji, que caminhava pelo mesmo corredor que ela. O tenente que deveria estar voltando de seu horário de almoço a encarou por alguns instantes, então curvou sua cabeça escondendo a tristeza evidente em seu rosto e seguiu andando para longe da amiga. 


Notas Finais


A Orihime NÃO será vilã nessa fic, talvez tenha passado essa impressão, mas não odeiem ela, pelo menos não nessa fic. ‘-‘

Obrigada por lerem, até a próxima. :3 Provavelmente posto em menos de uma semana.


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