Não deixei que me beijasse novamente, por mais que fosse uma tentação ter seus lábios se aproximando tão perigosamente para colar nos meus. Segundo Rousseau, não sendo tão preciso com as palavras, o filósofo afirmava que tínhamos o direito à individualidade. Jiwon tinha que ficar longe para que eu mantivesse a sanidade, era seleção natural e eu estava envolvendo biologia com filosofia... Argh, nervosismo, admito sem voltar atrás. E quanto mais eu me afastava, os pés do hyung me seguiam; um passo meu para trás, um passo dele para frente. Parecíamos brincar até que o fim do corredor chegou e minhas costas bateram na parede de cor caramelo desbotado. O choque me fez soltar um gemido de surpresa e os lábios do mais velho se arquearam num sorriso maléfico. Céus, estávamos numa sessão não distante ao balcão inicial e tanta gente rodeava ali, o que elas pensariam ao nos ver daquela forma?!
— Jiwon, eu disse que seria a última vez. Só arrumei um método automático para te calar. — Ele comprimiu os beiços um no outro como uma clara maneira de dizer que incomodado havia ficado, entretanto, logo fez bico.
— Não me chame de Jiwon, é um nome de velho! — Eu gostava de seu nome, ele combinava bem com a minha voz, mas se o dono não apreciava, quem era eu para protestar algo? — Então era essa a sensação do "calar a boca com um beijo"? — Perguntou se esquivando um bocado, descansando seu quadril na bancada de Harry Potter e isso me deu um espaço para respirar direito. Aspira, seleção natural, respira, seleção natural. Calar a boca com um beijo era minha primeira experiência, e pela reação de outrem, também a dele. Era um formigamento que começava da garganta e subia por sua pele até chegar as carnes da boca, as deixando vermelhinhas, e essa onda continuava seu caminho até o músculo da língua, incitando-a a tomar decisões, a tomar iniciativas. Se eu pudesse colocar toda a culpa de nosso beijo em alguém ou em alguma coisa, eu colocaria em minha boca, pois ela não agiu de acordo com meus sentidos, ela foi lá sozinha fazer um belo dum trabalho em desarmar Jiwon... Digo, Bobby hyung. O mais alto tocou a boca com a ponta do dedo indicador e o do meio, alisando o local; ele sentiu exatamente tudo o que eu também senti. Olhou-me ainda esperando uma resposta de minha parte e encolhi os ombros, acenando um positivo com a cabeça.
— Éramos namorados de mentirinha até hoje, não é? Porque namorados de mentirinha não se beijam e essas coisas. — Quando eu estava prestes a entrar num colapso mental, ou eu falava demais ou não falava nada, às vezes começava a estudar dentro de minha mente - não que eu tivesse diagnosticado com algum distúrbio, porque meus médicos nunca afirmaram nada sobre - e vivia dentro dessa minha redoma que antes só envolvia a família, os amigos de infância - um só - e os colegas da faculdade. Bobby bagunçou tudo aquilo que os médicos diziam ser normal. Eu tinha tomado a iniciativa, agora era esperar em Deus... Ou no hyung mesmo.
— Namorados de mentirinha se beijam às vezes... — Olhei para ele, repreendendo-o. — Vamos ter que namorar de verdade? — E eu não senti firmeza naquelas palavras, doeu. Doeu porque eu queria que sim.
— Você não precisa dizer que quer somente pra me agradar... — Comecei meio derrubado, porém, logo engoli o bolo que se formava no meio da fala. — Isso é para Dara noona, de qualquer forma.
— O que os namorados de verdade fazem no dia a dia?
— Como é?
— Eu namorei com Minzy por mais ou menos um ano, só que nunca nos encontrávamos fora do colégio, de vez em quando íamos numa lanchonete com suas amigas e uns amigos meus, nunca mais que isso.
— Está dizendo que nunca saiu num encontro com ela? A sós? — Ele afirmou, natural. Vinte e um anos e nunca tinha saído num encontro. Bom, nem eu devidamente já que era Jinhwan que me arrastava para festas e me convencia a beijar uma ou outra menina. Bobby tinha toda experiência com beijos - Deus, era experiência para dar e vender porque eu ainda podia sentir seu gosto -, ele já deveria ter beijado várias bocas femininas por aí, mas não uma em especial por tanto tempo. Não uma que não fosse a tal Minzy. Bom, era o que eu acreditava.
— Hyung, Minzy foi sua primeira namorada?
— E única, mas não pense que eu não fiquei com algumas outras garotas porque fiquei!
— Não, disso eu tinha uma noção... Por que estávamos namorando de mentira se nem dum namoro de verdade você sabe as regras básicas, Jiwon?! — Foi uma provocação, aquilo de chamá-lo pelo verdadeiro nome. E resultou naquela carinha infantil de moleque que recebia sermão da mãe. Só não ri daquela fofura porque era um assunto sério.
— Ei, está dizendo que não sei nada sobre namoros?!
— Estou sim! — Proferir e recebi uma montanha de chiados de umas pessoas mandando que eu falasse mais baixo; estávamos numa biblioteca, era de se esperar. Respirei fundo e o maior soltou uma risadinha anasalada, caçoando da repreensão. — Já pensou se a noona tivesse desconfiado da nossa mentira?
— Então vamos fazer certo agora. — Eu não sei, eu não sei se ele estava me dando esperanças, eu não entendia Jiwon nem um pouquinho. E ele era a porra do meu trabalho de fim de ano, como eu teria uma nota boa se não conseguia mexer os neurônios para compreender seus demônios?! — Vamos jantar juntos? — Ele não deveria está falando sério. Não mesmo! Eu tinha aberto bem meus ouvidos para escutar aquilo ou parecia coisa da minha cabeça ter Bobby hyung me convidando para sair? Mas assim, convidando na real, na moral, na marra? — É, vamos jantar juntos, eu tenho um dinheiro guardado e Mino hyung leva a namorada num restaurante bem legal perto de nossa casa. Você vai gostar, a comida é maravilhosa e o lugar é bem movimentado. Se for para fazer direito, que seja logo, Hanbin. — Eu estava sonhando, era isso, um sonho desde o beijo até aqui, nossa, que mente fértil da...
— Está insinuando que vamos num encontro?! — Eu precisava confirmar aquilo até porque não é todos os dias que você é convidado pelo crush para sair, não é mesmo? Ele fechou a cara e ergueu as sombrancelhas como uma forma muda de me dizer "O que você acha, moleque?". Mordi o lábio inferior e o observei seguir meu movimento como se fosse um cachorrinho olhando para as carnes expostas no açougue. Era bom saber que eu lhe deixava hipnotizado, hipnotizado por minha boca mais precisamente. Como estava mordendo o centro, o soltei rapidamente para passar a língua por ali e prender novamente, só que agora era o lado direito dele. E como esperado, Jiwon respirou fundo e sequer se atreveu a tirar os olhos dali.
— Chame da maneira que preferir. E aí, você aceitar sair comigo, Hanbin-ah? — Balançou a cabeça como se quisesse afastar maus pensamentos e imaginando isso, eu sorri contido. Será que o hyung pensava em mim do mesmo jeito que eu pensava nele?
— Eu não sei... — Ponderei, levando o indicador ao queixo e quase imitando o ato daquela estátua antiga do pensador. Eu já estava passando dos limites, eu tinha noção disso, no entanto, era a coisa mais perfeita do mundo ver Kim Bobby irritado, especialmente quando sua irritação era direcionada a mim. Se não tivéssemos rodeados de tanta gente e se não fosse para perder minha pose de garoto difícil, eu o agarraria ali mesmo para rodear meus braços em seu pescoço e enchê-lo de rápidos beijinhos. O biquinho do hyung ficava uma fofura, tinha que admitir.
— Por que "carvalhos" você está me testando assim, hein? — Gargalhei e isso não passou despercebido pelas pessoas que liam sedentas seus livros. Eu não estava acreditando, Kim Jiwon estava me chamando educadamente, bom, nem tão educadamente assim, mas estava, para um primeiro encontro como todo casal tinha o direito de ter. E seu ideal era que nos tornássemos um de verdade, que pegava na mão e se beijava com paixão. Na verdade, nós já fazíamos isso - não via a hora de provar daqueles lábios novamente -, porém era algo mais concreto e definitivo. Um passo estava feito, só restava Jinhwan hyung e meus pais. Deixemos isso para os últimos capítulos.
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Voltei para a aula com o maior sorriso que eu já tinha dado. Eu tinha a droga de um encontro e não podia está mais feliz. Minha alegria parecia está contagiando todo o prédio da faculdade porque por onde eu andava, as pessoas estavam rindo, conversando animadamente umas com as outras, estavam se divertindo. A aula da vez era de Junhyung e aquilo terminava de simular o paraíso. Quando abri a porta e aspirei o ar gelado da sala, meu braço foi puxado por um Nam Taehyun com o mesmo sentimento positivo. Seus fios loiros caiam bonitos nos olhos e o sorriso infantil devia está maior que o meu. Coisa boa vinha, graças aos céus.
— Você não vai acreditar no que aconteceu. — Dita da maneira correta, podíamos distinguir bem qual eram as consequências daquelas sete palavrinhas. Pela felicidade de Taehyun, aconteceu algo bom.
— Se você me contar talvez eu acredite, Tae-hyung. — Ele assentiu e me arrastou para umas cadeiras lá atrás onde estavam nossas mochilas. Nenhum sinal do professor Yong ainda então poderíamos conversar tranquilamente; e mesmo que ele tivesse eu não era nem louco de perder uma aula sua. — Anda, me conta que eu já estou me corroendo de curiosidade. — E isso eu tinha aprendido com Jiwon. Urgh, tinha que parar de pensar nele!
— Tudo bem, eu estava super preocupado com onde diabos eu iria encontrar uma pessoa para o nosso trabalho acadêmico. Recorri a ligar pros meus pais querendo saber se eles aceitavam se consultar comigo por meio de telefonemas. Omma quase desligou na minha cara. — Ri pelo nariz, imaginando como seriam os pais desse Nam meu colega. Ele também riu e voltou a contar. — Só que Deus ouviu as minhas preces e me trouxe um paciente, assim, de mão beijada.
— Sério? Mas como aconteceu? Conta, conta!
— Okay, estava eu vindo da casa de Jisoo, eu fui dormir lá, comentei contigo, não foi? — Assenti num balançar frenético; Taehyun demorava anos para chegar nos finalmente. — Pronto, estava eu vindo com Jisoo ao meu lado que de repente um cara esbarrou em mim, derrubando minhas coisas. — Espera, eu conhecia essa história. — Jisoo estava tão alheia a mim que nem viu o homem chegar até quando nós dois já estávamos no chão. Aconteceu que ele me ajudou a pegar as apostilas jogadas e se desculpou um milhão de vezes. Foi muito bonitinho, me ofereceu um café pelo esbarrão e se desculpou ainda mais.
— E como vocês chegaram no "Quer ser meu paciente, Senhor?", hein? — Eu tinha dito, demorava anos para chegar nos finalmente.
— Ele nos acompanhou até metade do caminho, conversou com Jisoo e comigo, um verdadeiro cavalheiro. A menina comentou que ele poderia me pagar indo à minha casa se consultar já que eu não tinha aceitado o seu café. Eu não gosto de café, sabe.
— E ele aceitou?
— Aceitou sim.
— Mentira.
— Eu disse que você não iria acreditar.
— Mas como ficou confirmado isso? Conta direito, hyung! — Ele riu com o meu choramingo e eu só faltei ter um ataque cardíaco quando Junhyung chegou na sala e Taehyun ameaçou voltar seus olhos ao professor. — Tae, sério, conta isso, pelo amor de Deus!
— 'Tá bem, 'tá bem. Ele aceitou, mas disse que teríamos que marcar direito depois porque ele era muito ocupado com o trabalho. E deixou seu número comigo caso eu precisasse dele. — E me mostrou a palma de sua mão. Eu conhecia muito bem aquela história, só que o cara de Taehyun tinha sido mais educado e escrito o número no lugar mais regular. O que me surpreendeu mais do que ele ter aceitado ser a cobaia do loiro ao meu lado, era saber seu nome: Song Mino. Bom, haviam milhares de Song Mino's espalhados pela Coréia, mas eu só conhecia um que tinha saído hoje cedo.
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— "Vai, vai chegar sua vez. A morte virá, não importa o freguês. Você pode até se esconder e rezar, mas do funeral não irá escapar." — Cantarolei, meio tedioso. Jinhwan mexia no celular enquanto balançava seus pezinhos no ritmo de minha música. Era maravilhoso saber que o Kim mais velho se prontificara de me acompanhar até metade do caminho. Tudo bem que ele sairia com June nesse intervalo, mas não doía nada pensar que ele estava querendo me ajudar. — Há quanto tempo não assistimos A Noiva Cadáver juntos?!
— Há mais ou menos três anos, o filme é um pouco velho e ainda chorávamos com aquele final. — Respondeu-me sem tirar os olhos do teclado touchscreen. Koo deveria está dando os últimos detalhes para seu encontro e mesmo que já estivessem naquele relacionamento há tantos meses, parecia como se eles fossem sair pela primeira vez; Kim Jinhwan não explicitava sua euforia, ansiedade ou nervosismo, quando eu lhe descobria sério ou aéreo demais, era porque estava preocupado com alguma coisa. Porque eu também conhecia meu hyung muito bem. — Aonde Kim Bobby te levará?
— Eu não sei, lembra que ele nos encontrará no caminho e de lá faremos a magia acontecer? — Falei virando meu rosto para ele, sorrindo de forma maliciosa. O mais velho balançou a cabeça em negação.
— Não estou acreditando que ele te chamou pra sair, de acordo com o ano que o conheci, ele não me parecia uma pessoa que convidava outras para encontros. A não ser por suas saídas com amigos que cantavam também. — Devaneou, rindo de seu próprio comentário. Eu entendia perfeitamente a confusão que estava a cabeça do Kim, afinal de contas, eu não havia lhe contado nada sobre ter sido um falso namorado para Jiwon hyung e que agora estávamos tentando transformar aquela maluquice em algo normal aos olhos da sociedade. Não que eu gostasse de seguir um padrão, por favor, o último lugar que eu escolheria nascer seria a capital da República Sul-coreana, porém, fui ensinado a sempre ser verdadeiro com os demais e isso deveria servir para a vida igualmente. — E muito menos acreditando que está mentindo para sua mãe que irá sair comigo, mas que na verdade fará coisas impróprias com um cara de 21 anos.— Comprimi os lábios. Não era justo nem comigo, nem com ninguém ter um Kim Jinhwan como melhor amigo.
— Olha, eu não queria está mentindo para ela, eu nunca faria isso se pudesse, mas omma não pareceu gostar do hyung e... Ao contrário dela, eu gosto. — Murchei. Eu ficava pensando, será por conta do desgrenhado que ele chamava de cabelo? Ou as roupas meio largadas? Ou por ele ser Bobby por inteiro?
— Eu ando não acreditando em muitas coisas. — Voltei minha atenção para o mais baixo e ele tinhas seus olhos sérios fixos em mim. Sem sorrisos ou desapontamentos. Estava mais para... — Hanbin, você 'tá gostando dele de verdade.
— Não acreditou também quando fui à sua casa e te contei sobre todas aquelas coisas?!— Perguntei, mais sorrindo do que realmente bravo por ele ter achado que tudo não passara de um... Desejo. — Estou louco para saber suas intenções, hyung. Quero saber se também gosta de mim na mesma intensidade, ou pelo menos se gosta de mim da mesma maneira. — Sinceridade era algo que minha mãe tinha listado naqueles cadernos ridículos que mães de primeira viagem escreviam tudo que seu precioso filho fazia, desde a primeira palavra até o primeiro vaso quebrado. Minjae me ensinou tudo que agradaria uma classe A inteira e tudo estava bem guardadinho em seu caderno. Muito, muito bem guardadinho.
O que estava querendo dizer a Jinhwan hyung era que Bobby, com aquela malandragem toda, havia me conquistado, desde o nosso primeiro encontro se eu não estivesse exagerando, e meio que lhe pedia desculpas também por ter me deixado levar. Jinhwan hyung me alertara o tempo todo, e eu lhe dei ouvidos? Na verdade, eu nunca tive a intenção de lhe escutar.
— Estou desacreditado.
— Okay, já chega. O Senhor Koo vem pegá-lo aqui em casa ou vamos encontrá-lo na rua? — Ele assentiu à segunda pergunta e nos arrumamos uma última vez antes de nos despedimos de meus pais. Confesso que uma pitada de culpa caiu sobre mim quando mamãe desejou-nos uma boa noite e que aproveitássemos bastante. — Você poderia colocar Taemin para tocar, aquele papo de Noiva Cadáver me trouxe umas lembranças boas.
— Ah, eu lembro o quão apaixonado você era pelas habilidades de dança daquele garoto! — Recordou meu melhor amigo, levando a palma até a boca para esconder o sorriso, zombando de minha antiga admiração pelo cantor e dançarino. Eu realmente tinha uma queda por Lee Taemin, mas aquilo não precisava voltar à tona. Revirei os olhos e o empurrei para frente, apressando-o porque Bobby a qualquer minuto poderia me mandar uma mensagem dizendo que estava pronto.
Ele não mandou nada parecido, nem um sinal de fumaça, mas encontramos Junhoe no caminho e ele estava lindo como sempre. Seu cabelo negro estava caído como uma franja e pelo recém corte, eles não atrapalhavam sua visão. Jinhwan o estudou por um longo tempo antes de discretamente agarrar seu braço e ambos me fitarem como se eu fosse o empecilho do encontro deles. Obviamente que eu era, no entanto, se os deixasse ir embora, poderia muito bem acabar sendo assaltado, ou sequestrado ou até mesmo magoado pela possível não vinda do meu namorado.
Junhoe trajava uma calça jeans preta com pequenos rasgos nos joelhos e uma camisa branca de manga longa, além do suéter listrado nas cores preta e vermelha que seu Kim havia lhe presenteado no aniversário de namoro. Koo amava aquele suéter e Jinhwan amava ainda mais saber de tal fato.
— Olá, hyung. Jinhwan não tinha me dito que você viria também. — Me cumprimentou o bonitão, fitando o menor entre nós em busca de uma explicação. Eu não o culpava, em sua mente deveria ter apenas, ele, Jinhwan, um jantar legal, um sorvete nesse infernal - infernal? - tempo congelante para acordar doente amanhã e talvez até um bônus prazeroso na madrugada. Hyung deu de ombros e apenas esperou que eu explicasse o meu ato "empata foda".
— Oi, June. Pra falar a verdade, eu não vou ficar com vocês por muito tempo, é só até que Bobby hyung mande um correio ou algo assim. — O sorriso de ofuscar as visões logo apareceu nos lábios do mais novo entre nós. Junhoe não podia perder a oportunidade de também zombar do meu encontro.
— Então vocês estão se entendendo.
— É, pode-se dizer que sim. — Dito isso, meu celular vibrou no bolso de trás da calça, o peguei e dei de cara com a mensagem do dito cujo. Ele estava a três esquinas de nós, então decidi deixar os pombinhos no seu ninho de amor, me despedindo deles e confiando mais uma vez na lealdade de Jinhwan hyung. Veja bem, quando ameacei voltar pra casa, feliz feito uma gazela, lembrei-me que existia Kim Minjae e aquele seu olhar desconfiado que ontem foi dado a Jiwon. Eu não podia chegar pra ela e dizer que sairia com Bobby e dormiria novamente em sua casa. Era pedir para que a mulher fosse bater na casa do rapaz e perguntar se ele estava me chantageando ou afins. Jinhwan foi a minha primeira e única solução para que o encontro desse certo; ele afirmaria para omma que a noite seria nossa e que ela poderia me ver são e salvo no dia seguinte, sem Bobby, com June sim, mas sem Bobby.
Não demorei a encontrá-lo, não estava perfeito como Koo Junhoe, mas estava... Jiwon. Uma camiseta larga preta, um casaco branco para contrastar e agora, sem os onduladinhos do cabelo; estava liso e caía um pouco para o lado. Ele ainda tinha as roupas desleixadas, mas pegou a melhor roupa desleixada que tinha para vir me ver.
— 'Tá bonito.
— Eu sei. — Cabelo novo, todavia, o mesmo humor. — Vamos? Veio com alguém?
— Sim, vim com Jinhwan hyung, só que ele também saiu com o namorado. — Disse e ele fez bico.
— Ah, por que não pediu que eles esperassem? Podíamos fazer um encontro duplo!
— Hyung. — Iniciei. — Sabe porquê você e Minzy não saíam a sós? Porque o hyung é muito prestativo, ouviu o que acabou de dizer? Queria que meu amigo e o namorado dele viesse com a gente. Isso destruiria todos os planos que fizemos para consertar o nosso namoro. — Eu não havia ficado chateado por Bobby ter cogitado convidar o casal destaque para vir conosco, nem pensar. Eu só queria que ele entendesse que aquela noite era apenas minha e dele, talvez, se Hanbin e Jiwon se concretizar, possamos fazer um encontro duplo. — Podemos ir já, onde fica o tal restaurante?
Ele tinha ficado estático, compreendeu os motivos para suas "saídas coletivas e nunca apenas de casal", piscou algumas vezes e puxou minha mão.
— Vem, temos que andar um pouquinho já que é perto da minha casa. — E fomos o caminho inteiro de mãos dadas. Ainda era cedo quando decidimos sair, mas as ruas iam ficando cada vez menos movimentadas, beneficiando minha vontade de não soltar meu hyung por nada.
Chegamos e Jiwon não mentiu quando disse que o lugar era bonitinho e bem ativo. Alí sim tivemos que desgrudar nossas mãos. Muita gente circulava e assim que pusermos nossos pés dentro do estabelecimento, umas duas pessoas vieram nos atender.
— O que quer comer?
— Na verdade eu não estou com muita fome, uma porção de ddeobokki com arroz frito já estaria ótimo. — Falei mais para ele do que para a atendente, que confusa, fitou meu hyung esperando a resposta definitiva. Ele sorriu e assentiu, levantando o indicador e o médio para dizer que viriam duas porções das duas coisas.
— Tudo bem, algo para beber, cocas?!
— Sim, duas também, obrigado. — Sorriu mais uma vez naquele típico eye-smile que conquistava a todos. Mordi o lábio contendo a vontade de sorrir igualmente. Céus, agora eu podia entender perfeitamente meu amigo, estava parecendo inacreditável que Kim Bobby pudesse agir daquela forma.
— O que foi?
— Você fica bonito assim, sendo educado e formal.
— Ah, e eu acho que você fica ótimo de azul, e vermelho, nossa, combina bastante contigo. — Soltou um muxoxo, inda sim sorrindo para o rumo de nossa conversa. Eu tinha vindo de azul, não por completo sendo sincero. Rir e passei a observar suas roupas. Eu era maluco pela harmonia do preto com o branco e Bobby havia escolhido os tons certos.
— Além do preto e do branco, você fica bem em laranja.
— Laranja? Quando apareci de laranja por aí?
— Ah, eu não sei bem se foi você, hyung, mas existe um casaco laranja gigante andando pelos arredores da faculdade.
— Oh, o casaco do gigante. Ele é de Mino hyung! Eu estava naquele estado de que todas as minhas roupas estavam jogadas no cesto de coisas sujas e ele me emprestou o bendito. O hyung tem esse casaco desde a adolescência! Quando ainda morávamos no interior, eu costumava chamá-lo de casaco do gigante. Eu meio que era o João quando o usava.
— Você e Mino hyung eram muito próximos desde sempre, não é? — Nossa comida passaria um tempinho para chegar, então seria bom puxar conversa nesse intervalo. Bobby suspirou nostálgico. Mino hyung não deveria ser tão velho, talvez alguns cinco, sete anos e isso reproduzia nossa história com as crianças. Eu era mais velho que Yunhyeong por sete anos e aquela barreira acabou se quebrando assim que passamos a conversar mais. Mino e Bobby hyung deveriam ser assim no passado.
— Meu pai é muito amigo da família de Mino hyung. E isso sempre fazia ele vir com o pai e a mãe para jantar ou passar uma tarde conosco. Eu ainda era bem pequenino quando ele namorava uma garota da minha rua e às vezes deixava de aproveitar com ela para jogar basquete comigo. Eu meio que o tenho como meu irmão mais velho, Hanbin-ah, sempre fora ele que estava lá quando eu ainda não tinha essa cara de mal. — Rir anasalado. Todos nós já tivemos amigos que faziam um papel fraternal. E assenti, lambendo os beiços pelo cheirinho gostoso que invadiu as narinas. É, talvez a fome viesse mais feroz agora. — O que a sua mãe disse quando soube que você viria me encontrar? — Na verdade, ela não disse nada sobre isso. — O pouco de arroz que coloquei na boca desceu rasgando minha garganta como se eu tivesse tomado uma garrafa inteira de tequila. Não que eu soubesse o sabor da tequila, pois eu ainda não podia beber. O Kim mais velho comia de sua comida à espera de uma resposta minha, respirei fundo e menti pela segunda vez no dia.
— Ela não se importou, Jinhwan veio comigo e tal. — Não foi ao todo uma mentira que Deus me acusasse ferozmente. Jinhwan tinha mesmo vindo comigo e mamãe não pareceu ligar para onde iríamos, no tanto que meu amigo viesse junto.
— Ainda bem, achei que ela te proibiria de sair comigo. Vi o quanto ela ficou defensiva contra minha pessoa.
— Não exagere, ela só estava querendo mostrar que é uma mãe protetora. Aposto que a sua mãe faria a mesma coisa se me visse.
— Não mesmo! Ela amaria você, até porque meus amigos eram totalmente largados como eu ou esquisitos demais. Você seria... A pessoa normal entre eles. Por isso ela o amaria.
— Não amaria se soubesse o que sou pra você. — Jiwon respirou fundo e soltou seus palitinhos para focar-se totalmente em mim. Seu ar era sério, como se estivesse escolhendo as palavras certas para não me machucar... — Desculpe.
— Não, tudo bem, eu só não sei o que falar. Eu não sei como minha mãe agiria se soubesse que estou namorando um cara, sabe? Eu, eu nunca demonstrei que gostava de garotos, na verdade eu nem gosto! Nós iremos tentar, e se não der certo, ainda quero que a conheça, quero que ela saiba o quão legal você foi comigo, Hanbin, que me aguentou por uma semana e me deixou por outra. — Não resistir em soltar uma risada. Eu estava tão fodidamente apaixonado por aquele cara. — Mas eu espero que der certo porque eu gosto de você. Gosto da alegria que me proporciona. Também quero que seja você estando comigo para descobrir coisas novas. Temos todo o tempo do mundo para conquistarmos um ao outro e eu me arrisco em perder alguns dias da minha vida beijando você.
— Ah, é? Então a minha boca é uma perda de tempo?
— Depois que a provei, é como disse, eu me arrisco por para ter novamente. — Voltamos a comer e a tomar de nosso refrigerante. Por uns cinco minutos ficamos assim, aproveitando da refeição e escutando um pouco - por mais que fosse errado e sem educação alguma - as conversas alheias ao nosso redor. Quando eu desfrutava do último gole da coca, Jiwon hyung soltou a colher que usava para pegar o arroz, fazendo o barulho do talher chocando com a tigela chamar minha atenção, fazendo-me fitá-lo surpreso. — Quer namorar comigo? — Eu travei, só que o meu jeito de travar era diferente do restante da humanidade. Normalmente quando se é surpreendido com alguma coisa, as pessoas começam a suar frio, gaguejar ou simplesmente saem correndo porque as coitadas das suas bochechas estão queimando como se o indivíduo tivesse no sol em plena 10h da manhã. O meu travar se resumiu a isso:
— Olha, se eu me lembro bem das aulas do ensino médio, namorar é um verbo transitivo direto, então tecnicamente não existiria esse "com". O correto seria "Quer me namorar?". — Terminei meu discurso e Jiwon continuava da mesma maneira, com os olhinhos esperançosos para saber a resposta, a verdadeira resposta, já que eu tinha feito besteira em lhe ensinar uma grámatica que ele provavelmente não usaria além de formular frases se acabasse tendo que trabalhar na teoria, sorri e discretamente entreguei minha mão para que ele a agarrassem, entrelaçando meus dedos aos seus. Bobby escondeu nosso ato dentro da manga longa de seu casaco, colocando ambas as nossas mãos lá dentro; ninguém mais poderia ver o nosso momento, pois ele era justamente nosso e não exigia a presença de mais ninguém. — Eu quero, eu quero sim. — Se o encontro precisava de um beijo eu não sabia, mas que ele havia terminado na melhor forma possível, ele havia.
Fomos a pé e voltamos a pé também. Pela segunda vez eu dormiria na casa do hyung e se minha mãe ligasse novamente para Jinhwan, o pequeno iria me acobertar, e se precisasse, ele até envolveria seus pais no meio para que os pensamentos de Kim Minjae passassem longe de mim. Oh, Deus! O que uma pessoa não fazia para no dia seguinte querer saber se passamos dos beijos ou não. Por favor, eu só conhecia Jiwon hyung a duas semanas... E já namorávamos a uma e meia, pois é.
— Ei, Hanbin, esse negócio de verbo transitivo direto serve para tudo? — O fitei esperando que completasse a pergunta porque de nada eu podia dizer somente com aquilo, havia os verbos transitivos indiretos e também os intransitivos... — Porque se a gente for olhar por esse lado, como ficaria a frase "Quer transar comigo"? "Quer me transar"?! — Kim Hanbin - no caso eu - tinha 7 bilhões de opções no mundo para escolher, tirando aquelas que já namoravam ou eram enroladas, casadas ou somente moravam juntas, a população infantil e a idosa e tinha escolhido ficar do lado dum cara e esse cara era logo Kim Jiwon. — Por que 'tá me olhando assim?! É uma pergunta, de qualquer forma.
— Onde você estava nas aulas sobre isso, hein?
— Provavelmente dormindo ou pegando a atividade atrasada de alguma matéria sobre humanas. — Balancei a cabeça em negação, e ainda tinha passado de ano como se fosse bom em tudo, humpf! — Sorry, eu sirvo apenas para exatas.
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