História Fangirl - Hobi

Eu estava magoado. Queria ignorar a ligação, mas não consegui me conter e, no último momento antes da ligação cair, a atendi. Sua voz estava fraca, meu nome soou quase como um sussurro e em seguida ficou mudo. Meu coração se apertou e quase entrei em desespero. Eu só conseguia pensar que algo ruim havia acontecido a ela e senti meus olhos marejados. Não esperei muito tempo e saí correndo enquanto rastreava o gps de seu celular - obrigado por deixá-lo sempre ligado.

Um vento frio passou pelo meu corpo enquanto atravessava a porta do hospital e corria pra recepção. A mulher disse que ela estava na ala emergencial e eu assinei como seu responsável. Corri até lá e não gostei nada do que vi. Dulce estava branca, seus lábios, outrora vermelhos, perderam a cor e brilho. Seu cabelo estava molhado e seu corpo trêmulo. Uma espécie de choque me prendia ao chão e eu não conseguia me mover. Parecia que eu estava tendo um déjà vu, como se eu já tivesse vivido ou fosse viver isso.

O médico me viu e veio até mim estendendo a mão, a qual apertei sem muito entusiasmo. Acho que as lágrimas que segurei até agora estavam caindo pois ele me deu um aperto no ombro tentando me confortar.

- Ela… ela vai ficar bem? - eu gaguejei.

- Bom, ela chegou com alguns machucados, uns mais sérios que outros. Fora a chuva que pegou. O que aconteceu com ela? - ele perguntou.

- Não sei, ela não quis me contar.

- Sugiro que quando ela for pra casa você a convença de procurar um especialista. Já vi muitas meninas se machucarem e acabarem não resistindo. Como médico, consigo distinguir alguns de seus machucados. Ela teve sorte de ser trazida rápido pra cá. - ele suspira - O machucado na barriga não foi devidamente cuidado, não sarou como deveria e provavelmente foi pressionado. Está fraca por falta de nutrientes. E a chuva que ela pegou piorou tudo. Ela precisa de descanso e cuidado.

- En.. entendo. - olhava para ela.

- Não se culpe, às vezes esses problemas só estão na cabeça delas. Só cuide para que ela se recupere e não esqueça de procurar a ajuda de um especialista, ela vai precisar.

- Quando ela poderá sair daqui? - pergunto mais firme.

- Vamos esperar algumas horas. O machucado na barriga precisa desinchar e precisamos ver se a febre não vai retornar. Aqui daremos os remédios e o soro para repor os nutrientes que ela perdeu.

- Posso ficar com ela? - perguntei olhando pra ele.

- Claro, deixarei vocês. Qualquer coisa me chame. - ele se despede com um aceno de cabeça e vai embora. Me aproximo da cama e coloco a mão em seu rosto. Ela estava tão fria, tão indefesa. Eu queria tanto que ela me deixasse ajudar.

Dulce se tornou importante. Seu sorriso, seu jeito. Eu sentia vontade de sair com ela na rua, andar de mãos dadas, abraçar, gritar ao mundo o que sentia. Sim, eu estava apaixonado. Mas como não se apaixonar por um ser tão apaixonante?

No começo fiquei receoso. Era tão estranho e tão novo. O medo de não conseguir ser o suficiente, de ela acabar sofrendo por eu ser quem sou. O tempo que não poderei gastar com ela. Mas ela chegou e fincou raízes tão profundamente no meu coração que fui egoísta a ponto de querer viver o que o universo me oferecia.

Vendo-a nessa cama, sem que eu pudesse fazer nada, me deixava mal. Eu queria poder pegá-la no colo e proteger do mundo, como ela disse que faria comigo. Tirar toda a dor que ela pudesses estar sentindo. Engraçado, né? A pessoa chega sem previsão e quando percebe ela já faz parte da sua vida.

Estava observando seu sono quando ela começou a tremer. Apertei sua mão e ela começou a gritar “Hobi, não, por favor não, volta pra mim… volta pra gente”. Meu coração afundou ao ver o quanto ela sofria com o pesadelo. Apertei mais sua mão, alisei seu cabelo e a chamei. Repeti seu nome duas, três, quatro, cinco vezes e na última ela parece ter me ouvido, pois sua expressão suavizou. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.

Decidi ligar pro Suga hyung e avisar que passaria a noite no hospital, afinal, eu ainda devia explicação aos meus irmãos.

- Hobi, você está bem? Onde está? - ele perguntou com uma leve preocupação na voz.

- No hospital, hyung. - falei suspirando.

- Hospital? O que aconteceu? Você se machucou? - ele realmente estava preocupado.

- Não foi nada comigo, hyung, não se preocupe.

- Então porque está aí?

- Dulce. Ela… - tentava controlar minha voz.

- Tudo bem, estou indo praí. - eu escuto barulho de chave - Qual hospital?

- O próximo do rio Han.

- Está bem, em meia hora eu chego. - ele desligou e me recostei na cadeira.

Meus ombros pesavam, minha cabeça doía, as horas passavam lentamente e Dulce ainda dormia profundamente. Fiquei pensando em como seria daqui pra frente. Minha agenda não me permitia ter muito tempo disponível, estávamos sempre com algum compromisso. E só pioraria.

Faltavam dois meses para o nosso “comeback” e só de imaginar a loucura que seria, já me cansa. Não entendam mal, eu amo o que eu faço e eu não trocaria por nada, e faria tudo de novo. Mas agora isso pesou um pouco. Agora eu tinha alguém que precisava de mim e eu dela. Claro que eu não a considero um empecilho, mas o desejo de ficar mais tempo com ela gritava em minha cabeça.

Me aproximei mais de seu rosto, guardando cada detalhe dele. O que me lembra do dia que decidi ir até o dormitório universitário só pra poder cuidar dela. Jimin-shi disse que era fofo - esse tipo de atitude - e  Suga hyung concordou, e eu realmente me sentia mais fofo que o normal. A carinha de surpresa que ela fez foi impagável. Nesse dia pude cantar e vê-la dormir. Ela era tão linda, tão tranquila,  e parecia tão bem dormindo que não tive coragem de acordá-la. Dei um beijo em sua testa e deixei os ingressos para nosso fansing em cima do criado mudo, sabendo que ela ficaria muito feliz em poder ir.

No dia do fansing ela estava maravilhosa de tão fofa. Vê-la gritando, cantando nossas músicas, chamando por Jin hyung - não vou dizer que não rolou um pouquinho de ciúmes - e depois brincar com o flerte foi inesquecível. Eu realmente queria me prender a ela e nunca mais soltar.

Quando estávamos indo embora naquele dia, Jimin deixou escapar para os outros membros que a minha garota estava no fansing e, como era de se esperar, todos se alvoroçaram para eu dizer quem era.

- Por favor, Hobi hyung, diz pra gente como ela é. - pediu Tae.

- Não. Um dia vocês vão conhecê-la pessoalmente. - respondi sorrindo.

- O hyung a conhece, por que nós ainda não? - questionou Jungkook.

- Porque eu sou mais esperto. - Yoongi falou.

- Você só teve sorte em estar com ele naquele dia, se não estaria como nós agora.

- O universo conspira a meu favor. Vocês tiveram a oportunidade de conhecê-la, mas o destino impediu. - Suga continuou.

- Quando? - perguntou Jimin.

- Cinema. Ela ia assistir ao filme com a gente. - respondi, sorrindo de sua expressão.

- Então o amigo que você estava chamando era ela? - perguntou Tae com a boca aberta - Não acredito.

- Não se preocupem, ela conhece todos vocês, é capaz de saber mais sobre vocês do que eu.

- Ela ainda é army? - perguntou Jin.

- E brasileira - respondeu Yoongi fechando os olhos e se encostando mais no banco.

- Wow! Mandou bem, Hyung. - Jungkook sorriu.

- Espero que seja logo, odeio ficar curioso. - continuou Nam - Mas se ela te faz sorrir, Hobi, então ela já faz parte da família.

- Obrigado, irmãos. - fiz uma voz fofa e todos rimos.

Eles eram bons meninos, eu agradeço todos os dias pela oportunidade de debutar e conviver com eles. Não sei o que seria da minha vida sem eles. Perdido em pensamentos, não percebi que Yoongi tinha chegado até ele colocar a mão em meu ombro.

- Hobi? - ele falou - Como ela está?

- Se recuperando.

- Hyung? - ouvi a voz de Jimin - Hei… ela vai ficar bem.

- É o que mais quero, Jimin. Ela parece tão frágil agora. - falei, me aproximando mais da cama e alisando o rosto de Dulce.

- Ela é bonita, hyung. - Jimin falou, amenizando a tensão.

- É, não é? - perguntei com um sorriso - Você tem que ver quando ela está sorrindo e brincando. Principalmente quando ela está dançando, nossa... - suspirei com a lembrança - ela é simplesmente maravilhosa.

- “Yah”, se anime, ela não morreu. Você pode dizer todas essas coisas quando ela acordar. - Yoongi resmunga - Melhora essa cara. Não quer que ela te veja abatido desse jeito, não é? - Suga hyung era um bom irmão, meu melhor amigo. Sorri com seu comentário.

- Não, ela merece que eu esteja bem. - Olhei para Jimin - Decidiu vir também?

- Não ia perder a oportunidade de conhecer a noona, eu soube dela primeiro. - deu de ombros.

- Obrigado por estarem aqui.

- Os meninos querem conhecê-la. - Jimin continuou.

- Eu sei. Vou marcar algo e os apresento. - me virei novamente para Dulce.

- Já comeu alguma coisa? Faz tempo que você está aqui e, se me lembro bem, você não comeu em casa. - Yoongi perguntou com um tom não muito discreto de reprimenda na voz.

- Não. Não tenho fome.

- Problema seu. Se levanta, sai daqui. - ele me puxa da cadeira fazendo com que me levante e me empurra pro corredor que dava na cantina. - Eu fico com ela, vai, sai daqui. Jimin, leva ele. - o mais novo assentiu e saiu me arrastando, mesmo com meus protestos.

Chegamos lá e não percebi que estava com tanta fome até minha barriga roncar ao sentir cheiro de croissant fresco. Pedi dois desse e uma xícara de chá de hortelã. Comi de forma ávida e terminei tudo em minutos, meia hora no máximo. Quando ia me levantar pra voltar pra lá, Jimin segurou em meu braço e me levou pro jardim do hospital.

- O que houve, Jimin? Eu tenho que voltar pra lá.

- Suga hyung está com ela, vai ficar tudo bem. - ele disse de forma simples me fazendo sentar no banco de pedra. - Agora, como você está? - eu ia responder, mas ele me interrompeu - A verdade, hyung.

- Cansado - suspirei derrotado - Eu fiquei com tanto medo, Jimin-shi. A voz dela estava tão distante e fraca ao telefone. Chegar aqui e encontrá-la daquele jeito me deu um aperto no coração. - as lágrimas voltaram a cair involuntariamente e Jimin sentou ao meu lado, colocando o braço ao redor do meu ombro.

- Sabe, você pode chorar, hyung. Ninguém precisa saber. - rimos com seu comentário e eu realmente queria chorar. Chorar por não ser o suficiente pra Dulce, chorar por não ser suficiente pros fãs, chorar por estar inseguro. Eu simplesmente queria chorar, mas algo impediu.

- Não, eu já chorei o que tinha que chorar. - limpei o rosto com a manga da camisa - Agora eu quero estar lá com ela e por ela. Ela precisa de mim e eu vou ser a esperança dela. Vou ser a luz que a tira da escuridão em que se encontra. Não vou deixar a garota que me fez tão bem e feliz assim. Vou lutar por ela, Jimin, e mesmo que ela tente me afastar, eu não vou deixar.

- Uah! Parece cena de drama, hyung, gostei. - ele acenou com a cabeça e fez sinal de positivo com o dedo - Agora vamos voltar pra lá.

Ao voltarmos, percebemos que Yoongi estava conversando algo com uma Dulce inconsciente. Esperamos um pouco e decidimos ouvir o que era.

- Yah! Você tem que ficar bem. Sabe o quanto aquele bobão fica choroso? Fique saudável e tire-o do meu pé. - ele fazia uma careta - Você conseguiu fazer ele melhor do que já era. Hobi é alguém especial, e vocês combinam. Se contar isso pra ele eu nego até a morte. Então, volte bem e não o afaste como imagino que vá fazer. Sei que não é fácil, mas Hobi vai ser aquele que te ajudará a se reerguer. Só confie nele. - ele suspirou - Enfim, só… volta, tá? Assim você pode me dar o número do telefone da sua amiga índia.

Ok, aquela última parte foi engraçada. Nos aproximamos como se nada tivesse acontecido, como se não tivéssemos ouvido nada. Ficamos o resto da noite lá, conversando e velando o sono da minha menina.

Eram por volta das oito da manhã quando ouvi a voz de Dulce me chamando baixinho. Levantei em um pulo e a vi com os olhinhos semicerrados e um sorrisinho tímido. Como eu queria beijá-la. Era sempre assim quando nos encontrávamos. Eu louco para abraçá-la e beijá-la. Sentir novamente seus lábios doces nos meus. Um dia faríamos isso.

Ela abriu os olhos devagar, tentando reconhecer o lugar em que estava. Quando se deu conta, os arregalou e se sentou na cama com dificuldade. Corri e a apoiei, ajudando-a a apoiar as costas na cabeceira do leito.

- Hobi, o que houve? Por que está aqui? - ela pergunta com a voz baixa.

- Você desmaiou e se machucou, te trouxeram pra cá e você me ligou me chamando. - falei acariciando seu rosto.

- Ham, eu não lembro de muita coisa. Só de você indo embora e depois eu aqui.

- Tudo bem, não tem problema. Você está bem agora, é o que importa.

- Vou chamar o médico. - Yoongi disse - E aí, cunhada? - ele sorriu e se retirou em seguida.

- Ok, eu só posso estar dormindo ainda. Não é real. - a vi fechar os olhos e abri-los novamente.

- Hei, eu sou o Jimin. Mas você já deve saber quem eu sou. - ele sorriu fazendo com que seus olhos formassem uma linha fina.

- Oi, Jimin. - ela sorriu.

- Ficamos preocupados, noona. Hobi hyung quase teve um ataque.

- Jimin! - apertei seu braço.

- Mas foi. - ele dá de ombros - Bom, viemos assim que soubemos. Nossos irmãos estão loucos pra te conhecer.

- Mas vocês já me conhecem.

- Conhecemos? - ele fez uma cara surpresa.

- No fansing, vocês todos assinaram meu produto. - ela confirmou sorrindo.

- Ah!!! - ele sorri - Não conta, queremos lhe conhecer direito e pessoalmente. Você conseguiu domar o coração do hyung, isso deve ser celebrado com fogos de artifício. - ela riu, mas foi uma risa tão gostosa de ouvir.

- Obrigada, eu precisava disso, Chimchim. - ela falou e logo parou, arregalando os olhos - Me desculpa.

- Eu deveria saber que você conhece esse nome. Tá tudo bem.

- Me desculpa mesmo, eu  não tenho o direito.

- Tá tudo bem, noona, você agora é nossa cunhada. - ele faz um sinal de positivo com o polegar.

- Vemos que a paciente está melhor, está até rindo. Como se sente? - o médico se aproximou de Dulce e checou sua pulsação. - Sente alguma dor?

- Não, nenhuma. Só minha cabeça mesmo que dói um pouco. - ela respondeu.

- E a barriga? - ele continuou, e ela engoliu em seco.

- Ela tá boa, não sinto tanta dor.

- Está bem. Nenhuma recaída, temperatura normal, pulsação boa. Acho que já pode ir pra casa. - ele falou sorrindo.

- Obrigada. - ela suspirou - Odeio hospitais.

- Ninguém além dos médicos gostam. - ele riu - Bom, vou assinar sua liberação. Senhor Jung, não esqueça do que falei ontem. - ele acena e vai embora.

- Ai, a Lore vai me matar quando chegar no dormitório.

- Pedi para que Yoongi avisasse a ela sobre o que aconteceu. Não se preocupe. Iremos lhe levar em casa.

- Não precisa, eu posso pegar um táxi… - não a deixei falar.

- Claro que não, Dulce. - falei de forma firme - Vamos lhe levar e isso não é um questionamento. - a ajudei a se levantar e se ajeitar e saímos do hospital.

O caminho até o dormitório não foi nada silencioso. Jimin fez questão de extrair o máximo de informação que podia de Dulce. Ela respondia tudo com um sorriso e um brilhinho nos olhos - cut *--* . Yoongi ria dos comentários avoados do mais novo e eu só os observava. Era uma cena tão familiar, eu poderia me acostumar com isso. Imaginei que ela seria muito bem recebida pelos outros e eles iriam adorá-la.

Quando estávamos perto de chegar, Jimin a fez acompanhá-lo em uma de nossas músicas e ela cantou Boy in luv divinamente bem. Tentava fazer alguns movimentos da coreografia mas a leve dor na barriga a impedia.

Chegamos e eu a ajudei a descer. Os meninos se despediram dela, Jimin de forma mais alegre. Desci e fomos até a porta do dormitório. Ficamos lá uns minutos, nos encarando, palavras que não seriam ditas em nossos olhares, até que uma Lore preocupada e irritada abrir a porta e a abraçar.

- ARE YOU CRAZY? HAVE YOU COMPLETELY LOST YOUR MIND?- ela falou em um inglês perfeito após soltar Dulce - Quer morrer e me matar por tabela? Olha, não sei como ainda sou sua amiga.

- Pega leve, Lore. Ela precisa descansar. - só então ela notou minha presença.

- Ah, oi Hobi. - Lore falou, dessa vez em coreano - Obrigada por cuidar dela. Quanto a pegar leve… - ela estreitou os olhos na direção de Dulce - ...eu já não posso prometer nada.

Eu conseguia sentir a preocupação na voz dela, então sorri.

- Acho que tudo que ela precisa agora é das amigas e de um pouco de repouso.

- Amigas… sei. No momento eu estou mais pra uma mãe muito irritada. Você.. - apontou para Dulce - Entra já neste quarto que nós vamos conversar bem direitinho.

Dei uma risada baixa e aliviada. Dulce estava em boas mãos.

- Eu te ligo. - me aproximei de Dulce e dei um selar em sua testa - Até depois, Lore. - me curvei e antes de ir ao encontro dos meninos, escutei a porta fechar.

Respirei mais aliviado, agora Lore cuidaria dela e eu poderia ir pra casa descansar. Precisava estar relaxado para traçar um plano de ajuda pra Dulce. Assim que estivesse recuperado, ligaria para um especialista e me informaria do que era preciso. Entrei no carro e fomos para nossa casa. Recostei minha cabeça no acolchoado do carro e me entreguei ao sono.