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História Farce - Réunion


Escrita por: souhamucek

Notas do Autor


Hello, hello! Saudades? Espero que sim, porque eu estava.
Antes de começar a falar sobre o capítulo, preciso comentar uma situação da semana passada. Vamos lá:
Recebi três comentários no capítulo anterior que me deixaram pensativa quanto às escolhas passadas. Bom, não me arrependo de ter escrito um affair entre Justin e Carolina. O diálogo servirá de amadurecimento para a personagem durante uma discussão do Bieber com a mãe no futuro. Nunca duvidem do caráter do Justin. Ele é uma pessoa pura e que busca apenas a própria felicidade. Porém, ele é um jovem adulto com os instintos à flor da pele e livre. Conhecer novas pessoas é algo inevitável. Reconquistar a Chloé é o que o move, mas o Justin sabe que, mesmo com todo seu esforço, consegui-la a confiança de volta pode ser um tanto utópico. Todavia, ele fará o possível.
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Dadas as explicações, vamos ao novo capítulo. Este é muito importante para a estória, pois é nele que chegamos ao "presente". Então, até o tempo verbal na escrita ficará evidente.
Quero agradecer infinitamente ao @hardwell por ter feito essa capa nova para Farce. Está maravilhosa, e eu estou encantada. O que acharam?
Vejo vocês nas notas finais, até lá!!

Capítulo 12 - Réunion


Fanfic / Fanfiction Farce - Réunion

Encontro

Paris, 11 de Março de 2015

Eu encarava atentamente as minúsculas bolhas que formavam no filete de espuma na xícara de café. Confesso que não é comum que eu me disperse com tão pouco, entretanto qualquer coisa era capaz de me desconcentrar completamente naquele momento. Com os meus parentes distantes, eu perdi o hábito de tomar uma pequena xícara após almoçar. Eu sentia falta. O amargor da cafeína finalizando os sabores na boca me remetia à minha adolescência em Toronto. Era de praxe. Todos os dias, assim que os pratos eram recolhidos, a minha avó servia um café bem forte e quente. 

O grito estridente de um prato expulsou meus pensamentos em questão de segundos, quando meu avô o esbarrou no mármore da pia. Desviei meu olhar rapidamente para o velho lavando a louça.  Não haviam cacos ou estilhaços de porcelana por ali, então deduzi que não fora nada. Por outro lado, meu susto se manteve no momento em que percebi que ele vestia apenas uma cueca e um avental. Imagem traumatizante, eu diria, porém tão livre que jamais poderia ser julgada. Vovô estava feliz.

Meu avô lavou a louça do almoço, cantarolando, desde o primeiro copo, os gritos de guerra os quais cantara no exército. Eu tentei fazer o mínimo de ruído possível a fim de evitar ter que ouvir pela milionésima vez como foi participar da batalha entre Estados Unidos e Japão, durante a segunda guerra mundial. O velho se orgulhava muito de ter representado a pátria anos atrás. No entanto, mesmo exausto das histórias sobre matança, eu adorava escutar como ele conheceu a vovó na enfermaria. 

Na maca ao seu lado, baleada no intestino, estava a minha avó. Ela contava os segundos para que a morte viesse buscá-la. O soldado lhe disse que se ela resistisse, eles se casariam e ele estaria ao seu lado para sempre. E, assim, vovô o fez. Meu avô a amou até seu último suspiro. E, eu preciso dizer que é graças a eles que eu acredito no amor.

Levantei-me da mesa, guardando a cadeira no lugar. Meu corpo clamava por descanso. Abruptamente, meu pai adentrou o apartamento. O rosto empolgado me animou. Eu me sentei na beirada da cama à espera do que vinha a seguir. Criei diversas hipóteses na cabeça, mas, no fundo, nenhuma me convencia de verdade. Encarei os olhos castanhos esverdeados e sorri confidente, erguendo as sobrancelhas, como quem dissesse "e então?". Ele uniu ambas as mãos em frente ao peito, abrindo-as ao anunciar:

— Encontrei o lugar perfeito para o seu bar!

Brasserie. — corrigi prontamente.

— Tanto faz, Jay! — deu com os ombros. — Vista um casaco e chame o Pierre, quero te mostrar o local.

Obedeci. Como o meu pai arrumara todo o apartamento, encontrei sem dificuldade o moletom pendurado no armário.  Meu avô, por sua vez, preferiu ficar em casa e relaxar depois do almoço. Sendo assim, fomos os dois em busca do "lugar perfeito".

Entre implicâncias e apegos se resumiu o nosso caminho. À cada esquina, uma piadinha — e um cigarro. Depois da separação, meu pai passou a fumar antes de dormir. No entanto, agora, ao que tudo indicava, à qualquer hora uma tragada lhe caia bem. Eu não me lembrava que ele fumava tanto, isso precisava mudar. Nunca fui careta, eu sei que as pessoas fumam e que cada pessoa tem o seu vício. Porém, a partir do momento em que você perde o controle, é necessária uma intervenção. Meu pai sempre esteve comigo, eu estaria com ele. Era minha obrigação salvá-lo.

— Pai, apague este cigarro. Isso te dominará, aliás você já é um dependente. — puxei a guimba do meio de seus dedos e a atirei no chão. Esmaguei com o sapato antes que resolvesse se agachar para pega-la.

— Você fumava maconha, não pode reclamar de mim. — revidou, sem pestanejar. — Eu me habituei a fumar uns cigarrinhos à tarde, não tem mais jeito.

— Não me compare com você. Eu dividia um baseado com os amigos, eram no máximo duas tragadas em um beck. — deu com os ombros, num gesto completamente infantil. — Você fuma o quê? Um maço inteiro por dia?

— Três. 

— Pai! — repreendi. — Pare com isso. Já perdi a vovó, eu não posso te perder.

Uma lágrima filha única nasceu no canto de seus olhos, envolveu meu corpo em seus braços e me apertou contra o seu tronco. Pude senti-lo beijar o topo de minha cabeça, então suspirei com um sorriso nos lábios.

— O que a francesa tem a ver com o seu bistrô? — mudou o assunto na cara dura.

— A comida preferida da Chloé é queijo brie com damasco. — expliquei. — Quando a Chloé vir que eu cumpri a promessa, ela me perdoará, mesmo com toda a raiva que ela sente por mim. Pelo menos, é isso o que eu acredito.

Com o orgulho estampando seu rosto, meu pai balançou a cabeça enquanto as mãos sobrepunham meus ombros.

— Sabe uma coisa que eu admiro muito em você, meu filho? — neguei com a cabeça, curioso. — Você não perdeu a capacidade de amar, mesmo depois de toda a rejeição de sua mãe.

Alguma coisa dentro de mim me disse que aquela era a hora de perguntar sobre a minha mãe. Eu sei que ela o traiu com um francês ricaço e que meu pai odiava a maneira como a minha mãe me tratava desde a transição. Porém, ele nunca me contou o que fez com que desistisse do casamento. Muito pelo contrário.

Deitados na cama de casal, o meu pai chorava em silêncio enquanto Margot — recuso-me a chamá-la de mãe, principalmente nesse momento — ligava para o namorado. Escutando suas juras de amor, ele se torturava todas as noites em insistir naquela família. As bolsas roxas sob seus olhos me mostravam como aqueles eram os piores dias de sua vida. E, consequentemente, tornaram-se os meus também. Minha avó e eu suplicávamos para que aquilo tivesse fim, entretanto ele não nos ouvia. Estava cego de amores por uma mulher que não lhe era capaz de dar o mínimo respeito.

Procurei minhas melhores palavras. Nenhuma delas me parecia boa o bastante para tocar em algo tão delicado. Sendo assim, sem muito jeito de formular uma frase, indaguei da forma mais fria que pude.

— Pai, falando na mamãe... responda-me uma coisa. — concordou com a cabeça. — Por que demorou tanto a abandoná-la se ela era uma grande filha da puta?

As esferas carameladas se arregalaram, mas um sorriso mínimo surtiu nos lábios secos.

— Sua mãe não era filha da puta.... Não no começo. — deu-se por vencido. — Nós nos apaixonamos rápida e perdidamente. Margot nunca quis engravidar, ao contrário de mim. Quando descobrimos a sua vinda, ela sonhou em ter uma filha. Contou a todos que sua princesa viria loira com os olhos verdes. A primeira decepção surgiu quando suas íris escureceram e chegaram ao castanho.

— Viu? Ela sempre foi idiota. Quem se importa com os olhos de um bebê escurecendo?

— É, talvez você esteja certo. — gargalhou minimamente. — Ela se irritava com o fato de você não gostar de usar as maquiagens e os vestidos os quais comprávamos. Todavia, o mundo dela veio abaixo quando você nos disse que era um menino aprisionado num corpo que não era seu. Para ela, aquilo era uma desonra. Desonra aos seus sonhos de infância. — revirei os olhos. — Eu sofria muito com as merdas que ela dizia sobre você, mas eu a amava. Meu interior implorava para que eu superasse tudo. Eu pensava nos prós e contras de insistir naquele relacionamento infeliz. — pude notar a mágoa estremecer sua voz. — Dizem que o pior cego é aquele que não quer enxergar, certo? Este era eu. No dia em que descobri o caso com o estrangeiro, eu escutei os gemidos de uma boa noite de prazer na minha própria cama de hotel em Quebec. Brigamos por horas, ela me disse coisas horríveis e eu as abstrai.

Precisei interrompê-lo.

— Quanta falta de amor próprio, pai. Onde estava a minha avó para te dar um choque de realidade?

— Chegarei lá. — rimos juntos, e ele prosseguiu. — Margot passou a ter uma vida dupla. Eles se telefonavam, saiam para transar nos nossos aniversários de casamento, compraram casa. Eu sabia de tudo. Pior, eu aceitava isso. — não fui capaz de evitar que minha boca entreabrisse. — Eu sei, era patético. Eu só queria acordar todas as manhãs com a Margot ao meu lado. Contudo, assim que a sua mãe anunciou que estava grávida de uma menina, perdi o chão. Foi naquele dia, quando você retirou as glândulas mamarias. Lembra-se? — concordei, completamente em choque. — Ela te humilhou diante de todos. Aquilo me machucou profundamente. Margot poderia me magoar, mas jamais te menosprezar. Conversei com a minha mãe naquela noite e cheguei à conclusão de que nós não merecíamos viver ao lado de alguém tão repugnante quanto ela. — nesse instante, meus lábios estavam erguidos num sorriso contido. — Justin, o meu amor pela sua mãe é imenso, mas ele não se compara a um terço do que eu sinto por você.

Eu não precisava ouvir mais nada. Sem pedir permissão, eu me enterrei em seus braços. Pendurando-me em seu pescoço, aninhei meu rosto completamente úmido pelas lágrimas que transbordaram antes de me dar conta. As mãos de meu pai esmagaram meu corpo contra o seu. Nós quase perdemos o equilíbrio naquele abraço bruto em meio às largas avenidas da cidade-luz. Nenhuma palavra acometia a minha mente. 

Eu não sabia como responder um carinho tão grande quanto aquele. A única coisa que eu sabia naquele instante era que eu tinha o melhor pai do mundo.

Por conta das conversas complexas, nós dois nos distraímos. Por pouco não perdemos a entrada da viela a qual meu pai encontrou um antigo bistrô. A localização era boa. Havia um metrô por perto, estacionamento para bicicletas e, como foi um restaurante antes, poucas obras bastariam na reforma. Eu concordaria com o meu pai ao julgar o local como perfeito, mas o estado deplorável me impedia.

O chão estava quebrado, coberto por uma camada espessa de poeira negra. Sob as teias de aranha, o teto estava descascado. As paredes estavam manchadas, até mesmo com partes do papel rasgadas. Se me serviria de conforto, pelo menos os utensílios de cozinha — os quais eu desconhecia completamente — já estavam instalados. 

O preço dentro de nosso orçamento me animou, bem como o pulsar acelerado de meu coração com a mera esperança de que aquele seria o primeiro passo para ter Chloé de volta.

 

Paris, 14 de Abril de 2015

Nunca pensei que a burocracia de um país pudesse ser tão complexa. Consigo comprar o espaço para montar a minha brasserie. Mas, o que eu pensei que seria simples se tornou uma bola de neve e levou mais um mês para ser concretizado. Enfim, LeClaire começaria a se erguer.

Pergunto-me porque um governo embarreira tanto um investimento na área. Isso valoriza a economia. Ainda mais na França, onde comida é algo um bem tão valioso. 

Depois de pesquisar diversas receitas, testei algumas em casa para a minha desgraça. O estresse consumiu o meu corpo durante esses trinta e poucos dias, quiçá ele ainda me habite. O lado bom disso tudo é que, por conta dos negócios, o meu pai ficou um pouco mais na cidade. E, assim, nós podemos desfrutar das belezas de Paris.

Eu sei que é cômico pensar que, desde que eu cheguei, ainda não fui a esplêndida Torre Eiffel. Quero dizer, eu passei ao redor algumas vezes, beijei a dona dos olhos azuis brilhantes sob ela, porém, em nenhum momento, eu subi. Digo a mim mesmo que sou uma vergonha para a nação francesa. Há quase quatro meses eu ignoro a presença da torre. Parece que depois do término — se é que posso chamar aquilo de "término", já que nunca oficializamos nada —, eu associo o monumento à Chloé. Atualmente tenho relacionado sua presença a todos os cantos, eu confesso, mas ali, sob as luzes amareladas e com o frio marcando presença, nós demos o nosso primeiro beijo. E que beijo.

Em Toronto, não há o costume de beijar usando a língua. Só quando você realmente ama uma pessoa, ou durante o sexo, numa explosão de volúpia. Lá é chamado de "french kiss", eu nunca entendi o porquê. Agora eu sei. O beijo francês é caloroso. Especial. Para mim, o que mais me surpreende desta pratica é que aqui é apenas um beijo (viciante).

Pisco os olhos, dispersando os pensamentos. Meu avô não se decide com qual roupa vai ao passeio. Ora coloca a blusa azul, ora veste o colete listrado. Seu argumento é querer sair galante — palavras dele — nas fotos. De acordo com o velho, quando veio há anos atrás, sua foto saíra tremida e, como antigamente as fotos eram reveladas muito tempo depois, ele não possui até hoje nenhum retrato belo daqui.

A feição do meu pai está impagável. Sua preguiça é nítida quando revira os olhos com a indecisão de vovô. Eu estou sereno. Nenhuma pressa me percorre. Quero apreciar cada segundo ao lado deles. Nada pode me estressar. Não hoje, nem agora.

Gargalho assim que vejo meu avô dando se por vencido e usando ambas as opções, a blusa azul com o colete listrado por cima. Tudo, menos galante.

— Estou pronto! — exclamou, colocando as mão na cintura larga. — E aí, meninos, como estou?

Papai e eu nos entreolhamos. 

— Bem. — mentimos juntos.

— Sendo assim, vamos, pessoal. O que estão esperando?

Sem mais perder tempo, saímos de casa. Convidamos Pierre para ir conosco, todavia o vizinho já havia combinado de tirar umas fotos com as amigas. Fomos só os três. 

A cada passagem subterrânea, eu agradecia mentalmente por eles não estarem sozinhos. Os dois são completamente perdidos. Mesmo com placas e mapas por todos os cantos do metrô, meu pai escolhe as entradas erradas enquanto o vovô erra o sentido. Ainda bem que eles têm a mim.

Depois de muita risada, atingimos o objetivo. As estações passaram rápido pelas pequenas janelas. O entra e sai de pessoas foi breve. Em poucos minutos, chegamos a estação próxima da torre. Ajudo o velho a descer do trem, e ele agradece com um assentir de cabeça. Escoramos nossos braços na escada rolante. Os degraus nos levam para cima. A claridade invade nossos rostos e, finalmente, enxergamos o monumento gigantesco. Chegamos.

— Pelo jeito, não fomos os únicos que pensaram em subir a torre esta tarde. — concluiu o pai ao encarar o mar de gente enfileirado. 

A fila quilométrica nos garante que aquilo é, de fato, o maior ponto turístico da França. Não ousamos desistir. Juntamo-nos aos casais no final da fila. Alguns longos minutos se passam até que uma moça aparece para nos avisar que há uma entrada preferencial para idosos.

Fugimos da imensa fila e rapidamente chegamos a parte de segurança. Somos revistados, atravessamos o detector de metais e nos esprememos no elevador. Está cheio na imensa caixa de vidro, não sei contar quantas pessoas cabem aqui, mas são muitas.

O elevador sobe na vertical, observamos cada haste da torre. Cruzamos todas as estruturas de sustentação do monumento. Impressionante como cada fração de milímetro da torre é incrivelmente lindo. Os flashes começam já amontoados na caixeta. 

Assim que a porta se abre, saímos de mãos dadas pelo primeiro andar. Vemos algumas pessoas resistentes chegarem de escada. Corajosos. Unimo-nos de todas as maneiras possíveis para as fotos. Primeiro, eu e meu avô com a vista para rio. Depois, o meu e meu avô, por último eu e o meu pai. Em seguida, usamos a mesma sequência em todos com outro plano de fundo. Eu estava só esperando o momento em que a notificação de memória cheia surgiria na minha tela. Fotos e mais fotos. Tudo ali deve ser registrado.

Ouço uma guia dizendo que durante o inverno montam uma pista de patinação no gelo aqui. Imagina que sensação incrível deve ser patinar em plena Torre Eiffel. Perto do centro, há um piso de vidro. Por ali, pode-se enxergar todos embaixo da torre, até mesmo os vendedores ambulantes. Devo confessar que o pavor percorre toda a extensão de minha espinha quando olho para baixo. Definitivamente, eu odeio altura.

— Justin, venha cá! — berra o meu pai, próximo à sacada. — Esta moça tirará uma foto de nós três.

A oriental nos aninha contra a vista para o Campo de Marte. Nós nos abraçamos com o sorriso no rosto e ouvimos o som da câmera. 

— Muito obrigado! — digo a madame, pegando o meu celular de suas mãos. Ela sorri docemente e se junta aos acompanhantes. — Vamos ao topo? Descemos depois para almoçar aqui.

— Acho justo. — concorda o avô, ajeitando as laterais da calça.

Enfrentamos mais uma fila para o elevador. Chegamos ao topo e o cubículo de vidro me encanta. Do lado de fora, as casas iguais parecem de mentira. As pessoas têm tamanho de formigas. Mais fotos por aqui. Eu não esperava que subir a torre fosse tão lindo. Perdi muito tempo protelando em vir.

Com o braço jogado por cima do ombro magro de meu avô, estendo bem o outro com o iPhone na mão. Enquadro bem a família junto a paisagem minúscula atrás de nós. Todos sorrimos bem felizes. Dou o primeiro toque na tela.

— Opa. Mais uma para garantir... —  faço uma careta bem divertida com a língua para fora. Um rapaz esbarra em mim na hora em que estou prestes a apertar o botão, tremendo a foto. — Porra. De novo. — ergo o celular mais uma vez.

De repente, antes que eu pudesse registrar novamente o momento, uma multidão nos ultrapassa. Duas pessoas esbarram em mim, contudo, movidos pela pressa, não capazes de se desculpar. Nós tentamos entender o que ocorre. Por que tamanha pressa?

— Bomba! — berra um grupo de asiáticos no momento em que disparam em direção ao elevador.

Em questão de segundos, todo mundo no topo da torre se desespera. Correria para todos os lados. Não temos para onde ir. Os elevadores enchem rapidamente. Com dificuldade, o meu avô aperta o passo. Papai e eu ajudamos o idoso em meio à euforia. Os olhos apavorados se acalmam assim que entram no elevador.

Piso os meus pés no metal, mas uma mão empurra o meu corpo para atrás. Meus órbes arregalam em desespero.

— Desculpe-me, senhor, mas o elevador está lotado. — o homem uniformizado me afasta ainda mais.

— Não, como assim? — meus dedos escorregam da mão áspera de meu pai conforme meu corpo é arrastado para fora. — Abra uma exceção, por favor. Eu estou com eles.

— Então, nós sairemos. Não ficarei aqui sem o Justin. — resmunga o velho.

— Não. — berro com um nó na garganta. — Fiquem, por favor.

Encaro o segurança com a mão na máquina que coordena o elevador. Engulo em seco, franzindo o olhar.

— Deixe-me entrar. Sou magro... — ele interrompe.

— Ordens da companhia, senhor. Afaste-se. Desça no próximo.

As portas se fecham diante de meus olhos. Dentro da caixa espelhada todos os rostos expressam a mesma sensação: medo. Esmurro os portais em fúria. Gritando repetidamente "Não!", intercalando-os com socos no metal. O homem segura os meus braços para me intervir e me adverte em francês. Sem entendê-lo, solto um grunhido. Dando-me por vencido, decido correr para o outro elevador. Preciso descer o quanto antes. Não posso abandoná-los.

— Como assim não posso descer? — ouço uma voz feminina gritar próximo ao amontoado de gente assustada.

Giro em torno de mim mesmo no meio das janelas gigantescas do topo da torre. Olho nos olhos das pessoas a correr. Caos. Tudo o que os meus olhos enxergam neste momento é caos. O pavor está estampado no rosto de cada um. As lágrimas banham as bochechas daqueles que ligam para os parentes. Meu coração dispara sob o peito, mas tento manter a calma. A única pessoa destemida o bastante para não se abalar nesses alardes de bomba é a Chloé. Pensarei como ela, de forma fria e calculista.

— Desisto. Vão se foder! — ouço novamente a voz se destacar enquanto as pessoas se afastam, como se dessem passagem a alguém.

Bufo ao fitar mais confusão nos elevadores. Por que tanta demora? Eu só quero descer. Encaro os meus pés, junto os calcanhares para abstrair a tensão que corre em minhas veias. Estou com medo, confesso. Demorei tanto tempo para encontrar a minha família, agora não estou pronto para perdê-los.

No meu campo de visão, um par de sapatilhas vermelhas pára próximo a mim. Ergo meu rosto, filmando, consequentemente, o vestido rodado com estampa floral até desvendar os lábios pintados com um batom rubro familiar. Congelo completamente assim que me deparo com os olhos azuis brilhantes. Aquela sensação de borboletas no estômago volta. É ela. 

Como se o destino nos pregasse uma peça, em meio ao caos eu a encontrei. 


Notas Finais


VRAU! Digam o que acharam, por favor. #ChlostinIsBack
Elogios, críticas, o que for, quero saber o que se passa na cabeça de vocês.
Muito obrigada por lerem e apoiarem tanto um enredo tão original. Não canso de dizer o quanto sou grata por todo carinho. Vocês não sabem o quanto eu me sinto feliz com cada comentário, até mesmo os mais simples. Eu adoro todos.
Quero indicar uma estória a qual conheci hoje, Together. Maravilhem-se com esse enredo destruidor da Anna, assim como eu. https://spiritfanfics.com/historia/together-6322804
Um beijo e até semana que vem,
Lali ♥


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