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História Farce - Manque


Escrita por: souhamucek

Notas do Autor


Antes de tudo, quero agradecer a chegada de todos os novos leitores e desejar boas vindas. Espero que a minha estória ainda surpreenda e envolva muito todos vocês. Aos leitores antigos, vocês sabem o quanto eu sou grata por cada comentário e favoritos. Nunca cansarei de dizer o quão realizada eu me sinto com o sucesso deste enredo. Um número que para muitos é pequeno, para mim representa uma imensa conquista. Muito obrigada!!
Sobre o capítulo de hoje, devo confessar que não estou 100% satisfeita. Tive um bloqueio absurdo ao longo desta semana. Sei que está um pouco curto em relação aos anteriores, mas, pelo fato de conter muitos diálogos, preferi deixá-lo assim para evitar monotonia. Espero que gostem!!

Capítulo 13 - Manque


Fanfic / Fanfiction Farce - Manque

Saudade

Abro a boca na tentativa de formular uma frase, mas nenhuma palavra me parece boa o bastante. O pulsar desesperado sub o peito me tira a concentração. Eu pareço um adolescente. E não tenho a menor ideia de como consertar isso.

— Oi. — ela quebra o silêncio.

Sempre é ela quem toma a iniciativa. Preciso virar esse jogo.

— Quanto tempo, não é? — sorri parcialmente.

— Desde que mentiu para mim. — sinto o meu ar travar ao sair. Eu não estava preparado para uma resposta assim.

— É... e brigamos feio. — concordo, e a feição de desprezo se dissolve rapidamente. — Eu fui um idiota.

— Foi mesmo. — porém, Chloé mantém o tom seco.

A tensão em nossa conversa dispersa o desespero ao redor. Ignoro tudo em volta, focando exclusivamente nela — como se antes fosse diferente. Coço brevemente a nuca enquanto vasculho em alguma parte do cérebro uma maneira de melhorar a situação. Mais uma vez, falho com louvor.

Dizem que a maturidade é expressa nas respostas doces às indagadas tortas. Todavia, manter a serenidade em meio às farpas é uma missão quase impossível. Desisto de formular réplicas impecáveis, optando pelo meu muro de proteção preferido, o humor.

— Devo recordá-la de que você menosprezou a minha parte intima. — meu tom ácido lhe incomoda, mas o sorriso no canto dos lábios não abandona a loira. — Não se preocupe, eu jamais guardaria rancor. — observo as íris azuis revirarem. — Afinal de contas, eu sei que, no fundo, você estava decepcionada que não conhecera até então a minha vagina. — disparo, alfinetando friamente.

— Com toda certeza. Porque obviamente a grávida ninfomaníaca ficaria arrasada por não colar velcro nas horas vagas.

Sem mais ânimo para conversas, ela dá de ombros. Assim que seu corpo gira em torno de si, o vento quase nulo é suficiente para trazer a fragrância adocicada para as minhas narinas. Como eu senti falta disso.

— Olhe, Chloé... — toco os dedos gélidos, e ela para, virando para mim apenas o rosto. — Eu sei que você me odeia, mas... — ela interrompe em tom risonho.

— Justin, eu não te odeio. — bufa ao desviar os olhos dos meus para o chão.

Um sorriso esperançoso surge em meu rosto. Pelo fervor em minhas bochechas, presumo que estejam visivelmente coradas.

— E-eu odeio a sensação que você causa em mim. — a emoção em suas palavras a faz praguejar.

— Qual sensação?

— Impotência. — engulo em seco. — Todas as vezes em que eu olho para você, ou me lembro de como as coisas entre nós terminaram, eu tento odiar você. Contudo, eu simplesmente não consigo. — de repente, percebo meus olhos marejarem. Segure-os, Justin. Não chore. — Você já me fez sorrir muitas vezes, eu não posso ignorar tudo. Sendo assim, brigo com a minha mente para que ela se esqueça do quanto eu sofri.

Como eu pude ser tão sem coração? Movido pela fúria, eu disse coisas horríveis a uma grávida. Uma criança a qual eu cuidaria como filho. Inferiorizei uma mulher por gravidez indesejada, como se a culpa do descuido fosse somente dela. Eu fui um monstro. Chloé tem todo o direito de me odiar. Para ser bem sincero, se eu estivesse no lugar dela, eu também me odiaria.

— Desculpe-me pelo comportamento patético. Eu errei com você desde o início. Sigo te decepcionando, no entanto eu quero mudar isso. — surpresa, ela fica estática ao me ouvir. — Eu sei que isso pode parecer meio bobo, mas nós podemos começar do zero... — antes que eu tivesse a chance de terminar a frase, a francesa estende a mão alva na minha direção.

— Prazer, sou Chloé LeClaire.

Não sou capaz de conter o sorriso abobalhado que nasce brevemente na lateral direita de meu lábio. Meus olhos migram para a palma da mão virada para cima, como se me convocasse. Estico o meu braço, alcançando a pele delicada de seus dedos. Num chacoalhar tímido, eu aperto sua mão.

— Muito prazer, madame. Sou Justin Bieber, um intercambista transexual.

Irônico como um gesto tão simples e simbólico é capaz de fazer com que todos os dias sombrios sumam junto à melancolia que me rodeou por esse tempo. Ademais, o que há de mais encantador neste momento é o fato de estar aqui, cara a cara, com as mãos enlaçadas às de Chloé. Fiquei tão distraído com o reencontro que nem se quer percebi que o céu alcançou a coloração anil. E, pelo incrível que pareça, eu poderia ficar assim a noite inteira. É como se num soprar de vento toda a mágoa fugisse ao ditar que entre nós não haveria mais memórias ruins.

Em meio ao esquecimento profundo, ergo meu olhar até fitá-la os lábios. O batom vermelho revelando o formato perfeitamente desenhado de sua boca de praxe me fez falta, assim como o brilho nas extremidades de seus olhos azuis. Toda e qualquer reação que eu posso ter é interrompida pelo entorpecente que corre as minhas veias quando consigo enxergar as luzes de Paris refletidas em seus orbes. Basta este mísero segundo para que as lembranças do sorriso mais lindo aqueçam o meu corpo.

A sensação de tocá-la novamente é tão indescritível que eu não sei como reagir. Ou protestar. Fico estático, com um sorriso de orelha a orelha, minhas mãos presas às dela e, é claro, mantendo os meus olhos a observar a pupila destacada na imensidão turquesa. Isto não é uma simples troca de olhares, eu consigo vê-la através da íris azulada. Frágil e gentil, Chloé está entregue ao nosso recomeço.

— Com licença, senhores! — a voz grave de um dos seguranças me desperta do transe. — O objeto suspeito foi analisado, e não há risco na Torre. Sendo assim, os elevadores estão liberados.

Balanço a minha cabeça, recobrando a consciência. Caminho em silêncio ao lado de Chloé, completamente eufórico por dentro e, ao mesmo tempo, quieto por fora. A loira encara o segurança com quem discutiu minutos antes, puxa-me pelo braço para adentrar o elevador e me filma dos pés à cabeça com um sorriso debochado no rosto.

— Sabe, Sr. Drew, eu sou professora de francês. Caso o senhor tenha interesse, posso ajudá-lo com a língua. — pigarreio com a ambigüidade da frase.

— Ajudar-me com a língua?

— Sim, o idioma. — sua risada é discreta, numa provocação nítida. — Não se preocupe, sou extremamente profissional. Eu jamais me envolveria com um aluno. — sua mão direita mergulha no decote redondo do vestido, fisgando um pequeno cartão, o mesmo de meses atrás. — Aqui, senhor. Se precisar de mim, não hesite em ligar, estarei sempre à disposição.

Seguro o cartão, encarando todos os detalhes já conhecidos e ergo os olhos em direção aos dela. Meus lábios se estendem num sorriso de forma involuntária, molho-os com a língua. A porta do elevador diagonal se abre, e nós saímos lado a lado. Guardo o informativo no bolso de trás da calça jeans.

— Pode deixar, Srta. LeClaire. Ligarei assim que for preciso, muito obrigad... — minha frase é interrompida.

— Justin, graças a Deus! — os braços de meu pai me envolvem num abraço de urso, o qual não sou capaz de protestar. — Eu já estava desesperado aqui embaixo.

— Até logo, Sr. Drew. — posso ouvi-la através do afago de meu pai.

Num piscar de olhos, vejo-o acompanhá-la com os olhos até a saída. O sorriso malicioso em seu rosto não esconde o ar de satisfação. Por sua vez, o meu avô faz o mesmo. Porém, com as mãos na cintura, ele pergunta sem hesitar:

— Quem é aquela moça bonita, meu filho?

— Aquela é a Chloé, vovô. — suspiro, procurando-a com o olhar. — Ela é linda, não é?

— Eu não imaginava que ela fosse tão bonita quanto você dizia. — confessa o pai em tom risonho. — Vamos, Justin. Hoje o jantar é por sua conta.

Tendo em vista que o meu dinheiro é o mesmo que o da família, optei em economizá-lo. Os gastos com a brasserie serão altos, ainda há muitas reformas para serem feitas. Reencontrar Chloé me deu ainda mais vontade de mostrá-la que cumpro as minhas promessas. A minha vontade é de surpreendê-la. Sei que talvez seja utópico pensar que ela volte para mim em tão poço tempo, no entanto, a esperança de um dia tê-la novamente é o que me move. Persistirei.

E, partindo do principio de que não desistirei de abrir o negócio, prefiro cozinhar para a família o jantar deste dia turbulento.

Com isso, cozinho um dos pratos os quais quero colocar no cardápio: l’entrecôte com molho de queijo brie e mostarda dijon acompanhado de batatas fritas. Visto o avental digno de capa de revista de meu avô. À cada lance de batatas congeladas no óleo quente, dou um passo para trás assustado. Ouço os familiares gargalhando atrás, mas persisto. A carne doura facilmente, ao contrário do molho, que resiste a pegar o ponto. O suor causado pelo calor das panelas escorre de minha testa, seco-o com a manga da blusa e espio para ver se ninguém está vendo.

Ora petisco umas beiradas do corte bovino, ora umas batatinhas.Depois de quase desistir de fazer a refeição algumas vezes e cogitar uma pizza delivery na hora resumida de tensão, termino. Apesar da aparência grotesca, o cheiro é convidativo.

Sem tardar, monto o meu prato. Carne fatiada sob o molho amarelado e as fritas  preenchendo todos os espaços vazios. Em seguida, meu pai se serve, fazendo o mesmo para o avô. Sentamo-nos os três à mesa, como se estivéssemos num restante chique. A quarta cadeira vazia me lembra a vovó, Entretanto, guardo o pensamento para mim a fim de evitar tristeza durante o jantar.

— Filho, o jantar está uma delicia!

— Obrigado, pai. Fi-lo com muito carinho. — sorrio amplamente, devorando os palitos de batata.

— Justin, meu filho, este molho me lembra um que a sua avó fazia quando começamos a namorar. — abro um sorriso. — Ela era viciada em mostarda dijon, colocava esta merda em todas as preparações que cozinhava. O mais engraçado disso tudo é que ela era a única que gostava desse toque especial.

— A vovó era muito engraçada mesmo. — concordo ao encarar o molho áureo se misturar no suco de minha carne, — Eu sinto a falta dela todos os dias.

— Sempre sentiremos. A mamãe é a melhor pessoa a qual já conheci, mas não podemos ficar tristes pela perda. Afinal, ela foi muito feliz até o último momento de vida. — papai ameniza o clima.

Largo o garfo sobre a louça branca, tomando a mão de meu pai. O aperto transfere todo o peso sobre os meus ombros para ali. Os olhares marejados ao redor descrevem o misto de saudade e maravilha que é se lembrar da vovó. No embalo do momento, o meu avô começa a contar as muitas histórias ao lado dela. Umas até que eu nunca ouvi. Mas, para não perder o costume, certificou-se em contar sobre o dia em que se conheceram na enfermaria durante a segunda guerra.

Surpreendendo-me, descubro que a minha avó cantou no coral do exército e que se divertia nos bares escondidas. Constrangedor, todavia delicado, vovô confidenciou como fora a primeira vez dos dois. Antes mesmo de se casarem, durante uma das últimas batalhas, os dois se esconderam num caminhão vazio. A sós, inseguros e curiosos, entregaram-se ao amor ali mesmo. A partir daquela tarde, tudo era motivo para os dois se atracarem em qualquer lugar.

Quero viver um amor assim. Aliás, um dia contarei aos meus netos como tudo entre eu e Chloé aconteceu. Coço os olhos na tentativa falha de dispersar o sono. Vencido pela preguiça, levanto-me e os convoco para a cama. Aninho-me no meio dos dois. Vovô continua a relatar suas histórias até que peguemos no sono.

Quando o sol invade o apartamento, eu acordo sozinho na cama. Suponho que o meu pai tenha se levantado para correr e que meu avô esteja no banheiro. Crispo os olhos ao abri-los por completo, seguidos pelo bocejo. Espreguiço-me devagar e, sem trocar o pijama, sigo até a casa de Pierre. Há dias o francês não me encontra. Preciso contá-lo que encontrei a Chloé ontem.

Assim que eu abro a porta, observo duas malas familiares no meio do corredor. Volto o olhar para a minha sala minúscula. Vazia. As malas deixadas ali são as de meu pai. Corro até a escada e posso notar os pequenos sinais de calvície no topo da cabeça.

— Pai?

— Oi, Justin. — posso ouvir um grunhido. — Um instante.

Após poucos segundos, os passos largos e ágeis de meu pai o trazem para cima. Ofegante, ele apóia a mão no corrimão e sorri parcialmente.

— Está tudo certo, Jay. Fechamos negócio com o antigo bistrô. Você abrirá a sua brasserie! — movidos pela empolgação, abraçamo-nos fortemente em meio ao corredor.

— Puta que pariu! Muito obrigado, papai. — desvencilho-me de seus braços. — Você é o melhor pai do mundo.

A alegria no rosto de meu pai é o meu maior conforto. Vê-lo feliz é inexplicavelmente bom para mim. Eu perdi a minha avó, quem era a minha melhor amiga, mas, ao mesmo tempo, meu pai perdeu a própria mãe. O pesar dele é muito maior, nem considero justo comparar. Ademais, mesmo com toda a dificuldade, ele insiste em fazer as minhas vontades pelo único motivo de me ver sorrir.

Caminhamos lado a lado até as malas em frente à porta aberta de minha casa. Ele puxa uma de cada lado, entrando rapidamente para conferir o restante de coisas no apartamento.

— Então, desça para se despedir de seu avô, estamos indo. — solta uma das malas, rumando a mão livre para a calça.

— Como assim “indo”? Aonde vão?

— Enquanto a brasserie estiver em obra, estaremos no Canadá. Mas, não se preocupe, nós voltaremos daqui em um mês ou dois meses para a inauguração. — alerta-me, deixando o par de chaves que estava em seu bolso sobre a bancada de mármore preto na cozinha.

— Não! Vocês não podem ir. — protesto, empurrando o chaveiro de volta para ele, quem me ignora. — O que eu farei neste meio tempo sozinho em Paris?

— Ué? O que veio fazer aqui, estudar francês.

Sob o destino final das chaves está o cartão de visitas de Chloé um tanto amassado nas pontas. Pego-o em minhas mãos, mirando atentamente os números lacrados. Desvio o olhar para o meu pai, o qual segura as malas. Ele dá de ombros, com um sorriso malicioso nos lábios ressecados. Mordo minha própria boca, voltando a mirar o papel.


Notas Finais


Lembrem-se de me contar o que acharam do capítulo. Isso é m-u-i-t-o importante!!
Até o final desta semana, Farce estará concorrendo para ser o novo Layout do Blog Runaway Design. Para quem puder ajudar na votação, o link está aqui: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSf_DkXLwWwUwH7zbcluwdgRncJ2e7cK-V9FL5YCyRa_8S45Ng/viewform (vale lembrar que podem votar quantas vezes quiserem!!)
Além disso, postei uma nova Onshot, Sommerso, com o Zayn para o concurso do Dreams Of Writers. Sinta-se convidadíssimo para conhecer o enredo. https://spiritfanfics.com/historia/sommerso-6379593
Para finalizar, quero indicar a fanfic do Cezar que se tornou meu novo xodó, I'm In Love With A Witch. https://spiritfanfics.com/historia/im-in-love-with-a-witch-5707530
(Leia com a voz do Perna Longa) Isso é tudo, pessoal! PASKOPA
Boa semana a todos!!
Um beijo,
Lali ♥


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