História Feelings - Amberley

O caminho do apartamento do Harry até meu dormitório foi completamente tenso, recheado de silêncio. Harry e eu não trocamos uma palavra sequer, foi o mesmo em relação a olhares. Não nos olhamos nem por um segundo. Sei que talvez eu tenha sido extremamente ignorante com ele. Mas não temos escolha, vamos magoar uma pessoa maravilhosa e eu não quero isso para mim.

A minha vida já é uma completa bagunça, tão completa que não quero nem imaginar como seria se eu traísse Gemma, como iria ser daqui para frente. Tenho certeza que as pessoas da universidade saberiam que eu e Gemma somos lésbicas. Em uma universidade, ninguém pode saber que você é homossexual, porque se não, nesse caso você acaba sendo convidado para uma festa numa casa do campus e acaba sendo espancado até a morte, ou não. Foi o que aconteceu com Ian Bryan Turnner, ele foi o garoto da minha turma até o segundo semestre, mas eu nunca cheguei a me pronunciar com ele, ele era gay e esses boatos corriam por toda população universitária da UCL, mas não morreu, ficou apenas internado em estado grave e depois de seis meses ele pôde sair do hospital, desde então, eu nunca mais ouvi falar dele. Não quero que isso aconteça nem comigo e muito menos com a Gemma, se não, caso ao contrário eu viveria cheia de culpas até o final da minha vida, e viver com culpas, é uma das piores sensações que alguém pode ter, perdendo para o desprezo.

Balanço a cabeça na ideia de espantar qualquer tipo de pensamento e quando percebo já havia decido do carro do Harry e já estava em frente a porta do meu dormitório, puxo a chave da minha bolsa e a coloco na fechadura da porta, destranco a porta silenciosamente e encontro a bela visão de Gemma de costas para mim, virada para o espelho, com um vestido completamente preto colado, passando um batom cor de vinho claro, que eu mesma dei de presente a ela.

''Você demorou.''-é a primeira coisa que ela diz ao me ver enquanto eu fecho a porta.

''Ah você acha?''-pergunto e olho para o meu pulso esquerdo onde há meu relógio, da cor da minha pele. Ele já marcava as exatas dezenove horas, ainda era cedo para o tal jantar que ia ter em casa. Mas pensando melhor seria mais precavido ir agora, vai que algo acontece para nos atrapalhar-"Você vai dirigindo"-anuncio a ela. Gemma tem um carro mais quase não dirige, não que ela não saiba, mas ela diz que eu sou melhor que ela nesse quesito.

"Mas eu estou de salto! Não consigo dirigir de salto!"-olho para seus pés e vejo que seu salto não é lá aquele exagero todo como ela está tentando dizer.

"Tudo bem. É só tirar o salto e dirigir descalça até lá. Eu não quero dirigir.''

"Você é tão deselegante, Amber.''-ela caminha até sua bolsa e começa a mexer sem parar em busca de algo.Ela se vira para mim e me olha de cima a baixo e eu começo a me incomodar com aquilo, mas antes mesmo de eu perguntar o que ela queria, ela diz: "Vai ficar aí sentada? Não vai ir se arrumar?"

"Sim. Para a primeira pergunta. E não. Para a segunda."-sorrio e ela balança a cabeça negativamente.

"E posso saber o porquê?"-ela desiste de procurar aquilo que estava procurando na bolsa e fica na minha frente.

"Porque eu já estou arrumada"

"É incrivel como você não tem vaidade alguma."-ela comenta e vai para frente do espelho novamente.

"Já está pronta? Acho que podemos ir."-me levanto da cama.

"Sim. Mas tem certeza de que não vai nem se arrumar? Nem passar um batom?"

Ela vem caminhando até mim, com um de seus batons e eu apresso-me para lhe dizer que não, mas mesmo assim ela tira a tampa do batom.

"Por favor."-ela insiste e eu reviro os olhos.

"Tudo bem, mas só um pouco, não exagera."

Gemma fazia coleção de batons, ela tinha inclusive uma cor roxa junto com azul, eu nunca vi ela usando ele, mas ela tinha apenas para dizer que tinha, porque isso seria loucura. Quer dizer, quem usaria um batom roxo e azul em dias comuns?.

"Ficou linda."-ela diz olhando para mim. Caminho até o espelho e vejo que ela usou um batom, digamos, simples, quase não se da para reparar no que ela passou, mas confesso que uma pequena diferença em meu rosto.-"O que achou?"

Me viro para ela e respondo:

"Ficou muito bom"-ela me da um sorriso orgulhosa do que havia feito.-"Mas também acho que temos que ir agora. Podemos pegar transito. Esse é o horário que todos estão saindo do trabalho."

"Ótimo. Deixa eu só pegar a minha bolsa."-ela vai até a sua bolsa, mas antes de pega-lá e coloca-la em seu ombro. Ela a abre e pega a chave do carro e caminha até mim, colocando sua bolsa no ombro.