História Feita de vidro - Capítulo 5

POV April

Eu não sabia bem ao certo o porquê eu tinha aceitado aquela loucura, mas eu tinha que admitir, era melhor do que ficar em um quarto escuro nos fundos de um bar em que eu queria evitar durante um bom tempo.

Assim que entramos em seu pequeno, mas confortável apartamento ela me olhou de uma maneira que me deixou confusa e sorriu.

-Bem... é pequeno, mas espero que se sinta à vontade.- assenti e a segui pelo apartamento, enquanto ela me mostrava o lugar. Assim que chegamos em seu quarto, ela se virou e se aproximou.

Não sei dizer o motivo de eu ter ficado ereta, nem de ter trancado a respiração, mas estava bem claro pelo jeito porque ela notou e parou em minha frente arqueando a sobrancelha.

-Tudo bem? -engoli em seco e balancei a cabeça positivamente.

-Só... preciso dormir. O dia foi cheio. -forcei um sorriso e dei de ombros. -Acho que preciso de um banho.- apontei para trás, dando a entender que eu iria até o banheiro, mas quando me virei senti seu toque em meu braço e me virei para encara-la.

-A mochila.- assim que ela falou, lembrei que eu ainda tinha minha mochila abarrotada de roupas sobre as costas e senti meu rosto esquentar. Seus olhos castanhos, eram um misto de diversão e algo mais, que eu não sabia identificar.

-Ah sim.- comecei a me desvencilhar da mochila e me afastei da garota, indo em direção a pequena sala, onde coloquei minha mochila sobre o sofá e peguei algumas roupas para me trocar. Ao me virar dei de cara com Chloe, tendo a certeza que se ela estivesse mais próxima, acabaríamos nos beijando.

-Me desculpe.- ela me ofereceu uma toalha, a peguei e sorri.

-Obrigada.- ela deu de ombros.

-Pode usar os shampoos que têm lá, se precisar de mais alguma coisa provavelmente vai achar no armário. Qualquer coisa, é só chamar.- disse se atirando sobre o sofá e ligando a pequena TV de plasma.

Segui em direção ao banheiro e me livrei de minhas roupas, ligando o chuveiro logo em seguida e deixando com que o fluxo de água quente escorresse por minha pele e lavasse minha alma. Eu poderia teimar pela milionésima vez a mim mesma em dizer que eu não choraria, mas eu estava só adiando o inevitável e uma hora ou outra iria me escapar. Então deixei que as lágrimas se camuflassem as gotas de água que me envolviam.

Me curvei, enquanto soluços sacudiam meu corpo e coloquei a mão sobre a boca na esperança de que eu pudesse abafa-los. E chorei.

 Chorei tudo o que eu vinha guardando a um mês. Eu chorei pela minha mãe. Eu chorei por ele. Eu chorei pelo vazio que tomava conta de mim a cada dia mais. Eu chorei por mim. Eu chorei por nada e por tudo.

Deixei com que a garota fraca e ferida, aquela aos cacos, deixei com que ela saísse. E mesmo quando a água esfriou e não era mais suportável, eu ainda estava ali. Encolhida. Apenas olhando para os mórbidos azulejos brancos.  E eu poderia ter ficado ali pela eternidade, se não fosse por Chloe que bateu na porta alguns minutos depois.

-April, está tudo bem? - sua voz refletia a mesma preocupação que havia demonstrado mais cedo no bar. Fiquei enjoada só de lembrar o que havia acontecido.

-Estou sim, já vou sair.- disse, enquanto me levantava e pegava o sabonete de lavanda que eu havia aberto e comecei a me esfregar na esperança que as memórias daquela noite fossem embora pelo ralo assim como a água.

Assim que eu havia terminado, sai do banheiro dando de cara com uma Chloe preocupada encostada na parede. Ela me encarou e eu sabia. Eu aparentava ter chorado. Mas ela não perguntou nada, apenas se levantou e indicou para que eu a seguisse.

Ao chegarmos na cozinha ela pegou duas tigelas e as encheu de cereal fazendo menção para que me juntasse a ela na pequena mesa. Me sentei a sua frente e lhe lancei um meio sorriso.

-Obrigado, mas não estou com fome.- ela me olhou séria.

-Não perguntei se você estava e se não quer que eu pergunte por que estava chorando, coma. A escolha é sua.- ela enfiou uma colherada cheia de cereal em sua boca, enquanto me encarava desafiadoramente. Respirei fundo e dei uma colherada, lhe lançando um sorriso fingido para ela.

-Satisfeita?- perguntei sarcástica e ela sorriu.

-Muito. - ela deu de ombros e quando terminamos, ela me guiou até o quarto e se atirou sobre a cama. -Você não vai deitar?- ela me encarava sem entender, quando não me mexi.

-Eu posso arrumar o sofá, não quero incomodar.- ela revirou os olhos.

-Por que você acha que eu ia te tirar daquele muquifo pra te colocar no sofá? Ele é extremamente desconfortável.-ela balançou a cabeça e sentou, quando viu que eu não ainda não havia me mexido. -Ok, é o seguinte: eu estou cansada e você vai deitar aqui como uma boa garota que sei que é.- arqueei a sobrancelha e quando estava prestes a falar algo, ela continuou falando, não me dando chance. -Caso contrário, eu irei até aí e eu vou te trazer pra cama não importa a maneira que eu tenha que usar.

Eu estava embasbacada demais para poder responder. Ela estava brincando, certo? Ela não ia fazer isso, óbvio que não. Claro que não. Que besteira.

-Ok.- ela se levantou e veio em minha direção e eu comecei a realmente levar suas palavras a sério. Levantei as mãos em sinal de rendição e ela parou no meio do caminho, fazendo menção para que eu me deitasse logo.

Respirei fundo. É uma cama April, não é preciso fazer birra por isso. Seria até melhor e eu não precisaria me revirar a noite inteira naquele minúsculo sofá.

Assim que me deitei, ela se juntou a mim e me encarou por um breve momento, desligando o abajur em seguida.

-Obrigado.

Foi tudo o que me lembro de ter escutado antes do breu tomar conta de mim também.