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História Feita de vidro - Capítulo 9


Escrita por: Just_littlegirl

Notas do Autor


Primeiramente, fora Temer! Segundamente, me desculpem pela demora tive uns probleminhas ultimamente e a vontade de escrever não tava muito presente. Terceiramente, esse é o primeiro capítulo que não achei música para descrevê-lo. Então....
Por ultimo e não menos importante, boa leitura meus amores.

Capítulo 9 - Capítulo 9


Fanfic / Fanfiction Feita de vidro - Capítulo 9

21/09/2012

Abri os olhos e a claridade intensa os fez doer, fazendo com que eu os fechasse imediatamente. Fiquei alguns segundos apenas tentando respirar normalmente, mas havia certa dificuldade que eu não conseguia entender. Na segunda tentativa de abrir os olhos, me deparei com um teto branco e fiquei claramente confusa, não me lembrava de ter subido até o quarto para dormir.

Tentei levantar, mas uma fisgada no braço direito e a tontura me impediram e logo senti mãos em cima de mim. Ao olhar para ver de quem se tratava, me surpreendi com meu tio Clarke me encarando com preocupação, o que me deixou confusa.

-Ei, melhor você não fazer esforço. -ele falou com certa calma e controle na voz, que me assustou. Normalmente ele só usava aquele tom, quando alguma merda tinha acontecido. Ele agiu assim quando teve que nos contar sobre a morte de mamãe, porque papai estava machucado demais para ter que enfrentar os filhos... Papai, onde ele estava? O olhei em busca de uma resposta, mas seus olhos não conseguiram sustentar o meu olhar e mesmo com o braço doendo e suas mãos que me pressionavam sobre a cama, me sentei e com o braço livre agarrei seu ombro como um pedido de ajuda.

-Onde está papai?- ele continuou sem me olhar com sua cabeça baixa e meu aperto em seu ombro se fez mais forte e desesperado. -Clarke, onde está Tom?- vi um pingo cair de seu rosto e naquele instante, senti como se eu tivesse levado um chute no estomago. Me curvei, ignorando a dor lancinante que se fazia pelo meu braço e corpo, como se daquela maneira eu conseguisse extinguir toda aquela dor que se espalhava pela minha alma, aquele vazio agonizante.

Não podia ser verdade, o que estava acontecendo ali? Uma grande brincadeira? Só... o que estava acontecendo? Perguntas e mais perguntas se misturavam em minha cabeça, enquanto eu tremia compulsivamente. Como se eu sentisse que estivesse prestes a cair em uma imensidão sem fim. Eu não entendia, não conseguia aceitar... Sentia como se estivesse me despedaçando, que estivesse me desfazendo, mas não sabia bem o motivo, a razão para aquilo tudo. Era agonizante demais. Só queria que alguém tirasse aquilo de mim. Doía tanto.

Só notei que eu gritava de desespero e coisas sem sentido em meio aos soluços que sacudiam meu corpo de forma assombrosa, quando pessoas vestidas de branco adentraram o quarto e me imobilizaram, me injetando alguma coisa. Fazendo com que cada vez mais eu caísse, despencasse em um vazio cada vez maior.

A primeira coisa que ouvi ao recobrar meus sentidos, foi uma voz formal e grave. Abri os olhos e encontrei 4 par de olhos me encarando. Dois deles demonstravam total desolação e era como se eu tivesse feito algo errado. Clarke, estava sentado ao meu lado com sua mão sobre meu joelho. Em torno de seus olhos, bolsas de escuras se faziam presentes. E naquele momento, minhas memórias começaram a retornar como facadas pelo meu corpo inteiro.

Desde os hematomas superficiais, até os mais profundos. Tentei respirar fundo, mas meu pulmão pareceu não funcionar e soluços começaram a sacudir meu corpo. Me encolhi na cama, apesar das dores.

Pelo que pareceram horas fiquei ali, apenas deixando as lágrimas virem, mas elas não pararam, nem um só segundo. E nada mais se ouvia além de meu choro desesperado e os barulhos de chamadas e aparelhos do hospital. Então senti braços ao meu redor e mais soluços começaram a acompanhar a minha sinfonia de dor.

-Eu sei o que está pensando, mas Chloe você não tem nada a ver com isso.- Clarke disse em meio a soluços, eu queria discordar e dizer o que tinha realmente acontecido. Que eu era a responsável por papai não ter visto aquele caminhão, por não ter parado no cruzamento. Pois estava ocupado demais com meus berros idiotas e infantis. Queria falar para ele que eu não era mais o seu anjinho, que eu havia virado um monstro. O monstro dos seus piores pesadelos. Mas não pude. Não consegui. Algo havia se quebrado de tal forma dentro de mim, que engoliu a minha voz, me engolia a cada minuto a mais. Queria que tudo apenas acabasse. Por que eu continuava ali?

Ele me afastou para olhar em meus olhos, mas dessa vez quem não conseguiu sustentar seu olhar, foi eu. Por mais que ele segurasse meu rosto com as duas mãos e falasse sem parar, calmamente. Com todo o cuidado, para que eu não quebrasse mais do que eu já poderia estar. Mas a verdade era que não havia mais o que ser quebrado. Eu estava destruída, por completo. Não havia mais esperanças. Não havia mais o que ser salvo dentro de mim. Eu havia perdido tudo. Eles não estavam mais ali e a culpa era somente minha. Eu havia destruído tudo. Por que eu era idiota, porque eu era infantil. Por que eu era um monstro. Por que eu era fraca. Sempre fui. O que eu havia feito? Meu Deus. O que eu faria? Aquilo tudo não parecia verdade, não parecia real. Parecia que estava em um mundo a alternativo e surreal. Só não podia. Não podia! Não podia ser real!

Só parei mesmo para ouvir o que ele falava, quando escutei aquele nome. Aquela que talvez conseguisse ainda me dar uma luz e me guiar. Por que eu estava totalmente perdida.

-Como?- falei com a voz tremula e estranha, agarrando  uma de suas mãos e gemendo de dor ao forçar o braço quebrado.

-Juliana está viva.-ele falou fracamente. Me levantei da cama tão rápido que se não fosse o médico que estava a alguns metros de mim, eu teria caído devido a tontura e a forte fisgada na coxa.

Ao olhar para minhas pernas, pude identificar diversos curativos e minha coxa direita enfaixada. E um risco vermelho, que cada vez a encharcava mais.

-Você precisa ficar em repouso.- disse o moreno, formalmente.-Você se machucou muito com os estilhaços e agora acabou de abrir os pontos em sua perna.- ele me levou até a cama novamente e apertou em um botão vermelho ao lado dela.

-Mas eu preciso ver Juh.- falei com a voz tremula, tentando me soltar.

-Você precisa se acalmar, logo a verá. Ela está consciente, acordou esta manhã assim como você.- ele fez sinal para que a enfermeira entrasse e ela se aproximou. -Preciso que refaça os pontos dessa moça. -ele me lançou um meio sorriso de conforto e virei o rosto.- Eu não precisava de ninguém com pena, tentei me levantar novamente, mas dessa vez Clarke se colocou na minha frente.

-Eu preciso vê-la.-falei me dando por vencida, quando notei que eu não conseguiria.

-Nós sabemos, Chloe.- meu avô se manifestou pela primeira vez desde que acordei e se aproximou. -Mas você precisa se recuperar e se recompor, não pode simplesmente ir correndo até lá como uma maluca. Ou você se acalma, ou pediremos para que lhe deem calmante novamente.- ele me encarava cinicamente e aquilo começou a me deixar fora do sério. Quem ele achava que era? Sua mão repousou sobre meu ombro bom e desvencilhei de seu toque, com repulsa.

-Me faça um favor?- perguntei sentindo o gosto amargo em minha boca e ele me encarou desafiadoramente. Eu sabia o que teria, caso prosseguisse... Mas não me importava, o que mais eu tinha a perder?

-Vá pro inferno.- Clarke pronunciou as palavras antes de mim, enquanto me encarava como se me entendesse. -Está na hora  de vocês irem embora.- ele encarou vovô e vovó que o encarava apavorada.

-O....

-Eu quero que vocês saiam daqui!- eu nunca tinha visto Clarke tão alterado daquela maneira. Não foi preciso ser dito mais nada, os dois simplesmente começaram a se retirar, mas antes que eles saíssem. Vovô se virou e nos encarou.

-Já que você é bem homem para gritar comigo, saiba que ela é problema seu a partir de agora.

Assim que eles se retiraram, Clarke me encarou por alguns segundos e simplesmente me abraçou forte e ambos começamos a chorar novamente.

Eu passei o resto do dia que se seguiu encolhida, da maneira mais confortável que eu havia achado olhando para parede branca a minha frente. Eles não haviam me deixado sair do quarto para ver Juh, mas haviam deixado a janela aberta. Ri internamente daquela ironia. Não seria nada complicado eu me levantar e me arrastar até a janela. A única coisa que me impedia, era a promessa que havia feito ao tio Clarke. Que eu estaria aqui quando ele voltasse.

Ele havia ido em casa tomar um banho e pegar algumas coisas para mim. Não entendi muito bem o motivo, já que ali provavelmente tinha tudo o que eu precisava.

Esfreguei os olhos pesadamente, eles ardiam e lutavam para ficarem abertos devido a tarde que eu havia passado chorando. Achei que uma hora elas parariam, mas estava enganada. Cada vez mais elas escorriam por meu rosto. Cada vez mais eu me sentia  perdida.

Eu não ficaria mais um segundo naquela cama, precisava ver ela. Me levantei e devagar fui até a porta do quarto e olhei em volta. Estavam todos envoltos demais com suas tarefas, seria fácil. Senti fisgadas pelos ferimentos. Tá bom, não seria tão fácil assim.

-Vamos lá Chloe, você consegue.- disse querendo passar determinação a mim mesma, mas minha voz soou totalmente embargada e fraca. Suspirei pesadamente, pelo menos Clarke havia me dito o número do quarto dela, fiz ele fazer isso antes de sair.

Fui me arrastando pelo primeiro corredor, tentando ao máximo me manter reta e parecer normal. Mas eu acreditava que não estava dando muito certo, cada vez que eu passava por um enfermeira ou enfermeiro, eles me olhavam desconfiados, mas ninguém me parava. O que eu achei estranho. Mas assim que dobrei para o corredor de Juh, a enfermeira que antes esteve no meu quarto e que refez os pontos da minha coxa, me parou.

-Onde você está indo?- ela me olhou preocupada.

-Eu...- tive que me escorar na parede, pois não consegui manter meu peso por muito tempo. Ela se aproximou e me segurou.

-Você está bem? É melhor voltar para o quarto.

-Por favor, espere.- implorei e ela voltou a me encarar, dessa vez prestando atenção. -Eu só preciso ver minha amiga.- falei por fim, torcendo que um milagre caísse sobre mim e ela me deixasse prosseguir.

-Tudo bem, seu tio deu permissão. Mas vamos logo, você precisa descansar.- assenti com a cabeça e agradeci por meu tio ser um bom homem.

Ao chegar no quarto, ao mesmo tempo que o sentimento de alivio e certa alegria me acometeu, o de dor e culpa também se fizeram presentes. Juh tinha sua cabeça enfaixada e seus cabelos já não estavam mais presentes. Me aproximei junto a enfermeira, ela conversava com a mãe. Ela parecia bem apesar de todos os arranhões, cabeça enfaixada e a perna quebrada. Assim, que me viu um sorriso iluminou seus lábios e sua mãe veio até mim e me abraçou.

- Senta aqui.- ela fez menção, assim que sua mãe me soltou. Quando me sentei, ela me abraçou apertado e apesar de ter sentido meu corpo reclamar, eu não disse nada. Pois o conforto era maior. E eu chorei, como se não houvesse chorado antes e assim ficamos. Entrelaçadas compartilhando nossa dor. Só nos separamos depois que sua mãe voltou com uma enfermeira e sua janta.

Ficamos ali, jantamos juntas. Sem falar absolutamente nada. Nada podia ser dito. Não havia nada mais a ser dito. Nós apenas nos reconfortamos com nossas presenças. E então meu tio apareceu.

-Ei, desculpem interromper, mas o médico quer lhe ver.- ele falou para mim, um pouco receoso.

-Tudo bem.- me levantei com cuidado, mas Juh segurou minha mão.

-Eu te amo, nunca esqueça. Prometa Morena. -ela levantou o mindinho. Eu amava aquele apelido, me fazendo sorrir.

-Eu prometo.- e selei nossa promessa. - Eu também te amo .- falei antes de me afastar e ela sorriu.

-Eu sei.

Fomos em direção ao corredor e Clarke me aproximou dele e deixou com que eu me apoiasse sobre ele. Estávamos prestes a dobrar para o meu corredor, quando a correria começou. Olhei confusa para meu tio, que tentava identificar o que havia acontecido.

-O que aconteceu?- perguntei, olhando em volta.-O que você...

Assim que o aviso de que precisavam do médico no quarto 321 foi dado o encarei assustada e quando ele retribuiu o olhar com pesar, tudo começou a desandar novamente. Me soltei dele o empurrando bruscamente e corri até onde eu estava a uns minutos atrás.

Eles não me deixaram entrar e eu não pude fazer nada, só olhar. Eu não pude tentar ajudar. Apenas observei tudo, enquanto o desespero me tomava pela segunda vez naquele dia. Tive vontade de gritar para que fizessem mais e mais rápido, mas não havia voz e quando acabou, não havia forças.

Ela havia partido.



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