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História Fernando - Capítulo 1


Escrita por: lavegass

Capítulo 1 - Capítulo 1


- Já decidiu o que vai querer senhorita? – Perguntou o garçom pela terceira vez.

- Não, eu estou esperando pelo marido. Ele provavelmente se atrasou no trabalho.

- Entendo. – Disse ele de forma simpática. – Caso precise de algo é só me chamar.

- Obrigada. – Respondi e ele caminhou em direção a outras mesas.

Já se passava das oito horas, e nenhum sinal de Rodolfo. Ele não atendia ao telefone e eu estava começando a me preocupar. Naquela manhã ele tinha me avisado que chegaria um pouco mais tarde devido ao trabalho acumulado, mas já haviam se passado duas horas desde o fim do expediente.

- Olha Lucas é a Letícia. – Ouvi uma voz próxima dizer me virei e rapidamente reconheci quem chamava por meu nome.

- Gabriela! – Falei enquanto me levantava da cadeira. Gabriela veio em minha direção me puxando para um abraço caloroso, eu retribui e logo em seguida foi a vez de Lucas.

- O que você esta fazendo aqui? – Ele perguntou. – Quero dizer, é tão raro encontra-la aqui.

- Sim, eu só venho em ocasiões especiais.

- E qual a ocasião especial de hoje? – Questionou Gabriela de forma curiosa.

- Hoje é o meu aniversario de um ano de casamento.

- Parabéns! – Falou ela animada. – E onde esta o Rodolfo?

- Essa é uma boa pergunta. Ele disse que se atrasaria por causa do trabalho.

- Estranho. – Falou Lucas. – A gente terminou a ultima matéria juntos era umas seis e meia, eu o chamei para ir comigo até a sala da Raquel, mas ele disse que não podia porque tinha que te encontrar.

Gabriela olhou apreensiva para Lucas e depois virou-se para mim forçando um sorriso.

-Tenho certeza que isso não significa nada, você sabe como é o transito nesse horário, e como esses homens demoram a se arrumar hoje em dia.

- Claro. – Respondi. – E quando ia dizer mais alguma coisa ouvi meu celular tocar. – Um momento. – Pedi e os dois assentiram. – Alô?

- Senhorita Solis? – Perguntou uma voz masculina do outro lado da linha.

- Sim, é ela. Com quem eu falo?

- Aqui é o sargento Rodriguez.

- Sargento? – Franzi o cenho e notei que Gabriela e Lucas me encaravam confusos. – No que eu posso ajudar?

Ouvi o homem suspirar, e não era um suspiro de impaciência, mas sim de quem estava prestes a dizer algo difícil.

- Preciso que a senhorita venha até o IML.

- O que? – Perguntei assustada. Senti um nó se formar na minha garganta, meu estomago embrulhava e eu sabia que estava com medo, medo de quais seriam as próximas palavras daquele homem.

- O seu marido, ele foi assinado. – Disse por fim. E naquele momento pude sentir o meu mundo desmoronar.

...

A dor pode ser compartilhada, mas de uma forma diferente, pois ao compartilha-la ela não se torna igualitária para todos, ela não diminui e nem aumenta. Cada um possui a sua intensidade de dor e nada pode leva-la nem mesmo o tempo.  O tempo a ameniza, a esconde, mas no momento em que você encontra-la novamente, ela estará lá com a mesma força e fará você se sentir da mesma forma. Não importa quantas pessoas você perca ao longo da vida, você nunca ira se acostumar a ter que dizer adeus. A morte é a única certeza que temos, mas infelizmente isso não a torna mais fácil.

Eu perdi meus pais aos seis anos, meus avós aos 18, e aos 25 o meu marido. Idades diferentes, pessoas diferentes, mas a mesma dor e a mesma sensação de estar sozinha novamente. É como se eu perdesse os sentidos, e por um momento já não sei como falar ou até mesmo andar. Eu estava em choque. E tudo o que fazia era chorar, minhas lagrimas já eram incontroláveis, eu me sentia fraca e incapaz.

Lucas se ofereceu para reconhecer o corpo, mas eu não permiti. Eu deveria fazer aquilo, porque lá no fundo eu tinha a esperança de que não seria ele, que tudo aquilo havia sido um engano e logo o Rodolfo iria me ligar e diria que estava me esperando naquele restaurante onde nos conhecemos há quatro anos atrás. No entanto isso não aconteceu. Era ele. O meu Rodolfo. Mesmo pálido e inchado eu o reconheci imediatamente.

- Quem fez isso com ele? – Perguntei ao sargento Rodriguez. Por incrível que pareça, depois de todo aquele choro a minha voz saiu de forma firme. Pois por um momento eu havia esquecido a dor e raiva me dominou.

- Eduardo. Já o predemos, ele estava foragido.

- E por que ele fez isso? – Perguntei. As lagrimas já começavam a cair novamente.

- Ele foi assaltar o seu marido, e ele reagiu.

- Não. – Gritei. – Isso não pode estar acontecendo. Não. – Eu não conseguia respirar direito e meu choro saia de forma silenciosa. Minhas vistas escureceram-se e eu apaguei.

...

Minha cabeça estava explodindo, me esforcei para abrir os olhos, mas não obtive sucesso, escutava vozes ao fundo, mas não conseguia identificar o que diziam e quem era. Após diversas tentativas finalmente consegui me despertar. Olhei ao meu redor e notei que estava na casa de Lucas e Gabriela. A mesma logo apareceu com o copo de água.

- Como você esta? – Perguntou.

- Com muita dor de cabeça. – Falei pegando o copo de água das suas mãos.

- Eu tomei a liberdade de telefonar para todos os amigos e parentes seus e do Rodolfo.

- Obrigada. – Sussurrei.

- Eu sinto muito.

- Não é justo. – Falei. – Ele não merecia isso.

- É claro que não meu amor, mas a vida é assim. Ela não é justa. E eu queria acreditar que coisas boas acontecem com pessoas boas, mas isso não é verdade.

- Eu preciso dele. Já perdi tanta gente eu não aceito perder o Rodolfo também.

Gabriela apenas me abraçou, ela provavelmente não sabia o que dizer e honestamente acredito que não havia nada a ser dito.

- Ele já esta na funerária. Quando você se sentir pronta nos iremos.

- Tudo bem, eu só preciso de um banho e trocar essa roupa.

- Ontem enquanto você dormia, eu e Lucas fomos até a sua casa para buscar uma roupa para Rodolfo e tomei a liberdade de pegar algumas para você. Espero que não se importe. – Disse Gabriela me entregando uma mochila.

- Obrigada. – Respondi

. – Eu vou deixar você a sós para se arrumar, qualquer coisa eu estarei na sala. – Falou Gabriela enquanto caminhava até a porta.

- Gabs. – Chamei. Ela virou-se para mim rapidamente e me encarou de forma serena. – Qual roupa vocês escolheram para ele? – Perguntei com um fio de voz.

- A preferida dele.

- A dos Beatles que eu dei no natal do ano passado?

- Sim. – Ela respondeu em meio a um sorriso fraco.

...

Eu não me lembro do que aconteceu no velório, muitas pessoas me desejavam seus pêsames e eu as agradecia de forma automática. Permaneci o tempo todo próxima ao caixão ao lado de meus sogros, assim como eu eles estavam desesperados, cansados de chorar, porém com um enorme estoque de lagrimas que teimavam em sair.

Sempre que meus olhos batiam em Rodolfo eu não conseguia acreditar. Ele não estava mais pálido como quando o vi, dessa vez parecia estar em um sono profundo. Seus longos cabelos castanhos foram cuidadosamente penteados para traz e eu os acariciava vez ou outra.

O funeral durou uma eternidade, mas eu não me importei, pois sabia que aquele seria o ultimo momento que eu o veria e precisava de certa forma, aproveita-lo ao máximo. Queria eternizar o seu rosto na minha memória. Não poderia esquecer nenhum de seus traços. Eu o amava. Como jamais havia amado ninguém e como acreditava que não amaria novamente.

O enterro foi a parte mais difícil, ver o caixão se fechar e ser abaixado fez com que eu desesperasse. Eu gritava e chorava, não conseguia me controlar, tentava de certa forma colocar toda aquela dor para fora, mas sabia que era impossível.

As pessoas começaram a ir embora e quando dei por mim estava sozinha em frente ao tumulo de meu marido, até mesmo os meus sogros já haviam partido.

Eu olhava para tumulo sem nenhuma reação, meu estado de choque havia retornado, e só me despertei quando ouvi a voz de Lucas que parou ao meu lado.

- Eu preciso falar com você.

- É sobre o pagamento da funerária? Eu realmente não tenho cabeça para pensar nisso agora.

- O que? Claro que não. Não precisa se preocupar com isso Letícia.

- Então o que é? – Perguntei por educação. Eu não estava nenhum um pouco interessada, mas não podia trata-lo mal, não depois de tudo que ele e Gabriela fizeram por mim.

- Eu tenho quase certeza de que não mataram o Rodolfo porque ele reagiu a um assalto.

- O que? – Falei espantada. Eu não estava esperando por isso, pensei que Lucas diria coisas para me tranquilizar assim como todos os outros fizeram.

- Rodolfo estava escrevendo um artigo sobre alguns deputados que estavam desviando dinheiro da verba publica para bens pessoais. Ontem a noite eu fiz uma pesquisa sobre esse tal Eduardo e descobri que ele trabalhava como caseiro para um deles, Fernando Mendiola.

Abri a boca varias vezes, não sabia o que dizer. Queria perguntar tantas coisas, mas não sabia por onde começar.

- Eu nunca ouvi falar dele. – Falei por fim.

- Ele foi eleito pela primeira vez na ultima eleição. – Disse Lucas me encarando logo depois. Eu estava sem expressão apenas assimilando todas aquelas informações as quais eu não estava preparada para receber. – Você acha que deveríamos dizer isso para a polícia?

- Você sabe onde o artigo esta? –Questionei ignorado a pergunta dele.

- Acho que esta nas coisas dele no escritório.

- Pode pegar ele para mim?

-Claro. – Respondeu, parecia confuso com a minha atitude. – E então, o que quer fazer com essa informação que eu te dei? – Insistiu.

- Nada. – Respondi.

- Nada? – Indagou Lucas.

- Você ouviu o policial, Eduardo estava foragido, ele iria ser preso de todo jeito. Confessar que matou o Rodolfo porque alguém mandou não vai ajuda-lo em nada. Você conhece bem o nosso país, não importa o que as pessoas como o Donato façam, elas não são presas.

- Então vai deixar por isso? – Perguntou com o tom de voz mais alto, ele evidentemente não estava contente com a minha atitude.

- É claro que não. – Respondi. – Eu vou investigar por conta própria, e se acaso isso seja realmente verdade, vou fazer com que ele pague. - Disse por fim, e senti algo novo dentro de mim. A raiva viera fazer companhia para a dor e juntas buscariam por vingança.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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