História Fernando - Capítulo 10

A Conceitos estava um caos. Luigi brigava com as crianças do comercial de fraudas e com a mãe deles, eu e Irminha tentamos acalma-lo e fazíamos sempre de tudo para ajuda-lo, mas nada parecia funcionar. Ele queria matar um e eu estava torcendo para não ser eu.

Sempre que eu passava pelo corredor podia ouvir cochichos, eu não sei se o assunto era eu ou se era o meu relacionamento com Fernando, ou a volta da Márcia. Só sei que aquilo estava começando a me incomodar e eu precisava dar um basta.

- Algum problema? – Perguntei a elas assim que ouvi meu nome em um dos sussurros.

- Não, problema nenhum senhorita. – Disse Lola.

- Ótimo! Mas se por acaso surgir algum não hesite em me contar, eu vou adorar ajudar! – Falei forçando um sorriso. Elas apenas assentiram em silêncio, quando me virei notei que Carolina havia observado tudo.

- Pode vim até a minha sala Letícia? – Pediu.

- Claro! – Respondi já caminhando em direção a ela.

Entrei na sala de Carol e parei perto da porta, notando isso ela fez um sinal para que me sentasse. E assim o fiz.

- Eu chamei você aqui porque queria conversar... Sobre o Fernando. – Começou Carol e eu é claro não me surpreendi. Vendo que eu não iria dizer nada, Carolina continuou a falar. – Com tudo isso da volta da Márcia o Fernando esta muito sensível e eu tenho medo que ele faça alguma besteira. – Besteira? Que tipo de besteira Carolina suspeitava que Fernando fosse capaz de fazer? Como se lesse meus pensamentos ela respondeu. – Como ir atrás do tal Alfredo. Ele contou para você, certo?

- Sim! Quer dizer... Mais ou menos... Ele estava nervoso, triste por isso resolvi não perguntar muito, mas sei que esse Alfredo era amante dela e que ela viveu com ele por um ano aqui.

- Acredite, isso é o de menos... – Carolina fez uma pausa e respirou fundo. – Eu não conversei com o Fernando, quem falou com ele foi o Omar. Inclusive ele esta na casa dele agora tentando o convencer a não vir à empresa hoje. Porque você sabe como são os funcionários daqui. – Falou ela em meio a um sorriso, provavelmente se lembrando da minha conversa com as meninas há alguns minutos atrás. – O Omar também não me contou muita coisa, por isso hoje de manhã eu liguei para a Rebeca. Como era de se esperar ela esta furiosa. Rebeca nunca foi fã da mãe por sempre ter acreditado que ela os havia abandonado, mas quando teve certeza disso o mundo dela desabou. Rebeca é como Fernando, ela é muito protetora e ter que ouvir a Márcia insultar o irmão e o Pai foi um pesadelo para ela. Ontem a Rebeca teve a oportunidade de conhecer toda a verdade por trás das coisas que a mãe dela fez e eu acredito que seria melhor se eles nunca tivessem ouvido tudo aquilo. – Aquela conversa estava me deixando nervosa, havia algo ainda pior que Márcia havia feito e contado aos três? – Letícia, eu vou te contar tudo o que a Rebeca me contou. Porque eu sei o quanto o Fernando gosta de você e eu preciso que me ajude a proteger essa família daquele monstro, mas tem que me prometer que essa conversa vai ficar só entre nos, tudo bem?

- Tudo bem, eu prometo. – Respondi.

- Eu acredito que logo o Fernando ira te contar tudo, mas enquanto isso não acontece você vai ouvir essa historia de mim. Márcia voltou por causa do dinheiro. Ela foi demitida do seu ultimo emprego e esta tendo dificuldades em encontrar outro por não estar legalmente no país. Ela queria tirar dinheiro deles alegando que ainda esta casada com o Fernando, dá para acreditar em uma coisa dessas? Eles começaram a brigar e a Rebeca e o Victor jogaram na cara dela tudo o que ela fez, mas invés de se sentir mal ela começou a dizer a eles todas as coisas horríveis que ela também fez as quais os três não tinham ideia. A Márcia é um monstro e quando eles saíram de lá a Rebeca queria denuncia-la, eles só não fizeram isso porque não possuem provas e nomes suficientes.

- Carolina, você esta me assustando. O que ela fez de tão grave? – Juro que aquela altura eu já estava imaginando o pior.

- Para começar você precisa saber que a Márcia conheceu o Alfredo antes mesmo do Fernando e ela provavelmente sempre esteve com ele. Ou melhor, os dois eram cheios de idas e vindas então mesmo estando com Fernando ela sempre procurava por ele, até que um dia se enjoou do Fernando e da família e decidiu ir atrás desse homem. – Carolina sacudiu a cabeça, ela olhava para todos os cantos da sala, menos para mim. Parecia nervosa e incrédula das próprias palavras que saiam de sua boca, seu silêncio demorou mais do que o esperado e eu comecei a me questionar se deveria dizer algo. Quando estava terminando de elaborar minha sentença ela continuou a falar. - Há três anos como você deve saber o Fernando se envolveu com a política, e quem o chamou foi Alfredo. Nessa época a Márcia estava aqui morando com ele e ela o incentivou a chamar Fernando, a intenção deles era o envolver em uma lavagem de dinheiro e se desse algum problema eles o fariam levar a culpa por tudo, mas a Márcia se esqueceu de que o Fernando é um homem honesto e assim que notou toda a sujeira próxima a ele, resolveu renunciar ao cargo. – Aquelas palavras foram como um baque para mim. Eu não desconfiava mais de Fernando e nesse momento me sentia culpada por um dia ter desconfiado. – E agora vem o pior de tudo. – Disse Carolina interrompendo meus pensamentos. – Ela não é apenas uma mulher suja, ambiciosa que é capaz de abandonar e roubar. Márcia é uma assassina. Ela contratou um ex-caseiro dos Mendiolas que foi demitido por Humberto após descobrir que ele tinha a ficha suja, para matar um jornalista que estava escrevendo um artigo sobre isso. Eu sabia que a Márcia não era flor que se cheire, mas jamais imaginei que ela fosse capaz de fazer isso. Márcia contou tudo isso na hora da raiva e provavelmente já fugiu com medo do que eles podem fazer com essas informações. Rebeca quer denuncia-la, aparentemente ela e Victor vão começar a procurar pelo nome do Jornalista. As coisas estavam indo tão bem... Foi só ela aparecer para tudo desmoronar. Dá para acreditar em uma coisa dessas? – Não, não dava para acreditar. Naquele momento eu estava diante da verdade que eu vinha buscando há três anos. Márcia e Alfredo haviam matado Rodolfo. A mulher que eu pensei que podia ser mais uma das possíveis vitimas de Fernando era o verdadeiro monstro que eu tanto temia. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas e eu sabia que não conseguiria disfarçar. – Esta tudo bem? – Perguntou Carolina parecendo preocupada. Não, não estava tudo bem, mas eu não poderia dizer o motivo.

- Sim, eu só... Não consigo acreditar... Eles não merecem isso.

- Não. Definitivamente não. E é por isso que eu precise que me ajude. Victor e Rebeca tem mais emocional para tratar disso que o Fernando. Eu, Omar e as crianças vamos nos certificar de que Márcia não irá aparecer na vida dele novamente.

- E o que eu posso fazer? – Sim, eu queria ajudar Fernando. Ele precisava saber que não estávamos sozinhos e que lutávamos contra a mesma pessoa.

- Fernando entrou em depressão quando ela os abandonou e eu não posso vê-lo daquela forma de novo. Quero que cuide dele, ele esta deprimido e sempre que vê os filhos se lembra de tudo que ele precisa lutar para esquecer. Você por não ter nenhum envolvimento com a Márcia vai conseguir distraí-lo, fazer com que ele pense em outras coisas. Leve-o para sair essa noite, tentem se divertir. – Carolina estava errada, eu tinha sim envolvimento com a Márcia e se ele soubesse isso só pioraria as coisas. Ao mesmo tempo, depois de tudo, eu não poderia deixa-lo na mão.

- Ok, eu vou fazer o possível para que ele se esqueça disso tudo ao mesmo por hoje. – Falei.

- Muito obrigada, de verdade. – Falou Carolina segurando na minha mão. – Fernando é como um irmão para mim. Você não tem ideia do quanto eu fico feliz e saber que ele encontrou uma mulher tão maravilhosa quanto você. – Falou. E eu novamente me sentia mal por saber como tudo aquilo realmente começou.

...

Mais tarde Omar chegou à empresa e me liberou para que eu ficasse com Fernando. Ele não comia nada desde ontem o que estava preocupando a todos. Eu disse que iria direto para a casa dele, mas eu menti. A casa de Fernando era em um bairro afastado o qual quase não tinha movimento, parei o meu carro no acostamento e telefonei para Gabriela. Eu precisava contar tudo a ela, eu precisava desabafar.

- Alô? – Falou ela após o terceiro toque.

- Sou eu. – Respondi, minha voz saiu fraca e as lagrimas já desciam pelo meu rosto.  Gabriela ficou preocupada ao notar a minha situação e começou a tentar me acalmar. Aos poucos consegui me estabilizar e contei a ela absolutamente tudo. Todos os detalhes de minha conversa com Carolina a qual eu prometi que guardaria segredo.

- Lety, eu sei que as coisas parecem confusas agora, mas pense pelo lado positivo. Esta confirmado que Fernando não tem na a ver com isso. Vocês dois foram magoados pela mesma pessoa e agora têm a oportunidade de iniciar uma nova vida, juntos. Mas, você precisa contar para ele tudo, porque como a Carolina disse, eles vão começar a investigar quem é o jornalista e quando descobrirem o nome isso os levará até você. Então conte logo.

- E se ele me odiar quando eu contar? – Perguntei, já estava chorando de novo.

- Eu não acho que isso vá acontecer. – Falou Gabriela. – O leve para jantar essa noite e explique tudo, no inicio Fernando pode se sentir magoado, mas tenho certeza que depois ele entenderá, mas ele precisa ouvir tudo isso de você, então se apresse. Diga a verdade hoje.

- Tudo bem, você tem razão. – Falei. E sim ela tinha.

Retoquei a maquiagem para que Fernando não notasse o meu estado. Eu já havia planejado tudo. Iria a casa dele e o convidaria para jantar, depois voltaria para a minha casa me arrumaria e o buscaria. Antes de chegar à casa dele fiz as reservas em um restaurante o qual era um dos preferidos de Fernando, ele precisava estar o melhor possível antes que eu contasse tudo a ele. O que é claro eu não pretendia fazer no restaurante, onde outras pessoas estariam nos assistindo. Eu o levaria até a minha e lá resolveríamos tudo.

Assim que cheguei a sua casa me deparei com um completo silêncio. Victor estava na faculdade e Rebeca provavelmente havia saído. Fernando não estava na sala por isso fui em direção ao seu quarto. Lá o vi enrolado no cobertor. A janela estava fechada assim como a cortina e o ar condicionado provavelmente estava menos de 15°. Sentei-me do lado de Fernando na cama e notei que ele dormia. Tão lindinho. Fiquei com pena de acorda-lo, mas sabia que era isso que eu deveria fazer.

- Fernando. – Chamei. – Sou eu Letícia, acorda. – Pedi, e dei a ele um beijo na bochecha. Fernando se mexeu e ao invés de resmungar como fez das outras vezes em que tive que acorda-lo, ele abriu os olhos e sorriu.

- Oi. – Sussurrou.

- Como você esta? – Perguntei.

- Melhor agora. – Respondeu ele se sentado na cama. – Fugiu da Conceitos só para me ver?

- Na verdade eu não fugi, pedi o vice-presidente para me dar uma folga.

- Que bom que ele autorizou. – Falou Fernando aproximando-se e me dando um selinho.

- Vim convidar o meu namorado para jantar comigo.

- Ah é? E o que vamos cozinhar? – Perguntou ele. Notei que Fernando estava se esforçando para não parecer tão abalado perto de mim.

- Nada. Fiz uma reserva no Meson de San Diego.

- Eu não sei se estou no clima de sair...

- Aaah. – O interrompi. – Pode ir parando, me contaram que o senhor não come nada desde ontem por isso vamos lá tirar a barriga da miséria e eu não aceito um “Não” como resposta. – Avisei.

- Tudo bem, tudo bem. Mesmo se você não me obrigasse acho que não conseguiria negar.

- Fico feliz em ouvir isso. – Falei aproximando-me dele para um beijo, nos beijamos como não havíamos feito desde nossa noite em LA, mas o parei antes que as coisas esquentassem, afinal ainda tínhamos um jantar para ir. – Passo aqui ás 20h, esteja pronto.

- Estarei. – Respondeu ele.

...

Assim que cheguei em minha casa, tomei um banho e separei a minha roupa. Optei por um vestido vermelho um pouco decotado que eu já não usava a um tempo. Separei também a minha sandália preferida. Nunca fui boa em me maquiar, mas dessa eu me esforcei. Era a primeira vez que eu e Fernando saíamos para jantar assim e eu queria que apesar do assunto que abordaríamos aquela noite fosse especial e inesquecível. Quando terminei de me arrumar, fiquei feliz com o que vi no espelho. Eu estava bonita. Estava diferente e aquilo me agradava muito.

Peguei as chaves do carro e segui em direção à casa de Fernando. Eu não tinha a intenção de entrar, pedi para que o porteiro o chamasse, mas Rebeca avisou que Fernando ainda não estava pronto.

Quando cheguei toquei a campainha Rebeca me atendeu.

- Entra ai Letícia. Nossa você esta linda! – Falou me puxando e me fazendo dar uma voltinha. – Onde você comprou esse vestido? É maravilhoso!

- Obrigada! Eu não me lembro do nome da loja, mas quando quiser é só falar.

- E acredite, eu vou querer. – Avisou. – Meu pai já deve estar chegando, quando ele esta desse jeito sempre se atrasa. Espero que você consiga anima-lo.

- Com esse vestido ela definitivamente vai conseguir. – Falou Victor vindo da cozinha. – Até eu que não curto quase me animei.

Eu ainda não havia me acostumado com o jeito os dois por isso meu rosto voltou a corar, mas dessa vez eu ri junto com eles. Conversamos por um tempo e em menos de cinco minutos Fernando apareceu. Ele estava de terno e gravata, mas seus cabelos aparentemente haviam sido escovados e penteados para trás. Ele não havia feito a barba e honestamente eu o achava ainda mais atraente do jeito que estava.

- Boa noite. – Falou assim que me viu. Ele me abraçou e me beijou. – Você esta muito linda! – Falou de forma bastante animada, nem parecia o mesmo Fernando de algumas horas atrás. - Não que você não esteja sempre linda, mas...

- Relaxa, eu entendi. – Falei para acalma-lo. – Vamos?

- Sim. – Respondeu ele oferecendo-me seu braço. – Comportem-se crianças. – Avisou ele para Victor e Rebeca os quais o ignoraram totalmente.

Fomos em direção ao meu carro e eu segui para o restaurante. Ficamos em silêncio o caminho todo, mas não era um silêncio que nos deixava desconfortáveis, muito pelo contrario, mesmo concentrada no transito podia notar que Fernando sempre me olhava com ternura.

Assim que chegamos ao restaurante fomos direcionados até a nossa mesa. Eu pedi para que ela fosse em um lugar mais reservado, assim teríamos mais privacidade para conversar.

- Então, o que você vai querer comer? – Perguntei assim que o garçom nos entregou os cardápios.

- Eu não sei, não estou com fome. – Respondeu ele.

- Nem começa com isso, essa noite você vai comer e muito!

- Não muito porque tenho que manter a forma. – Falou.

- Menos Fernando, você sabe que está ótimo.

- Estou? – Perguntou ele erguendo as sobrancelhas.

- Sim, mas não precisa ficar se achando, ok?

- Eu nunca faria isso!

- Claro que não. – Respondi ironicamente. Fernando não dizia o que queria comer então tomei a liberdade de pedir para ele o mesmo que pedi para mim. Conversamos sobre as musicas que estavam tocando no restaurante, sobre o vinho que bebemos, sobre os filhos grisalhos no cabelo dele e sobre a volta de Victor com Gustavo.

- Carolina me contou tudo da sua conversa com a Márcia. – Falei. Queria que ele soubesse que eu sabia porque assim ficaria mais fácil quando eu contasse para ele sobre o Rodolfo.

- Oh. Rebeca contou a ela não foi?

- Sim, ela contou porque sabia que você estava mal e pensou que talvez eu...

- Pudesse ajudar. – Completou ele. – Tudo bem, ela estava certa, sua companhia ajudou muito. Como sempre. – Eu apenas sorri assentindo.

- Quer falar algo sobre isso? – Perguntei.

Fernando suspirou e deu mais um gole em seu vinho.

- Acho que não tem muito que dizer. Eu me sinto enganado, decepcionado e até mesmo assustado. Eu vivi com Márcia por tantos anos e nunca tive nem ideia do que ela era capaz. A mulher que eu escolhi para ser a mãe dos meus filhos é um monstro e eu nunca havia percebido isso.

- O que você precisa agora é que ela fique fora da sua vida de uma vez por todas.

- Sim, mas antes preciso ter certeza que ela vai pagar pelo que fez com aquele homem. Ela é uma assassina Letícia, eu nunca imaginei isso.

- As pessoas sempre nos surpreendem e na maioria das vezes não é para melhor.

Fernando concordou e ficou um tempo em silêncio. Depois segurou minha mão e a beijou.

- Eu não quero pensar na Márcia ou nas coisas que ela fez, pelo menos não essa noite. Vamos fazer com que hoje seja apenas sobre nos, tudo bem?

- Claro! – Respondi, não tocaria mais naquele assunto, pelo menos não ate que saíssemos de lá.

Nossa comida chegou alguns minutos depois. Percebi que Fernando estava enrolando e comecei a obriga-lo a comer. Após eu insistir muito ele conseguiu finalizar o prato. Comemorei minha vitória o que o fez rir, algo o qual eu não havia o visto fazer desde ontem.  Terminamos e eu fui até o caixa pagar a conta, Fernando correu atrás de mim e não deixou que eu pagasse. Não insisti muito, afinal poderia usar aquele dinheiro para comprar outras coisas.

- Agora você vai me levar para casa? – Perguntou ele assim que entramos no carro.

- Por quê? Você quer ir para casa? Se quiser eu te levo, mas eu tinha outros planos para nos dois...

- Que? Eu para casa? Se tem um lugar que eu não quero ir esse lugar é a minha casa. – Falou ele e eu não pude evitar rir.  – E então? Para onde você pretende levar esse jovem indefeso? – Perguntou ele.

- Que tal a minha casa? – Sugeri.

- Parece uma ótima ideia, na verdade é uma ideia maravilhosa. – E sim, provavelmente o vinho havia o feito ficar mais falante que o normal.

...

Assim que chegamos em minha casa, nos sentamos no sofá da sala. Fernando parecia bem à vontade, ele tirou o blazer, afrouxou a gravata e apoiou os cotovelos no braço do sofá.

- O que foi? – Perguntei ao notar a forma como ele me olhava.

- Nada. Já disse que você é linda?

- Na verdade eu não sei. – Respondi.

- Então estou dizendo agora, você é linda, muito linda. Não acha que deveria estar namorando um bonitão mais jovem que nem você?

- Eu estou satisfeita com o meu coroa. – Falei aproximando-me dele.

- Sério? Fico feliz em ouvir isso. Porque esse coroa esta a sua disposição.

- Eu também fico feliz em ouvir isso. – Aproximei-me mais dele e o beijei. – Preciso te contar uma coisa. – Falei, era agora ou nunca.

- O que? Eu estou com bafo? Foi você que pediu aquele pão de alho de entrada, então a culpa é sua...

- Não, não é nada disso. É sobre o meu ex-marido.

- O que tem ele? Você acha que ele vai ficar chateado por eu estar aqui?

- Fernando do que você esta falando?

- Desculpe, talvez eu tenha bebido um pouco mais do que deveria e eu também estou feliz. Você me deixou feliz, como eu não me sentia desde... A nossa noite em LA. É bom estar com alguém que me faça esquecer de tudo que vem acontecendo. Você faz com que eu me sinta diferente, mas acredite é um diferente bom, muito bom na verdade. Eu não sei porque, mas você desperta o melhor em mim. Obrigado Letícia, por tudo. – Falou Fernando puxando-me para perto. Ele segurou meu rosto com suas duas mãos e beijou a pontinha do meu nariz colando nossas testas logo em seguida. Eu sentia sua respiração quente próxima a mim, e naquele momento só conseguia pensar em beija-lo. Sabia que não foi para isso que o levei até ali, mas vê-lo feliz e tão entregue fez com que toda a minha coragem de dizer a verdade fosse embora. Eu tinha medo da reação dele, eu tinha medo de destruir todas as coisas bonitas que construímos juntos em tão pouco tempo. Por isso resolvi adiar. É claro que eu o contaria, mas não podia e nem queria estragar aquele momento. Eu o beijei. O beijei como não havia o beijado desde LA. Eu já estava sentindo saudades de tê-lo tão perto. Deslizei minhas mãos até os botões da sua blusa e fui desabotoando um a um enquanto ele beijava o meu pescoço. Fernando me ajudou a terminar de tirar a sua blusa, e logo senti ele puxar o zíper do meu vertido. Suas mãos acariciavam as minhas costas e eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem em protesto.  – Vamos realmente fazer isso na sala? – Sussurrou no meu ouvido. Eu sorri e segurei na mão dele conduzindo-o para o meu quarto. Por sorte eu havia organizado no dia anterior. Paramos próximo a cama e Fernando repousou suas mãos em minha cintura me puxando para mais perto. Como o zíper já estava aberto ele apenas abaixou as alças para que o vestido caísse. Fernando depositou beijos no meu ombro e eu estava praticamente imóvel, não por causa da timidez, mas sim porque tentava aproveitar ao máximo todas as maravilhosas sensações que os toques de Fernando me proporcionavam. Ele me deitou cuidadosamente na cama ficando por cima de mim. Nos beijamos enquanto terminávamos de nos despir. Logo nossos corpos já estavam suados, cansados, mas ao mesmo tempo querendo mais um ao outro. Ao contrario de LA essa noite foi longa, eu já me sentia mais a vontade com Fernando e percebi que o mesmo se passava com ele. Quando estava em seus braços é como se o resto do mundo não importasse, eu me sentia segura. Fernando era capaz de me satisfazer em todos os sentidos. Ele era um homem completo e eu percebi que poderia ter com ele tudo o que eu sempre sonhei e que não tive nem mesmo com Rodolfo. Às vezes me lembrava novamente da conversa que eu havia planejado ter, mas seus beijos faziam com que eu me esquecesse novamente. Eu me aconcheguei em seus braços e dormi.

Infelizmente esse sono não durou muito tempo, eu acordei e no mesmo instante um milhão de coisas começaram a se passar por minha cabeça, mas naquele momento tentei me concentrar em Fernando e na noite maravilhosa que acabávamos de ter. Amanhã seria outro dia e resolveríamos tudo. Eu não adiaria mais, porque precisava que o nosso relacionamento fosse da forma que Fernando o via, limpo, sem mentiras. Márcia escondeu dele quem realmente era e eu não iria fazer o mesmo. Só de imagina-lo me decepcionado comigo assim como esta ele decepcionado com ela me deixava desesperada. Eu não sabia qual seria a reação dele, mas rezava para que fosse a melhor possível.