História Fireproof - Job.

Zayn Malik

- Oi mãe, oi pai. - Pendurei a jaqueta que estava usando no parafuso que tinha atrás da porta. - Onde estão as meninas?

- Zayn! Você tomou chuva denovo! Quantas vezes tenho que falar para você pegar um ônibus, meu filho? - Minha mãe tentava me secar com um pano de cozinha. - As meninas estão no quarto da Doniya, filho.

- Obrigado, mãe.

Subi para o quarto da Doniya, e lá estava apenas Safaa. Ia perguntar sobre minha outra irmã, só que Doniya nem me deixou terminar, e já foi falando.

- Ela saiu com as amigas, nem pergunte sobre ela. - Doniya estava costurando a saia de Safaa, olhou para mim e voltou a dar pontos em um buraco enorme que havia no tecido. - Como foi de trabalho?

- Péssimo, eu disse que o café ia fechar. - Ela arregalou os olhos. - Mas espera! Eu vi um cartaz com emprego na mansão dos Hastings.

- Zayn, até parece que você vai conseguir aquele emprego. - Doniya riu com ironia e me encarou sínica. - Você é bruto demais para ser um cuidador, Zayn.

- Cuidador?

- É. Saiu em todos os jornais, a filha do senhor Hastings sofreu um acidente dois anos atrás, e ela não anda, Zayn, ela fica na cadeira de rodas o dia inteiro, e o emprego é para cuidar dela, tem que alimentá-la, levá-la para passear, e tudo mais. É um emprego que paga muito bem, mas ao mesmo tempo é muito trabalhoso.

- E-eu posso fazer isso. Eu cuido muito bem de você, não é, Safaa? - Ela negou com a cabeça. - Nossa, valeu, Safaa.

- Você dá medo, maninho. - Safaa comentou saindo da cama de Doniya com a saia pronta. - E você ia tentar levar a menina paraplégica para a cama com você.

- SAFAA! - Eu e Doniya exclamamos em coral. - Quem ensinou isso a você?

- Eu vi você e uma menina do seu trabalho se beijando igual uns doidos, foi nojento, e a mamãe já sabe. - Safaa saiu pela porta. 

Sentei em um banco e coloquei as mãos na cabeça, precisava pensar. Cuidador... Eu iria ter paciência para cuidar de uma menina de cadeira de rodas? Não. Eu não tenho paciência para nada. 

- Zayn. - Doniya me chamou. - Eu sei que você pode não conseguir. Mas 7.000 reais para nós, ajudaria muito. Apenas tente, esquece o que eu disse, não devia ter dito aquilo.

- Tudo bem, Doni. - A abracei. - Por nossa família.

Xx

Estava dirigindo até o endereço da mansão dos Hastings, quando me deparei com uma mansão enorme. Com certeza, era a mansão dos Hastings. Desci do carro, e vi uma fila imensa de enfermeiras, e homens entrando na casa. Engoli seco, qual era minha porcentagem de chance dentre esses montes de pessoas mais experientes?

Entrei na fila, e fiquei apenas olhando ao meu redor. Recebia alguns olhares feios, engoli seco. Acho que eu era o mais novo, e menos experiente daquele meio de pessoas. 

Esperei minha vez por quase uma hora, era incrível o quanto de gente que se juntou lá para cuidar apenas de uma simples garotinha. 

- Zayn Malik. - Um homem velho e careca, que usava palitó, e parecia um pinguim me chamou. - Venha comigo.

O segui até uma sala, apenas eu e ele. Sentei em sua frente, e comecei a suar, o jeito que aquele homem me olhava me dava calafrios.

- Então, Zayn, preciso fazer algumas perguntas sobre você. 

- Tudo bem, pode perguntar, senhor. - Olhei para ele com mais seriedade.

- Você... Tem emprego? - Ele perguntou ajeitando seus óculos, e em seguida sua gravata. O que eu iria dizer? Vai, Zayn, fala a verdade.

- Tinha. O café que eu trabalhava fechou, e agora, eu preciso desse emprego.

- Porquê precisa desse emprego, senhor Malik?

- Me chame só de Zayn, por favor. - Respirei fundo. - Meu avô tem câncer, e além de pagar as despesas de casa, eu preciso pagar o tratamento dele. Eu sustento minha família junto com o meu pai e minha irmã, Doniya, e a aposentadoria da minha mãe. Minha irmã trabalha como balconista em uma loja de doces, meu pai trabalha em uma fábrica, e minhas duas irmãs mais novas não tem idade para trabalhar ainda.

- Nossa. Você tem um grande valor, sr. Malik. Quer dizer, Zayn. - Ele sorriu para mim. - Cuida bem das suas irmãs?

- Eu levo e busco elas de todos os lugares. Quase todos, minha irmã do meio as vezes sai escondido de casa, e eu sempre chego na hora que ela já saiu.

- Hm, certo. - Ele anotou algo no papel que não pude enxergar. - E quanto... Relacionamentos?

- Terminei com minha namorada faz 3 anos. 

- E quanto a ficantes? - Merda, merda, merda! Eu não iria falar das ficantes nem ferrando, eu até perdi a conta de quantas eu tenho.

- Ah, não fico com muitas garotas, senhor. 

- Quantos anos tem, Zayn?

- Tenho 21 anos, senhor. - Ele ficou encarando minha jaqueta. 

- Tire a jaqueta por favor, senhor Malik. - Bufei. - Quer dizer, Zayn.

Eu fiquei me perguntando porquê ele queria que eu tirasse a jaqueta. Ah, cacete! As tatuagens! Isso podia implicar com a minha vaga no emprego. Agora eu estava perdido. Olhei para baixo, e tirei a jaqueta.

- Posso colocá-la de volta? - Perguntei a ele. Ele assentiu com a cabeça. - Obrigado.

- Você usa ou já usou algum tipo de droga, senhor Ma... Zayn. 

- Já me envolvi com drogas aos 17 anos, mas já saí disso por causa do meu avô, ele tem uma importância enorme para mim. - O velho de óculos pareceu surpreso. - Eu pareço tanto assim com um traficante?

- Não, senhor Malik. 

- Zayn.

- Desculpe, Zayn. Você tem uma história bonita, e pelo que eu vi tem um bom coração. Mas, você estaria pronto para cuidar de uma paraplégica?

- Se for pela minha família, eu estou pronto para tudo.

- Zayn, preste atenção. - Foquei em seus olhos. - Summer é uma garota muito brava, ela chega a ser muito chata de vez em quando. Ela não gosta de lidar com o fato de ser paraplégica, ela sofre muito com isso. Você vai ter que passar algumas noites a observando. Vai ter que se dedicar mais a Summer do que a sua família.

- Tudo bem, senhor. 

- E mais uma coisa. Tem que arrumar a cama dela, levá-la para passear, dar comida para ela, e pelo amor de Deus, não a deixe tentar andar. - Fiquei em dúvida. - Summer desaprendeu a andar, mas a provabilidade de ela voltar a andar não é... Impossível. Porém é difícil, ela tem aulas de fisioterapia e tudo, mas ela não consegue andar. Ela é determinada demais, e as vezes tenta andar sozinha, mas ela sempre acaba machucada no final.

- Vou cuidar dela como se ela fosse minha irmã, senhor.

- Ela não pode ser só sua irmã, ela tem que ser sua vida. - Assenti com a cabeça. - Está pronto para fazer dela sua vida?

- Sim, estou. 

- Obrigada, senhor Malik. Quer dizer, Zayn. - Ele sorriu para mim. - Me aguarde no auditório, vou anunciar o vencedor do emprego daqui meia hora, depois de eu entrevistar o último da fila.

- Tudo bem, senhor, obrigado. - Me levantei da cadeira e me dirigi ao auditório.

Havia tanta gente papeando lá que estavam me dando dor de cabeça, queria dar um murro na enfermeira do meu lado por só ficar falando sobre a vida sexual dela. Ouvi um barulho ardido do microfone.

- Boa tarde, senhoras e senhores. - O velho de óculos apareceu lá. - Bem, antes do vencedor do emprego aparecer, preciso que todos conheçam a Summer.

Uma garota apareceu em uma cadeira de rodas elétrica. Eu esperava uma gorda vesga, mas não. Ela era ruiva, tinha os cabelos enormes, lisos em cima e cacheados na ponta, olhos azuis que pareciam uma pedra preciosa, e um sorriso encantador. Ela era baixinha, e era magra, tinha os lábios rosados e as mãos delicadas. Eu notei vários detalhes nela que nunca notei nas outras garotas que vi, ela era linda. Ela usava uma blusa florida e uma saia vermelha, que caiam perfeitamente nela (1) .

- Oi. - Summer disse fazendo as bochechas brancas dela ficarem vermelhas. - Er... Obrigada por estarem aqui hoje. - Ela sorriu e mexeu no cabelo, e em seguida o velho de óculos pegou o microfone.

- Bem, o vencedor do emprego é... Zayn Malik. - Todos aplaudiram e eu fiquei de pé, olhando todos ao meu redor. Recebia alguns sorrisos, e alguns olhares feios. Fui até lá, e apertei a mão do velho de óculos. Olhei para ela e dei um sorriso, ela me olhou, e depois olhou o chão, com um olhar triste. - Obrigada a todos por participarem. 

- Senhor... Quando meu trabalho começa?

- Agora, Zayn.