— Texas? — Pergunto fitando Scooter do outro lado da mesa e continuo a mastigar meu cereal calmamente. Definitivamente eu não estava surpreso com mais uma decisão sobre mim e minha vida sendo tomada sem o meu consentimento.
— Sim, Texas. Mais precisamente Huntsville, é uma cidade interiorana situada no Condado de Walker.
— Está planejando isso desde...? — Pergunto dando mais uma colherada no cereal. No presídio, eu sentia falta de comidas assim, agora que eu poderia comer qualquer coisa, eu já não sentia o mesmo desejo de antes.
— Talvez há quatro ou cinco meses. — Ele murmura dando de ombros. — Você assistiu a tevê ou acessou a internet nestes três dias? — Ele pergunta com certo receio na voz e eu apenas nego com a cabeça. — As notícias são desanimadoras, Justin. Suas músicas apenas caem nas paradas, você perdeu pelo menos cinquenta milhões de seguidores nas redes sociais e as revistas e jornais apenas dizem...
— Quando é a mudança? — O interrompo realmente não dando importância para aqueles fatores. Eu não ligava se estava sendo esquecido, trocado, odiado ou coisa do tipo. Justin Bieber, o astro pop, estava morto e assim permaneceria.
Scooter arregala os olhos com a minha pergunta e ele pausa o gesto de elevar o copo com suco de laranja até à boca. Ele estava em um leve estado de choque com a minha reação não previsível.
— Você... Você irá aceitar tão facilmente assim? — Ele pergunta ainda sem acreditar e eu apenas assinto, terminando de passar o guardanapo na boca.
— Eu quero mesmo mudar para uma casa menor e “normal”. E além do mais, eu apenas quero poder ter a chance de recomeçar como uma pessoa “normal”. Sem flashes, sem paparazzis, sem pessoas pedindo por fotos o tempo todo. — Falo pausando algumas vezes para comer a panqueca com mel.
— Como? — Ele pergunta com a testa franzida depois de alguns segundos em silêncio, como se estivesse se esforçando para entender o que eu havia dito.
— Os paparazzis logo saberão aonde estou. Estes vermes estão por toda a parte. — Falo colocando ainda mais mel em cima da panqueca e ignorando sua pergunta. Logo eu diria à Scooter sobre minha decisão, mas não era assunto para àquele instante.
— Não saberão. — Ele afirma e eu ergo a sobrancelha.
— Como?
— É preciso que você evite sair para lugares públicos, pinte o cabelo de uma cor diferente, como preto, por exemplo. Desative suas redes sociais por um período e evite acessar à internet. — Ele fala e eu solto uma risada irônica.
— Você está praticamente dizendo para eu evitar ter uma vida social e ficar trancado em uma casa sem poder sair, assim como no presídio. — Falo com a voz levemente alta e Scooter nega com a cabeça.
— Não será para sempre assim, Justin. Agora, o que você menos precisa, são de paparazzis e repórteres te perseguindo para cima e para baixo. Hunstville é um recomeço, apenas tente não chamar atenção.
— Scooter...
— Estou fazendo isso para o seu bem, Justin. Você ainda não notou, mas logo notará. — Ele fala e o seu celular, que estava em cima da mesa, começa a tocar uma música estridente. Ele me lança um último olhar e por fim, se levanta caminhando em direção à outro cômodo para atender a ligação.
— Que ótimo. — Murmuro sarcasticamente e dou uma última golada no suco.
Levanto da cadeira e cato uma maça da fruteira. Dou uma mordida grande e quase a devoro por inteira enquanto caminho até meu quarto. Chegando lá, rodo meus olhos pelo local, tentando imaginar aonde poderia estar meu celular. Eu não o usava a dois anos e agora, dificilmente Scooter deixaria eu ter algum tipo de contato com a internet.
Vasculho o Closet e todas as gavetas e armários existentes no quarto, mas não consigo o achar. Talvez o objeto nem ao menos estivesse em minha casa e sim, na casa de Scoot.
Torço a boca caminhando para fora do cômodo. Passo por todos os quartos de hóspedes e percebo que em todos Scooter havia retirado os notebook's.
Eu havia cumprido toda minha pena em regime fechado e agora mais parecia que eu ainda estava preso e cumpria em regime aberto, já que Scooter estava a monitorar cada respirada que eu dou.
— Val. — Chamo uma empregada no topo da escada e ela caminha até mim apressadamente.
— Sim, senhor Bieber? — Ela pergunta educadamente e eu sinto vontade de revirar meus olhos, mas não o faço.
— Preciso que me empreste seu celular. — Falo um pouco mais baixo que o normal e olho ao redor procurando por Scoot que eu sabia que ainda não havia ido embora.
— Desculpe, senhor Bieber. O senhor Braun deu ordens para todos os funcionários da casa para não emprestarmos nenhum objeto tecnológico para você. — Ela fala e eu bufo com toda aquela insanidade e proteção exagerada de Scooter.
— E se...
— Justin, não tente persuadir os funcionários. A ordem é clara: sem internet por algum tempo. — Ouço a voz de Scooter atrás de mim e reviro meus olhos ficando de frente para ele.
— Você sabe que não poderá me prender por muito tempo. Eu ainda estou vivo e não é porque estive preso que vou parar a minha vida. Eu vou recomeçar em Huntsville e depois disso, não espere ainda que eu vá reaparecer com músicas novas ou merda do tipo. — Falo subindo as escadas e ignorando o olhar de mágoa que Scooter me lançava.
— O que quer dizer com isso? — Ele pergunta subindo apenas um degrau e eu o olho rapidamente.
— Justin Bieber, o artista, não existe mais. — Falo com firmeza e continuo meu caminho até meu quarto, ignorando os chamados exaltados de Scooter.
Três dias depois...
Termino de colocar minha última peça de roupa que levaria em minha mala e certifico mais uma vez se tudo o que eu precisava estava ali.
Levaria uma única mala e teria que sobreviver com estas roupas por pelo menos três semanas, já que Scooter pretendia esperar as coisas se acalmarem para contratar o serviço de alguma companhia de caminhões para levar todas as minhas roupas e alguns móveis escolhidos até Hunstville.
— Senhor Bieber? — Ouço a voz de Val e desvio meus olhos da mala para ela. — O senhor Braun já está te esperando lá fora. Ele pediu para você se apressar.
— Certo. — Murmuro terminando de fechar o zíper da mala.
Olho para meu reflexo pela última vez no espelho e fito meu cabelo. Ele estava raspado e tingido de preto, havia acatado à ideia de Scooter, talvez aquilo disfarçasse pelo menos um pouco. Coloco um boné e um óculos de sol para tentar tampar meu rosto, pego minha mala e saio do quarto a arrastando. Logo eu já avistava o carro popular que Scooter havia alugado para não chamar atenção. Entrego a mala para o motorista e ele a coloca no porta-malas rapidamente.
— E aí. — Cumprimento Scoot adentrando o carro.
— Olá. — Ele fala com certa frieza e eu apenas reviro meus olhos para aquilo. Ele ainda estava chateado com o que aconteceu.
O restante do percurso até o aeroporto de Atlanta foi silencioso e com um clima pesado entre nós. Logo quando chegamos, solto um suspiro longo de alívio ao constatar que não havia nenhum paparazzo.
Abaixo ainda mais a aba do boné e arrasto a mala de porte grande pelo aeroporto. Logo consigo ver o jatinho particular na pista, o motor já estava ligado e o barulho era alto, mas não era nada que eu não estivesse acostumado.
Subo as escadas apressadamente e antes de entrar, respiro um pouco mais fundo e olho para trás analisando o edifício grande do aeroporto.
Aquela seria a última vez que eu pisaria em Atlanta.
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