O garotinho
Murilo terminava de fechar o zíper de seu macacão laranja. Era sexta-feira. Amanhã seria o dia aberto às visitas aos familiares, porém, um vazamento nos canos acabou por alagar boa parte dos banheiros do reformatório. Então, os pertences que ainda podiam passar pela segurança do São Pedro foram mandados pelo correio. Murilo ainda segurava a pasta de dente, a escova e o novo tênis que a mãe mandara.
Ele olha para os pés. O seu antigo calçado ainda podia aguentar por mais uns dias, só precisaria de uma nova palmilha, já que a sua fora roubada em uma das primeiras noites, após a sua chegada.
O menino pega os tênis e tira as palmilhas. Na sola de um deles, havia um bilhete. Os guardas não o viram no momento da inspeção. Murilo o abriu.
Não pense que te esqueci. Ainda vou te tirar daí.
Te amo.
Ele sorri com a mensagem. Não era de sua mãe, conhecia a fonte da letra. Era da única garota que o amou de verdade, mesmo após o seu beijo. Ela não fora obrigada a nada.
– Anda, Murilo! – alguém bate na porta da divisória onde o pedófilo estava. – O que foi? Está se masturbando, pensando em suas garotinhas?
Era um dos garotos com o qual dividia o quarto.
Murilo não era tolo. Antes de ser mandado para o reformatório, o promotor o avisou como os outros detentos o tratariam pela espécie do crime. O oficial de justiça também o alertou sobre os abusos sexuais que sofreria. Desde então, Murilo era o último a sair do banheiro e a fechar os olhos.
Ele olha pelo vão da porta, procurando por sombras – sinais de movimento. Não se ouvia mais barulho. O menino abre a porta. Tinha na cabeça a ideia de que sua estadia estaria chegando ao fim, apesar de não fazer ideia de como ela o tiraria dali.
Murilo coloca o bilhete no bolso de seu macacão. Ele estava verificando se realmente havia fechado a tampa da pasta de dente, quando, de frente para o espelho, viu um vulto se aproximar. Antes disso, já havia escutado o barulho de passos na água que inundara o banheiro se aproximarem por todos os lados, encurralando-o.
O maior dos garotos o derruba no chão. O queixo de Murilo bate no piso de pedra.
– Ai – ele geme ao ver o seu sangue se misturar a água.
– Já está gemendo? Ainda nem começamos! – era a mesma voz que o abordou na divisória.
Murilo fechou os olhos ao sentir o toque dos outros detentos em seu macacão.
– Socorro! Por favor, alguém me ajude!
Nenhum guarda estava por perto, mesmo sendo o horário de recolher, como se tudo aquilo fosse... combinado.
Eles tiram a sua roupa. Murilo, agora, sabia como se sentiram as suas vítimas, mas ainda não conseguia se arrepender pelo o que havia feito.
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