15 de março de 2016 - Londres, Inglaterra.
Todas aquelas pessoas caminhando freneticamente pelo corredor estavam mexendo com o psicológico de Camila, deixando-a estressada e ansiosa para chegar o mais rápido possível na sala 7, onde irá se preparar para um teste, que seria iniciado às 8:15. Semanas praticando e tentando aprimorar cada vez mais seus desenhos, se é que isso era possível. A latina possuía um talento e capacidade enorme para desenhos realistas à lápis. Às vezes arriscava pintar quadros usando tinta óleo, que impressionavam qualquer pessoa que visse.
Faltavam 10 minutos.
Alguns gritavam por seu nome em meio à multidão, mas Camila não poderia parar sua caminhada, estava atrasada para o pouco tempo que teria para praticar. Ignorou as vozes, sem se importar muito, por saber que a maioria eram desconhecidas que só queriam sua atenção ou cumprimentar-la. Não costumava ignorar, porém era uma emergência. O tal teste serviria para decidir se Camila passaria para a classe avançada, onde estudam os melhores pintores e desenhistas da Royal College. A latina era aluna em destaque.
Faltavam 8 minutos.
Avistou no norte da multidão uma cabeleira loira vindo em sua direção. Palpitou ser Ally, mas não poderia ser, a baixinha havia mandando mensagem para Camila avisando que a encontraria no refeitório após o primeiro horário, antes que a latina saísse de casa. A mulher aproximava-se cada vez mais, confundindo a cabeça da mais nova, que tinha o cenho franzido.
- Porcaria. - resmungou a loira com a mão no braço direito, o qual esbarrou em Camila, consequentemente fazendo-a cambalear. - Me desculpe.
Camila respondeu com um sorriso, dizendo que estava bem. A loira simpatizou-se com a doçura da menor, lhe lançando um sorriso sem graça. Os olhos da mulher de encheram de brilho ao ver a tela que estava enterrada nos braços da mais nova, o qual apresentava um desenho à lápis da cabeça de um rapaz, cabelos lisos em forma de topete e a barba rala estavam destacadas na tela incompleta. A boca da mulher abriu em um perfeito O. Estava impressionada com o que vira. Era tão... Incrível.
- Wow! Você desenhou?
- Sim. - sorriu sentindo suas bochechas arderem - Ainda não tive tempo de finalizar e tenho 5 minutos para fazer isso. - suspirou sentindo-se derrotada. Mas não desistiria.
- É digno de uma parabenização, você tem mãos preciosas, garota. - a loira sorriu de lado.
- Obrigada! - Camila estava apressada para acabar aquela conversa. Ela precisava chegar à sala 7 mais do que nunca. Um minuto de atraso era o limite para que não pudesse mais entrar. - Eu preciso ir agora ou minha morte será hoje.
A loira riu baixo.
- Tudo bem, me desculpe pelo transtorno.
Camila sorriu amarelo, seguindo o caminho que havia de percorrer. Estava perto, podia até ver a placa no final do corredor indicando a sala.
Faltava 2 minutos.
Apressou os passos, quase tropeçando neles. Costumava ser pontual, seus compromissos eram muitas vezes importantes e exigiam serem cumpridos corretamente. Culpava-se mentalmente à todo instante por ter caído no sono noite passada quando Sofi arrastou-a para seu quarto para assistir desenhos aleatórios no canal da Disney e acabou passando do horário necessário, devido ao seu despertador ter ficado no outro quarto. Já podia sentir o líquido grudento descer por sua testa.
O sinal tocou.
Assustou-se quando o barulho forte da porta de estilo vitoriano fez presença no local. Preciso recuar um passo para que não fosse atingida. Céus, aqueles infelizes não poderiam esperar nem um minuto? A cubana emitiu um grito de cansaço, raiva e culpa, chamando a atenção de alguns alunos que estavam encostados em uma parede próxima. O tão esperado teste. Ela havia perdido. Merda, merda, merda.
Camila respirou fundo, impedindo que as lágrimas que acumularam em seus olhos caíssem. Estava frustrada, suando e nervosa. Deu meia volta e, em passos pesados e longos, seguiu até a sala da srª. Lancaster, a diretora da instituição. A esperança de que pudesse fazer o teste no dia seguinte nasceu. Talvez, se explicasse a situação, receberia mais uma chance. Aquela que procuramos no final do túnel quando tudo está perdido. Aquela que é quase inexistente.
- Com licença. - pôs a cabeça na pequena brecha entre a porta e a parede, a diretora assentiu em um pedido mudo para que entrasse. - Srª. Lancaster, poderia me fazer um favor?
- Camila Cabello. - sorriu prazerosamente ao reconhecer a mais nova - Se estiver ao meu alcance, não vou me importar em lhe ajudar.
Camila sorriu para a mulher, que apontou para a cadeira em sua frente, indicando-a para que a garota sentasse, então ela o fez. Alguns papéis estavam desorganizados em cima da mesa, documentos revirados, pareciam estar sendo organizados. O ambiente estava frio, devido ao ar condicionado acoplado na parede. A latina suspirou aliviando-se do calor que sentira.
- Hoje eu teria que fazer um teste às 8:15, para solicitar a entrada na turma avançada de desenhistas e pintores. Me atrasei por motivos de família e não me deixaram entrar. É muito importante para mim, estou tentando há meses e essa foi a única chance que me apareceu desde então. - a diretora cruzou os dedos em cima da mesa, fitando o nada enquanto estava pensativa. - Será que eu poderia fazê-lo amanhã?
- Infelizmente, eu não posso te ajudar, Camila. - esqueceu a formalidade, era despreocupada neste quesito, apesar de ter uma relação extremamente profissional com os alunos. - Eu, particularmente, te daria outra chance. Percebo que você é dedicada ao que faz, e faz muito bem. - sorriu encarando o quadro nos braços da latina, que estava sentindo-se derrotada. - Mas não podemos te tratar com diferença aos outros alunos, seria errado. Os testes são marcados para uma data fixa e não podem ser adiados ou adiantados.
- Claro, eu entendo. - evitou o contato visual ao máximo, caso contrário, suas lágrimas explodiriam ali mesmo. - Me desculpe incomodá-la, estou de saída, se me permite.
- Fique à vontade e me perdoe por não poder ajudá-la. Minhas apostas serão feitas em você no próximo teste. - assentiu com a cabeça simpaticamente, recebendo um sorriso de gratificação e tristeza de Camila.
Ao mesmo tempo em que estava preocupada com Ally, tendo a consciência de que a amiga quebraria seu pescoço mais tarde, por deixá-la esperando no refeitório quando Camila, na verdade, havia voltado para casa, estava ansiando para jogar-se sem delicadeza em sua cama e lastimar pelo resto do dia. A biblioteca no centro da cidade era uma opção para pôr os pensamentos da garota na ordem correta. Era seu lugar favorito. Amava o silêncio que habitava no local enquanto o escuro também tomava conta dali. Os donos da loja jamais desconfiaram de algum tipo de invasão, o que era considerado estranho para a latina. Não era uma invasão, apenas uma visita em hora desapropriada, sem maldade.
A garota dos olhos verdes cintilantes fazia parte dos pensamentos de Camila diariamente, desde que a vira em sua frente. O som daquela voz rouca meio arrastada. Ah, aquela voz. Camila imaginou a cantoria de Lauren mentalmente. Encontrava-se agora sentada no chão do quarto com a pernas cruzadas em estilo indiano. Perguntava a si mesma de voltaria a ver a morena. Ela queria matar toda a curiosidade sobre quem era aquela mulher por baixo daquela jaqueta de couro que expressava seriedade. Aquela tortura mental não acabaria, até que as garotas se encontrassem novamente.
***
Lauren dedilhava as cordas do violão, encostada na cabeceira de sua cama de solteiro, enquanto sua irmã mais nova estava deitada na cama ao lado, coberta por uma manta branca e com os ouvidos ocupados pelos fones pretos reproduzindo uma música baixa. Não havia muita claridade no local, devido às cortinas laranjas que cobriam a janela. Taylor recebia a liberdade para ir até a casa de Lauren quando quisesse. Desde que foram praticamente obrigadas à viverem separadas, a mais nova parecia não querer muito contato com os pais. A garota sentia um misto de sentimentos negativos, incluindo: raiva, indignação e nojo deles. Eu daria razão à Taylor. Vivia grudada na irmã mais velha, riam das piadas mais sem graças que escutavam uma da outra, aproveitavam o tempo que passavam sozinhas em casa para assistir filmes e cantar Aretha Franklin acompanhadas pelo som do violão de Lauren. Chris ficava observando as duas irmãs cantarem, levando em conta que a garoto não sabia tocar nenhum instrumento e sua voz era considerada um tanto quanto desafinada.
Tudo isso até o dia em que Michael e Clara expulsaram Lauren de casa. Taylor lembra como se fosse ontem. Sente a dor como se fosse ontem.
Flashback
A Jauregui mais nova estava dormindo quando escutou batidas desesperadas na porta de madeira da casa. Levantou-se contra a própria vontade, sabendo que os pais não levantariam para abri-la. As luzes da sala de estar foram acesas, fazendo com que Taylor franzisse o cenho e piscasse os olhos repetidamente para que pudesse acostuma-los à luz. Lauren não havia se movido na cama ao lado, como se não escutasse nada em sua volta.
Espere.
Lauren?
Taylor não recordava-se de ter visto a irmã na noite passada. A cama estava arrumada e o violão de madeira caramelo estava encostado na mesma. Não havia preocupação e desespero maior do que a garota sentiu ao ver Lauren daquela forma. Os cabelos negros sem vida, os olhos verdes que naquele momento tornaram-se escuros, as roupas amassadas e o rosto inchado recebia uma coloração vermelha. Taylor tossiu por causa do cheiro forte de álcool que sentira.
Não pensou duas vezes antes de segurar o braço direito da morena, puxando-a cautelosamente para dentro da casa. Lauren estava quase inconsciente de suas ações. A caçula estranhou tal atitude da morena. Sabia que a irmã não costumava beber em excesso e muito menos freqüentar festas do tipo.
- Lauren! - Taylor exclamou, segurando o rosto da irmã com delicadeza. - Você está fedendo à álcool, ugh. Onde estava?
- Tay... Me descuulp - o nível de álcool em seu sangue estava afetado sua fala, impedindo que a mais nova entendesse. - Eu t-tava com a Dinaah. Uma festa. - ofegou - Festa.
Aquela foi a deixa de Lauren. Antes que vomitasse no jarro que estava em cima da mesa de centro.
- Olha, não vou brigar com você agora, por que você está inconsciente de seus atos. Mas quando estiver sóbria, eu vou matar você, Jauregui. - fez um rabo de cavalo nos cabelos da irmã, para que o mesmo evitasse o contato com o líquido que estava saindo de sua boca.
Taylor orientou Lauren até o sofá, para que sentasse. A mais nova estava assustada com a cena em sua frente. Estava assustada por Lauren. Se os pais acordassem e a vissem daquela forma, as coisas não ficariam boas para a morena. A mais nova não conseguia raciocinar direito naquele momento, para que pudesse chegar à uma solução. Não havia solução.
- O que está acontecendo aqui?
As meninas encararam a figura ao seu lado com receio e medo. Michael tinha um semblante furioso, uma Clara séria e assustada estava ao seu lado, observando a cena da filha.
Droga.
- Pai... Eu -
- Calma, calma. - Lauren tomou a frente. A morena conseguia articular as palavras melhor do que há 5 minutos atrás, talvez devido ao copo d'água que a caçula lhe deu. - Eu vou... Explicaar.
A voz da mais velha estava arrastada. O estado físico da garota estava lastimável. Aquela não era ela. Aquela não era Lauren.
- Olha como você está! - Clara aproximou-se das filhas, enrugando o nariz pelo cheiro de álcool - Onde estava, Michelle?
- Não saia mais sem a minha permissão. Quero que me diga onde vai, com quem irá e a hora que voltará. - o pai bufou - Como pode ser tão irresponsável? - aumentou o tom de voz, apertando e puxando o braço da filha contra si.
- Estou cansada! - a morena praticamente gritou, chamando a atenção de todos ali presentes e se soltando dos braços do pai, que a fuzilava com os olhos. - Vocês se sentem no poder de controlar minha vida como se eu fosse um fantoche. - fez uma pequena pausa antes de continuar - Eu posso estar bêbada agora - a garota estava de pé, apoiando-se no ombro da irmã mais nova, cambaleava um pouco para o lado. -, mas não significa que eu vá esquecer de tudo amanhã. Vocês nem se importam com a gente. Não me recordo da última vez que falaram comigo, a não ser agora, que estão aqui para me dar um sermão.
Taylor sussurrou questionando o que a irmã estava fazendo, mas não obteve resposta. Lauren sentia medo dos pais, nunca sabia se podia contar com eles para algo que precisasse. Isso a corroía por dentro. Porém, naquela noite, Lauren não sentira medo de nada.
- Eu sou lésbica. E não me importa o que vocês pensem. - soltou, notando a cara de choque de sua mãe. Michael não apresentou nenhuma expressão, fora a de raiva. Taylor já tinha conhecimento do fato, então apenas assistiu a cena, preocupada com o que os pais fariam.
E a dor veio.
Como um trem veloz que não possuía sino. Um susto, um ato inesperado, uma decepção. O rosto da morena virou ao sentir o impacto da mão pesada do pai contra a pele de seu rosto. A dor veio. Não somente em seu rosto, mas atingiu principalmente o lado esquerdo de seu peito. Lauren levou a mão direita até onde o tapa estalou, o cabelo estava agora bloqueando a visão do rosto dela. A morena não se privou de chorar, não teria vergonha de mais nada à partir daquele momento. Não esconderia sua verdadeira identidade por nem mais um segundo.
O trio de irmãos sempre ouvia os pais dizerem que jamais aceitariam um homossexual dentro de casa. Conceituavam como nojento e falta de ocupação mental. Lauren ouvia os julgamentos calada, no fundo, sabendo que eles saberiam um dia. E pressentia que não iria demorar.
- Nunca mais eleve o tom de voz comigo, Lauren. - Michael falou com a voz trêmula e controlada.
- Eu tenho nojo de vocês. Nojo de quem se tornaram.
Quando Lauren finalmente levantou o olhar, encarou um Michael ainda mais furioso e uma Clara ainda congelada pelo choque. Seu lábio inferior tremia sem parar.
- Eu quero você fora da minha casa. - o homem cruzou os braços, dando um passo à frente e fazendo Taylor recuar um, por reflexo.
Michael não poderia ser mais repugnante e desprezível.
Final do flashback
- Não se cansa, não é? - Taylor falou, puxando os fones de seus ouvidos e encarando a irmã com o violão nos braços e a cabeça pendida para o lado. - Não dormiu por nem um segundo nesta noite, Lauren. Você está bem?
- Estou. Apenas aproveitei a crise de insônia para refletir comigo mesma. - pendurou o violão no suporte grudado na parede, sentando-se na cama ao lado da irmã em seguida. - Conheci uma garota ontem.
A caçula ergueu as sobrancelhas em sinal de aprovação, esperando que a irmã continuasse o que estava dizendo. Mas nada veio.
- A forma como fala, é como se insinuasse segundas intenções.
A mais nova riu da reação de Lauren, que revirou os olhos.
- Não seja estúpida, Jauregui. - cuspiu as palavras lentamente, enquanto Taylor ria da mania que a irmã possuía de chamá-la pelo sobrenome quando estava falando com seriedade, a tal mania que a mesma aderiu.
- Onde a conheceu? - questionou assim que sentiu que havia se recuperado.
- Na biblioteca.
- Você sempre vai lá quando já está tudo fechado e quando não há mais ninguém. - Lauren assentiu - Como encontrou ela então?
- Camila estava lá na mesma hora que eu fui, quando não tinha mais ninguém.
- Camila, uh? Nome bonito.
- E a dona dele não é diferente. Os olhos dela são tão... - penetrantes - Intensos. O olhar doce e os cabelos castanhos em forma de cascata. - respirou fundo - Ela me deixou curiosa, Tay, não tivemos tempo para conversar muito.
Taylor apoiou-se na cama com o cotovelo, sustentando a cabeça com a mão, enquanto observava uma Lauren pensativa.
A conversa de Lauren e Camila naquele dia não durou mais que 10 minutos, devido à ligação que a mais nova recebeu de Sinu, pedindo para a filha voltar por conta de Sofia, que dizia estar com saudades. A menina que aparentava ser quieta também despertou curiosidade em Lauren. Não havia sido amor à primeira vista, como em alguns romances clichês. Era algo diferente. Algo que Camila sentiu que se tornaria grande, assim como a morena sentiu.
- Você sempre é muito curiosa, Lauren. - Taylor falou com convicção na voz. - Sempre querendo resolver mistérios da sua mente ou até mesmo dos outros.
A mais nova tinha razão. Lauren não se conforma com pouca informação, pouco tempo de conversa, pouco das pessoas. Ansiava sempre por mais, e Camila não havia dado as informações necessárias para satisfazer a morena.
Apesar dos pesares, era diferente. Sabia que sim, devido à cambalhota que sentiu seu estômago dar.
- Não. É... Diferente desta vez. - arrastou a voz.
- Me deixe informada. Dessa sua descoberta, eu quero ser testemunha.
As irmãs riram.
O céu ameaçava chover, as nuvens carregadas e escuras se fizeram presentes na imensidão azul, que tornou-se cinza. Percebendo a tristeza no olhar da irmã mais nova, Lauren franziu o cenho, imaginando um mar de possibilidades. Mas não conseguira encaixar as peças que formassem o quebra-cabeças.
A Jauregui mais nova sentia o lado esquerdo de seu peito arder quando permitia-se estar ao lado da irmã. Não existira ninguém que sentisse mais a falta de Lauren naquele lugar, por mais que encontrasse com a irmã. Droga, o sentimento era tão ruim. Taylor chegava à ter ânsia de vômito quando, obrigatoriamente, olhava para a Michael durante o jantar ou pelos cantos da casa. O pai não a tratava indiferentemente, era raro dirigir uma palavra à filha, atitude que não a afetava.
Tudo poderia ter sido mais fácil, não?
Não.
- Oh! - a morena exclamou ao checar a hora no relógio pendurado na parede. - Precisamos nos apressar se quisermos o café-da-manhã no Dom's.
Anestesiada, Taylor ergueu o corpo e deixou-se cair no outro lado da cama, afim de afastar a preguiça que tomava conta dela. Lançou um olhar significativo para a irmã mais velha e seu celular vibrou em cima do criado-mudo, fazendo com que as garotas ficassem em alerta. Imediatamente, Taylor atendeu receosa.
- Alô?
- Taylor, onde você está? Ainda preciso de ajuda com o dever de casa. São muitos números, minha cabeça está começando a doer. - a garota suavizou a expressão ao reconhecer a voz do irmão.
- O dia acabou de amanhecer, Chris, onde acha que estou?
Lauren sentia-se culpada, em certos momentos, por ser a única entre o trio de irmãos que não cursava em nenhuma instituição. Por outro lado, sentia-se livre para estar onde quiser, na hora em que desejasse. Isso parecia mais interessante do que se tornar uma adolescente estressada e ocupada. Ou, pelo menos, era assim que pensava ser melhor.
- Eu nem ao menos cochilei esta noite. - fez uma pequena pausa - Michael me vigiou para que eu não dormisse. - sussurrou como se contasse um segredo à irmã, que escutava atenciosamente da outra linha.
Taylor riu sarcasticamente.
Michael preocupado com alguém que não fosse ele mesmo? Que piada.
- Está brincando?
- Não faz idéia do quanto eu gostaria de estar. Ugh, detesto quando ele fica no meu pé.
- Descanse um pouco, voltarei à tarde.
- Agradeço desde já, Tay. Mande um beijo para Lauren.
- Se cuida, garoto. Câmbio, desligo.
- Estranha.
A Jauregui mais nova encerrou a chamada, sem responder a provocação de Chris.
O sol estava quente naquela manhã, tanto, que Lauren fora praticamente obrigada pelo seu subconsciente, à usar seus óculos escuros estilo aviador. As duas irmãs seguiram o caminho em silêncio até o restaurante mais perto, no qual costumavam tomar café-da-manhã. A imagem de waffles com calda de chocolate faziam o estômago da morena reclamar do vazio.
Os dias iam embora com a primeira ventania do dia, assim como a vida passava nos olhos da morena, consequentemente tornando-se quase que insignificativos. Era agonizante para Taylor, ver sua irmã observar o tempo passar e não fazê-lo valer a pena, mesmo com tantas funções que a mesma tem capacidade de exercer. Como a música, por exemplo. Lauren não teria nada à perder em uma faculdade.
Acredito que toda vida, cada ser humano que habita nesta terra, têm um propósito para estar aqui. Uma espécie de missão, talvez. Basta entendermos e descobrirmos nossa missão. Nosso propósito aparece em pequenos detalhes, às vezes, até mesmo em pessoas que vivem ao nosso redor. Porém, acima de tudo isso, devemos fazer valer a pena. Cada dia. Cada hora. Cada segundo.
Por Deus, aquela latina não apareceria e deixaria um ar misterioso sem uma razão.
Camila faria valer a pena, não faria?
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