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História Girls and Blood - Reimagined Twilight - Fifteen


Escrita por: Azrael_Araujo

Capítulo 16 - Fifteen


Eu balancei a cabeça. — Não.

Ela respirou fundo, e os olhos pareceram escurecer de um jeito estranho.

— Bem, não fui muito boa em deixar você sozinha quando tentei. Não sei como fazer isso.

— Quer me fazer um favor? Pare de tentar descobrir como fazer isso.

Ela deu um meio sorriso.

— Acho que, considerando a frequência das suas experiências de quase morte, acaba sendo mais seguro eu ficar por perto.

— Verdade. Nunca se sabe quando outra van desgovernada pode atacar.

Ela franziu a testa.

— Você ainda vai a Seattle comigo, né? Tem muitas vans em Seattle. Esperando em emboscada a cada esquina.

— Na verdade, tenho uma pergunta para você sobre isso. Você precisava mesmo ir a Seattle neste sábado ou era só uma desculpa para não ter que dizer não a todas as suas admiradoras?

— Hã...

— Foi o que pensei.

— Na verdade... — eu senti minhas bochechas queimando — Eu havia combinado de sair com Riley nesse dia.

Ela franziu a testa. 

— Oh, claro.

Arrisquei-me a olhar em seus olhos. Eles estavam quentes, de uma forma que eu não conseguia decifrar.

— Acho que isso é melhor, então. — ela disse, tão baixo que quase não pude ouvir.

Eu pisquei.

— Sabe... — eu continuei, mesmo sentindo que havia um elefante branco entre nós. O assunto Riley sempre pesava — Você me deixou em posição difícil com Taylor com aquela história toda do estacionamento.

— Você está falando porque vai ter que ir ao baile com ela agora?

Meu queixo caiu, mas depois eu trinquei os dentes.

Ela estava tentando não rir.

— Ah, Bella.

Consegui ver que havia mais.

— O quê?

— Ela já tem vestido.

Eu não tive palavras para isso.

Infernos.

Ela deve ter lido o pânico nos meus olhos.

— Podia ser pior. Ela o comprou antes de convidá-la para ir com ela. Era usado e não foi caro. Ela não podia perder a oportunidade.

Continuei sem conseguir falar. Ela apertou minha mão de novo.

— Você vai resolver.

— Eu não vou a bailes — falei, com certa irritação. Isso pareceu surpreendê-la.

— Se eu tivesse convidado você para ir ao baile de primavera, você teria dito não?

Olhei para os olhos dourados e tentei me imaginar recusando qualquer coisa que ela quisesse.

Droga, eu violaria os dez mandamentos se ela me pedisse.

— Provavelmente não, mas encontraria um motivo para cancelar depois. Eu quebraria a perna se precisasse. — dei de ombros.

Ela pareceu intrigada.

— Por que você faria isso?

Sacudi a cabeça com tristeza, as memórias invadindo minha mente. Os olhos azuis, nostálgicos, de Lauren sempre me causaram uma sensação de conforto. — Eu não sou muito de dançar.

— Sou ótima professora, Bella.

— Mesmo assim... — dei de ombros, ainda um pouco pra baixo.

Ela balançou a cabeça.

— Voltando à pergunta. — ela ficou séria, de repente — Você tem que ir a Seattle ou se importaria se fizéssemos alguma coisa diferente?

Enquanto a parte do nós ainda estivesse ali, eu não me importava com mais nada.

— Estou aberta a alternativas — cedi. — Mas tenho outro favor a pedir.

Ela me olhou cautelosa, como sempre acontecia quando eu fazia uma pergunta aberta.

— O que é?

— Posso dirigir?

Ela franziu a testa.

— E por quê?

— Bom, principalmente porque você é uma motorista apavorante. Mas também porque eu disse a Charlie que ia... Hã, sair com a Riley, e...

Ela revirou os olhos e balançou a cabeça de desgosto, mas depois seus olhos estavam sérios de novo. — Não quer contar a seu pai que vai passar o dia comigo? — Havia alguma coisa por trás da pergunta dela que eu não entendi, incluindo o fato dela ignorar o assunto Riley.

— Com Charlie, menos é sempre mais. — Eu sabia muito bem disso. — Aonde vamos, aliás?

— Archie diz que o tempo estará bom, então vou ficar longe dos olhares públicos... e você pode ficar comigo, se quiser. — Novamente, ela estava deixando a decisão nas minhas mãos.

— E você vai me mostrar o que quis dizer sobre o sol? — perguntei, animada com a ideia de descobrir outro de seus aspectos desconhecidos.

— Vou. — Ela sorriu, depois hesitou. — Mas, se você não quiser ficar... sozinha comigo, ainda prefiro que não vá a Seattle sem companhia.

Encarei seus olhos indecifráveis por um momento.

— Por acaso, não me importo de ficar sozinha com você. — Yeah.

— Eu sei — disse ela, suspirando. — Mas você devia contar ao Charlie.

Eu balancei a cabeça perante a ideia de explicar minha vida pessoal para Charlie. Eu tentara, ao falar sobre Riley, e, bem...

— Por que diabos eu faria isso?

Seus olhos ficaram de repente ameaçadores.

— Para me dar um pequeno incentivo para trazê-la de volta.r o risco.

Ela expirou com raiva e desviou os olhos.

— Então está resolvido. Novo assunto? — Minha tentativa de mudar de assunto não ajudou muito.

— Sobre o que você quer falar? — perguntou ela, entredentes, ainda irritada.

Olhei em volta de nós, certificando-me de que estávamos fora do alcance de ouvidos alheios. No canto, Archie estava inclinado para a frente, falando com Jessamine. Eleanor estava ao lado dela, mas Royal tinha sumido.

— Por que você foi àquele tal de Goat Rocks no fim de semana passado... para caçar? Charlie disse que não era um bom lugar para caminhadas por causa dos ursos.

Ela me encarou como se eu tivesse deixado escapar alguma coisa muito óbvia.

— Ursos? — arfei

Ela sorriu com malícia.

— Sabe de uma coisa, não é temporada de ursos — acrescentei, com austeridade, para esconder meu choque.

— Se ler com cuidado, vai ver que a lei só diz respeito a caça com armas — informou ela.

Ela observou meu rosto com prazer enquanto a ficha caía.

— Ursos? — repeti com dificuldade.

— Os pardos são os preferidos de Eleanor. — Sua voz ainda era descuidada, mas os olhos analisavam minha reação.

Tentei me recompor.

— Hmmm — falei, dando outra dentada na pizza como desculpa para olhar para baixo. Mastiguei devagar e engoli. — E aí — continuei, depois de um momento. — Qual é o seu preferido?

Ela ergueu uma sobrancelha e os cantos da boca se viraram para baixo em desaprovação.

— O leão da montanha.

— Claro, faz sentido. — Eu assenti como se ela tivesse dito uma coisa totalmente normal.

— É claro — o tom dela espelhava o meu, nada fora do comum — que precisamos ter o cuidado de não causar impacto ambiental com uma caçada imprudente. Tentamos nos concentrar em áreas com uma superpopulação de predadores, na maior extensão que precisarmos. Sempre há muitos cervos e veados por aqui, e eles servem, mas que diversão há nisso?

Ela sorriu.

— Então não é divertido — murmurei com outra dentada na pizza.

— O início da primavera é a temporada de ursos preferida de El, eles estão saindo da hibernação, então são mais irritadiços. — Ela sorriu de alguma piada que lembrou.

— Não há nada melhor do que um urso pardo irritado — concordei, assentindo.

Ela riu baixinho, sacudindo a cabeça.

— Me diga o que realmente está pensando, por favor.

— Estou tentando imaginar, mas não consigo — admiti. — Como vocês caçam um urso sem armas?

— Ah, nós temos armas. — Ela faiscou os dentes brilhantes em um sorriso largo que não era realmente sorriso. — Mas não do tipo que consideram quando redigem as leis de caça. Se já viu um ataque de urso pela televisão, deve poder visualizar Eleanor caçando.

Espiei pelo refeitório na direção de Eleanor, grata por ela não estar olhando para mim. As faixas largas de músculos que envolviam seus braços e pernas ficaram bem mais intimidantes. Imaginei-a segurando a base de uma montanha e levantando...

Edythe acompanhou meu olhar e riu. Eu olhei para ela, temeroso.

— É perigoso? — perguntei em voz baixa. — Vocês se machucam?

A gargalhada dela soou como um sino.

— Ah, Bella. Tão perigoso quanto sua pizza.

Olhei para a casca da pizza e a larguei.

— Eca. Então... você é... como um ataque de urso?

— Mais como o leão, é o que me dizem — disse ela levemente. — Talvez nossas preferências sejam indicativas.

— Talvez — repeti. Tentei sorrir, mas minha mente estava lutando para juntar as imagens paradoxais e falhando. — É uma coisa que eu poderia ver?

— Nunca! — sussurrou ela.

Seu rosto ficou ainda mais branco do que o de costume, e seus olhos de repente estavam horrorizados. Ela afastou a mão da minha e abraçou o corpo.

Minha mão ficou sozinha na mesa, dormente por causa do frio.

— O que eu disse? — perguntei, franzindo o cenho.

Ela fechou os olhos por um momento e recuperou o controle. Quando olhou nos meus olhos, parecia zangada.

— Eu quase queria que fosse possível. Você parece não compreender as realidades do momento. Poderia ser benéfico você ver exatamente o quanto sou perigosa.

— Tudo bem, então, por que não? — insisti, tentando ignorar a expressão rígida dela.

Ela me olhou por um bom tempo.

— Depois — disse ela, por fim. Ela ficou de pé em um movimento leve. — Vamos nos atrasar.

Olhei em volta, sobressaltada ao ver que ela tinha razão e o refeitório estava quase vazio. Quando eu estava com ela, o tempo e o lugar eram detalhes tão pequenos que eu perdia a noção dos dois. Pulei de pé e peguei minha mochila e a bolsa no chão.

— Depois, então — concordei. Eu não ia me esquecer.

 

Todo mundo nos viu andando juntas para nosso lugar no laboratório. Percebi que ela não virou a cadeira para se sentar o mais distante possível de mim. Em vez disso, sentou-se bem ao meu lado, nossos braços quase se tocando. O cabelo dela roçava na minha pele.

A Sra. Banner entrou na sala naquele momento, puxando uma TV e um videocassete ultrapassados, apoiados em um carrinho. Pareceu que todo mundo na sala relaxou ao mesmo tempo. Também fiquei aliviada. Eu sabia que não conseguia prestar atenção à aula hoje. Eu já tinha muito em que pensar.

A Sra. Banner enfiou a fita velha no videocassete e foi até a parede para apagar a luz. E então, assim que a sala escureceu, as coisas ficaram estranhas.

Eu já estava hiperconsciente de que Edythe estava bem ali, a menos de três centímetros de mim. Eu não achava que podia ficar mais consciente disso. — mas é claro que meus hiperhormônios me fizeram esse favor. No escuro, de alguma forma... Parecia que uma corrente elétrica fluía do corpo dela para o meu, como se os relâmpagos em miniatura que pulam entre circuitos estivessem dançando pela distância curta entre nossos corpos. Quando o braço dela tocava no meu braço, eu sentia quase dor.

Um impulso forte e louco de esticar a mão e tocar nela, de acariciar o rosto perfeito uma vez na escuridão, quase me sufocou. Qual era o meu problema? Não se podia sair por aí tocando nas pessoas porque as luzes estavam apagadas. Cruzei os braços com força sobre as costelas e apertei bem as mãos.

Começaram os créditos de abertura, iluminando a sala um pouquinho. Não consegui me impedir de dar uma espiada nela.

Ela estava sentada exatamente como eu, com os braços cruzados, as mãos fechadas, olhando para mim. Quando me viu olhando também, ela sorriu quase com constrangimento. Mesmo no escuro, os olhos dela ainda ardiam. Precisei afastar o olhar antes de fazer alguma besteira, uma coisa que não se conformaria à ideia dela de cuidado.

A hora pareceu muito longa. Não consegui me concentrar no filme. Eu nem fazia ideia de qual era o tema. Tentei agir normalmente, fazer meus músculos relaxarem, mas a corrente elétrica não se atenuou. De vez em quando, eu me permitia uma olhada rápida na direção dela, que também não parecia relaxar. A sensação de que eu tinha que tocar no rosto dela também se recusava a diminuir. Mantive os punhos apertados nas costelas até que meus dedos doeram do esforço.

Soltei um suspiro de alívio quando a Sra. Banner acendeu a luz no fundo da sala e estiquei os braços nas laterais do corpo e flexionei os dedos enrijecidos. Edythe deu uma gargalhada.

— Bom, isso foi... interessante — murmurou ela. Sua voz estava baixa e os olhos, cautelosos.

— Hmmm — foi só o que consegui responder.

— Vamos? — perguntou ela, levantando-se facilmente.

Ela pegou a bolsa com um dedo.

Eu me levantei com cuidado, com medo de não conseguir andar direito depois disso tudo.

Ela me acompanhou em silêncio até a aula de educação física e parou na porta. Olhei para cima para me despedir, mas engasguei com as palavras. Seu rosto... estava abalado, quase de dor, e tão terrivelmente lindo que a dor para tocá-la voltou mais intensamente do que antes. Tive que me controlar para não ficar encarando.

Ela ergueu a mão, hesitante, o conflito evidente no olhar, e afagou rapidamente meu maxilar com a ponta dos dedos. A pele estava gelada, como sempre, mas o rastro que deixou na minha foi quase como uma queimadura que ainda não estava doendo.

Ela se virou sem dizer nada e se afastou depressa de mim.

Entrei no ginásio, tonta e instável, e troquei de roupa em transe, quase sem perceber as pessoas em volta de mim. Só caí na realidade quando lançaram uma bola de futebol na minha direção, com a treinadora Clapp formando times mitos.

Não foi assim tão tranquilo e nem empolgante quanto costumava ser — Mike chutou uma bola que quase me acertou na cabeça, mas eu consegui revidar com um gol no momento em que ele ficou nas traves. Há.

Passei a maior do tempo no fundo da quadra — apesar de levar desvantagem por meu súbito desinteresse, o resto do time era bom; vencemos três jogos de quatro. Alguns caras do último ano deram tapa na minha mão quando a treinadora finalmente tocou o apito, encerrando a aula.

— E aí — disse Mike, do time adversário, enquanto saíamos da quadra.

— E aí o quê?

— Você e Edythe Cullen, hein? — O tom dele foi ligeiramente hostil.

— É, eu e Edythe Cullen — respondi. Tive certeza de que ele ouviu bem o tom impressionado na minha voz.

— Não gosto disso — murmurou ele.

— Ah, você não precisa gostar.

— Então ela estala os dedos e você vai correndo atrás?

— Acho que é. — eu sorri, um pouco sarcástica.

— Aposto que Riley concorda comigo. — Ele fez cara feia para mim.

Dei as costas para ele e saí andando em direção ao vestiário.

O que me lembrava...

Edythe estaria esperando lá fora ou eu devia esperá-la no carro? E se a família dela estivesse lá? Ela tinha estacionado ao lado do carro de Royal. Só de pensar no rosto de Royal no refeitório, me perguntei se devia ir andando para casa. Ela teria contado que eu sabia? Eu devia saber que eles sabiam que eu sabia? Qual era a etiqueta para cumprimentos vampiros? Um aceno funcionaria?

Mas, quando saí do ginásio, Edythe estava lá. Estava nas sombras do prédio, apesar de as nuvens ainda estarem pretas, com as mãos entrelaçadas na frente do corpo. O rosto estava pacífico agora, com um pequeno sorriso erguendo os cantos dos lábios. O suéter fino não parecia suficiente, e apesar de eu saber que era burrice, senti vontade de tirar o casaco e envolvê-la com ele. Quando andei para perto dela, senti uma harmonia estranha, como se tudo estivesse certo no mundo enquanto eu estivesse perto dela.

— Oi. — Consegui sentir o sorriso enorme e bobo na minha cara.

— Olá. — Seu sorriso de resposta foi reluzente. — Como foi na educação física?

Fiquei desconfiada de repente.

— Bem.

— É mesmo? — Ela levantou as sobrancelhas. — Como está sua cabeça?

— Você não fez isso. — bufei.

Ela saiu andando devagar na direção do estacionamento. Acompanhei o passo dela automaticamente.

— Eu só queria ver como você é na educação física. Fiquei curiosa.

— Que ótimo — falei. — Fantástico. Bem, lamento por isso. Não me importo de ir andando para casa se você não quiser ser vista comigo.

Ela deu uma risada musical.

— Foi divertido ver você marcando um gol pra mim.

— O quê?

Quando ela olhou para trás, a boca formou uma linha fina. Eu me virei para ver o que ela estava olhando: era o cabelo louro de Mikea balançando conforme ele se afastava.

— Faz um tempo que alguém além da minha família não pensa palavras desse tipo sobre mim. Acho que não gostei.

Senti uma pontada de ansiedade por Mike.

Edythe leu minha expressão e riu de novo.

— Não se preocupe, eu não machucaria seu amigo.

Foi difícil raciocinar. Edythe era tão... delicada. Mas, quando disse isso, ficou claro que confiava e muito nas próprias habilidades. Se ela quisesse Mike ou qualquer outra pessoa ferida, a coisa ficaria feia para essa pessoa. Ela era perigosa, eu sabia, mas ficava dando de cara em um muro cada vez que tentava acreditar. Mudei de assunto.

— Que tipos de palavras sua família anda pensando sobre você?

Ela balançou a cabeça.

— Não é justo julgar as pessoas pelos pensamentos que têm. Eles foram feitos para serem particulares. São as ações que contam.

— Não sei... Se você sabe que alguém está ouvindo, não é a mesma coisa que falar em voz alta?

— É fácil para você dizer. — Ela sorriu. — Controlar os pensamentos é muito difícil. Quando Royal e eu brigamos, penso coisas bem piores sobre ele, e digo essas palavras em voz alta.

Ela deu a gargalhada ressonante de novo.

Eu não estava olhando para onde estávamos indo, então levei um susto quando tivemos que ir mais devagar por estarmos bloqueados do carro de Edythe por alguns alunos. Havia um círculo em volta do conversível vermelho de Royal, uma fila dupla e quase toda de meninos. Alguns pareciam quase estar babando. Ninguém da família dela estava ali, e me perguntei se ela tinha pedido para eles darem espaço.

Nenhum dos admiradores do carro olhou quando passei por eles para chegar à porta do caro de Edythe.

— Chamativo — murmurou ela ao passar por mim.

Dei a volta correndo até o lado do passageiro e entrei.

— Que carro é esse?

— Um M3 — disse ela enquanto tentava sair da vaga sem acertar ninguém.

— Eu não falo a língua dos carros. — Lauren era a maluca por veículos, não eu.

Ela fez uma manobra cuidadosa para sair.

— É um BMW.

— Tudo bem, isso eu conheço.

Saímos da escola e ficamos só nós dois. A privacidade tinha gosto de liberdade. Não havia ninguém olhando e nem ouvindo.

— Já é depois? — perguntei.

Ela não deixou de perceber meu tom. E franziu a testa.

— Acho que é.

Fiquei com expressão neutra enquanto esperava que ela explicasse. Ela olhou para a estrada, fingindo que precisava, e eu observei o rosto dela. Algumas expressões diferentes surgiram ali, mas mudaram tão rápido que não consegui interpretar. Eu estava começando a me perguntar se ela ia ignorar minha pergunta quando ela parou o carro. Olhei para a frente, surpresa. Já estávamos na casa de Charlie, paradas atrás do Tracker. Concluí que era mais fácil andar com ela quando eu só olhava no final.

Ela estava me olhando quando olhei para ela, parecendo me medir com os olhos.

— E você quer saber por que não pode me ver caçar? — perguntou ela. A voz estava séria, mas a expressão era meio divertida. Nem um pouco como ficou no refeitório antes.

— Quero. E por que você pareceu tão zangada quando perguntei.

Ela levantou as sobrancelhas.

— Assustei você? — A pergunta pareceu cheia de esperanças.

— Você queria?

Ela inclinou a cabeça para o lado.

— Talvez.

— Tudo bem, então é claro que fiquei apavorada.

Ela sorriu, balançou a cabeça e ficou séria de novo.

— Peço desculpas por ter reagido daquele jeito. Foi a ideia de que você estivesse lá... enquanto nós caçávamos. — Seu maxilar se contraiu.

— Seria ruim?

Ela falou entredentes.

— Extremamente.

— Por quê...?

Ela respirou fundo e olhou pela janela para as nuvens carregadas que rolavam e pareciam pesar, quase ao alcance da mão.

— Quando caçamos — disse ela lentamente, sem nenhuma vontade — nós nos entregamos aos nossos sentidos... funcionamos menos com a mente. Em especial o olfato. Se você estivesse perto de mim quando eu perdesse o controle desse jeito... — Ela balançou a cabeça, ainda encarando sombriamente as nuvens pesadas.

Mantive a expressão vazia, esperando pelo rápido lampejo em seus olhos que avaliaria minha reação e que veio logo em seguida. Mas sustentamos o olhar e o silêncio se aprofundou, mudou. As ondas de eletricidade que senti naquela tarde começaram a carregar a atmosfera enquanto ela fitava insistentemente meus olhos. Foi só quando minha cabeça começou a girar que percebi que eu não estava respirando. Quando puxei o ar numa respiração entrecortada, quebrando o silêncio, ela fechou os olhos.

— Bella, acho que devia entrar agora. — Sua voz baixa não estava mais suave, parecia seda áspera agora, e os olhos estavam nas nuvens de novo.

Abri a porta, e a lufada ártica que irrompeu para dentro do carro ajudou a clarear minha mente. Com medo de tropeçar com minha vertigem, saí do carro com cuidado e fechei a porta, sem olhar para trás. O zumbido do vidro elétrico baixando fez com que eu me virasse.

— Ah, Bella — chamou ela. Estava inclinada para a janela aberta com um sorrisinho nos lábios.

— O quê?

— Amanhã é a minha vez.

— Sua vez de quê?

Ela abriu um sorriso largo, os dentes reluzentes faiscando.

— De fazer as perguntas.


Notas Finais




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