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História Goner - Capítulo 3


Escrita por: ALUSIE

Notas do Autor


Bom pessoal, coisa rápida aqui: agora vou começar o negócio dos P.OV.'s diferentes. Não vai seguir uma ordem, vai ser meio aleatório, mas sempre vai ter o nome do peronagem no começo. Só se forem dois P.O.V's ou mais do mesmo personagem, seguidos, que não vai ter. Espero que tenham entendido, se não vocês vão ver isso no próximo capítulo. Ah! E nesse capítulo tem uma referência a um dos episódios da série. Enfim, boa leitura!

Capítulo 3 - Capítulo 3


      BARRY

      Meus pés esmagavam folhas e partiam galhos enquanto eu caminhava pela velha Floresta da Escuridão. Se misturando aos sons dos meus passos, surgiam os sons naturais da floresta de corujas piando, morcegos guinchando, o som baixo de asas batendo, o farfalhar leve do vento atingindo as folhas das árvores e o sussurro dos ventos. 
      E em meio à todo aquele barulho, um calafrio percorre minha espinha. 
      Eu odeio andar por ali à noite, desde criança eu carrego um medo daquele lugar. Principalmente com as várias histórias sobre que rondavam toda a cidade, sobre pessoas que desapareceram, fantasmas, assassinos que se escondiam nos arredores e até mesmo de seitas que se reuniam na região. Eu sabia que a maioria das histórias eram falsas e que os pais que as inventavam para assustar seus filhos e tirarem da cabeça deles qualquer ideia de sairem sozinhos à noite. 
      Estremeço novamente ao lembrar da história do velho Dip, que contava que vira um homem, que trajava apenas um manto negro que cobria todo seu corpo e uma máscara branca usada pelos médicos da Peste, observando sua família, especialmente seus filhos, escondido em meio às àrvores e arbustos. No dia seguinte o xerife e os policiais foram chamados por Dip até sua casa para checar e acabaram não encontrando nada. Mas, segundo relatos do homem, a coisa voltou à aparecer, até que ele chamou um padre, de uma igreja póxima, para exorcizar o local e jogar um pouco de água benta. E, pelo visto, o tal homem estranho nunca mais aparecera. 
      Provavelmente devia ser somente mais uma fantasia criada pela imaginação tostada pelo sol, por causa de várias horas de trabalho árduo no campo, do bom e velho Dip. Alguns até inventaram apelidos para ele como, Dip maluco; Dip, o doido; Dip idiota, etc.
      Uma parte de mim concorda com as pessoas que o chamam de doido, mas a outra (a maior parte) acredita nele e em suas histórias esquisitas. 
      Ah, como eu sou ingênuo! O ingênuo garoto de 15 anos de idade, Barry Lannister. 
      Bufo com desdém de mim mesmo, mas começo a assobiar uma melodia que eu inventei para afastar o nervosismo e o pânico. A paranoia já tomava conta da minha mente quando olho assustado para todos os lados, com a sensação de alguém me observava. 
      Calma, Barry, não tem ninguém aqui, só você, relaxa, penso tentando me acalmar. 
      Uma gota de suor frio escorre pela minha testa e eu aperto o saco de papel, com os remédios de minha mãe, contra o peito. Lágrimas brotam em meus olhos quando a imagem de minha mãe deitada em sua cama em estado deplorável e com o corpo paralisado surge em minha mente; encarando, com seu olhar vazio e impassível, o teto de seu quarto. 
      Respiro fundo e volto a assobiar. 
      Na semana seguinte completará 6 meses desde o AVC que deixou a minha mãe naquele estado. Eu fico arrasado toda vez que eu lembro que, provavelmente, eu nunca mais veria seu sorriso doce ou correria atrás de lebres, que fugiam pelo campo, com ela. E que ela ficaria presa para sempre naquela cama sem ter a possibilidade de se movimentar, de sair para respirar ou fazer suas caminhadas beneficentes. E às vezes eu me culpo por tudo aquilo estar acontecendo com ela, porque seu quadro seria melhor se não tivesse demorado tanto para socorre-la. 
      No dia em que o acidente aconteceu, minha mãe e nossa vizinha, Marie, decidiram ajudar a fazer uma faxina na casa uma da outra ("coisas de amigas", como elas gostavam de chamar). Durante quase todo o processo mamãe se queixava de estar sentindo uma pontada na cabeça, mas que decidira ignorar já que aquelas dores costumavam passar rápido. 
      As duas estavam terminando o serviço na minha casa quando Marie decidira colher algumas flores, para por no vaso da mesa de jantar, e deixara minha mãe sozinha lavando as louças. Só que o campo onde Marie colhia suas flores era um pouco afastado de minha casa, ficava mais além da Floresta da Escuridão, então se algo acontecece ela levaria mais tempo para chegar em casa.
      E foi exatamente o que aconteceu.
      Marie é descendente de uma pequena tribo indígena no sul do Texas (o pai era um americano nativo e mãe uma índia), portanto acredita muito nas velhas lendas dos índios texanos e é muito supersticiosa (tanto que em cada quarto da casa deles há um apanhador de sonhos) e o que fez a mulher voltar para casa foi a visão de uma rosa branca crescendo no meio das outras cheias de cores. Segundo uma lenda indígena nascida em sua família, se você encontrar uma rara rosa branca crescendo sozinha em meio as outras coloridas, algo de ruim aconteceria com alguém próximo de você. 
      Marie correu até nossa casa, abandonando tudo que levara e quando chegou vira minha mãe caída no chão mumurando "cabeça, cabeça". Desesperada, ela ligou para a loja onde meus irmãos e meu pai trabalhavam, mas eles não chegariam à tempo porque a loja era na cidade e a distância de nossa fazenda até lá era enorme. Ela também não podia me chamar, eu estava na escola e não podia sair. 
      Então ela pegou uma picape velha de John, seu marido, e correu com minha mãe ao hospital. Chegando lá, as duas foram rapidamente atendidas e minha mãe foi levada às pressas para a UTI, onde foi diagnosticada com um AVC em um de seus níveis mais altos de gravidade. Ela havia perdido os movimentos do pescoço para baixo e seu cerébro estava degenerando, morrendo aos poucos. Ficou internada por quase um mês e quando recebeu alta nós a levamos para casa, porque, segundo os médicos ela tinha poucos meses de vida e ou seria melhor se ela os passasse conosco ou ficaria no hospital e morreria lá, onde tudo já seria providenciado. Meu pai escolheu a primeira opção e hoje ela vive presa naquele quarto, tomando remédios para retardar sua morte.
      Por conta disso meu pai estava todo endividado e o único jeito de pagar sua contas era ou vender a fazenda ou entrar no exército e com o dinheiro que receberia, pagaria as contas. Ele não aceitou nenhuma das duas, claro, meu pai é muito orgulhoso e prefere trabalhar como um burro de carga à aceitar alguma das opções.
      Ben, meu irmão mais velho, também recebeu essa oferta, mas ainda não respondeu. Ele não sabe se vai e nos ajuda à pagar as contas, ou fica para ajudar meu pai com a loja. Minha irmã, Jessica, também já teve uma: ela poderia se casar com o filho do prefeito e com a riqueza que receberia nos tiraria daquele oceano de dívidas. Ela estava disposta à abrir mão de seu atual noivo e da vida que tanto amava só para nos ajudar. Mas não o fez, porque papai não deixou. Segundo ele isso sujaria o nome de nossa família, mas eu acho que o real motivo foi seu ódio mortal pelo sr. Dickle, o prefeito, e uma velha disputa entre as duas famílias. 
      E eu... bem, eu era o inútil. Não podia ajudar em nada porque era muito novo e nenhuma daquelas opções se encaixaria em mim. Não podia ir para o exército porque eu sou muito magrelo e "meus palitos de dente que eu chamo de braços se quebrariam ao tentar empunhar um revólver", como diziam os babacas da minha escola; eu sou muito novo para casar; e não posso ajudar meu pai na loja, porque também sou muito novo e não tenho experiência com aquilo. 
      Eu só quero ajudar a minha mãe, quero fazer alguma coisa qie revertesse aquilo. Não quero ser obrigado à ficar sentado e observando tudo se desenrolar. Quero fazer algo! Quero ser alguém importante para aquilo tudo! Eu só...
      Um soluço escapa dos meus lábios e lágrimas rolam pelo meu rosto. Eu não queria chorar por causa daquilo, eu havia prometido para mim mesmo que seria forte por ela, mas eu não conseguia mais ficar retendo aquilo. Minha mãe tem sabe-se lá quantos dias de vida e eu não posso fazer nada. Oh, como eu sou inútil! As lágrimas borravam a minha visão e eu não via mais nada e por conta disso não vejo meu pé se enrolar em um pedaço de arbusto e eu caio de esparramado no chão e o saco de papel voa longe. Decido ficar por ali mesmo, caído, com as lágrimas descendo pelas laterais do meu rosto e pingando na terra seca. 
       - Me desculpe, mãe. - sussurro. - Eu só queria ajudar, eu queria ser bom para você, mas pelo visto nem caminhar por uma floresta eu consigo. - soluço mais uma vez e fungo. - Eu sou tão inútil! Tenho certeza que você tem vergonha de mim, por favor me perdoe por isso, eu só quero ser bom, desculpe, desculpe, descul...
       - SOCORRO!
      Um grito meio distorcido corta meu drama familiar e eu me levanto rapidamente, assustado. Seco as lágrimas e olho para todos os lados para ver se eu via alguém, mas a única coisa visível eram as árvores e os arbustos. 
       - Quem está aí?! - grito de volta com a voz falhando devido ao medo.
      Sem respostas. 
       - Olha, isso não é legal! É sério! Essa brincadeira é horrível!
      Por um momento eu pensei que aquele grito era somente minha imaginação me pregando uma peça. Eu estava errado, porque a voz retorna dessa vez um pouco mais nítida e próxima.
       - SOCORRO!
      Apanho o saco de papel e corro seguindo o som dos gritos, que continuavam cada vez mais desesperados, até que eu finalmente acho a fonte. 
      Me ajoelho em frente à base de uma das árvores e faço uma careta de nojo ao ver do que se tratava. No tronco largo um buraco se destacava com uma gosma estranha e nojenta o envolvendo, enquanto um outro líquido pingava do que parecia ser um musgo. O grito volta e dessa vez eu tenho certeza que ele estava vindo dali. 
      - Ahn... e-eu estou aqui! Qual o problema? Quem é você? - grito para o buraco. 
      Silêncio. 
      O que diabos é isto?, penso, e o que tá acontecendo aqui?
      Encaro o buraco, perplexo. A curiosidade me invade e eu sinto uma necessidade absurda de descobrir o que era aquilo. Será que isso é um sonho? Bem, só há um jeito de descobrir. 
      Mordo a ponta da língua e, hesitante, ergo a mão na direção do musgo e ao tocar aquilo torço o nariz. A gosma nojenta faz barulhos úmidos ao envolver meus dedos e deslizar pela minha mão até pingar na terra e folhas secas. Meus dedos brincam com aquilo e antes que eu perceba já estavam tocando o musgo. Ao fazê-lo, retiro minha mão rapidamente. Encaro-a, ainda mais perplexo, e estudo aquilo. Era diferente de qualquer outra coisa que eu já havia visto. Instintivamente levo as pontas dos meus dedos ao nariz e dou uma fungada. Um cheiro pútrido invade minhas narinas, fazendo meus olhos lacrimejarem e meu estômago revirar, quase me fazendo vomitar. Balanço a mão em uma tentativa de tirar o excesso daquilo e o resto limpo no tecido da minha camiseta branca (que, naquela altura, já estava imunda de terra).
      Balanço a cabeça e pisco várias vezes para me recompor e ergo a mão novamente na direção da coisa. Meus dedos estavam tão próximos do negócio que eu já podia sentir o frio do líquido estranho, faltava pouco para eu tocar naquilo...
      - SOCORRO! - uma mão imunda sai de dentro do buraco e eu dou um grito de susto, caindo de bunda na terra. 
      - MAS QUE PORRA... - eu não consegui conter o palavrão. Meu coração martelava no meu peito, enquanto eu encarava, de olhos arregalados e sem saber o que fazer, a mão, que balançava suplicante, pedindo para agarrá-la e tirá-la dali. 
      Corra daí seu idiota!, minha mente gritava. 
      Mas eu não consigo!, protesto
      Larga de ser besta, corre!
      - SOCORRO! - a voz grita de novo, quase tão desesperada quanto as outras vezes, e eu percebo que era uma voz feminina.
      É uma garota!
      E daí? Foge!
      Minha mente coflitava. Eu estava paralisado de medo e confuso. Eu não sabia o que fazer, não sabia se eu ajudava ou se deixava para lá e saísse correndo, porque, primeiro, aquilo não era normal, e segundo, ERA UMA MÃO SAINDO DE UM BURACO BIZARRO EM UMA ÁRVORE!
      Ah! Que se dane!, penso e agarro a mão puxando a dona, com um grunhido.
      - Ahhh! - grito quando o corpo de uma garota, que aparentava ter a minha idade, quase voa para fora do buraco e cai por cima do meu, me jogando de costas no chão. 
      Ela resfolegava, assim como eu, soltando alguns soluços, suas lágrimas umedecendo minha camiseta. Sinto seus braços me envolverem. Eu me sento e, com a minha habitual heistação, também a envolvo num abraço e acaricio seus cabelos curtos. 
      - Shhhh... Ei, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. Você tá segura. - sussurro em seu ouvido, tentando acalmá-la. Enquanto eu o fazia, meu olhos estavam grudados no buraco no tronco da árvore, que, estranhamente, parecia se fechar aos poucos. 
       E em meio à toda aquela confusão uma velha pergunta volta à ecoar em minha mente, louca para ser respondida. 
      O que tá acontecendo aqui?



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