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História Goner - Capítulo 4.1


Escrita por: ALUSIE

Notas do Autor


Oi gente, então,o capítulo de hoje é bem grande e eu decidi que iria dividir ele em duas parte, para não ficar muito cansativo para vocês. Bom, tá aqui a primeira parte e talvez amanhã sai a segunda. Espero que gostem e boa leitura!

Capítulo 4 - Capítulo 4.1


      Os soluços da menina abafavam os sons da floresta e preenchia o silêncio entre nós. Eu sentia suas lágrimas, de um misto confuso de desespero e alívio, umedecer minha camiseta na região do ombro. Aperto mais o abraço e acaricio seus cabelos com mais delicadeza, mesmo sentindo uma pontada de desconcerto, enquanto eu observo, pasmo e com os olhos arregalados, o misterioso buraco na árvore, que lentamente se fechava. Minhas mãos tremiam, minha boca estava seca, gotas de suor frio escorriam pela minha testa e costas e meu coração ainda martelava em meu peito, diminuindo de velocidade aos poucos. O desespero e o pâncio haviam sido substituídos pelo medo e a dúvida. Eu estava quase tão assustado quanto no dia em que ouvi a história do velho Dip. 
      Mas com certeza a garota em meus braços estava em uma situação pior. Além de seus soluços desesperados, sua respiração estava acelerada e lançava seu hálito quente, que escapava por entre seus lábios e, ao entrar em contato com a minha pele, faz os pelos da minha nuca se arrepiarem. E eu também conseguia sentir as batidas aceleradas de seu coração. Ela estava em pânico, isso era óbvio, mas eu não sabia o que a deixou assim. Eu queria saber, para ajudá-la, porém o medo de saber o quão horrível seria a resposta tapou a minha garganta e eu não conseguia emitir nenhum som, muito menos uma pergunta daquele tipo. 
      Mas eu também precisava sair dali. Aquele lugar me dava nos nervos e ficar ali, parado, estava revivendo o pânico que eu senti minutos atrás. Eu tenho que sair daquela maldita floresta, só que para isso eu preciso acalmar a garota primeiro. 
     Respiro fundo para, pelo menos, afrouxar um pouco o nó que se formou em minha garganta e começo:
      - Ei, calminha, OK? Você tá salva, nada de ruim vai acontecer, calma. Aquilo não tá atrás de você mais - e afasto-a para olhar em seus olhos. 
      E eis que eu estava de frente para uma das garotas mais bonitas que eu já vi/conheci. Por mais que a escuridão e uma camada fina de fuligem que cobria seu rosto (estranhamete magro, por sinal) não me permitissem ter uma boa visibilidase dela, sua beleza ainda é bem notória, com seus grandes olhos castanho-claros, lábios rosados, o nariz levemente arrebitado, os cabelos castanhos desgrenhados batiam na metade da sua mandíbula e a franja ia até as sobrancelhas.
      Uau.
      Pare com isso, seu imbecil, você tem namorada!, minha mente me repreende. 
      Desculpe. 
      - Você tá protegida agora, não se preocupe. - continuo, tentando soar o mais convicto possível. Ela me olha os olhos arregalados estudando meu rosto sujo, procurando algum sinal de mentira. Depois de alguns segundos ela assente e eu recebi aquilo como um sinal de que ela acreditava em mim. 
      - Tá tudo bem agora?
      A menina acena afirmativamente com a cabeça. 
      - Certo, agora se levante, por favor, você tá me machucando. 
      Ela se levanta com um pouco de dificuldade e, ao fazê-lo, cambaleia, mas depois consgue se manter firme no chão. Apanho os remédios e fico de pé com um pulo. Bato a mão em minhas roupas para tirar as folhas e os grânulos de terra que ficaram presos. Respiro fundo e digo, rumando para minha casa:
      - Vamos. 
      - Promete? - ouço sua voz fraca e rouca, de quem não fala faz muito tempo, soar atrás de mim. 
      - Quê? - me viro para ela, confuso. 
      - Promete? - repete. 
      - Prometer o quê? - e depois de alguns segundos de confusão e conflito em minha mente percebo o que ela quis dizer. - Ah, você quer dizer sobre eu proteger você, né?
      Ela faz que sim com a cabeça, fazendo sua franja balançar para cima e para baixo, e que depois cai em seus olhos, mas a menina a afasta com a mão, colocando-a de lado.
      Sorrio.
      - Claro que sim! Quer dizer, eu posso ser magrelo, mas um soco meu faz qualquer um voltar aos tropeços para casa. - e imitando um boxeador, dou um soco no ar, como se para confirmar o que eu disse. 
      Ela dá uma risadinha, caminha em minha direção e, lado a lado, andamos até a velha fazendo dos Lannister. 

      Quando chegamos eu a conduzo para o celeiro atrás de minha casa. Na verdade o plano inicial era levá-la para a minha casa e dizer que acabei esbarrando com ela durante o caminho de volta (o que também explicaria minhas roupas esfarrapadas) e que por causa de seu estado físico e mental horrível, decidi trazê-la, mas desisti quase que de imediato. Eu sabia exatamente o que minha família diria. 
      O primeiro à esboçar alguma reação seria meu pai, que me fuzilaria com o olhar e balançaria a cabeça, zangado e decepcionado, como se dissesse "que decepção, Barry, não acredito que você fez isso". Depois meu irmão Ben me olharia com desdém e indignação e diria algo como "isso aqui não é orfanato para trazer criança abandonada para cá não!". Então teria Jessica que me daria uma bronca sobre o quão errado era aquilo, como aquilo pioraria nossa situação financeira e que os pais dela deviam estar procurando por ela. E por fim, Ben nos levaria até a cidade e deixaria a menina lá para ela "se virar".
      Como eu sei disso? Bem, porque isso já aconteceu, só que com um cachorro e eu tinha 13 anos. Eu lembro até hoje do olhar desacreditado que ele me lançou quando o deixei naquela praça, dentro de uma caixa velha de sapatos. Eu chorei por quase uma semana por causa daquilo. Eu nunca tive um animal doméstico só meu, dos que temos em casa todos são da minha mãe ou de Jess (tirando o Ross, o pastor-alemão do meu pai). E Ben também já estava cansado de tantos bichos. 
      Mando ela ficar escondida atrás do celeiro. A garota protestou um pouco, mas eu lhe assegurei que seria rápido, ela então aceitou e eu a instruí que quando eu assobiasse ela teria de, rapidamente, vir até onde eu estava, ou teríamos sérios problemas. 
      Me esgueiro pela construção alta e vermelha, sendo extremamente cuidadoso para não fazer nenhum barulho. Olho de relance para a casa e vejo a luz amarela e bruxuleante do quarto de minha mãe acesa. Provavelmente é meu pai dando-lhe o jantar e os sedativos para amenizar a dor e ajudá-la à dormir. Ele só devia estar me esperando chegar com os comprimidos, portanto eu devo ser rápido com a menina.
      Chego na parte da frente do celeiro e puxo, com um grunhido e um pouco de dificuldade, a pesada porta. Solto um assobio baixo e alguns segundos depois ela aparece correndo. Quando ela passa pela abertura eu faço o mesmo e fecho-a. 
      A lua jogava sua luz pálida por uma pequena janela em uma plataforma acima de nossas cabeças e ilumiva todo o lugar sem nenhuma fonte artificial de energia. O feno seco crepita e farfalha sob meus pés enquanto eu vou de encontro a velha escada de madeira apoiada nas tábuas do "2° andar". Subo e olho para baixo ao chegar no topo. A menina me encarava confusa e sem dizer nada. 
      - Suba aqui. - sussuro e ela obedece parecendo um pouco relutante. Me sento ao lado de dois grandes fardos de feno empilhados ao lado da janela e ela me segue. Encaro-a. - Escuta, você vai ficar aqui por enquanto, OK?
      Ela faz que sim. 
      - Ótimo. Eu vou vir aqui todos os dias para trazer comida, água, travesseiros e cobertores... - olho para o seu vestido rosa puído, os tênis esfolados, meias desfiadas e o casaco azul imundo e faço uma careta. - e roupas também. Se alguém, que não seja eu, aparecer, esconda-se ali. - aponto para um espaço entre a parede e outros fardos de feno empilhados, largo o suficiente para ela se enfiar. 
      A garota concorda de novo. 
      - Certo, agora eu preciso ir, eu já volto. - eu me levantava quando ela agarrou meu pulso. - Que foi? Não se preocupe, eu volto mesmo, juro. - sorrio. 
      - O que é "juro"? - ela pergunta com a voz fraca. 
      - O quê? Você não sabe mesmo? - ela nega com a cabeça. Penso em fazer-lhe mais perguntas sobre o porque de ela não saber o significado de uma palavra tão simples, entretanto isso levaria tempo demais. - Bom, jurar é tipo prometer, só que você nunca deve quebrar uma promessa ou "uma força maior" vai punir você e algo de ruim vai acontecer. - ela arregala os olhos. - mas fica calma, eu não vou quebrar o nosso juramento. Eu já volto. 
      Lentamente ela afrouxa a mão que segura meu pulso e a permite cair imóvel ao lado do corpo. Me levanto e vou até as escadas e antes de descer dou-lhe um último sorriso, que é retribuído com um olhar duro, que me acompanha à cada degrau que eu desço. Pulo os quatro últimos e vou até a enorme porta do celeiro, empurro-a e desta vez tenho mais facilidade para abri-la e fecha-la. Atravesso a curta distância entre as duas construções à passos largos e antes de passar pela porta dos fundos da casa, lanço um último olhar para o celeiro e vejo uma sombra, delineada pela luz da lua, me observando. Faço um sinal com a mão para que ela saia dali e, segundos depois, some. Bufo e giro a maçaneta, entrando na casa. 
      Quase no mesmo instante em que eu fecho a porta, tomando muito cuidado para não fazer nenhum ruído, minha irmã aparece na simples cozinha, parecendo bem zangada. Ela para e me olha de cima à baixo com uma sobrancelha erguida e braços cruzados, e pergunta:
      - Porque você demorou tanto? E o que diabos aconteceu com suas roupas?
      Me xingo mentalmente por não ter inventado nenhuma boa mentira antes. Penso um pouco e rapidamente uma ideia vem à minha mente. 
      - Eu... tive problemas com uns guaxinins quando estava voltando. - minto, tentando esconder o nervosismo e a incerteza. 
      Ela vem em minha direção e me estuda com as sobrancelhas franzidas. Jessica aproxima mais o rosto de mim e cheira minha camiseta. Por um momento fico tenso pensando que ela fosse sentir o cheiro da menina e descofiar de algo. Minhas mãos suavam e eu tento, disfarçadamente, seca-las no tecido da minha calça. Se ela descobrir que eu trouxe uma menina para casa eu estou ferrado. Mas ela somente e torce o nariz, balançando a mão à sua frente para afastar o mau cheiro. 
      - Eca! Você tá mesmo cheirando a cocô de guaxinim! - reclama. 
      Dou de ombros, aliviado, mas tentando parecer descontraído. Ficamos nos encarando por um momento, sem dizer nada, ouvindo apenas o som dos grilos até que, supreendentemente, Jessica ignora o mau cheiro e a sujeira do meu corpo e me abraça. Me assusto e fico imóvel por um momento, com os braços abertos e os olhos arregalados, olhando de um lado ao outro. Ouço-a soluçar perto do meu ouvido e sinto suas lágrimas umedecerem minha camiseta. Retribuo o abraço, mesmo estando extremamente confuso, e afago suas costas. 
      Lá vamos nós de novo.
      - Hã... - começo, meio sem jeito. - Ei, que foi? Qual o problema? 
      Ela se afasta e me encara, com o lábio inferior tremendo e o rosto riscado de lágrimas. Ela funga e as seca.
      - Nada. É só que... eu fiquei preocupada. Pensei que algo de ruim tivesse acontecido com você. - eu sabia que ela estava mentindo. Jessica é uma péssima mentirosa, mas eu decido não pressioná-la, não queria faze-la chorar de novo (mesmo que eu não saiba o motivo das lágrimas). Então eu só digo:
      - Mas não aconteceu! Olha! Estou tão bem quanto o Ben depois de seu "sono de princesa" de quase 12 horas! - balanço os braços e as pernas em um movimento engraçado e ela ri. Me permito dar um sorriso orgulhoso pelo meu feito. 
      Jess é a mais velha entre nós três, então é natural que ela fique tão preocupada, principalmente comigo, já que sou o mais novo e que Ben rejeita qualquer tipo de aproximação que ela tente fazer. Ela é a mais forte de nós e sempre me ajudou nos momentos que eu mais precisei, principalemente depois do acidente em que ela teve que virar a mãe ou quando o primeiro animal da fazenda morreu, e vê-la tão frágil daquele jeito era estranho, mas ao mesmo tempo acabava comigo. 
      - Barry? É você aí? - ouço a voz cansada de meu pai gritar no andar de cima. 
      - Sim, pai! Sou eu! - grito de volta. 
      - Graças a Deus! Venha logo!
      - Aconteceu algo? - pergunto me virando para Jessica. 
      Ela nega com a cabeça. 
      - Não, só estávamos preocupados com você. 
      - Ah. 
      - Vamos, a mãe quer ver você. 
      Ela se vira e anda em direção à escada e eu a sigo, as tábuas velhas do chão rangendo e estalando sob o peso do meu corpo. Todas as luzes da casa estavam apagadas, a não ser pela da cozinha, do quarto de minha mãe e pelo o brilho da velha televisão na sala de estar, que parecia passar algum tipo de programa de pegadinhas armadas. Subo as escadas e vejo meu pai parado ao pé da escada e Ben encostado no batente da porta do quarto da mamãe com o braços cruzados e o olhar perdido em alguma coisa além da janela no final do corredor. 
      Ao notar que eu subia as escadas ele bufa e revira os olhos, voltando-os para dentro do quarto. Meu pai me olha e sorri, extremamente cansado. 
      - Que bom que você chegou! Onde você esteve, Bar?
      - Uns guaxinins doidos me atacaram quando eu estava voltando.
      - Tá bom. - ouço Ben murmurar, parecendo não acreditar em mim. 
      - Tá tudo bem? - pergunto, ignorando meu irmão
      - Tá sim, a gente só estava esperando você. - papai responde. 
      - Ah, claro. A mãe quer falar comigo?
      - Sim. 
      Engulo em seco e olho para ela, deitada com os olhos fechados mergulhada em um sono um pouco perturbado. Mesmo de longe eu pude notar alguns fios brancos em meio aos cabelos louros. Sua pele estava pálida, dando-lhe um ar mais velho do que ela realmente é. Enquanto eu à olhava me pego imaginando o quão bonita ela deve ter sido quando era mais jovem. Fecho os olhos e resiro fundo para conter as lágrimas. Abro-os novamente e ando à passos lentos em sua direção. Ajoelho-me à beirada da cama e, com a mão trêmula, toco seus cabelos no topo de sua cabeça. 
      - Mãe? - sussurro e lentamente ela abre os olhos e vira a cabeça em minha direção. Ao me ver um pequeno sorriso toca seus lábios e eu sorrio de volta.
      - Barry. - ela sussurra de volta, com a voz fraca. 
      - É, sou eu, Barry. Você queria me ver. 
      Ela acena afirmativamente com a cabeça, mesmo sabendo que aquilo não era uma pergunta. 
      - Bom, cá estou eu. - dou uma risada nervosa. - como se sente? 
      - Bem. - ela faz uma careta. - Dor. 
      - Ahn... eu trouxe seus remédios. - balanço o saco de papel à frente dos seus olhos. Minha mãe faz uma expressão triste, mas à disfarça com outro sorriso. 
      - Você?
      - Eu? Eu tô bem. Hoje eu acertei todas as questões do teste de matemática. O professor me deu até uma estrela dourada! - digo tirando do bolço o pedaço de papel surrado e dourado e dou-lhe um sorriso orgulhoso. Vejo sua mão, ao lado do corpo, se abrir lentamente e eu coloco a estrela na sua palma e a fecho. Minha mãe olha para sua mão por alguns segundos com um pequeno sorriso que ao levantar o olhar para mim novamente, pude notar o orgulho estampado em seu rosto. 
     - Jenna?
     - Ela também tá bem. - Jenna é a minha namorada, filha de Marie. Mamãe à adora e sempre apoiou nossa relação e nos incentivou, mesmo quando papai dizia que eu não devia namorar, e sim me concentrar na próxima colheita. - A gente foi no cinema hoje. Vimos um filme muito legal, acho que é Star Wars o nome. 
      Ela franze as sobrancelhas, confusa, e eu entendo aquilo como um pedido para que eu lhe conte a história do filme. 
      - É sobre um garoto, um fazendeiro, vindo de um planeta, em uma galáxia muito muito distante, chamado Tatooine que conheceu um velho cavaleiro Jedi, tipo um policial especial, e junto com um contrabandista vão salvar uma princesa que foi presa por um cara muito malvado chamado Darth Vader, inimigo dos Jedi. - imito a respiração robótica de Vader. - eles fogem e depois destroem a Estrela da Morte, uma arma terrível e destruidora de planetas, com suas naves! Pew pew. - faço os sons dos X-Wings atirando e os imito voando com uma mão e a Estrela da Morte explodindo com a outra. - É bem legal. - completo sorrindo e ela o retribui, mas seu rosto se contorce em uma expressão de dor e eu me assusto. 
      Ouço os passos apressados de meu pai entrar no quarto e ele pega o saco de minha mão, abrindo uma das caixas de comprimidos e tirando alguns. Ele os amaça com um pequeno martelo na mesa de cabeçeira e joga o pó em um copo de água, mistura com o dedo indicador e ajuda minha mãe a beber. Lentamente seu rosto se suaviza e ela fica meio grogue.
      Sinto o pai tocar meu ombro e eu digo, ainda olhando para minha mãe:
      - Só mais um minuto, por favor. - me volto para ele, que assente e sai.
      Pigarreio e deslizando o dedão pela sobrancelha dela, digo:
      - Ei, mãe. Eu sei que é difícil, eu sei que dói e que é chato ter de ficar o dia inteiro nessa cama. Mas você vai sair dessa. Você é uma mulher forte, assim como a Jenna e a Jessica. Você vai ficar bem e aí quando tudo isso acabar e tudo voltar à ser como antes, a gente vai fazer tudo o que você quiser. - meus olhos se enchem de lágrimas e eu não consigo mais segurá-las. - Você vai ficar bem, eu prometo. 
      Minha mãe dá um último sorriso fraco e antes de seus olhos se fecharem de novo e ela cair em um sono profundo, ouço-a dizer, bem baixinho:
      - Eu te amo, Bar...
      Baixo o olhar e fico assim por alguns segundos, ajoelhado e chorando com a cabeça baixa, as lembranças de dias melhores com a minha tão amada mãe indo e vindo em minha mente. Por um momento, um terrível pensamento invade minha mente e eu penso que minha mãe nunca vai melhorar e que na verdade eu menti para ela, seu sofrimento nunca iria acabar. Mas um contra argumento surge, dizendo que eu estava certo, minha mãe vai sim ficar boa, e esses pensamentos são mais uma obra de satanás tentando me corromper. Eu não sou um cara religioso, nunca fui, mas por influências de meus avós esses pensamentos envolvendo Jesus e satã acabam vindo em minha mente. 
      Quando me recomponho e me levanto, noto que meu pai e meus irmãos não estavam mais na porta do quarto. Confuso, saio do cômodo e ao chegar do lado de fora, ouço vozes baixas vindas da cozinha. Desço as escadas sem fazer nenhum barulho e paro atrás da porta da cozinha. Fico escondido e ouço a voz de meu pai. 
      - ...nossa única salvação. 
      - Mas, pai, tem de ter outro jeito! - Jess estava com a voz grogue, 
parecia estar chorando. 
      - Jessica, não tem outro jeito. Eu queria que tivesse, mas não tem - Ben diz, ríspido, porém com um voz um pouco trêmula. 
      Minha irmã solta uma risada sarcástica. 
      - Até parece! Você nunca se importou com ele, Benjamin!
      - Ele é meu irmão também. 
      Meu coração acelera. 
      Eles estão falando de mim.
      - Você sempre o afastou, nunca nem quis saber como ele se sente, só pensou em sair com aqueles babacas que você chama de amigos! Mas quer saber? Você até se parece com eles! Um grande e inútil babaca!
      - Chega!
      Dou um pulo, assustado, quando a voz de meu pai se ergue sobre as outras e suas mãos batem, espalmadas, na velha mesa redonda de madeira, no centro da cozinha. Me inclino um pouco e vejo, através de uma brecha na porta, meus irmãos encolhidos e meu pai de pé, olhando para eles parecendo zangado. 
      - Estou cansado dessas discussões de vocês dois!
      - Mas pai... - começa Jess. 
      - Sem mas! Já foi resolvido, Jessica! E seu irmão tem razão, não há outra opção! Barry vai se mudar para a casa do seu tio na próxima semana e vai estudar em uma escola de boa qualidade para ter um diploma e conseguir ser alguém na vida!
     Me engasgo com a minha própria saliva e quase caio dentro da cozinha. Entro no cômodo e todos me olham assustados. Mas nenhum deles parecia tão assustado quanto eu.
     - Não acredito nisso. - balbucio. 
     - Barry... - meu pai vem em minha direção, os braços abertos prontos para me abraçar. Me afasto, olhando-o indignado. 
     - Não acredito que vocês vão fazer isso comigo. 
     - É o único jeito de resolver nossos problemas. - Ben começa. 
     - Mas vocês nem me perguntaram! Vocês nem sequer quiseram saber o que eu quero! E eu quero ficar aqui! Quero ajudra vocês! Quero ajudar a mamãe. 
     - Mas você vai, Bar, você vai ter um futuro! Vai ter um emprego descente e vai nos ajudar a pagar as dívidas! - meu pai segura meu rosto. 
     - Então isso tudo tem haver só com o dinheiro? - rosno. 
     - Bar...
     Me desvencilho de suas mãos e corro para meu quarto, a raiva transbordando a minha mente.



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