História Haschett - boyxboy - Shameron. - Byntg - I

Desde o primeiro andar da casa do casal era possível ouvir os gemidos, aparentemente do quarto principal. Cameron já previa a cena, subiu as escadas vagarosamente, forçando-se a acreditar que não era aquilo que estava pensado. Lágrimas já escorriam em seu rosto quando abriu a porta, sem fazer nenhum ruído. Os gemidos foram substituídos por suspiros cansados.

— Como senti a falta de uma mulher. — Shawn fala sem notar a presença do marido no quarto.

— Se gosta tanto de transar com uma mulher porque não casou com ela? — Cameron o pergunta em um único fôlego, tentando disfarçar os soluços. Um olhar de desespero, medo e confusão toma o lugar do prazer no rosto do moreno.

— Amor,não é isso que você pensa, me deixa explicar.

— Um homem e uma mulher deitados nus na cama quase um em cima do outro, o que pode ser? Estão brincando de casinha? Como não pensei nisso? — Cameron sempre usava ironia como forma de se proteger, quando queria se isolar do mundo esse era seu método. Shawn procura uma explicação plausível para seu marido, mas não encontra. Havia traído o amor de sua vida - essa era a única e mais honesta resposta.

— Me desculpa — Shawn fala em um sussurro.

O outro, decidido em partir, pega sua mala, coloca todos os seus pertences e sai de casa. Shawn não contestou um segundo, pois sabia que estava errado, sabia que Cameron precisava de tempo. Mesmo querendo correr atrás dele e implorar de joelhos por seu perdão, ele não foi. Pois sabia o quão errado estava sobre a situação toda. No meio de inúmeras perguntas sobre como o deixara partir, uma delas martelava repetidamente em seus pensamentos: O que poderia ter feito para não decepcioná-lo? A resposta era óbvia. Não ter o traído.

— Está tudo bem, meu Amor, eu estou aqui. — Amber diz, abraçando o homem que estava sentado na frente da porta com os olhos molhados de choro. Ele adorava a sensação de tê-la por perto. Adorava a sensação de poder tocar em seu cabelo ruivo e comprido, adorava acariciar seu rosto pequeno e delicado, adorava poder sentir e degustar cada centímetro da garota a sua frente. Ele simplesmente a adorava.

E seus sentimentos perante Cameron? Shawn amava envolvê-lo em seus braços quando o pequeno tinha medo de trovões e raios. Amava ter alguém a quem procurar quando estava mal, amava ter os lábios macios e carnudos só pra ele, amava a melodia das suas respirações quando chegavam ao orgasmo juntos, amava ser dono daquele corpo. Shawn não apenas o adorava, ele o amava. Era um amor tão intenso que não existiam palavras para descrevê-lo.

Não importava o quanto falasse para Cameron o quão imenso era seu amor por ele e quão arrependido estava, ele nunca voltará. Shawn o deixou ir.

2 anos depois.

— Lembrando: a partir de amanhã o prazo máximo de espera pelo conteúdo final do livro é um mês. — Cameron fala e encerra a reunião — Estão liberados, tenham um ótimo fim de semana, até segunda-feira.

Enquanto Cameron estava na reunião, Shawn repassava pela décima vez o que falaria mais tarde para seus funcionários. Aquele dia era importante: sua mãe tornou-se dona da melhor editora de todo o Canadá, – na visão de Cameron. A Editora Haschett.

— Mãe, porque Aaliyah não faz o discurso? — Shawn pergunta a Karen.

— Você é o novo diretor daqui, você deve fazer as honras — sua mãe o responde indiferente, pois aquela já era, no mínimo, a décima vez que o filho a fazia a mesma pergunta.

Shawn já não prestava atenção na mãe quando a namorada entrara no em seu escritório. Vestia um vestido de cor vinho que valorizava suas curvas, um sapato de salto alto preto e para combinar, uma bolsa da mesma cor negra. Karen, segundos atrás questionou-o se tinha verificado os currículos das possíveis secretárias, viu que ele não a respondeu e virou-se para o homem e seguiu seu olhar. Vendo nova nora ali, se voltou rapidamente para o que estava fazendo e virou os olhos lentamente.

— Bom dia, sogra — Amber diz.

— Bom — murmura e se direciona a eles. — Querido, preciso que entreviste as secretárias ainda hoje. Não ficarei pra sempre te ajudando aqui. Não era com isso que sonhava? Agora seja responsável e administre-o sozinho.

— Ok, mãe.

Assim que Karen saiu da sala escura e aconchegante, o casal começou a se beijar. Amber, que estava quase no colo de Shawn, correu até a porta e a trancou. Voltaram a onde estavam, momentos depois escutaram uma batida na porta.

— Sr. Mendes, perdoe-me o incomodo, mas sua mãe precisa das chaves, e pediu para eu pega-las por ela. — Steve, o homem – que Shawn não conhecia – perguntara atrás da porta. Amber se levanta do colo do namorado e anda com a cara emburrada para abrir a porta ajeitando o vestido.

Steve correu até a mesa, pegou o que precisava e levou para seu escritório, onde Karen esperava do lado de fora. Entregou-os à ela e entrou na sala, já fofocando pra Cameron sobre seu novo chefe:

— Ah! Sobre os boatos que Seu Roberto vendeu a empresa: é verdade. E não vou com a cara desse homem não, muito menos com a namorada, ou sei-lá-o-que dele — Fala em um só fôlego. — Eles estavam nos amassos em seu primeiro dia, como pode? E ainda por cima é super mau-educado.

Steve continuava a falar sobre assuntos aleatórios e Cameron só respondia com "a-hã", "sim" e "concordo". Sua cabeça estava em Seu Roberto, ele nunca venderia a empresa. Fora fundada em 1977, pelo seu avô, Roberto era herdeiro de tudo, desde seus 15 anos "trabalhou" lá. Todos os premios e indicações fazem parte da sua história, ele não podia apenas vendê-la para outra pessoa.

— Meu Deus, Steve! — Cameron interrompe seus pensamentos e a falação do homem. — Cala essa boca. Você sabe eu te amo, cara. Mas já deu, né?

— Desculpe, mas eu realmente estou indignado com a irresponsabilidade desse homem. — Cameron lança um olhar que por trás dizia claramente "basta" para Steve, que percebe de uma vez por todas que não deveria mais falar sobre o novo chefe. — Não acontecerá novamente, perdão.

Após o deslize de Steve, Cameron continuou a escrever o resumo semanal, que Seu Roberto o cobrava toda sexta-feira. Não sabia se o novo chefe estava ciente do hábito, mas mesmo com dúvida, fez seu trabalho e o deixou no canto direito da mesmo, pra que quando chegasse ao fim do turno, deixar no escritório do chefe. Quando reparou, já era fim de tarde. O sol começara a se por quando deixou o relatório pra Steve dar ao novo chefe. Estava arrumando sua bolsa para ir embora, quando uma voz feminina soou pelos auto-falantes espalhados em toda a empresa:

— Olá funcionários da Editora Shelfbooks! Hoje, em comemoração á nova admissão da companhia, vamos fazer uma festa. Em 30 minutos já podem ir pro auditório principal, que já estará tudo pronto! Esperamos vocês!

Cameron repensou: ir direto pra casa, tirar uma soneca e depois ir pra um bar com seus amigos, ou esperar esses 30 dormindo, ir a essa tal comemoração e logo depois da comida, encontra Nash e Aaron. Considerou a segunda, até porque não se pode desprezar comida. Com intanção de descansar, se aconchegou no sofá e fechou os olhos.

Sem perceber o tempo, dorniu por 50 minutos, já estava atrasado. Levantou-se, ajeitou o terno e seguiu o caminho para o auditório. Quanto mais perto estava, mais alto o barulo da música e de pessoas falando ficava. Ao abrir a porta tudo se calou, muitos os olhos estavam nele. Já queimando de vergonha, murmurou "desculpa" e adentrou ao mar de gente que lá estava, tentando achar Steve.

— Agora, seu novo chefe quer fazer um discursinho rápido, e, depois disso, o buffet abrirá. Peço silêncio. — A mema voz do corredor falou, e Cameron, ouvindo o pedido, parou de procurar seu colega e ficou esperando alguém subir ao palco. Sentiu uma mão na sintura e percebeu Steve chegar ao seu lado.

— Eu te procurei por todo canto. — Falou.

— Dormi demais. — Cameron o respondeu, e Steve deu uma risada gostosa e logo uma voz começou a falar.

— Olá amigos! Prazer, eu sou Shawn Mendes, seu novo, e melhor, chefe! — Naquela hora o corpo de Cameron simplesmente parou. Não poderia ser ele, de 20 milhões de habitantes, seu novo chefe tinha que ser logo ele. Seu ex-marido. — Bom, menos de um ano atrás eu passei por um momento muito ruim na minha vida, pedi uma pessoa que significava o mundo pra mim, e, graças aos livros, tudo voltou ao normal, passado fica pra trás, certo? Agora estou completamente bem! — Começou seu discurso animado, mas foi possível perceber ao final, que quando murmurou "eu acho", não parecia — E, por esse motivo que decidi comprar essa Editora, que é a melhor, na minha opinião, e também porque literatura tem muito valor na minha vida. Meio estúpido, certo? Mas quero que tenhamos uma ótima experiência trabalhando juntos.

A cada palavra que falava Cameron revirava os olhos, que já estavam encharcados. Na hora que uma Karen, sua ex-sogra subiu no palco, pediu licença a Steven e foi em direção a porta. E novamente fez o maior barulho e o auditório ficou silencioso, com seus olhares voltados a ele. Mas isso não o impediu, simplesmente saiu correndo para alcançar sua bolsa e dar o fora daquele lugar. Fez o que tinha e logo trancou a porta, lágrimas corriam por seu rosto. Ficou por uns minutos com a cabeça encostada na porta, deixando todo ódio, saudade e arrependimento que fingiu não existir por dois anos vir à tona naquele momento. Quando juntou as forças para encarar aquela novidade, alguém o abraçou. Um abraço tão forte que quase não conseguia respirar, mas ao mesmo tempo aconchegante. Sentira falta daquilo. Deixou ser levado pela saudade, e se ajeitou nos braços do moreno. Podiam sentir seus ombros molharem por conta das lágrimas que pareciam nunca se acabar.

No momento em que percebeu o que estava fazendo com si mesmo, se afastou rapidamente e correu para o estacionamento.

Mas ele o alcançou. Parou na frente da porta do carro, bloqueando a passagem.

— Eu te perdi uma vez. — Shawn começou, pensativo, mas olhando profundamente nos olhos de Cameron.

— Você me perdeu porque estava cansado do nosso relacionamento. Você me perdeu porque você fodeu com tudo. Você me perdeu porque quis. — Cameron o respondeu quase no mesmo segundo. — Me trair foi a sua escolha, agora lide com ela e suas consequências.

Conseguiu alcançar a porta e então saiu do lugar rachando os pneus. No caminho pra casa não conseguia parar naquela cena. Depois de dois anos tentando esquecê-lo, de uma hora pra outra aparece e tudo que passou naquela noite veio á sua memória. Aquela memória que, se pudesse, deletaria da mente.

Demitir do emprego definitivamente não é uma opção. Perdoar ele muito menos.