1. Spirit Fanfics >
  2. Heart Shape - Interativa >
  3. 1x01 - Heroes Welcome

História Heart Shape - Interativa - 1x01 - Heroes Welcome


Escrita por: Queen_Viola

Notas do Autor


Oii meus queridos Doutores!

Fizeram uma boa prova?! Espero que sim.

Enfim, depois de muitas amolações, divulgações, perguntas chatas e tudo mais... Aqui está o capítulo prometido. Do fundo do coração, espero que gostem <3
Ele tem início com o final do capítulo "First Look", então quem não leu, dê uma passadinha lá ^^

Eu, particularmente, amei escrever. Acho que o tamanho dele revela isso a vocês... No capítulo utilizo alguns termos médicos, sorry guys, mas não dá pra explicar todos...

Àqueles que não pude esperar pela ficha, como o combinado, mil perdões... Realmente não poderei escrever no próximo fim de semana e em seguida as provas estarão aqui, então o tempo será curto e não poderei focar como foquei nesse capítulo.

Para quem desejar participar, pode enviar sua ficha. As vagas femininas ainda estão indisponíveis, portanto, no momento estou aceitando apenas fichas masculinas.

Dúvidas e outros mais, é só falar, não mordo...

Qualquer sugestão, ideia ou algo do tipo, também estou aberta ao que for...
Obs: Por mais que revise e tudo mais, a gente sempre deixa uma errinho escapar, então, qualquer coisa é só falar!

Aaah... já ia esquecendo... o Tumblr da fic está atualizado, adicionei o link “Fichas” ao Menu de Personagens e lá ao clicar sobre o nome de cada um, abrirá o respectivo jornal do personagem, isso é para vocês os conhecerem melhor.
Beijos, uma boa semana e xaaaaaaaau!

Capítulo 2 - 1x01 - Heroes Welcome


Fanfic / Fanfiction Heart Shape - Interativa - 1x01 - Heroes Welcome

“Suddenly I see – KT Tunstall”

“Her face is a map of the world, is a map of the world

You can see she's a beautiful girl, she's a beautiful girl”

 “Meu nome é Lavínia Frost, sou R0 no Hospital Light of Hope, ou seja, basicamente um interno com diploma, praticamente nada. Mudei para Nova York afim de deixar meu passado pra trás, começar uma vida do zero, no entanto quando começo a conhecer meu novo local de trabalho, dou de cara com o homem o qual fui amante há certo tempo... Ok... Não estou aqui por causa dele, mas sim por causa da brilhante cirurgiã cardiovascular e torácica, Dra. Ellen Minerva, mas... Não posso negar que o encontrar fez despertar certos sentimentos que estavam adormecidos”.


“And everything around her is a silver pool of light

People who surround her feel the benefit of it

It makes you calm

She'll hold you captivated in her palm”

“Há um ditado dinamarquês que diz o seguinte: Muitos pequenos riachos fazem um grande rio”. Em um hospital, médicos, enfermeiras, biomédicos, todos os empregados são os pequenos riachos que devem confluir para um mesmo grande rio... Bom... Na prática, não é bem assim que acontece.”

 

- Oi... Meu nome é Lavínia...

- Bom pra você. – A enfermeira respondeu detrás do balcão sem dar chance a jovem novata.

- Haha... – Lavínia ficou sem graça. – Onde posso encontrar o enfermeiro Enzo?

- Eu tenho cara de GPS? – A enfermeira levantou uma sobrancelha e perguntou a encarando.

- Hehe... – Lavínia sorriu sem graça. – Eu gostaria de saber com qual atendente eu vou ficar, me disseram que ele poderia me informar. – Tentou dar um sorriso simpático, mas a enfermeira não estava muito entusiasmada em ser agradável.

- E eu tenho cara de informativo? – A mulher grande e gorda respondeu com um tom quase que de indignação.

- Oh... Desculpa... – Lavínia arregalou os olhos um tanto assustada. – É que me disseram que eu deveria vir aqui para descobrir para qual atendente eu fui designada...

A mulher não respondeu, apenas encarou a jovem doutora com seus olhos escuros, colocou a mão na cintura e levantou uma sobrancelha.

“Suddenly I see (suddenly I see)

This is what I wanna be

Suddenly I see (suddenly I see)

Why the hell it means so much to me

Suddenly I see (suddenly I see)

This is what I wanna be

Suddenly I see (suddenly I see)

Why the hell it means so much to me”

“As pessoas tendem a querer o melhor para si, colocam-se no lugar do “grande rio” e ao invés de confluírem para um bem maior, acabam dispersando cada vez mais.”

 

- Bom dia, Dora! – Um homem aproximou-se do balcão e pegou um prontuário, leu e deu uma piscadela para a enfermeira. – Parece que o Sr. Diaz vai receber alta hoje...

- Bom dia Dr. De Santi... Que bom, já faz tempo que ele está aqui. – Dora, a enfermeira respondeu.

- O pós-operatório foi complicado... Dora, você pode ver com quem eu estou hoje?

- Claro... Hummm... – A velha enfermeira digitou o nome do residente e logo virou-se para o mesmo. – Hoje passará seu dia com o Dr. Strauss.

- Obrigado, Dora! – O rapaz deu uma nova piscadela pegou um prontuário e saiu.

- Oi... – Lavínia tentou se aproximar, por que a mulher ajudou o rapaz tão prontamente e a ela não?

- Você ainda está aqui? – Dora a olhou com certa reprovação.

- Eu vi que você pode acessar...

- Eu vi que você está perdida, garota. – Dora foi implacável.

- É que...

- Dora... – Uma mulher de estatura mediana e cabelos castanhos claros repreendeu a velha enfermeira. – Você ama implicar com os novos residentes... Deixe-os em paz.

A enfermeira encarou Lavínia uma última vez, olhando-a de cima a baixo. A jovem doutora ainda estava assustada com a atitude daquela velha enfermeira de pele negra e corpulenta, que transitava facilmente de pura simpatia para um mau humor tenebroso.

- Do que você precisa? – A segunda enfermeira perguntou à Lavínia.

- Eu... Gostaria de saber com qual atendente eu estou. – Lavínia respondeu ainda olhando assustada para a enfermeira Dora.

- Seu nome?

- Lavínia Frost.

- Lavínia, você está com a Dra. Owens. – A enfermeira de cabelos claros disse amigavelmente e saiu.

- Obrigada. – Lavínia respondeu quando a mulher já estava de costas.

- Tome cuidado. – Dora disse pegando um prontuário e o colocando nas mãos da nova residente. – Nem todo mundo é o que aparenta aqui... Aprenda em quem deve confiar ou não vai sobreviver por muito tempo.

- Sobreviver?!

- Ao jogo, querida. Você acaba de começar. – A enfermeira virou-se e sentou à frente de seu computador. – Você vai ficar aí parada me olhando o dia todo?

- Desculpa. – Lavínia apressou-se em sair e ir a procura da tal Dra. Owens.

Pelo prontuário, a idade da paciente revelou que a encontraria no Setor de Pediatria. Foram longos vinte minutos até achar o local, o Hospital Light of Hope era enorme, facilmente de se perder lá dentro.

- Vocês são internos, não são nada, apenas número nesse hospital. Não façam nada sem eu mandar, nada sem me comunicar, não toquem um paciente...

Um residente tutor caminhava com um grupo de cinco internos o seguindo. Lavínia sorriu e lembrou-se de seus dias como interna em cirurgia, foi a melhor época de seus estágios, no entanto, sua vida pessoal fora um turbilhão.

- Bom dia! – Lavínia cumprimentou a enfermeira local. – Onde encontro a Dra. Owens?

- Eu estou bem aqui. – Marianna Owens respondeu detrás da residente.

- Oh...  Desculpa... Sou nova aqui. – Lavínia sorriu sem graça, imaginava uma mulher totalmente diferente.

- Sem problemas, logo você pega o jeito. – Ela respondeu simpática. – Dra. Frost, certo?!

- Correto. – Lavínia sorriu, era mais fácil lidar com pessoas diferente de Dora.

- Bom, faremos o seguinte, sua paciente foi internada há pouco tempo queixando-se de dores abdominais. Eu já tenho o diagnóstico, mas quero que você refaça todo o procedimento, a paciente é sua, você é responsável por fazer anamnese, exame físico e pedido de exames, depois vai me passar sua hipótese diagnóstica e sua conduta. – Dra. Owens explicou detalhadamente o que queria, como se Lavínia fosse uma criança.

- Tudo bem...

- Depois, procure a enfermeira Jennifer, pegue os prontuários dos outros pacientes e faça o mesmo.

- Ok...

- Boa sorte, doutora! – Marianna deu um sorriso amistoso e saiu.

- Obrigada. – Lavínia devolveu o sorriso e assim que se viu sozinha, respirou fundo. – Vamos lá, Lavínia.

∞ ∞ ∞

Na sala de cirurgia número dois, o paciente estava prestes a ser sedado, as lágrimas escorriam pelos seus olhos, mas não emitia som, tentava ser forte, era a primeira vez que era submetido a um procedimento cirúrgico, era a primeira vez que sentia-se tão frágil.

- Você é casado? – Doutor Vincent Thompson perguntou antes de aplicar o anestésico.

- Sim. – O homem respondeu um tanto nervoso. – Há quinze anos, com três filhos, um de dez, uma de cinco e o caçula de três.

- Ainda vai vê-los. – Vincent disse tentando o confortar, porém seu tom de voz era um tanto apático. – A partir do momento que eu colocar essa máscara, você irá sentir sono e em alguns segundos irá adormecer, tudo bem?

- Eu vou sobreviver? – O paciente perguntou aflito.

- Nós faremos o possível. – Vincent disse sem querer prometer algo que não poderia cumprir. – Eu tenho que fazer isso agora. – Se referiu à máscara por onde sairia o anestésico.

- Você poderia ter dito que sim, não é?! – A enfermeira instrumentista disse, se referindo à promessa que Vincent se negou a fazer.

- Não sou eu que estou fazendo a cirurgia e, nem assim prometeria algo que não há nenhuma certeza que se pode cumprir. – Vincent respondeu educadamente.

- O doutor Vincent fez o que qualquer cirurgião prudente faria. – O cirurgião que operaria o homem adentrou a sala de cirurgia e esperou pelo circulante para que trouxesse suas luvas. – Ninguém promete nada que não pode cumprir, o corpo humano é uma máquina imprevisível. Fazemos o possível para consertar o que está de errado, mas ainda assim existem situações imprevisíveis, por mais que nos esforçamos para prever o pior cenário.

- Belas palavras. – A enfermeira instrumentista elogiou e recebeu uma piscadela. – Por isso que é o chefe do setor de cardio?

- Por isso que sou um excelente cirurgião. A chefia veio só como consequência.

- Então é bom começar a mostrar sua excelência, o paciente está pronto. – Vincent disse ao colega de profissão.

- Dr. Evans?! – Foi um residente quem o chamou.

- Sim?! – O cirurgião olhou em resposta.

- Hoje temos internos na sala, poderia nos explicar como seria o procedimento?

- Humm... Não. – O Doutor olhou em desafio.

Um silencio constrangedor instaurou na sala, o Dr. Vincent já conhecia os métodos do Doutor Alexander Evans, sabia que sua resposta não fora grosseira e decidiu não se envolver.

- É por isso que o chamam de Doutor Demônio. – O residente disse a interna que esperava ansiosamente por uma cirurgia em seu primeiro dia.

- Interno. – Alex chamou. – Aproxime-se.

A jovem aproximou-se obedientemente. Geralmente os internos ficam afastados da mesa cirúrgica, apenas os R0 e outros residentes que auxiliam o cirurgião principal.

- Qual o seu nome? – Alex perguntou educadamente.

- Daisy. – A jovem respondeu um tanto tímida.

- Daisy, você é interna, não vou te julgar se não souber responder, mas para estar aqui dentro você no mínimo deve ter estudado o procedimento. – Alex a encarou. – Este é o Senhor Osvaldo Ferraz, possui quarenta e cinco anos, é casado há quinze anos, possui três filhos e uma estenose da valva mitral. Você pode me dizer o que faremos aqui?

- Uma valvuloplastia mitral. – A moça respondeu ainda tímida.

- Continue narrando o procedimento.

- ... – A jovem suou frio. – Primeiro... primeiro... faz-se a incisão...

- Que tipo de acesso é utilizado? – Alex perguntou de imediato.

- É... uma incisão... – Daisy vira algo assim há alguns anos na faculdade, nada muito aprofundado. – Esternotomia mediana. – Disse enfim como se tivesse sido a primeira a desvendar o procedimento.

- Isso. E?

- Desculpa... É meu primeiro dia... Eu achei que veríamos as áreas básicas da cirurgia, não algo tão específico, eu não me preparei pra algo assim. – Daisy confessou, a obrigação dos internos é passar apenas por cirurgia geral e obstetrícia, outras especialidades são opcionais, no primeiro dia, era tortura algo assim.

- Não tem de que se desculpar. – Alex disse, sabia que ela não estaria preparada, era errado estar ali, afinal, precisava do básico para aprender o complicado, o erro não foi dela, mas sim de seu residente e era ele que Alex não perdoaria. – Dr. Gonzalez. – Chamou pelo residente tutor da moça. – Enquanto eu vou operando, quero que você narre todo o procedimento para sua interna.

- Desculpa, Dr. Evans, eu sou R1. Não me preparei para isso. – O homem respondeu sem nenhuma inibição, como se ainda estivesse convencido de tal atitude.

Vincent não aguentou e deixou escapar um sorriso que expressava mistura de deboche e desprezo. Naquele instante soube que Dr. Gonzalez se interessou por sua interna e quis utilizar uma cirurgia como aquela para impressioná-la e conseguir sexo. Os olhos inocentes da interna mostravam que ela era mais uma das ingênuas que caiam na lábia de idiotas como Gonzalez. Se Evans não fizesse nada, ele faria.

- Você não estudou o procedimento, trouxe uma interna em seu primeiro dia pra uma cirurgia complicada e ainda tem a cara de pau de entrar na minha sala de cirurgia? – Dr. Evans olhou para o rapaz incrédulo.

- Não sabia que teríamos que ficar narrando o que você está fazendo.

- Você está em um hospital escola, se não se deu conta disso até agora, é melhor abrir os olhos porque esse não é seu lugar. – Vincent manifestou-se. – O motivo de ter entrado aqui com sua interna é apenas para impressioná-la e conquistar algum tipo de “recompensa”. Cuidado com seu residente, garota. – Vincent encarou o rapaz. Geralmente não gostava de se envolver em conflitos, mas dessa vez achou necessário.

- Acho que vocês estão exagerando... – Dr. Gonzalez sorriu amarelo, foi pego no flagra. – Eu sei os passos pra uma valvuloplastia mitral...

- Então diga o que eu devo fazer. – Alex o encarou.

- É...

- Alguém sabe me dizer os passos de uma valvuloplastia mitral? – Alex olhou para os outros médicos que acompanhavam a polêmica cirurgia.

- Como a garota disse, o acesso cirúrgico utilizado é a esternotomia mediana, mas também pode ser utilizado uma toracotomia direita, em seguida, que é o que está fazendo agora, faz-se uma canulação da aorta ascendente distal para conectar o coração à circulação extracorpórea e depois uma canulação bicaval para as veias cavas superior e inferior. Resfria-se o corpo a uma temperatura que pode variar de 28° a 32°C. – A jovem de olhos negros e espertos olhou para o termômetro da sala de cirurgia. – Como a temperatura da sala já está um tanto baixa, a hipotermia não deve ser menor que 28°C.

- Desculpa... Você é? – Alex olhou impressionado para a moça a sua frente.

- Meu nome é Victoria Alexandrina, mas pode me chamar de Drina. – A moça sorriu. – Esse é meu primeiro ano na residência de cardio.

- Dra. Drina... – Alex olhou para a moça ao canto. – Aproxime-se. – Sequer olhou para Dr. Gonzalez. – Dr. Gonzalez, você pode se retirar da minha sala de cirurgia, a Dra. Drina vai explicar o procedimento para a Dra. Daisy. – Alex enfim olhou para o homem, que estava estático encarando o cirurgião chefe. – SAIA AGORA!

O doutor saiu da sala um tanto desmoralizado, Vincent gostou daquela situação, se tinha algo que detestava era ver alguém abusando de sua posição para se “dar bem”. Drina, por sua vez, gostou pelo fato de poder demonstrar seu intelecto, antes que julgassem por seus contatos e bem, Daisy, a interna, foi quem bem mais se beneficiou com a situação constrangedora.

∞ ∞ ∞

Lavínia já estava em sua quarta paciente, o setor de pediatria era o que mais a desanimava, muito barulho, muito choro e muita discussão, a maioria dos problemas das crianças que iam ali eram psicossomáticos, ou seja, os pais causavam tanto estresse na vida das crianças que eles passam a somatizar tudo para si, sem ter uma válvula de escape, seu estresse reflete-se em patologias que muitas vezes são tratadas com a simples intervenção com os pais.

A paciente em questão tinha treze anos e queixava-se de dor abdominal, a mãe impaciente dizia que a Dra. Owens já havia diagnosticado apendicite e que esperavam há horas pela cirurgia.

- Você vai demorar? – A mãe da paciente olhou irritada para Lavínia.

- Eu... – Lavínia fazia manobras palpatórias na paciente e notava algo estranho. – A senhora não quer ir até a cafeteria?

- Isso vai fazer a cirurgia acelerar?

- Não, mas pode deixar a senhora mais calma. Enquanto isso eu vou conversando com a Tais... – Lavínia tentou dar um sorriso amigável, mas já tomara ranço daquela mãe.

- Espero que quando voltar ela já não sinta dor.

A mulher deixou apenas a residente e a jovem de treze anos no quarto. Lavínia apressou-se em fechar a porta e se aproximou da garota.

- Taís, nós queremos o melhor pra você, mas pra isso preciso que seja honesta comigo... – Lavínia notou a garota engolindo em seco e ali já sabia a resposta. – Você vem praticando sexo desprotegida?

- Minha mãe não pode saber... – A garota começou a chorar.

- Eu vou ter que pedir alguns exames... Mas... Taís... Ele é seu namorado? Há quanto tempo isso aconteceu?

- Não... Aconteceu uma vez... Eu-eu... Não me lembro.

- Essa foi sua primeira vez?

- Não...

- Onde você o conheceu? É alguém da escola?

- Não...

- ... – Lavínia respirou fundo. – Quantos anos ele tem?

- Dezenove. Minha mãe não pode saber...

- Taís... Eu tenho que fazer o que é melhor pra você... Nesse momento é descobrir o motivo das suas dores.. – Esse era o tipo de situação que jamais gostaria de passar. Levantou-se, fez os pedidos de exames e deixou o quarto, o pior ainda estava por vir.

Algumas horas se passaram, Lavínia estava em uma espécie de jardim de inverno do hospital, pensou que ali iria relaxar após o estresse que passou e que previa que passaria em breve.

- Oi. – Um rapaz a cumprimentou. – Aceita? – Ele estendeu uma barra de cereal.

- Oi... Não, obrigada. – Lavínia negou com um sorriso sem graça.

- Você parece triste... Começo ruim? – Ele a olhou curioso. – Pensei que mulheres bonitas não ficavam tristes.

- ... – Lavínia deu um leve sorriso apagado com o gracejo. – Esse é meu primeiro dia aqui e tive que pedir um βHCG para uma paciente de treze anos, notificar situação de abuso e ao falar pra mãe, ela surtou. – Olhou cansada para o rapaz.

- Péssimo começo. – Ele crispou os lábios e constatou. – Ah... Afinal... Meu nome é Taylor Colemann, nem me apresentei.

- Lavínia Frost.

- Posso? – Taylor perguntou referindo-se em sentar ao lado da moça e se posicionou quando ela acenou positivamente com a cabeça. – Coloca isso aqui... – Pegou um de seus fones e colocou no ouvido da mulher, mexeu em seu celular e a encarou. – Existe um estudo que diz que algumas músicas podem diminuir nossa ansiedade, eu particularmente gosto dessa.

Strawberry Swing – Coldplay”

“They were sitting

They were sitting on the strawberry swing

Every moment was so precious”

- Obrigada. – Lavínia sorriu, é bom sentir que possui pessoas boas tentando ajudar, sem ao menos a conhecer.

- Não tem o que agradecer... Esse também é meu primeiro dia aqui... Residência em Neurocirurgia... A taxa de mortalidade é bem alta... – Taylor sorriu sem graça. – É o que eu gostaria que alguém fizesse... Eu... Meio que estou sozinho aqui... Quer dizer... Nós estamos no mesmo barco aqui, não tem porque não remarmos juntos.

- Obrigada, de verdade. – Pela primeira vez Lavínia sentiu que não estava tão só.

- Já disse, não tem o que agradecer... Ouça a música. – Taylor sorriu e ambos encararam as poucas plantas do jardim de inverno.

“They were sitting

They were talking under strawberry swing

Everybody was for fighting

Wouldn't want to waste a thing”

∞ ∞ ∞

Ainda na sala de cirurgia, Dr. Evans sempre que possível olhava orgulhoso para explicação que a nova residente cardiovascular, Victoria Alexandrina, ou apenas Drina, dava sobre o procedimento para a interna. Vincent ouvia atentamente e notava o brilho nos olhos da garota e apenas desviava sua atenção para conferir a temperatura do paciente. Tudo ocorria bem na sala de cirurgia, sem nenhuma complicação, sem nenhum imprevisto, nada fora do esperado, apenas a descoberta de uma nova estrela.

Do lado de fora, alguns internos seguiam seus residentes tutores na sala de trauma, outros faziam exames em pacientes recém-admitidos. Atendentes entravam nos leitos e mantinham sua rotina habitual, dentre eles o cirurgião cardiotorácico, Dr. Lyonn Sabiston cumprimentava seu paciente com sua famosa cordialidade e carinho, o Dr. Oliver Strauss ensinava um dos residentes a realizar algumas manobras palpatórias, a Enfermeira Jennifer Eller fazia um acesso central em um paciente enquanto um interno observava aflito. A Dra. Naomi Scott apresentava o caso cirúrgico ao chefe do setor de neurocirurgia, Dr. Reed e a famosa Chefe do Setor Cirúrgico do Hospital Light of Hope, observava todos seus funcionários trabalhando, estava no parapeito de uma passarela que dava a visão geral do hospital, caminho entre sua sala e o restante do hospital.

“Cold, cold water bring me round

Now my feet won't touch the ground

Cold, cold water what you say?

When it's such, it's such a perfect day

Such a perfect day”

- Está observando sua obra? – A voz de Adrian Stokes chegou aos ouvidos da Dra. Ellen Minerva.

- Ela não é só minha... – Ellen olhou orgulhosa para parte do hospital, tornaram-se referência em cirurgia.

- Você tornou o setor cirúrgico famoso. Leve algum crédito... Você é minha irmã, leve o crédito apenas para eu levá-lo por cima. – Adrian brincou e riu rapidamente.

- A que preço? – Ellen disse sem o olhar.

- Ronald está ameaçando divórcio de novo? – Adrian perguntou curioso.

- Não. – Ellen respondeu. – Dessa vez ele mandou o advogado.

- Eu sinto muito. – O irmão da Chefe de cirurgia respondeu.

- Como você faz? – Ellen enfim o encarou. – Como faz para administrar bem o Setor Clínico, manter um casamento e ainda assim ser bem sucedido?

- Eu não clinico mais...

- Eu vou pro inferno, mas não paro de operar. – Ellen disse amargurada.

- Eu não clinico mais... – Adrian continuou. – Traio a Sonya com uma mulher mais nova, e meu setor não é famoso como o seu, é apenas uma parte do hospital.

- Huh... – Ellen resmungou amarga. – Você é homem! Essa é a resposta. E pare de trair sua esposa! – Ellen apontou o dedo para o irmão. – Você tem sorte em ter alguém que te entende, se Ronald tivesse metade da consciência de Sonya, eu estaria à mil maravilhas.

- Rsrs. – Adrian sorriu. – Você reclama de boca cheia... Não sabe o que eu daria para ter o reconhecimento que você tem.

“I remember we were walking up to strawberry swing

I can't wait until the morning

Wouldn't want to change a thing”

O setor de pediatria estava com um barulho maior que o comum, a Dra. Julie LeBlanche estava entregando um prontuário na recepção quando notou a movimentação anormal em um dos quartos, a enfermeira Jennifer tentava acalmar uma mãe que parecia uma onça com o serviço hospitalar.

Baixa e com aparência frágil, Julie não demonstrava ser a pessoa mais apta a lidar com a situação, seu tom de voz baixo sequer seria notado frente aos gritos da mulher que cuspia fogo “pelas ventas”. No entanto, talvez fora essa sua característica que fez com que a mulher, por algum instante, parasse de gritar e ouvisse a doutora a sua frente.

Julie entrou no quarto com a expressão séria, colocou uma mão no ombro da enfermeira, que tentava acalmar a mãe descontrolada e pôs-se a frente. Serena como uma brisa, a encarou e fitou a jovem deitada à cama, estava com dores.

- Senhora, por favor acalme-se, ou não vou conseguir ajudá-la, ou a sua filha. – Julie disse em tom baixo.

- EU QUERO SABER PORQUÊ MANDARAM MINHA FILHA FAZER EXAME DE GRAVIDEZ! TÁ ACHANDO O QUÊ? QUE ELA É VAGABUNDA? ELA TEM TREZE ANOS! TREZE! – A princípio, a mulher sequer deu ouvidos a Julie, mas a doutora não ergueu a voz ou usou de algum tipo de “medição” de força ou poder, apenas continuou a encarando, ouvindo-a.

- Senhora. Por favor, não grite. – Julie manteve a calma. – Tem pacientes com dores em outros leitos, outras mães desesperadas também. Vamos manter a calma e tentar resolver isso. – Julie continuou a encarando. – Não sou a médica responsável pela sua filha, pode me dizer o motivo da internação? – A jovem doutora pegou o prontuário da garota e passou a lê-lo.

- Ela estava com dor na barriga, não dor de barriga, dor NA barriga. – A mulher abaixou o tom, mais por vergonha que por vontade, soltava as frases com impaciência. – Então viemos para o pronto socorro e a Dra. Owens disse que era apendicite, viemos pro quarto pra esperar a cirurgia, aí veio uma tal de Dra. Frost pedindo exame de gravidez e falando que minha filha está se relacionando com um moleque de dezenove anos! A ASSISTENTE SOCIAL VEIO ME PROCURAR!

- Calma, senhora... – A Dra. Julie LeBlanche observou a garota. – Tais, não é?! – Olhou para a garota. – Taís, preciso que você seja honesta comigo... O que a Dra. Frost disse a sua mãe é verdade?

- Nã-não... – A menina disse com dores.

- Tem certeza? – Julie, como boa observadora, notou vacilo na resposta da menina e desconfiou de sua idoneidade.

- A-aham...

- Você tá desconfiando dela? – A mulher aparentava querer alterar a voz.

- Vamos fazer o seguinte. – Julie virou-se para a enfermeira. – Jennifer, bipe a Dra. Frost e a Dra. Owens, e também ligue no laboratório e mande-os adiantar esses exames pra agora. – Virou-se novamente para a mãe. – Vamos chamar as duas responsáveis pelo caso e então discutiremos o que será feito.

Não demorou muito até que Lavínia chegasse ao local, logo a mãe da garota alterou-se novamente, a mulher parecia pólvora perto de uma chama.

- VOCÊ PODE ME EXPLICAR PORQUÊ PEDIU EXAME DE GRAVIDEZ PRA MINHA FILHA?

- Senhora... – Lavínia assustou-se com a reação da mulher. – Nós conversamos sobre isso... Eu disse que ela se relacionou com um rapaz de dezenove anos, nesses casos...

- MENTIRA! É MENTIRA SUA!

- Sinto muito... mas...

- EU VOU PROCESSAR ESSE HOSPITAL!

- Senhora acalme-se. – Julie tentou intervir novamente, mas a mulher já perdera o controle completamente.

- Mãe... – A menina chorava de dor.

- EU VOU PROCESSAR ESSE LUGAR! ISSO É UM ABSURDO!

- O que está acontecendo aqui? – A Dra. Owens chegou um tanto confusa.

- mã-mãe... – A voz da menina tornava-se cada vez mais baixa, as dores mais intensas, sua pressão caía e ela tornava-se cada vez mais pálida.

- É APÊNDICE! – A mulher gritava. – É APÊNDICE! ESSA VACA ESTÁ MENTINDO!

- Alguém pode me explicar... – A Dra. Owens insistiu.

- No exame físico notei algumas características, como dor irradiada, falta de tensão muscular e pigmentação das mamas... – Lavínia justificou-se rapidamente. – Quando a mãe saiu perguntei a ela se já havia tido relações sexuais e ela me confirmou, então eu pedi um βHCG e Raio X da pelve e abdome...

- Por que você não me falou? – A Dra. Owens perguntou indignada.

- Você disse que era pra eu fazer todo o exame clínico, e só voltar com a hipótese diagnóstica e conduta... – Lavínia a olhou confusa, não teria como embasar sua hipótese sem exames que a justificasse, era o correto a ser feito, não tinha culpa da reação da mãe.

- Você deveria ter me dito! – A Dra. Owens estava evidentemente nervosa.

- Desculpa, fiz o mesmo com os outros pacientes, não sabia que geraria esse transtorno. – Lavínia estava aflita.

- Saia daqui. – Dra. Owens disse e aproximou-se da mulher. – Desculpe Senhora Smith. Geramos um transtorno, eu sei, mas vamos resolver isso.

Lavínia estava quase saindo quando os exames chegaram. A enfermeira Jennifer os entregou a Dra. LeBlanche e ficou no quarto observando a reação. A jovem doutora de cabelos ruivos leu os resultados atentamente e colocou o RX contra à luz para observar mais facilmente.

- Jennifer. – Julie disse série. – Agende uma sala de cirurgia imediatamente. – Senhora. – Julie encarou a mulher. – Nós teremos de levar sua filha para a cirurgia agora, trata-se de um caso de gravidez ectópica, ocorre quando o óvulo fertilizado não se implanta no útero, mas sim nas trompas. É um caso de emergência. Agradeça a Dra. Frost, ela salvou sua filha hoje. – Julie LeBlanche disse com o tom de voz inalterado e deixou o quarto.

As enfermeiras logo adentraram para preparar a jovem e em seguida a Dra. Owens alcançou sua colega de profissão.

- O que foi isso, Wendy? – Marianna Owens a chamou pelo apelido que deram a Julie.

- A residente estava certa, é gravidez ectópica. – Julie disse com naturalidade.

- Você me desmoralizou na frente de um paciente e de uma residente. Eu pensei que éramos amigas. – Dra. Marianna disse indignada.

- Nós somos amigas. E não te desmoralizei. – Julie negou a acusação ainda em tom baixo. – Você sabe que gravidez ectópica e apendicite são praticamente impossíveis de se distinguir sem uma anamnese bem feita. A garota mentiu na minha cara que não tinha mantido relações sexuais, ou esse bebê seria o novo Jesus Cristo ou então meus conhecimentos médicos estão equivocados e entre as duas alternativas, eu acredito mais na hipótese do novo Jesus. – Julie foi implacável. Conhecia Marianna, sabia que era uma excelente pediatra, mas que seu julgamento era duvidoso quando se tratava de amizades, a mulher não admitia que os amigos discordassem dela.

- ... – Marianna deu um sorriso incrédulo, mais como um suspiro. – Eu não acredito que disse isso...

- Marianna... – Julie a encarou. – Eu não deixo minhas amizades conduzirem meu julgamento. Eu SEI interpretar exames, você não falhou, você apenas fez um diagnóstico baseado no que tinha. Não é sua culpa que a garota mentiu. Então, por favor, não me venha colocar como errada na situação, nós descobrimos a tempo e podemos mudar a situação.

- Ok. Mas ela não entra na minha sala de cirurgia. – Marianna encarou Julie.

- Você é pediatra, você trata crianças, não seja uma. Ela merece participar dessa cirurgia. – Julie não moderou as palavras, honestidade é algo que tem sempre, no entanto, compreensão do quanto suas palavras podem ferir é algo que lhe falta.

Julie não quis prolongar a situação, deu de costas e deixou a Dra. Owens sozinha com sua indignação, afinal, quanto mais tempo perdia discutindo, mais a paciente aguardava para sua cirurgia.

 ∞  ∞  ∞

A pequena sala destinada aos estudos dos internos que precisam ficar de plantão estava ocupada por um conjunto de doutores. O Chefe do Setor de Neurocirurgia, Dr. Tomas Reed reunia toda a sua equipe disponível, dentre eles encontrava-se o residente novato, Dr. Taylor Willians Coleman, a R5 em neurocirurgia Dra. Naomi Scott e o renomado neurocirurgião que arrancava suspiros de praticamente todas as mulheres do Light of Hope, Dr. Dean Smith McQueen Jr.

- Reuni todos aqui por um simples motivo. – O veterano Dr. Reed começou sua explanação. Não era um homem velho, no auge dos seus cinquenta e dois anos, possuía uma aparência melhor que de muitos homens mais novos, ainda exibia um porte físico considerado “bonito”, embora nada muito musculoso ou definido, cabelos castanhos com leves tons grisalhos nas laterais, olhos azuis intensos, mas sua boa aparência era totalmente apagada com seu humor depressivo, o tempo o apagara, deixara-o “cansado de existir”. – O maior desafio neurocirúrgico do Ligh of Hope está prestes a começar.

- Isso quer dizer que vamos competir? – O Dr. Dean espalmou uma mão na outra e esfregou ansiando o que estaria por vir.

- Não é bem assim... – O Dr. Reed sorriu amarelo, perdera o gosto pela competição. – Estou dizendo em um desafio para a área, não entre nós.

- Ah... – O Dr. Dean desapontou-se.

- Daqui há cinco meses nós iremos fazer uma parceria com o Hospital Holly Mind, o intuito é rastrear e realizar o maior número de intervenção cirúrgica em pacientes com tumores em fase inicial de diagnóstico, quando o índice de mortalidade por cirurgia é menor, então para isso faremos o seguinte: Entre si, todos montarão uma equipe cirúrgica que deve conter obrigatoriamente um residente de primeiro ano, um residente intermediário, ou seja de segundo a quarto ano, um residente de quinto ano e um atendente. – O Dr. Reed especificou os critérios para a equipe em uma lousa branca.

- Aaaah, Chefia... – Dr. Dean insistiu. – Lança um desafio pra gente... Vai empenhar mais para esse mutirão que vai levar cinco meses pra começar...

- Concordo. – Outro atendente olhou para Reed. Todos eles o pressionavam sabendo que o homem já perdera o gosto pela competição, talvez pela vida.

- Tudo bem... Com licença. – O Dr. Reed saiu sem vontade de aumentar a discussão.

Quando alguns atendentes iam deixar o local, o Dr. Dean McQueen levantou-se e fechou a porta batendo com o tornozelo e dando um sorriso safado para a equipe.

- Ok, Residentes... É o seguinte... R1, vocês são desconhecidos... Então nós Atendentes faremos o seguinte... Durante um mês trabalharemos com cada um dos R5, cada um dos R5 será responsável por escolher o R1 e o R.Intermediário... Nós os escolheremos, mais ou menos como o The Voice, vocês terão dois meses para escolher sua equipe, o primeiro será o mês de seleção e ao final do segundo mês vocês terão que estar totalmente sincronizados e os R5 conduzirão uma cirurgia sob a supervisão dos Atendentes. Nós escolheremos os que achamos melhores, aqueles que tiverem mais de um atendente o escolhendo, poderá decidir com quem trabalhar, igual ao The Voice. Depois disso iremos focar no treino entre nós. – Dr. Dean sorriu um tanto perverso para toda a equipe. – O que me dizem?

- Eu estou dentro! – Um dos Atendentes concordou.

- EU TAMBÉM! – A Dra. Naomi Scott deixou escapar um grito. – Desculpa.

No fundo, todos praticamente foram obrigados a concordar, não tinha como escapar daquilo sem parecer covarde, para os Atendentes era apenas um jogo, afinal, todos confiavam em seus conhecimentos, para os R5 era uma questão de autoafirmação e, para os R1, como Taylor, era quase algo de necessidade de sobrevivência, deveria se desdobrar em vinte para conseguir provar algo para alguém que queria se autoafirmar.

- Desculpem. – O Dr. Reed voltou e não entendeu quando o Dr. McQueen sentou-se rapidamente com um sorriso debochado. – Esse aqui é Jayden Connor Jhonsson. – O doutor exibiu as radiografias do encéfalo do paciente. – Ele possui um tumor na Área de Broca* -(*pronuncia-se área de Brocá)- esse tumor também invade a região occipital mais especificamente a área de associação visual, eu estou acompanhando ele há cinco meses e o crescimento é lento, mas a cirurgia é necessária, porém não é emergencial. Então, a equipe que tiver o menor índice de mortalidade vai ganhar essa cirurgia como recompensa.  – O Dr. Reed finalmente terminou, aquela era uma cirurgia que alavancaria a carreira de qualquer neurocirurgião, apenas um louco deixaria algo como aquilo passar, no entanto, o atual estado emocional do doutor o deixava apático. – Formem suas equipes e deem o melhor de si. Todos poderão acompanhar o caso durante o processo.

- PUTA QUE PARIU! – A Dra. Naomi Scott deixou escapar após ver o tamanho do tumor.

- Nó-nós  poderemos operar esse tumor? – O Dr. Taylor perguntou.

- Dr. Reed... – O Dr. McQueen o chamou. – Porque está passando esse caso para nós?

- Você não queria uma competição? Aqui está a sua. E sim, vocês poderão operar esse tumor, se ganharem. – O Dr. Reed olhou para Taylor e então para toda a equipe. – Que comece a competição.

“Over My Head (Cable Car) - The Fray”

“I never knew

I never knew that everything was falling through

That everyone I knew was waiting on a queue”

As horas se passaram, as cirurgias chegavam em seu momento final. O Chefe do Setor de Cirurgia Cardiovascular, Dr. Alex Evans finalizava sua operação com sucesso, à sua companhia a R1 no setor, Dra. Victoria Alexandra, ou Drina, acompanhava entusiasmada, explicando cada passo para a interna ao seu lado.

- Dra. Drina. – Alex a chamou. – Você gostaria de fechar pra mim? – O doutor perguntou depositando sua confiança na futura cirurgiã cardiovascular a sua frente.

- É claro que sim! – Drina respondeu entusiasmada.

- Conquistar a confiança do Chefe do Setor Cardiovascular não é pra qualquer um. – Vincent sorriu para a moça. – Espero te encontrar mais vezes, Dra. Drina.

- Obrigada, Dr. Thompson. – Drina sorriu para o anestesiologista e encarou o Dr. Evans. – Obrigada, Chefe. – Brincou e enfim olhou para a enfermeira instrumentista. – Porta agulha e fio monofilamentar 3mm. – Disse confiante e olhou para a interna ao seu lado. – Olhe e aprenda como suturar camada por camada. – Sorriu. – Parece idiota, mas nesse momento, no internato, nós ficamos frustrados por não fazermos cirurgias, mas cada dia aqui, cada passo, cada experiência, é um ponto pro seu futuro. Então observe. Veja o tamanho do fio utilizado, a forma como o cirurgião opera, observa o que puder e mentalize, uma hora isso fará a diferença.

“To turn and run when all I needed was the truth

But that's how it's got to be

It's coming down to nothing more than apathy

I'd rather run the other way than stay and see

The smoke and who's still standing when it clears”

- Impressão minha ou nós temos uma coach aqui? – Alex brincou.

- Uma excelente coach. – Vincent assentiu.

- Acho que no fundo, eu e o Sr. Ferraz que saímos ganhando nessa história toda. – Daisy, a interna sorriu.

- Acho que todos deveríamos aplaudir a Dra. Drina. – Alex incentivou e todos aplaudiram a doutora em ascensão.

 ∞  ∞  ∞

- Então, Dra. Frost?! – A Dra. LeBlanche perguntou à residente, curiosa. – O que te fez pensar em gravidez ectópica?

- Durante a anamnese a paciente se mostrou evasiva a certas perguntas... A mãe também respondeu boa parte delas, deixando a menina com medo de responder a verdade e... Bem... Como puderam ver... A mulher não é lá um amor de pessoa. – Lavínia respondeu à doutora. – Às manobras palpatórias ela não apresentou tensão muscular na região abdominal, não me deixou examinar a vagina e um professor sempre me dizia para solicitar BetaHCG para qualquer mulher com queixa de dor abdominal em idade fértil.

- É, mas muitas vezes você vai desencadear o que ocorreu! Foi imprudência sua solicitar esse exame antes de falar comigo ou com a mãe. Você não foi profissional, foi errado, tem que saber onde é seu lugar. – A Dra. Owens se exaltou e largou os instrumentos. – Wendy. – Chamou pela amiga coreana. – Continue pra mim... eu não estou com cabeça.

Julie, chamada de Wendy carinhosamente por grande parte do hospital, pois não gostava de seu nome, assumiu a posição da cirurgiã e continuou o procedimento ao lado da obstetra. No fundo, Julie concordava com Lavínia, não tomaria atitude diferente, mas em ambiente cirúrgico, jamais causaria discussão, ali era seu “lar”, era seu lugar de paz e jamais faria algo para estragar aquilo.

- Dra. Frost... Meus parabéns, às vezes, nós, Atendentes, não temos o tempo necessário de conferir tantos encaminhamentos ou de fazer uma anamnese bem feita devido a urgência, isso nos atrapalha muito, mas em seu tempo, você conseguiu, leve isso para sua vida, haverá dias em que conseguirá descobrir algo dificilmente diagnosticado e outros que vai sacar de primeira, isso é a medicina, uma roleta russa onde nunca sabemos quando o disparo vai acontecer. A única coisa que está em nossas mãos é saber como lidar com a consequência, podemos fazer isso de forma madura e profissional, ou podemos ignorar os fatos e seguir com nosso ego.

-  Obrigada, Dra. LeBlanche. – Lavínia disse, sem querer prolongar a discussão com a Dra. Owens.

- Não me agradeça, só preste atenção no que disse. – Julie sorriu sob a máscara, com seu natural tom tranquilo de falar.

 ∞  ∞  ∞

 

“Everyone knows I'm in

Over my head

Over my head

With eight seconds left in overtime

She's on your mind

She's on your mind”

- O que você acha que é? – Um R5 de neurocirurgia perguntava a um R1 e o mesmo gaguejava para responder enquanto olhava o tomografia.

De longe Dr. Taylor Willians escrevia sua hipótese em um pequeno papel, era perceptível que o paciente tinha um tumor no hipotálamo, no entanto não iria se exibir, não porque não era do tipo que não gostava de competições, mas sim porque sabia que logo seria notado e, quando as cadeiras se virassem para ele, não seria um residente que o escolheria, mas sim ele que faria a decisão.

- Hey! – Uma enfermeira o chamou. – Você é médico?

- Dr. Taylor Willians. R1 em neuro. – O rapaz respondeu aproximando-se da mulher e do paciente.

- Ótimo preciso de uma avaliação neurológica.

Taylor retirou uma pequena lanterna e averiguou o reflexo pupilar do paciente, em seguida passou as pontas dos dedos levemente na planta do pé do paciente, conferindo sua sensibilidade nos membros inferiores. Fez o exame completo e anotou no prontuário entregando a enfermeira em seguida. Estava satisfeito com o básico, não via necessidade em se autoafirmar. Próximo a ele o Dr. Lyonn Sabiston o observava, sabia da competição entre os residentes de neurocirurgia e a posição do rapaz lhe chamou a atenção.

- Hey, Doutor. – O chamou. – Preciso de uma avaliação da neuro.

Taylor foi sem questionar, seu primeiro dia estava bom, não podia reclamar, melhor que o de muita gente.

- O que acha? – O Dr. Lyonn o perguntou.

- Acho que deveria pedir uma Ressonância Magnética, assim pode descartar a hipótese de tumor ou início de AVC. – Taylor respondeu confiante.

Ambos deixaram o paciente a sós com a família e seguiram discutindo o caso.

- Ok! – O Dr. Lyonn olhou para o pedido que uma R5 de sua confiança havia feito há pouco tempo, exatamente igual. – Hey... Talvez isso aqui renda uma cirurgia, eu tô devendo uma ajuda para uma R5, mas qualquer coisa eu te chamo.

- Isso com certeza vai render uma cirurgia... – Taylor sorriu.

- Só se for um AVC, o problema cardíaco é pior... prioridades. – O doutor mostrou o prontuário.

- O quão ruim eu seria se dissesse que ter um tumor seria melhor? – Taylor olhou desanimado para o doutor.

- Isso é medicina, garoto. – Lyonn bateu no braço do rapaz. – Levante a cabeça e mantenha o pensamento positivo.

∞  ∞  ∞

As horas se passaram rapidamente, as salas de cirurgia aos poucos desocupavam-se, a noite caía, o expediente de alguns Atendentes chegavam ao fim, de outros começavam e ainda tinha aqueles que iriam continuar sua maratona. Alguns dos residentes de primeiro ano e quase todos os internos mantinham seu plantão de 72 horas já no primeiro dia, os desafios de um cirurgião apenas começava para esses.

Na saída da sala de operações, Julie LeBlanche enfim demonstrou um sorriso espontâneo e tão natural que a fez parecer outra pessoa, totalmente diferente da mulher séria que tentou conter a mãe descontrolada.

- Vince! Você estava aqui do lado! – A moça se aproximou do amigo anestesiologista.

- Um anestesiologista tem que estar em uma sala de cirurgia, hã?! – Vince, igualmente a amiga, demonstrou um sorriso. – Meu dia acabou, e o seu?

- O meu não... Sabe por quê? Já tem dias que não encontro meu casal preferido! Hoje eu estou afim de bebidas, conversas, risadas e de estar com você e o Chris. – Julie pegou o amigo pelo braço e o colocou para a conduzir.

- Ótimo... Você decide o que vamos comer e eu decido o que vamos beber. – Vince sorriu para a amiga e ambos seguiram em direção a sala destinada aos atendentes.

Enquanto os amigos seguiam seu rumo, o Doutor Evans ainda estava na sala de pré-operatório, limpava-se após o tempo de cirurgia, afinal o cheiro da luva o incomodava mais que qualquer coisa.

- Isso é simplesmente... – Drina sorriu e o encarou. – Não tenho palavras pra descrever.

- É bem assim a sensação. – Alex Evans sorriu para a nova residente. – Hey... Sem querer parecer o Dr. Gonzalez, que por algum acaso tenho que reportar para a Chefe, que tal sair pra tomar uma bebida? – Evans perguntou interessado na moça, agora a vendo sem máscara e toca, Drina era mais bonita que aparentava, cabelos pretos até os ombros, corpo levemente esguio e um rosto angelical, sem contar que era inteligente, como Alex gostava de dizer, “inteligência é afrodisíaco”.

- Ah... Desculpa... – Drina ficou sem graça. – É meu primeiro dia aqui e eu fui uma das sorteadas pro plantão de 72 horas. – Sorriu amarelo. – Mas... guarda o convite, depois do meu sono de bela adormecida para repor esses dias, quem sabe?!

- Vou ficar esperando. – Alex sorriu.

Na sala ao lado, a Dra. Owens ainda ressentia-se por não ter notado o estado de gravidez da paciente e transferia isso a residente que trouxe isso à tona.

- Você deveria ter me avisado. Foi antiético, você não é nada aqui, foi completa sorte... – A doutora disparava suas palavras sem se importar com quem ouvia.

- Dra. Owens. – Lavínia a encarou cansada. – Me desculpe, sinceramente, eu não me importo. Eu fiz o que era melhor para minha paciente! Como você disse hoje cedo, ela era MINHA paciente. Eu desconfiei que ela estava gravida e solicitei exames para confirmar, só não realizei um ultrassom por causa da mãe! E mais, ainda por cima é um caso de estupro, abuso de menor... Você queria o que? Que deixasse seu diagnóstico guiar uma cirurgia equivocada, deixar que a paciente continuasse a ter relações com um cara de dezenove anos? Eu fiz o melhor pra saúde dela! Quer me repreender, me chamar de antiética, do inferno que for, me chame... Mas eu não falhei. Eu fiz meu trabalho, eu fiz o que era certo. – A residente encarou a atendente e deu de costas em seguida.

Lavínia deu de cara com Lyonn Sabiston, seu antigo amante, ele a encarava com uma mistura de compaixão e ressentimento, no fundo, ele queria confortá-la, mas seu casamento o impedia, no fundo, ele a queria, mas sua moral o impedia. A loira o encarou por alguns segundos.

- Ah vai a merda! – Lavínia disse revoltada e seguiu adiante.

“Shine On – Jet”

“Please don't cry

You know I'm leaving here tonight

Before I go I want you to know that there will always be a light”

Em uma maca vazia no corredor dos centros cirúrgicos, Taylor Willians deitava-se, pensativo, ainda com o paciente que vira mais cedo na mente.

- Neuroboy! – Lavínia encostou-se na maca. – O que foi? – Perdeu o sorriso vendo sua expressão séria.

- Um paciente... Precisa fazer uma cirurgia no coração, mas pode ter um AVC ou um tumor. – Taylor a encarou. – O que preferiria nesse caso.

- Depende do tamanho do tumor. – Lavínia sorriu. – Você não tem música?

- Meu celular descarregou. – Taylor disse desanimado.

- Não fique triste, Neuroboy... É o nosso primeiro dia. – Lavínia encostou a cabeça no ombro do rapaz. – Se a gente abaixar a cabeça pra tudo, não vamos sobreviver.

- Obrigado. – Taylor sorriu.

- Estamos no mesmo barco. – Lavínia deu um pequeno murro no ombro do rapaz.

“And if the moon had to runaway

And all the stars didn't wanna play

Don't waste the sun on a rainy day

The wind will soon blow it all away”

- Você é Taylor Willians? – A R5 Naomi Scott parou em frente aos dois e mal esperou a resposta, a descrição que Lyonn Sabiston dera do rapaz fora impecável. – O Dr. Sabiston está te esperando logo em frente.

- O que aconteceu? – Taylor perguntou quando a residente já saía.

- Os exames de um paciente chegou, nós vamos retirar um aneurisma enquanto ele monitora o coração. Anda logo... O Dr. McQueen vai estar na cirurgia e ele detesta atrasos. – A moça disse apressando-se.

- Vai lá. – Lavínia sorriu para o rapaz e ele levantou-se rapidamente para seguir a R5.

“A união faz a força; Juntos venceremos; Vários riachos formam um grande rio... Não importa a origem do ditado... O mais importante é que o mundo sabe que, sozinhos, nós nos quebramos facilmente”.

 

 


Notas Finais




Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...