“Pra quem só faz merda, cê tá no lucro.”
- Eva Mohn.- engoliu seco. – E aí, tudo bem?
Eu juro que se pudesse, jogaria uma cadeira na cabeça dele ali mesmo. Porém, minha educação falou mais alto.
- Tudo, e você? – coloquei uma mecha de cabelo atrás de minha orelha.
- Tudo bem sim, demais até. – riu pelo nariz e lhe lancei um sorriso falso.
- Aparentemente os jovens da casa já se conhecem, certo Anne? – Ida disse rindo.
- Sim, claro. – minha mãe concordou.
- Ok, vamos para a cozinha. – Ida sugeriu. – E vocês dois podem ficar aqui colocando o papo em dia.
Revirei os olhos e botei a mão na testa, suspirando. Eu realmente teria que ficar uma semana dividindo o mesmo teto com Chris?
- Pensei que você gostasse de mim. – o Penetrator tentou quebrar o clima.
- Gostava. – queria fazer um carão e sair, mas não conhecia a casa, assim, meu close falhou.
- Aquela é minha mãe, sabia? – tentou puxar assunto.
- Bonita. – achei um quadro escrito algumas coisas sobre gentileza e comecei a ler o que ali estava escrito.
- Vai ficar me ignorando mesmo, Mohn? – me virei, e ficamos frente a frente. – Vai realmente esquecer das nossas loucuras desde 2015 pra cá?
- Você esqueceu de uma amiga, acho que estamos no mesmo barco.
- Não é a mesma coisa, Eva.
- Chris, é exatamente a mesma coisa. – tirei minha touca e jaqueta, colocando em uma cadeira que estava ali perto. – Você esqueceu que eu existia e foi atrás de uma menina que você nem conhecia.
- Ciúme, tá apaixonada por mim? – riu.
- Eu tenho ódio de você por não entender que eu nem todo mundo se apaixona por você. – suspirei. – De verdade, eu era sua amiga... E pelo amor de Deus, para de ser tão idiota e ficar levando tudo na brincadeira.
- Eva, eu não levo tudo na brincadeira, começando por aí. – se alterou um pouco.
- Ah, não?
- Não, não levo. – olhou pro chão. – Eu sei que nem todo mundo se apaixona por mim, eu pensei que tivéssemos a mesma amizade de sempre, entende?
- Você poderia ter ficado todo esse tempo sem falar comigo, mas você me trocou, então nossa amizade foi pro ralo. – pisquei.
- A gente só ficava, Eva. – ele disse. – E a Emma é chata pra porra.
Confesso que quis rir, mas naquele momento, ele iria rir mais ainda de mim e me zoar pelo resto da vida.
- Não perguntei nada sobre a Emma, Chris. – disse de costas.
Ouvi um suspiro e voltei minha atenção ao quadro, que era cem vezes melhor do que ficar ouvindo merda.
- Eva, querida? – ouvi a voz forte da mãe de Chris me chamar. – Queria que você conhecesse meu marido, mas ele teve um problema com a mãe dele e não vai ficar conosco essa semana.
- Tudo bem, Ida. – disse sorrindo.
- Bom, vou te mostrar a casa e mostrar seu quarto. – sorriu. – Olha que legal, só o seu quarto. Sua mãe chata vai dormir comigo e vamos botar o papo em dia.
***
Sexta – 19:28
Acordei e olhei em volta. Tudo branco, bege e alguns desenhos.
- Bonito, bom gosto. – comentei comigo mesma.
Decidi que iria ficar por ali mesmo, deitada em uma cama enorme com meu celular.
Vilde mandou uma foto dela, de Chris e Noora na festa de Even. Confesso que senti inveja delas, mas lembrei que uma cama é mil vezes melhor do que uma festa.
- Eva, tá acordada? – minha mãe entrou.
- Não, tô morta.
- Venha jantar, estamos te esperando.
Dois minutos depois, quando desci, os três conversavam alegremente, e eu, como sempre, estava com uma cara horrível.
- Sua mãe estava me contando como ela conheceu Chris. – Ida disse. Quase caí pra trás, mas só me sentei e coloquei as mãos em meu rosto.
- Mãe, sua bocuda. – disse brincando em meio ao meu constrangimento.
- Eva, sua pornô. – retrucou e riram de mim.
Olhei para Chris, que sorria lambendo o lábio. Inferno de mania, ódio.
- Vamos comer? – Ida sugeriu.
- Vamos. – Chris respondeu.
Começamos a nos entupir de espaguete, e logo, o telefone de Chris começou a tocar.
- Com licença, moças. – e saiu.
- Eva, o que você e Chris tiveram? – Ida perguntou. – Não pude deixar de ouvir a discussão de vocês sobre a Emma.
Era difícil falar sobre isso, eu tinha vergonha. Se ele me trocou por qualquer uma, eu, Eva, não valia nada.
- Bom... – suspirei. - Tínhamos uma ótima amizade, com um pouco de cores. – ri. - Ele demonstrava interesse e do nada, me trocou por uma garota qualquer que encontrou numa mesa de comida. – disse com um pouco de receio.
- Chris cachorro. – sua mãe disse. – Meu filho é um pedaço de mau caminho.
Falando no demônio, ele aparece. Agora, com seu maxilar duro, parecia estar tenso.
- Filho, seu traidor. – Ida disse com decepção, e o resto do Penetrator ficou com a aparência confusa.
Ri da situação e ele me olhou rindo um pouco. Quando percebi seu olhar, fechei a cara e seu sorriso se desfez.
- Quero vocês dois amigos de novo. – minha mãe disse e saí da mesa sem perceber.
- Como?
- Se vira, ajeita a situação da mesma forma que você ferrou tudo.
Me tranquei no quarto e comecei a chorar. Não sabia o que era, mas ele não me faria bem ali.
Quis gritar, mas nada saiu. Nada.
- Eu sou uma idiota... Eu tô chorando por um completo babaca. – disse um pouco alto.
- Eva, posso entrar? – ouvi a voz de mamãe.
- Me deixa um pouco sozinha, por favor.
Ouvi passos se afastando e fui em direção à cama. Peguei meu celular e comecei uma chamada de vídeo com Noora.
- Noora?
- Eva, o que aconteceu? – vi William atrás dela.
- Eu tô atrapalhando? – percebi que o rosto de seu namorado também estava tenso.
- Não, nunca. O William tá atrapalhando? – balancei a cabeça negativamente.
- Vocês sabem o que aconteceu comigo e com o Chris, né? – perguntei e eles assentiram, atentos. – Ele e eu estamos na mesma casa, nossas mães são amigas de infância... E elas sabem de tudo o que aconteceu e querem que nós sejamos amigos de novo.
- Você não quer, Eva? – foi a vez de William falar.
- Não, eu não sei. Só de pensar na ideia meu corpo me jogou pra fora da mesa e eu vim parar aqui no quarto pra chorar.
- Ok, vamos fazer assim: você não conta mais detalhe nenhum pra elas, e não desabafa com ele que vamos dar um jeito. – Noora diz e William concorda.
- Tarde demais. – ri.
- Tudo bem, vai. – William disse.
- Só faço merda, que ódio. – me xinguei mentalmente e suspirei.
- Nossa, então pra quem só faz merda, você tá no lucro. – William brincou e não pude deixar de dar uma gargalhada.
- Ok, obrigada gente. De verdade. Vou me virar aqui. – disse. – Beijo, beijo. – mandei beijo no ar e eles “pegaram”.
- Tchau, Eva. Qualquer coisa, liga.
***
Sábado – 09:28
- Bom dia, fofoqueira. – Chris sorriu.
- SAI DAQUI! – gritei.
- Para de gritar, na moral. – disse sério. – Quero conversar...
- Fala logo.
- Eu não dormi a noite, só pensando em tudo que eu já fiz de mal pra você. E olha, me desculpe... Eu fui um babaca, não queria te expor desse jeito e muito menos te trocar, mas foram coisas que eu não escolhi, foi tipo ontem quando você correu pra fora da mesa e veio chorar e gritar aqui.
- Eu não acredito em você, agora sai. – me virei.
Queria acreditar, mas simplesmente não conseguia. Era tudo tão confuso pra mim.
- Para com isso, vai. – Chris me cutucou. – Já falei tudo isso e você ainda não confia em mim?
- Você não passou a noite toda sem dormir por minha causa, mentiroso. – me virei para ele. – Eu posso te odiar agora, mas infelizmente eu te conheço e sei que isso aí foi decorado.
- Você é difícil, se faz, fez curso ou os três? – perguntou.
- Nenhum, vai embora. Tá aqui ainda por quê?
- Eu vou embora, pode deixar. – andou até a porta, e antes de fechar, virou pra mim. – Não vou desistir de você, e nós temos uma trilha hoje, sofra.
Chris sorriu e fechou a porta. Se eu pudesse, me jogaria no mato e ficaria ali pra ninguém me achar.
Era difícil, mas ninguém entendia. É muito bom ver alguém demonstrando interesse por você, principalmente quando se é insegura. Porém, de um minuto pro outro, você é totalmente esquecida. Estranho, chega a me embrulhar o estômago.
- Inferno. – resmunguei.
- Inferno o que, Eva? – mamãe entrou no quarto e se sentou do meu lado.
- Chris, Chris e Chris. – respondi rolando os olhos.
Minha mãe riu e disse:
- Nada na vida é colorido, já te disse isso. Entenda.
- Vai embora, mãe. Eu não quero a companhia de ninguém até o Chris vir me chamar pra fazer trilha com ele. – cobri minha cabeça e soltei um berro.
- Acho que vocês vão se perder, Eva. – seu tom mudou.
- Por?
- Porque ele não conhece isso aqui direito, e choveu há pouco.
- Diz pra ele que eu não vou, então. – sorri de cabeça coberta.
- Ok, vou deixar você dormir mais... Deixa eu ver. – deu uma pausa. – Quarenta minutos.
- Tá me zoando ou o que? – tirei a coberta de meu rosto e lhe olhei revoltada.
- Para de reclamar, chata. – me deitei de novo e dormi.
***
Quarenta minutos depois...
Ouvi a porta abrindo e pensei: Mamãe chata. Pois bem, não era a mamãe, e sim pior: meu “melhor amigo” Chris.
- Puta merda, eu quero ir embora daqui. – reclamei.
- Sua mãe me disse que você não iria fazer trilha comigo. – disse calmo. – Não vou te matar e enterrar seus restos. – riu.
- Não é isso, mas vou considerar como mais um motivo pra não confiar em você. – pisquei e vi Chris rolando os olhos.
- Você é muito chata, como se aguenta?
Dei os ombros. Precisava ficar dando satisfações pra gente chata?
- Enfim, Eva Mohn. – revirei meus olhos. – Sabe a ligação que recebi ontem? – assenti com tédio. – É sério, e preciso da sua ajuda. Cê topa?
- Por quê eu toparia? – perguntei dando um sorriso falso.
- Pelo seu próprio bem e eu paro de te encher o saco. – sorriu sacana e piscou o olho.
- Fechado.
- Fechado.
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