“Sou desse jeito mesmo, meio perdida, meio louca.”
- Fechado.
- Fechado.
***
Há muitos anos atrás, se eu fosse fazer uma trilha, iria dizer: “Sim, papai, vamos! Estou louca para andar!”, mas hoje não. Especialmente hoje. Ter Chris ao meu lado durante uma trilha seria uma tortura, porém, seria a última.
Tirei coragem do inferno e levantei da confortável cama em que estava. Segui para o banheiro, escovei os dentes, tomei banho e passei um pouco de rímel.
Me vesti com três blusas de frio e uma calça de moletom justa, porque no meio do mato é frio e o tempo já estava quase me matando congelada.
Desci as escadas lentamente, queria aproveitar cada segundo sem o Chris, mas hoje não rolou.
- Vamos, Eva? – perguntou sério sem me olhar, respondendo uma mensagem no celular.
- Vamos, né. Fazer o que? – terminei de descer os últimos quatro degraus.
- Larga de ser chata, se ficar me enchendo o saco te largo lá no meio. – Chris disse sério e saiu andando na frente.
Fechei a porta após sair, e corri um pouco para poder acompanhá-lo. O moreno continuava no celular e seu rosto estava com a aparência tensa.
- Alô? – estalei meus dedos na frente do celular. – Não vai me dar atenção?
- Espera aí, Eva. Tô resolvendo umas coisas. – ele disse sem tirar a atenção do aparelho.
- Como seu celular funciona aqui? – perguntei.
- Sei lá.
Bufei e diminuí meus passos, assim, ficando um pouco atrás dele e podendo o seguir. Eu realmente queria saber como o celular dele funcionava aqui, o meu só dentro de casa e olhe lá.
Logo, Chris recebeu uma ligação.
- Diga... Não, lógico que não. Eu tô ocupado... – bufou. – Olha como você fala comigo, se não fosse por mim você nem estaria falando agora, mal agradecido.
Peguei meu celular para ver o quanto de sinal eu tinha, e já esperava por isso: Nada. Bufei e continuei seguindo Chris, que parou do nada enquanto falava ao celular.
- Eu não tenho como sair daqui, desculpa. Não, não e não! – aumentou seu tom de voz. – Finge que eu morri, cara. Some da minha vida.
Logo, desligou o celular e levou suas mãos à cabeça. Em seguida, bufou e suspirou. E ficou em silêncio por longos minutos.
- A gente pode remarcar... Se quiser. – tentei quebrar o gelo.
- Não, Eva. Vamos continuar. – respondeu rápido. – Eu comecei tudo isso, e eu vou acabar com tudo isso.
- O que seria o “tudo isso”?
- Nossas brigas. – disse confuso olhando pro céu. – Sei lá, coisas negativas relacionadas a nós.
- Ah sei. – ri.
- Sabe? – perguntou olhando para mim.
Assenti.
- Então por quê tá rindo? – dessa vez se virou para trás e parou.
- Porque é engraçado, ué.
- Você é muito estranha, Eva. Mas eu gosto de você. – sorriu.
- Sou desse jeito mesmo, meio perdida, meio louca.
- Eu sei disso. – respondeu. – Não precisa ficar agindo como se estivéssemos em nosso primeiro encontro.
- Nunca tivemos um encontro, lembra?
- Lembro, por quê a gente não tenta marcar um? – perguntou sorrindo.
- Não rola, você namora. Já apanhei de uma namorada sua, chega. – eu disse, fazendo Chris fechar a cara e continuar a andar. Desta vez, fiquei ao seu lado.
- Sabe de uma coisa? – olhou para mim e acenei negativamente com a cabeça. – Eu não sei porquê estou com a Emma.
- Ah, essa eu sei. – ri. – Quer que eu te lembre?
Chris rolou os olhos e os fechou, bufando em seguida.
- Você realmente não cansa de ser chata? – perguntou sem me olhar.
- Bom, pode ter toda certeza: não! – disse rindo. – Mas, Chris, eu não sou chata. Apenas realista.
- Eva, eu posso me abrir com você? – ia responder, mas fui interrompida. – Eu não sou o cara mais fiel do mundo, não sou o mais bonito, não tenho nenhuma chance com você, e bom... Eu poderia ter, né? – riu e me olhou. Continuei séria olhando pro chão, só ouvindo.
- Prossiga.
- E olha, de verdade, a gente podia pelo menos ter uma convivência boa, né?
- Chris. – parei na sua frente. – Por mim, tudo ok. Mas eu sei que você vai tentar alguma coisa “a mais” e eu também.
- Então a gente tenta, ué. – respondeu como se fosse óbvio. – Eu namorando é a mesma coisa de eu solteiro.
- Você é um babaca.
- Brincadeira, Eva. Mas vamos tentar, ok? – assenti.
- Só tentar. – lhe disse.
- Ok, mudando de assunto. Eu tenho um lugar pra te mostrar, demora uns dez minutos se andarmos rápido.
- Então me mostre.
Começamos a andar um pouco mais rápido, e fiquei atrás de Chris, por conta do espaço entre as árvores ser pequeno. Uns quinze minutos depois, ouvi um barulho de água, e vi Chris abrindo caminho entre duas árvores, revelando uma enorme cachoeira.
- Faz tempo que eu não venho aqui. – ele disse colocando seu celular no chão. Em seguida, tirou sua roupa, ficando apenas de roupa íntima.
Observei as árvores em minha volta, e ouvi um barulho alto. Ao olhar, vi Chris na água.
- Não vai entrar, menina Eva? – perguntou.
- Não, tá frio. – respondi. Ouvi sua risada. Logo, saiu da água, me pegou no colo e me ameaçou jogar na água. – CHRISTOFFER, SE VOCÊ FIZER ISSO, COMO EU VOLTO?
- Não vou fazer nada, Eva. – ele disse rindo. – Calma, deixa eu me vestir e a gente já vai.
Ele se vestiu em trinta segundos, pelas minhas contas. Senti seus braços em minha cintura e em seguida depositou um beijo em minha bochecha. Sorri com sua atitude.
- Que bonitinho. – disse.
- Uhum. – saiu de trás de mim e ficou na minha frente. Seus braços entrelaçaram minha cintura – de novo –, sorri novamente, até perceber o que estava acontecendo.
- O que você tá fazendo, Chris? – perguntei quase sussurrando.
- Nada. – me deu um selinho demorado.
- Mas que... merda? – perguntei pra mim mesma o vendo sair.
Corri atrás dele e seguimos até a casa, em silêncio. Mil coisas passavam pela minha cabeça; como era injusto com Emma, comigo, e fiquei com raiva de mim. Chris não tinha o direito de fazer isso, mas infelizmente eu gostei, então não iria lutar contra aquilo.
- Desculpa, Eva. – me olhou nos olhos. – Eu precisava daquilo, ou de você. – olhou pro céu confuso. – Esquece, só me desculpa.
- Tudo bem, eu também precisava daquilo. – ri.
Alguns minutos depois, tipo uns quarenta, chegamos à casa. Subi e coloquei meu celular para carregar e mandei uma mensagem para as meninas escrito: “Babado fortíssimo, depois nos falamos.”
Desci novamente, aquele selinho me deixou animada, até eu ver Ida chorando com o telefone na mão e pegando chaves aleatórias.
- Ida? – me olhou e balançou a cabeça negativamente. – Ida! Chris, mãe! – gritei.
Mamãe desceu as escadas acompanhada de Chris, que me olhava confuso até ver sua mãe.
- Mãe, o que foi? – tirou o telefone e as chaves da mão dela, colocando-os em cima de uma mesa. Lhe abraçou de lado e a levou para o sofá. Sentou-se ao lado dela e Ida se sentiu confortável, assim, se acalmando e podendo falar.
- O Hamar... levou um tiro, Chris. Seu pai. – ela se desesperou mais ainda e Chris lhe abraçou, ficando meio chocado.
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