C i n e s e
O copo de whisky em minha mão refletia meu rosto pálido é o nariz avermelhado.
Eu estava péssimo.
Definitivamente, voltar pra casa na chuva não havia sido uma boa idéia.
Ah, meu rosto lindo se tornou uma toalha amassada! Droga.
- Você está bebendo whisky?! No trabalho?! Aonde achou isso?
Shi Sun adentrou a cozinha de manhã, ela havia acabado de acordar. Meu corpo se encontrava sentado perto do balcão e até mesmo havia pegado um cobertor no sofá e colocado em volta de mim.
- Estava por ai. É um clássico, sabia? - Examinei a garrafa. Depois olhei para ela novamente, seus cabelos estavam totalmente desgrenhados é o rosto inchado.
- Mas o que... - Ela tirou a garrafa e o copo de mim - Não se deve beber no trabalho, Jaewon!
- Uh, está falando comigo informalmente? Interessante... - Funguei, balançando a cabeça.
- Devo falar formalmente? Ah, disso eu não sabia... Afinal, você é tão próximo da família que abriu seu próprio whisky - Ela sorriu, satisfeita.
Bufei, virando minha cabeça, não evitando um crise de espirros. E quando eles acabaram, tive de me debruçar sobre o balcão, aquilo tirava minhas energias.
- Está tudo bem? - Ela perguntou.
- Você não precisa ir pra aula? Faculdade?
- Eu acordo mais cedo do que deveria - Ela cruzou os braços, se aproximando de mim - O que você tem? Parece que está de ressaca.
- Como eu desejava que fosse - Levantei a cabeça e funguei mais uma vez - Por maia que eu beba barris de álcool, eles não causam nem mesmo tontura em mim. Na verdade... Eu fui pra casa na chuva ontem.
Ela soltou uma risada nasalada e balançou a cabeça, virando-se para o fogão e colocando a chaleira de água para esquentar.
- Vou te preparar um chá então. Mesmo que a bebida não te afete, não faz bem pela manhã.
Agora passamos de segurança e cliente para mãe e filho.
Argh, o mau humor se instalava em mim como doença, desde ontem, quando soubera
que Three estava voltando. Era inevitável. Eu realmente não queria descontar em ninguém, mas não podia me segurar, simplesmente isso. As vezes nem mesmo eu me suportava.
Meu deus eu precisava, só um pouco, mesmo que uma migalha daquele maldito LSD agora. Eu necessitava.
- Ei, hum... Eu queria agradecer por ontem?
Levantei minhas sobrancelhas, encarando seu rosto. Shi Sun mantinha o olhar no chão e parecia realmente ser sincera no que dizia.
- Agradecer? Eu não fiz nada demais...
- Ai meu Deus você nocauteou aqueles três caras! - Ela tomou uma expressão de surpresa - E eu não sabia aonde estaria agora se não fosse você.
Ela encolheu os ombros como se estivesse com frio, ainda usava seu pijama. Passou as mãos pelos ombros, seu olhar desviou para o chão como se relembrasse dos momentos no beco da noite anterior.
- Ei Sun... Está tudo bem, não precisa se preocupar.
Ela olhou pra mim um tanto surpreendida pela generosidade me minha voz, até mesmo eu. Mas senti que ser gentil naquele momento era necessário, ela estava com medo.
- Obrigado - Sorriu, deixando os braços soltos dessa vez.
Um momento de silêncio se instalou no local, mas logo a voz de Shi Sun preencheu sua cozinha novamente.
- Agora, me diga aonde diabos aprendeu a lutar daquele jeito!
- Uh, eu sou um guarda costas, deveria saber lutar, certo?
Dessa vez, fui eu que sorri, involuntariamente, mergulhado na ingenuidade da garota, quase como se ela tivesse roubado o sorriso de mim.
- Certo, mas... - Ela ficou sem palavras - Foi tipo uma cena de um filme de ação!
Balancei a cabeça, estalando a língua e voltando a encarar seus olhos novamente. Ela fez o mesmo, os olhos escuros se fixaram em mim e mais uma vez notei a curva de seus lábios que não havia notado se fosse uma conversa rápida.
A água então apitou, como quebra na conversa ela se virou rapidamente, agarrando a chaleira e em seguida uma xícara, colocou o chá e despejou a água quente.
- Aqui - Completou assim que seu pai adentrou a cozinha, arrumava a gravata azul no pescoço.
- Senhor Mae - Me levantei rapidamente, fazendo uma reverência respeitosa.
- Bom dia - Ele disse, sorrindo e tocando o ombro da filha, abrindo a geladeira em seguida - Jaewon, Shi Sun me contou sobre o que aconteceu ontem à noite.
Meu corpo gelou, totalmente, tanto que, necessitei segurar minha xícara de chá com as duas mãos. O problema não era ela ter contado, mas o quanto ter contado.
- Ela... Contou?
Encarei a garota, ela preparava seu café da manhã e não ligava muito para a nossa conversa.
- Sim, disse que você foi muito bom em lutar com aqueles caras no beco, e ainda por cima ajuda-la com os curativos, e claro, traze-la pra casa depois.
Meus ombros se aliviaram, totalmente. Sorri desajeitado, tomando.mais um gole de chá, ele não havia acabado sua fala então me mantive em silêncio.
Enquanto isso, Shi Sun deixou algumas torradas na torradeira e disse para o pai que iria subir para trocar de roupa. E no momento que a garota chegou no andar de cima. Chin Mae colocou a mão em meu ombro e disse.
- Jaewon, eu quero que saiba que é um ótimo rapaz.
- Uh, o quê? - Juntei minhas sobrancelhas.
- Você é um ótimo rapaz, e mesmo que esteja trabalhando à pouco tempo pra mim eu confio em você.
A confusão se instalou ainda mais em mim, ainda mais, porque era totalmente irônico. O homem que eu devo matar me elogia e diz que confia em mim.
- Obrigado, senhor - Dei uma pausa - Mas o que está querendo dizer?
- Estou querendo dizer que pode namorar minha filha, oras - Bateu de leve a mão em meu ombro.
Enquanto me recompunha das tosses instantâneas, ele soltava uma risada.
- Senhor, eu não... Shi Sun não faz muito bem o meu ti...
- Ah o que é isso? Acha que eu não notei o jeito que vocês conversam?
Esse cara estava louco? Aonde eu fui me meter?
Shi Sun desceu as escadas enquanto Chin Mae voltava a preparar seu café. De acordo com sua agenda, ele trabalharia apenas um turno hoje, então chegaria em casa bem mais ccedo inclusive, mais cedo que Shi Sun.
E o meu plano já estava feito.
»«
Era final de tarde, eu estava na sala de câmeras junto com outro segurança. Passava o dia inteiro naquela cabine e eu sabia que a qualquer momento ele iria para o horário de intervalo.
E assim foi feito, ele disse que fumaria um cigarro lá fora e assim que ele saiu daquele pequeno quarto, eu passei a observar a tela do monitor que mostrava o quarto de Chin Mae.
Não havia esposa, o cara era sozinho.
Deitou e dormiu, cansado do trabalho. Em seguida, eu também me levantei da cadeira e fui até a cozinha, agarrei a maior faca de carne que encontrei e caminhei silenciosamente na direção do quarto do policial.
Adentrei sutilmente, sem fazer barulho. O corpo relaxado dormia sobre a cama, ele nem mesmo gritaria.
Em silêncio, apontei a faca para seu pescoço, encarando o ponto onde eu acertaria.
"Eu confio em você"
Balancei a cabeça ao sentir essa frase latejar em meus pensamentos, lembrando-me da conversa que tivera com ele de manhã.
De alguma forma aquela frase havia me afetado.
Meu Deus eu já havia sido um agente especial, qual era meu maldito problema?
"Você é um ótimo rapaz"
Eu tinha vontade de pisar no chão, com força, totalmente indignado, mas se fizesse isso, Chin Mae acordaria.
Eu recolhi a faca e a deixei na cozinha novamente, batendo a mão no mármore do balcão, com raiva de mim mesmo. Por que eu simplesmente não conseguia matar o cara?
Meu celular vibrou, me obrigando a sair do transe inquieto. Respirei fundo ainda completamente irritado, era uma mensagem.
Desbloqueei o celular, praticamente o jogando na parede assim que li o que a mensagem dizia.
"Sentiu saudades?
-Three"
Tenho que voltar a ser o One.
»«
Cinese: Sensação de inquietude que um ser vivo pode apresentar com um estímulo externo.
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