História Lírio Branco - Bromélia

•°* Jung Hoseok *°•

Acordei um pouco antes das sete horas — segundo o horário do meu celular. Fiquei um tempo parado apenas olhando para o teto, quando me lembrei do que havia acontecido na noite anterior. No mesmo momento me virei e vi que Yoongi ainda dormir plenamente ali, no colchão ao lado da minha cama.

O alfa dormia tranquilamente e eu já apoiava minha cabeça nos braços cruzados sobre o colchão. O rosto do Min era sereno e seria um pecado não admitir a beleza presente em cada um de seus detalhes. Sorri enquanto gravava a feição do mais velho em minha memória.

Lembrei que o acompanharia em sua tatuagem hoje, me animando internamente. Era muito bom conseguir conversar com o alfa sem que a atmosfera se tornasse mais fria, ou a inexpressão em seu rosto fizesse com que eu me sentisse tenso. Ter uma ligação de amizade com o mais velho era, acima de tudo, reconfortante.

Yoongi se mexeu, contorcendo sua feição em uma careta que oscilava entre a raiva e o medo. Seu peito passou a subir e descer rápido por conta de sua respiração e palavras desconexas saíam de sua boca em murmúrios ao que em suas têmporas minavam suor gradativamente.

— Não... s-sai, eu n-não... — isso me pareceu terrivelmente familiar, como naquela noite onde eu adentrei seu quarto de madrugada. Yoongi estava tendo o mesmo pesadelo daquela vez. — Omma...

Meu cenho franzia ao que eu me sentia cada momento mais aflito pela forma sôfrega que ele era atormentado por aquelas possíveis lembranças e quando percebi, já estava ajoelhado ao lado de seu colchão pensando no que eu poderia fazer. Seria melhor acordá-lo?

Mordia meu lábio inferior na tentativa de calcular meus próximos movimentos, mas na verdade eu não tinha muita certeza de como fazer. Por instinto alojei minha mão em sua testa úmida, descolando os cabelos que grudavam ali em uma atitude cuidadosa. O alfa resmungou novamente, dessa vez relaxando um pouco sua expressão contorcida.

Meu próximo passo foi segurar a mão que apertava o lençol com força desmedida, tentando passar algum tipo de conforto. Não queria despertar Yoongi com brutalidade, dessa forma passei a chamar seu nome de maneira branda.

Foram necessárias algumas tentativas até que os olhos pequenos e inchados se abrissem e me encarassem. Ao contrário do que eu imaginei — xingamentos, expressões raivosas e até a expulsão do meu próprio quarto —, Yoongi me olhou aliviado e apertou minha mão me puxando em seguida.

Senti meu coração disparar à medida que me ajeitava nos braços tatuados. Yoongi me abraçou forte enquanto sua respiração normalizava batendo em minha nuca de maneira lenta, causando-me um arrepio que irradiava por todo o meu corpo. “É culpa da minha classe!”, era o que eu tentava me convencer, já que por ser ômega seria normal que meu corpo reagisse às atitudes de um alfa — ainda mais com a proximidade de seu toque.

Não sei dizer quanto tempo durou, mas ao julgar pelo ressonar tranquilo, Yoongi havia dormido novamente. Fiquei ali mais um pouco apenas pela certeza, me virando com cuidado e constatando que minha hipótese era real. Me livrei calmamente de seu aperto, ajeitando-o no emaranhado de cobertores e saindo do quarto para a cozinha.

Decidi preparar um café da manhã para o alfa ao que o palpitar no meu peito necessitava ser distraído.

•°*~☆~*°•

Perto das nove da manhã Yoongi desceu até onde eu estava. Seu rosto ainda estava inchado por conta do despertar recente e eu não sabia se ele se recordava do acontecido de poucas horas antes. Resolvi deixar tal coisa de lado, indicando a mesa que já possuía o prato com panquecas e as xícaras já dispostas.

— O café está quase pronto, pode sentar ali que eu já levo para a mesa. — lhe sorri sentindo minhas bochechas, e todo o meu rosto, esquentarem.

— Tudo bem. — seu tom era ameno, muito diferente do que eu estava acostumado a ouvir. Por mais louco que isso possa parecer, Yoongi parecia mais pacífico nessas últimas horas do que eu já presenciei desde que cheguei aqui. — Está animado para se tatuar hoje? — puxou assunto ao que eu me sentava à mesa e colocava ali o café pronto. O alfa sorriu para mim enquanto nos servia em nossas xícaras.

— Me tatuar? — arqueei uma sobrancelha. — Pelo que eu me lembro, não foi isso que combinamos... — ri com sua brincadeira e ele me acompanhou.

— Sim, mas se sentir vontade, não hesite. — aquele sorriso acolhedor se mostrou para mim e eu senti como se estivesse conhecendo o verdadeiro Min Yoongi naquele momento.

— Pode deixar que eu não irei. — retribuí o gesto e passei a bebericar o líquido fumegante.

O restante do café da manhã foi repleto de conversas sobre a nova tatuagem do alfa e risadas agradáveis.

•°*~☆~*°•

E pela segunda vez lá estava eu atarracado à cintura do alfa enquanto ele pilotava a moto pelas ruas de Seoul. Não conseguia esconder o sorriso que rasgava o meu rosto ao provar novamente daquela sensação libertadora em tão pouco tempo e me sentia feliz ao ver os pescoços virando para acompanhar a Harley e seu ronco rouco no meio do caminho até o estúdio de tatuagens que o mais velho frequentava. Vez ou outra ele se virava para me verificar e nossa troca de olhares cúmplices denunciavam o quanto eu estava amando estar ali.

Quando Yoongi estacionou, pude ver o estabelecimento com as portas de vidro e um neon logo acima das mesmas escrito “Golden Cobra Estúdio” em vermelho e abaixo “Bodypiercing and Tattoo” em azul. Ali de fora era possível vislumbrar o balcão da recepção.

— Vamos? — o alfa perguntou e empurrou minhas costas levemente ao que andava próximo em direção à entrada do lugar tão conhecido por ele.

Assim que entramos eu pude visualizar com mais precisão o local. Tudo era organizado e limpo. As paredes possuíam um tom frio e um sofá de couro vinho espaçoso era acoplado à uma das paredes. Vi que ao lado havia uma pasta enorme aberta e ao chegar mais próximo percebi ser um catálogo com os desenhos diversos para tatuar. Tudo parecia aconchegante, tornando o lugar muito agradável. O que só aumentou com a chegada de um rapaz sorridente e alto de cabelos vermelhos. Pelo cheiro dava para perceber que ele era um ômega.

— E aí, Yoongi? — o garoto cumprimentou com um manear de cabeça, recebendo um sorriso largo do alfa que logo se aproximou e apertou sua mão em um torque firme. Era nítido que os dois eram amigos e mesmo sem querer, eu acabei sentindo minha boca amargar.

— Como está, Chanyeol? — se apoiava ao balcão ao que ainda trocava sorrisos com o falso ruivo.

— Bem. — suas bochechas coraram um pouco, o que me deixou irritadiço, coisa que só piorou quando ele olhou para mim e me mediu de cima a baixo me analisando. — Veio acompanhado hoje? — sorriu gentil e eu não soube dizer se era verdadeiro ou não. Eu não o conhecia e ler alguém que acabamos de conhecer não é lá a coisa mais fácil do mundo.

— Sim. Esse é Jung Hoseok, meu companheiro de república. — senti toda a irritação ir embora quando o alfa me encarou e sorriu com um brilho diferente que eu não sei explicar, mas esquentou minhas bochechas.

— É um prazer te conhecer, Hoseok. Sou Park Chanyeol. — ele estendeu a mão para mim e eu não tive escolha senão fazer o mesmo e lhe cumprimentar. — Você é fofo. — sorriu para mim e eu quase travei ali sem saber como responder.

— Obrigado... — agradeci e Yoongi pigarreou, chamando atenção.

— Então?

— Vai fazer algum piercing também ou só a tatuagem? — Chanyeol voltou sua atenção para o mais velho, dessa vez mais sério.

— Não estou a fim de me furar hoje. — o alfa respondeu.

— Bom, Zitao está terminando um rabisco no alfa dele, já o Baek está livre, por isso perguntei sobre o piercing.

— E vocês não estão se pegando ainda? — Chanyeol riu nervoso enquanto seu rosto e seu cabelo se tornavam um.

— Min Yoongi, pare já de constranger o meu ômega. — uma voz soou e eu que imaginei um alfa imponente acabei me surpreendendo com um rapaz baixinho e com traços delicados. — Se não parar, vou começar a constranger o seu. — ameaçou e eu tive de tossir, tamanha a vergonha que pinicava meu rosto.

— Cala a boca, Byun. — Yoongi disse firme, recebendo um sorriso vitorioso do garoto que logo agarrou a cintura do ômega alto puxando sua camisa para baixo e selando seus lábios aos dele, coisa que deixou o rosto de Chanyeol ainda mais vermelho — se é que isso era possível.

— Vim aqui avisar que o China já terminou, pode entrar que ele está te esperando. — o alfa loiro indicou o interior do estúdio com um manear de cabeça e parando para reparar, seu rosto era repleto das pequenas joias metálicas.

Yoongi assentiu e se virou para mim, sorrindo e logo virando as costas e entrando corredor à dentro. Mesmo que ele não dissesse nada, eu sabia que ele tentava me confortar dizendo de forma silenciosa que em breve ele voltaria. Sorri de volta mesmo que ele não fosse ver, por um minuto esquecendo que eu não estava sozinho naquele lugar.

— E aí, ômega. Vamos fazer um piercing hoje? — o alfa baixinho sorriu e logo passou a morder um dos piercing que ele possuía no lábio. — Faço um precinho especial já que você é o ômega do Min. — meus olhos se arregalaram e eu senti meu ar faltar.

— N-não sou o ômega dele... s-somos só... amigos. — confessei me amaldiçoando por gaguejar, ganhando uma gargalhada do alfa.

— Eu e o Yeol também éramos só amigos... — vi que o ômega alto o cutucava pedindo para que o tal Byun parasse. — E eu falei alguma mentira, Chanyeol? Eu hein... — repreendeu o ômega que teve um bico formado. — Mas não brinquei sobre o piercing. Vem cá que eu te mostro o catálogo. — chamou de maneira animada e eu acabei cedendo e me juntando ao casal diferente. — À propósito, sou Byun Baekhyun. — sorriu de maneira fofa e se não fosse seu cheiro lhe denunciando, qualquer um diria que ele era um ômega. Retribuí o sorriso.

— Sou Jung Hoseok.

•°*~☆~*°•

Não sei que coragem que me deu, mas quando vi aqueles piercings dos mais diferentes tipos, eu precisei fazer algum deles. Depois de todo o encorajamento do casal, lá estava eu deitado esperando Baekhyun passar aquele cateter naquela arte tão sensível do meu corpo: o mamilo.

Eu me vi tentado a fazer vários, mas o que mais me chamou a atenção foi o no mamilo. Para me tentar ainda mais a fazer, o alfa ergueu a camiseta que usava e me mostrou os que ele possuía. O Byun tinha nos dois botões as argolinhas metálicas.

— Para um primeiro piercing é melhor que seja um desses aqui. — me mostrou duas joias, uma reta com duas bolinhas — uma em cada ponta — e o outro com spikes nas duas extremidades.

— Esse. — apontei para o de bolinhas. Baekhyun sorriu e assentiu.

— Vou esterilizá-los, relaxe que daqui a pouquinho eu volto para começarmos. — ele sorriu e eu assenti.

Chanyeol ficou conversando comigo e me tranquilizando, além de pedir desculpas pelas palavras atrevidas do marido — os dois estavam atados desde o ensino médio. Quando Baekhyun voltou, ele pediu para que eu tirasse a camiseta. Ao contrário do que eu achei, o clima não pesou e era perceptível que Baekhyun encarava meu tronco de maneira unicamente profissional.

— Vai doer um pouquinho, ok? — eu assenti já me arrependendo e eu tinha certeza que meu rosto transbordava insegurança. Baekhyun já estava com as luvas e a máscara, já havia marcado onde seria o furo e o cateter já estava em sua mão. Seus olhos encararam os meus e eu quis desistir. — Pensa que quando cicatrizar, Yoongi vai poder brincar bastante. Chanyeol adora os meus e quando ele puxa com os dentes... é uma delícia! — ele falou, ocupando a minha mente e deixando minhas bochechas doendo de tanta vergonha.

— Só... vai logo com isso. Pelo amor de Deus! — o alfa riu e negou com a cabeça.

— Enquanto você virava um tomatinho, eu passei o cateter, tirei e rosqueie o piercing, Hoseok. — franzi o cenho e olhei para meu mamilo que tinha a joia metálica transpassada ali.

— Wow... ele é... lindo! Eu adorei, obrigado Baek! — agradeci ainda admirado com meu novo piercing, levando meus dedos ao local, tocando levemente e sentindo a ardência da dorzinha. O local estava vermelho.

Senti uma aura libidinosa, entretanto eu sabia que não vinha de Baekhyun. Olhei para a porta e Yoongi me encarava e seus olhos possuíam uma coloração puxada para o carmesim.

Meu rosto queimava sob o seu olhar. Ele observava cada pedaço do meu tronco nu sem mover uma parte sequer do seu corpo.

•°*~☆~*°•

O caminho para casa foi tenso e silencioso. Eu não sabia o que falar e aparentemente nem ele. Ao chegar corri diretamente para o meu quarto, batendo a porta e me jogando na cama. O que foi que aconteceu?

A porta se abriu e ao olhar para cima eu encontrei seus olhos. Eles ainda possuíam um brilho desconhecido que afetava o meu corpo de uma maneira misteriosa.

— O que foi? — minha pergunta saiu baixa e entrecortada, o que combinava com meu estado naquele momento.

Ele caminhou até para na minha frente, ajoelhado. Seu hálito mentolado batia em meu rosto arrepiando a minha pele. Seus dedos magros tocaram a pele quente da minha bochecha e antes que eu percebesse seus lábios estavam grudados no meu.

Sabe o clichê que contam em livros? Sobre borboletas no estômago? É exatamente isso que estou sentindo nesse momento.

Seu beijo era delicado, molhado... lento. E eu tremia sentado no colchão.

Mas antes mesmo que eu conseguisse beijá-lo de volta ele saiu porta a fora me deixando com o rosto quente e um batucar apressado dentro do peito.