História Lírio Branco - Gladíolo

Apertei minhas mãos uma última vez na alça da grande mala frente ao meu corpo, e toquei a campainha. Uma voz falou do outro lado do interfone, levemente embargada pelo que eu julguei ser sono.

- Hm, quem é?- engoli em seco, meu nervosismo não me ajudava em nada, agora com essa ansiedade tornava as coisas ainda piores.

- Meu nome é Jung Hoseok, o novo inquilino. – disse simples, enquanto forçava um sorriso na pequena câmera junto ao aparelho de identificação.

- Ah, sim. Jin falou de você. – me surpreendi pela intimidade com a qual ele se referia a Seokjin. Deve ser o seu alfa, pensei. – Só um momento que eu vou mandar alguém aí para abrir a porta pra você. – e dito isso, nossa breve conversa teve seu fim.

- Ok... – murmurei para mim mesmo. Lembro-me de Seokjin ter dito que seu alfa era atencioso e animado, só um pouco desastrado, mas que –segundo suas próprias palavras- o deixava ainda mais fofo do que já era em sua personalidade. Talvez não seja ele que tenha falado comigo, ponderei. Afinal, quantas pessoas moravam nessa casa?

Teria divagado por mais tempo, se não fosse o som do portão sendo destravado. E um garoto de cabelos lilases com um sorriso retangular do outro lado, me encarando aparentemente alegre, porém com um real olhar de desprezo.

- É, oi! Sou Jung Hoseok, o novo inquilino. – tentei um sorriso simpático estendendo a mão direita.

- É claro que é. – aquilo soou absurdamente sarcástico enquanto seu sorriso ainda predominava em seu rosto, e mesmo o garoto sendo com toda a certeza um ômega, me encolhi levemente com o tom de suas palavras, e do modo natural como ele ignorou completamente meu aperto de mão. – Vamos, entre. – engoli em seco, assentindo.

O caminho parecia único, então antes que aquele garoto -que eu julguei ser Taehyung pela conversa com o Kim- me dissesse mais palavras sarcásticas ou que começasse com as piadinhas por eu sentir-me tão deslocado e sem graça perto de si, segui em direção à entrada da grande residência. Eu havia passado por momentos constrangedores a minha vida toda, e depois de tanto me deixar levar pelo sentimento ruim que os mesmos me proporcionavam, eu comecei a “entrar no jogo”, rindo das brincadeiras, e até fazendo piadas comigo mesmo. Foi bom, já que isso diminuiu em cem por cento o modo como me tratavam, e eu acabei por fazer alguns bons amigos. Mas ali, naquele momento, eu me sentia encurralado por Taehyung, já que eu o acabara de conhecer, e ele já dava indícios que abominava minha presença ali, por esse motivo me apressei.

O garoto me alcançou, abriu a porta e entrou, isso sem olhar para mim em momento algum.

- Com licença... – minha voz soou como um sussurro, já que a vergonha que eu sentia era quase que incontrolável.

- Oi? Quem é você? – um garoto um tanto baixinho perguntou sentado no sofá. Taehyung logo sentou em seu colo, sorrindo para mim. Ri soprado. Então era isso, o garoto estava com ciúmes por eu vir morar aqui, e ser ômega. Deixei essa particularidade de lado, fitando o garoto que abraçava Taehyung pela cintura e encostava a cabeça em seu ombro.

- Jung Hoseok, o novo inquilino. – quantas vezes eu teria de repetir essa mesma frase? Porém não poupei um sorriso amigável.

- Ah sim! Jin hyung falou de você. Eu sou Park Jimin. – o garoto sorriu, e seus olhos praticamente sumiram com o ato. Seu cheiro era forte, e tive certeza que se tratava de um alfa.

- É um prazer conhece-lo. – disse simples. – Onde está Seokjin-ssi? – perguntei olhando em volta.

- Ele est- fomos cortados com o barulho de porta se abrindo, logo um homem de cabelos loiros e ombros largos desceu as escadas, se fazendo presente entre nós. – Olha ele aí.

- Hobi!! – senti meu corpo erguer do chão em um abraço apertado.

- Seokjin-ssi, eu não consigo respirar.. – falava com dificuldade.

- Aigoo, pra que tanta formalidade? Me chame de hyung. – o homem sorriu acolhedor, retornando meu corpo ao chão.

- Certo então. – sorri de volta.

- Vem, vou te mostrar seu quarto. Quando voltarmos, eu te apresento a todos. – seguiu puxando-me pela mão até as escadas, correndo animado ao subi-las. Por um momento eu acreditei que minha estadia ali seria maravilhosa. Jin se mostrava a melhor pessoa do mundo, e isso me confortava. – Aqui. – abriu uma das portas do corredor, onde eu me deparei com um quarto impecavelmente arrumado, o que me trouxe uma paz inexplicável, uma vez que eu tinha mania de limpeza. O cômodo era de uma tonalidade ocre clara em suas paredes, os móveis na cor marrom escuro. A cama, uma king size coberta por um lençol e fronhas brancas com detalhes em dourado, da mesma forma que as cortinas. O carpete de madeira clara contrastava e conversava perfeitamente com os demais objetos de decoração, na mais bela combinação para um lugar em que eu pudesse repousar em paz. – Gostou? Eu mesmo decorei, mas como não sabia suas preferencias, optei por algo mais clean.

- Adorei! Nem acredito que esse quarto é só meu. E sobre a decoração, está perfeita! Obrigada hyung! – fiz uma revência em agradecimento enquanto deixava minha mala e mochila em cima da cama.

- Que bom que gostou. – sorriu satisfeito. – Agora desce comigo que eu vou te apresentar os homens dessa casa. – assenti e com isso descemos as escadas indo em direção à sala. Ao chegarmos, vi Taehyung agora sentado ao lado de Jimin e de um outro garoto que eu não soube dizer quem era; na poltrona estava um homem aparentemente mais alto que todos ali, tinha seus fios platinados puxando para a tonalidade azul claro e trajava óculos. Também havia outro mais recluso, vestia um jeans surrado e um moletom preto, um gorro ornava sua cabeça deixando os fios castanhos aparecerem em suas bordas; eram notáveis as tatuagens que serpenteavam pelo seu pescoço alvo. – Garotos, esse é Jung Hoseok, aquele que eu comentei com vocês. Ele viverá conosco a partir de hoje. – Jin tinha suas mãos em meus ombros, me apresentando enquanto sorria grandemente. – Ele também é um ômega, então cuidem bem dele. – me senti esquentar levemente.

- Olá a todos. Espero que possamos nos dar bem. – fiz uma reverência, sorrindo.

- Esses são Park Jimin, Kim Taehyung e Jeon Jungkook. – esse último, que eu ainda não conhecia, certamente era um alfa, mas não um qualquer, meus pelos se eriçaram e um leve medo apoderou-se de mim na presença daquele garoto, que aparentemente era mais novo que eu. Jin pareceu notar isso, logo explicando. – Ah, o Kookie é um alfa da linhagem original, então se sentir assim é comum para nós ômegas. Espero que se acostume em breve com isso. – assenti positivamente, ainda meio nervoso. Vi o garoto Jungkook formar um bico, sussurrando desculpas repetidas vezes.

- Que fofo. – sorri fraco, vendo logo em seguida Taehyung fechar a cara e agarrar o braço do garoto.

- Fofo, e meu! – mostrou-me a língua, me deixando sem graça.

- Aish, Tae! Que modos são esses? – Jin repreendeu-o, este que murmurou uns “desculpe” tão inaudíveis, que eu só soube o que era por leitura labial. Jin revirou os olhos, bufando. – Continuando. Aquele bonitão ali de óculos se chama Kim Namjoon, e ele me ama muito. – disse convencido, roubando uma gargalhada do homem e minha também. – Aish, é a mais pura verdade! – se fingiu indignado. – E por último, o das tatuagens, é o Min Yoongi. – sorri para o garoto, que parecia estar incomodado por estar ali, ele não sorriu de volta, apenas revirou os olhos e se levantou, indo em direção às escadas. Ouvimos a porta bater e um rap no último volume começar a tocar. Jin respirou fundo e revirou os olhos. – Por que ele é sempre assim? Aish, garoto revoltado!

- Calma Jinnie, você sabe que vindo do Yoongi, isso é normal. – Namjoon tentava confortar o namorado.

- Eu sei, mas... Ah, quer saber, eu desisto de entender esse alfa. – decidiu por fim, voltando a mim com a mão ainda pousada em meu ombro. – Espero que goste de morar conosco, Hobi. Sinta-se em casa, pois é o que este lugar é seu. Bem vindo ao lar. – me abraçou forte, me acolhendo.

Dito isso, ele nos chamou para comer. Estava próximo ao almoço, e suas habilidades culinárias eram excepcionais. Eu também cozinhava, e sentia que poderia aprender muita coisa com o Kim.

Eu me sentia mais confortável conforme o tempo ia passando. Mesmo com Taehyung olhando feio para mim a todo o momento, e o curioso fato de Min Yoongi nunca se juntar à mesa com os demais, poderia sim chamar aquele lugar de lar.

Eu me sentia menos ansioso para o inicio das aulas, e consequentemente, mais animado para finalmente cursar Medicina. Eu já não me importava com a minha condição de ômega, e eu confiava que a minha vida poderia ser boa mesmo não fazendo parte da normalidade entre a minha espécie.