História Lírio Branco - Peônia

Prendi a respiração assim que me virei, dando de cara com Jungkook. Eu já tinha o coração acelerado por ter sido pego no flagra, e agora ele batia ainda mais rápido por ser o alfa. Ele pediu para que eu permanecesse em silêncio colocando o indicador à frente dos lábios, e eu entendi que ele queria conversar comigo. Ele apontou para o meu quarto com olhos pidões, assenti com a cabeça e me afastei da porta de Yoongi. Chegamos dentro do meu quarto e assim que Jungkook entrou, eu fechei a porta às minhas costas.

- Desculpe te assustar, eu não... não era a intensão. – ele tinha as sobrancelhas juntas, e o olhar triste e magoado consigo mesmo. Se não fosse pelo cheiro e as características físicas, eu diria que o garoto era um ômega.

- Não, tudo bem. – sorri, mesmo sentindo o ambiente pesar pela presença do mais novo. – Você quer falar comigo?

- Sim! – ele balançou a cabeça freneticamente, corando em seguida. – Eu.. Queria me desculpar por hoje mais cedo. Se eu tivesse imposto minha opinião sobre você vir conosco para a escola, você não teia se perdido, já que também voltaria com a gente. – ele parecia culpado, e eu sinceramente não compreendia o por que. – Sabe, mesmo eu sendo um alfa da linhagem original, e causando essa tensão perto dos ômegas, eu não tenho voz ativa, então sempre abaixo a cabeça quando o Tae diz alguma coisa. Eu só queria ser como os outros... – ele olhava para o lado, visivelmente triste, murmurando a última parte para si mesmo.

- Hey, não se sinta assim! Só porque você é um alfa original, não quer dizer que precisa ser como os outros. E outra coisa, o Taehyung coloca medo até em mim. – ri e ele me acompanhou. – Você continua sendo um alfa, independente disso. E se quer ter mais voz ativa, comece a se impor mais. Você não fara errado em se expressar da forma que você quer. – apertei seu ombro, percebendo a tensão do alfa.

- Obrigada hyung! – ele sorriu animado. – E mais uma vez, desculpe pela atitude do Tae. Ele morre de ciúmes de você comigo e o Jimin, por que tem medo que nós troquemos ele por você. Já que segundo ele, “o sorriso daquele ômega é lindo, além de ele ser bonito e amável”. – disse como se forçasse a lembrar das exatas palavras usadas por Taehyung, me assustando já que eu jamais pensei que ele falasse de mim daquela forma positiva. – Ele só está enciumado, mas ficou bem preocupado quando viu que você não voltava. – ele me dizia, e eu sabia que era sincero. Nunca pensei que Taehyung fosse se preocupar comigo, e isso me deixava surpreso.

- Eu gostaria de conversar com ele, algum dia. Explicar algumas coisas. – fiz um bico. – Ele que te pediu para vir aqui? – o garoto acenou positivamente.

- O Tae tem um bom coração, mesmo que não pareça – ele riu. - Ele teria vindo, mas ficou com vergonha. Mas não duvido nada ele e Jimin estarem ouvindo atrás da porta. – disse a última parte mais alto, e eu ouvi um barulho do outro lado do pedaço de madeira. Ri assim que a mesma se abriu revelando os dois.

- Desculpem.. Nós.. – Jimin começou coçando a nuca, enquanto Taehyung tinha suas bochechas em um tom rosado, desviando o olhar do meu.

- Garotos, vocês podem deixar Taehyung e eu às sós? – disse sorrindo, e vi os dois assentirem, caminhando para fora do quarto. – Sem ouvir atrás da porta! – os dois fizeram um “ah” arrastado e pesaroso. – E não adianta mentirem, por que eu vou sentir o cheiro de vocês do outro lado. – mais um muxoxo seguido de uma confirmação à contra gosto.

Taehyung a todo o momento fugia dos meus olhos, e eu notei o pequeno desespero ao ver seus alfas se distanciando de si. Tentei sorrir amigável, mas ele engolia em seco a cada dois segundos. Ele respirou fundo e finalmente me encarou, eu sorri mais abertamente, e ele fez algo que eu jamais esperaria. Ele me abraçou.

- Desculpe, hyung! – ele me apertava forte. E eu senti minha curva do pescoço sendo regada. – Se eu não ficasse com essa birra desnecessária, você não teria se perdido. E eu me sinto tão culpado, ainda mais com essa onda de assaltos e estupros que vem acontecendo próximo ao nosso campus. Eu sinto muito! – ele separou de mim, e seu rosto ganhava a tonalidade vermelha pelo choro. Era a segunda vez que estavam chorando por minha causa naquele mesmo dia, e isso não me deixava menos surpreso. Agora ainda mais, visto que quem chorava era Taehyung, o garoto que me odiou desde o primeiro dia que eu pisei meus pés nessa casa. – Se algo tivesse acontecido, eu jamais iria me perdoar! Me desculpe hyung! – e sem esperar, ele se ajoelhou à minha frente de cabeça baixa. E eu arregalei os olhos, não esperava mesmo isso de Taehyung. – Me perdoa por ter sido um escroto com você desde que chegou aqui, e por me deixar levar por ciúmes dos meus alfas, eu fui um porre e não devia ter feito o que fiz em te rejeitar hoje de manhã. – ele soluçava em meio as palavras, e eu já não aguentava ver o mais novo assim. – Eu sou um tremendo de um filh-

- Chega disso. – me abaixei até sua altura, o rodeando com os meus braços. – Está tudo bem, sim? Eu não tenho raiva de você, se é o que está pensando.  – agora eu limpava suas lágrimas com meus polegares. Taehyung se mostrava tão frágil e pequeno, que me dava ainda mais vontade de cuidar dele. – Vem, eu quero te mostrar uma coisa. – sorri tentando confortá-lo.

Esperei Taehyung se acalmar, lhe entregando um copo de água da jarra que havia no meu quarto. Ele parou de soluçar e já respirava normalmente. O rosto já voltava à cor normal e ele fungava menos agora.

- O que quer me mostrar, hyung? – ele perguntou após deixar o copo vazio em cima do criado mudo ao lado da cama. Levantei-me abrindo a segunda gaveta da cômoda mediana, pegando alguns documentos médicos e resultados de exames. Taehyung me olhava confuso, se perguntando o que seria aquele amontoado de papéis.

- Eu queria que você visse uma coisa. – comecei. – Eu vi o quanto você ficou enciumado quando eu cheguei, e você pensou que eu iria roubar o Jungkook e o Jimin de você por eu ser ômega, certo? – ele assentiu envergonhado. – Então eu queria te mostrar isso aqui. – ele encarou os papéis confusos, folheando uma das muitas pastas que eu havia deixado sobre a cama. – São os resultados dos meus exames hormonológicos, e os acompanhamentos que eu faço com o urologista desde que eu tinha quinze anos. – Taehyung ainda não entendia o que eu queria dizer com tudo aquilo. – Eu tenho disfunções hormonais, Tae. Eu, mesmo sendo ômega, nunca entrei em um cio sequer durante esses vinte e dois anos de vida. – ele me encarou pasmo, sua boca adornada por um “o” perfeito, e seus olhos estavam arregalados. – Eu sou estéril.