História Hope on nightmare - Posso Te Escutar

Isabella pov’s

Eu sempre tive medo do escuro, sempre tive medo de ficar sozinha, digo, literalmente sozinha e quando o acidente aconteceu eu senti que ficaria. Ainda que tudo tivesse acontecido rápido para quem visse de fora, para mim tudo se propagou em câmera lenta, o cachorro, mamãe tentando desviar, um frio descomunal que passou em minha espinha, enquanto o mundo dava cambalhotas e nós éramos chacoalhadas dentro do carro, olhei para o rosto da mulher que mais amo nesse mundo, seus olhos estavam arregalados, mas seus lábios se curvavam em um leve sorriso quando ela me olhou e fechou os olhos, como se ela pudesse me dizer “vai ficar tudo bem”. Só acompanhei seus movimentos e fechei os meus olhos, nossas mãos estavam unidas, antes de fechar os olhos vi a cabeça de mamãe chicotear no asfalto e logo após senti uma pancada na minha e tudo escureceu. O medo tomou conta de mim, não podia respirar, não podia pensar, eu não podia sequer sentir o meu corpo, o medo me governava e eu me sentia tão impotente, absolutamente anestesiada. Um flash branco, todas as memórias do acidente invadiram minha cabeça, apertei minha mão na esperança de ainda encontrar a de mamãe ali e ao me lembrar dela, o desespero tomou conta, balancei a cabeça, quando não senti sua mão junto a minha. Isso séria só um pesadelo? Claro, apertei meus olhos com força e contei até dez e repeti mentalmente mais dez vezes “Isso é só um pesadelo”, respirei fundo e abri os olhos e o medo não me abandonara, aquele definitivamente não era o meu quarto, nem Mamãe estava ali me acalmando após o pesadelo, todo o ambiente não passava de um branco total, sentei no chão, encolhi os joelhos me abraçando, abaixei minha cabeça ali e chorei, chorei baixinho, a dor era tão forte que eu não conseguia falar, nem respirar bravamente, só lagrimas rolavam pelo meu rosto, enquanto eu tentava projetar a minha voz a procura de alguém, senti uma forte dor no peito e ouvi a voz de Mateus, ele parecia agoniado e eu estava com medo, porque eu não conseguia vê-lo? Diferente do meu choro baixinho escutei gritos, gritos de agonia e dor e eu conhecia aquela voz, era ele, meu Rafael, porque tanta agonia? Eu estava bem, pelo menos eu achava; um pouco fraca e perdida talvez, mas eu estava bem, sussurrei “Eu estou aqui”, mas a minha voz saiu mais baixa do que eu podia imaginar que sairia. As vozes cessaram e vi alguém caminhar em minha direção, meus olhos travaram como se tivessem virado vidro

- Pa...Papai?! – Minha voz saiu mais forte dessa vez

- Oi meu amor! – ele disse com um sorriso largo e me envolveu em seus braços

- Senti sua falta – o apertei soluçando

- Eu também meu amor. – Ficamos assim por alguns segundos

- Porque você me deixou? Porque? – Perguntei ainda o abraçando e um vento gelado invadiu meu coração quando eu lembrei – Pera aí, o senhor, ta... ta... O meu Deus, eu morri? A Mamãe também? – uma lágrima pesada, desceu queimando toda a minha face – Onde está ela? Porque ela não está aqui?

- Ela está lutando Bella.

- E eu? Não devo lutar também?

- Não ainda, precisamos conversar - sentamos no chão e ele segurou minhas mãos, assim como fazíamos quando estávamos no parque e ele me contava histórias, a lembrança sufocou ainda mais qualquer rastro de voz que se atreveria a sair, então ele continuou – Eu estou aqui para te ajudar, eu não te abandonei, nem por um só segundo meu amor, sempre estive ali, vendo você crescer e virar essa menina linda, estou tão orgulhoso de você! – olhei em seus olhos e me permiti dobrar meus lábios em um leve sorriso – Bella – ele suspirou - escute bem, sua mãe, ela já...

- Não! – Eu disse com horror, eu sabia o que ele estava querendo me falar, ele estava com o mesmo olhar da minha Mãe quando ele morreu

- Quando aconteceu comigo, eu fiquei furioso, eu não queria aceitar, você era tão pequena sua mãe sozinha, ver a tristeza de vocês partiu meu coração, mas com o tempo eu entendi, evolui e aceitei, quando chega a hora, acontece e sua mãe meu amor, ela precisa vir.

- Não, ela não precisa vir! Eu preciso dela comigo, eu já perdi o senhor, eu não vou suportar ficar sozinha, por favor...

- Você não vai ficar sozinha Bella voc...

- Espera, mas eu já estou aqui, eu quero ficar também, com você dois, como éramos antes, nós três – de repente senti pela primeira vez naquele dia, um alivio – Onde está ela?

- Filha, você ainda tem coisas a fazer lá, você não estará sozinha, eu e sua mãe estaremos sempre e sempre com você...

- Não papai!

- Bella – passou o polegar pela minha bochecha em um afago gostoso – Você precisa voltar

- Eu não quero Pai! – disse o abraçando

–  Eu te amo meu amor, mas você precisa, pessoas precisam de você lá! – Fechei meus olhos e o abracei tão forte quanto eu podia

- Eu não sei o que fazer Papai – solucei em seus braços

- Escute seu coração querida – Continuei de olhos fechado e escutei alguns soluços altos “Por favor Bella, não me deixe, volte pra mim, fique comigo. Por favor, eu preciso de você Isabella!” escutei a voz de Rafael e senti meu coração vibrar, meu corpo não parecia tão dormente, mas ainda estava nos braços de papai “Sua pirralha, quando você acordar eu vou te matar, não matar não... O meu Deus Santoni, só fique bem, por favor! Eu preciso de você Isabella” e em um estalar de dedos, papai sumiu abri os olhos e estava deitada em uma cama, meu braço doía como o inferno, todo o meu corpo na verdade, minha cabeça latejava como se uma escola de samba estivesse a usando como o próprio sambódromo, minha visão ainda embaçada, detectou um quarto de hospital, flash do acidente me atingiram feito facas cortantes

- Mamãe – sussurrei – onde ela está...

- Oh! Você acordou, como se sente querida? – Uma figura feminina, que eu ainda não tinha visto ao meu lado disse

- Minha mãe! – minha voz saiu falha, mas em tom de agonia

- Vou chamar o médico, só um minuto querida, fique calma – acompanhei o corpo da mulher até a porta e ali encontrei outro, forcei um pouco a visão e era Ricardo, ele parecia abatido, fora do eixo, seus olhos estavam apagados e pareciam estar longe, mas ele parecia me examinar, uni todas as minhas forças e consegui falar antes que ele saísse do quarto

- Ricardo... como está à mamãe, ela está bem, não está? – ele se virou caminhou até mim – Ninguém quer me falar nada, por favor, me fala – pedi, chorando, ele abaixou a cabeça e quando voltou a olhar para mim carregada um sorriso morto nos lábios

- Não diabinha, ela não está bem, ela morreu – lembrei-me do encontro com papai, aquilo não havia sido um sonho? – E foi você, você que matou ela – NÃO! NÃO! Ela não pode me deixar, ela... Balancei a cabeça na tentativa frustrada de apagar as palavras de Ricardo da cabeça, isso não pode ser verdade, sentia todo o meu corpo vibrar em uma sintonia horrível, calafrios tomavam conta de mim, eu estava paralisada de dor, a minha mãe? Morta? E com uma respiração pesada, gritei, tentando tirar toda aquela dor de dentro de mim.

- NÃAAAAOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO – a escuridão me levou e eu rezei – me leva pra ela, me leva pra ela.

Rafael pov’s

Depois de tentar consolar meu tio, fui conversar com o médico e ele deixou o Ricardo ver a Ana, antes que levassem o corpo dela para os procedimentos necessários. Voltei a para a sala para dar a noticia, mas ele não estava lá, caminhei apressado até o quarto de Isabella, escutei seu grito e corri, abri a porta e encontrei Ricardo com um sorriso miserável nos lábios e a minha Bella agora mantinha seus olhos fechado, fechados novamente, por causa desse imbecil.

- O que você fez? Seu idiota! – Perguntei aos berros, enquanto me aproximava dela – Bella? Amor? Fala comigo, pelo amor de Deus! – corri até a porta, coloquei a cabeça para fora e gritei – UM MÉDICO, MÉDICO! – continuei tentando acorda-la, logo um médico apareceu e me acalmou dizendo que foi só a pressão que estava baixa e causou o desmaio, mas ela estava bem, nesse meio tempo Isabella acordou.

Isabella pov’s

A escuridão me deixou, senti meu corpo novamente, abri meu olhos e vi um Rafael choroso segurar minha mão, do outro lado estava um homem de branco, médico talvez, voltei meu olhar para Rafael e olhei em seus olhos, ele me olhou, respirou fundo, apertou as duas sobrancelhas e deixou as lágrimas escaparem, conseguia ver tanta agonia em seu rosto, tristeza, seus olhos castanhos estavam num tom escuro e acompanhados de uma vermelhidão que fez meu coração apertar, ele suspirou mais uma vez, balançou de leve a cabeça e levou minha mão até sua boca, depositando um beijo doce ali.

 - Como você está se sentindo? – perguntou o médico

- Cadê a minha mãe? – perguntei encarando-o e voltei o olhar para Rafael – CADÊ ELA? – aquela falta de informação estava me deixando louca

- Bella... – Rafael começou, mas foi interrompido por aquela figura de branco, que já estava me tirando à paciência.

- Primeiro preciso saber como você está querida!

- E eu preciso saber como está a minha mãe!

- Isabella meu amor, responde se você está bem, como está se sentindo? – Rafa pediu aflito

- Meu braço dói, meu corpo dói, minha cabeça dói e – respirei fundo – E EU PRECISO SABER ONDE ESTÁ A MINHA MÃE!

- Lembra-se do que aconteceu? – o médico continuou o interrogatório

- Lembro, eu lembro... Ela ta bem?

- Sua mãe lutou com bravura Isabella, a gente... Nós fizemos de tudo, mas a pancada na cabeça foi muito forte e ela não aguentou, sinto muito. – Disse passou as mãos em meus cabelos e caminhou para fora do quarto – Qualquer coisa pode me chamar Rafael.

- Claro, obrigada. Amor... eu – Dessa vez nenhuma escuridão me levou, mas eu não estava ali, a voz do Rafael tentando me consolar estava longe, longe demais, mas ainda sentia seu aperto segurando as minha mãos, meu peito estava queimando, e tudo que existia dentro de mim era um imenso vazio, vazio que fazia eco dentro de mim, por que ela? Por quê? Porque o papai deixou isso acontecer? Porque você deixou isso acontecer Deus? - Isabella? Amor? Fala comigo? – Eu até queria responder o Rafa, mas no momento meu maior desejo era morrer, ou tirar a dor de dentro de mim, era tudo tão absurdo, minha mãe, o que eu fiz para merecer isso? Eu estava sozinha, sozinha...  “você não estará sozinha, eu e sua mãe estaremos sempre e sempre com você...” a voz do meu pai ecoou na minha cabeça seguida da de Ricardo “E foi você, você que matou ela”, sim era tudo culpa minha. – Bella, por favor, fala alguma coisa você está me assustando.

- Foi tudo culpa minha, eu..

- Não Isabella, não foi culpa sua!

- FOI! EU MATEI A MINHA MÃE RAFAEL. - gritei, numa tentativa de colocar toda aquela dor para fora

- Não, não... – Disse me abraçando com delicadeza, enquanto eu tentava me livrar dos seus braços

- Saí, não fica perto de mim. Eu faço mal a todos que estão perto de mim. Saí Rafael – Me debati o quanto consegui. A dor do meu corpo não chegava nem perto da dor que estava queimando o meu coração, coração? Será que ele ainda estava ali? Talvez em pedacinhos bem pequenos.

- Meu amor, olha pra mim – disse colando seu rosto, e segurando com as duas mãos, o meu – não foi sua culpa, não foi, eu te amo, eu vou estar sempre com você, você não está sozinha, eu sei que ta doendo... É... Quer dizer eu posso imaginar, mas, vai ficar tudo bem Bella.

- Rafa, ta doendo tanto...

- Eu sei amor. – depositou um beijo na minha testa e mais uma onda de dor invadiu meu corpo e finalmente eu consegui colocar um pouco para fora, através de lagrimas, chorei, solucei, me perguntei diversas vezes o porquê aquilo estava acontecendo e todas às vezes o Rafael pacientemente me disse que ia ficar tudo bem e que eu não tinha culpa, e me lembrou diversas vezes que eu não estava sozinha, mas no fundo eu estava, eu amo o Rafa e o Mateus, mas, ninguém nunca vai conseguir suprir esse vazio.

Rafael pov’s

Sai daquele quarto acabado e me joguei no chão, me sentia um egoísta de estar sofrendo, não me sentia no direito, diante da dor que a Isabella estava sentindo, é horrível ver alguém que a gente ama sofrendo e não poder fazer muita coisa, o pouco que posso fazer é ser forte do lado dela e estar lá sempre e sempre com ela e era isso que eu iria fazer. Mas eu tinha medo, medo de como seria daqui pra frente, medo de como ela iria reagir a isso tudo, mas no fundo eu sabia que tudo ficaria bem. Enquanto eu estava ali tentando parar de chorar e me acalmar, Mateus me ligou e disse que estava resolvendo tudo do funeral da Ana, aquilo revirou o meu estômago e se eu não tivesse respirado fundo, teria vomitado ali mesmo, disse também que Henrique havia levado Ricardo para casa, um silêncio cresceu naquela conversa e eu sabia que ele queria saber da Bella, mas não tinha coragem de encarar ela, pelo simples fato de, ele não conseguiria ser forte, não da forma que ela precisava agora.

- Ela está dormindo, chorou até pegar no sono.

- hm...

- Ela acha que a culpa é dele Mateus, você precisava ver, ela está quebrada.

- ...

- A gente vai ter que ser forte, por ela, pela Ana.

- Claro, vou ser...  Vamos ser. E ela vem?

- Eu não sei, vou saber agora com o médico.

- ta bom, qualquer coisa me liga.

- ta.

Ligação off

Entrei no quarto e ela estava lá, com o olhar vidrado para o teto daquele quarto branco, um rio de lágrimas saiam sem parar de seus lindos olhos azuis, que agora estavam com um tom avermelhado e inchado, me aproximei e segurei sua mão, mas ela pareceu não perceber.

- Lua?

- Você devia fazer como o Mateus, se afastar enquanto não acabei com a sua vida também.

- O que? Não. Para de pensar besteiras meu amor, o Mateus não se afastou de você, ele só está arrumando tudo para, é, para o... rumrum

- Para o enterro da mamãe?

- Sim, desculpa bella, eu não...

- Eu quero ir.

- Estava indo falar com médico agora, saber quando você poderá sair e...

- Rafael, eu quero ir, eu quero ver a minha mãe pela ultima vez. Ele deixando ou não, eu vou!

- Bella...

- Por favor, rafa.

- Tudo bem, mas vamos fazer isso da forma certa, por favor!

- Ta, eu só quero estar lá. Eu só preciso estar lá.

- Você vai amor, você vai.

Isabella pov’s

Te marchaste sin aviso
(Você se foi sem avisar)

Te busqué y no estabas ya
(Te procurei, mas você não estava)

El destino así lo quiso
(O destino quis assim)

Pero tu alma no se ira
(Mas sua alma não irá)

Fazia exatamente 24 horas de um dos momentos mais felizes da minha vida, do ultimo sorriso da minha mãe, do nosso ultimo abraço, do nosso ultimo almoço, e que se tornou o mais triste. 24 horas do dia em que eu queria que nunca tivesse acontecido. Mas, o tempo é traiçoeiro e agora eu estava me arrumando para ver a minha mãe pela ultima vez. Como o Rafael insistiu eu iria de cadeira de rodas e depois voltaria para o Hospital, eu não conseguia discordar, não tinha forças para nada, eu só precisava ir, de qualquer maneira.

Eras mi cómplice en los sueños
(Era meu cúmplice nos sonhos)

Sabíamos que un día unidos volaríamos
(Sabíamos que um dia voaríamos juntos)

 Foi o caminho mais longo da minha vida, todas as vezes que o carro freava, eu me assustava, mas finalmente ou não chegamos, Rafael me colocou na cadeira de rodas e me levou até ela, o choque foi... Foi de tirar o fôlego, de uma maneira nada agradável, ela estava ali, mas não estava. Seu rosto não tinha expressão nenhuma, ela estava pálida, com uma leve maquiagem e usando seu batom preferido, o Mateus deve ter pensado nisso. Eu estava tão quebrada que não conseguia respirar, olhei em volta e ali tinha um par de pessoas, algumas choravam, outros olhavam para mim com pena, Ricardo estava do outro lado debruçado sobre o corpo dela e chorava sem parar. E eu só queria estar sozinha com ela, sem todas essas pessoas, mas não era possível.

Sé que tus alas se quedan conmigo
(Sei que suas asas ficaram comigo)

Que desde el cielo tu abrazo es mi abrigo
(Que mesmo no céu, seu abraço é meu refúgio)

Ángel divino me cuidas del mal
(Anjo divino me protege do mal)

Sé que camino con tu compañía
(Sei que sigo em frente com sua companhia)

Que con tu voz se me encienden los dias
(Que sua voz alegrará meus dias)

Aunque tu puerta hoy este más Allá
(Mesmo que você já tenha partido)

Te puedo escuchar
(Posso te escutar)

O tempo passava e a hora de me despedir do meu amor, se aproximava, a dor, a agonia e o medo aumentavam e eu estava me sentido cada vez mais perdida, Rafael e Mateus não saíram do meu lado um só minuto, pedi aos dois que me ajudassem a ficar em pé, depois de muita luta eles me ajudaram. Depositei uma das minhas mãos sobre as mãos unidas de mamãe e usei a outra para me apoiar, me abaixei um pouco e comecei a conversa mais difícil da minha vida e a ultima.

Guardo el aire de tu risa que me da felicidad
(Guardo o ar do seu sorriso que me trás a felicidade)

Te recuerdo muy cerca mio compartiéndome tu paz
(Lembro de você perto de mim compartilhando sua paz)

Tanta alegría daba verte
(Tanta alegria me dava te ver)

Quererte no se olvida
(Não esqueço de te querer)

Aún me llueven lágrimas
(Ainda que me faça chorar)

Oi, mamãe. Como à senhora ta? Eu sei que está me ouvindo, só me ajuda a te escutar também, eu preciso te sentir de alguma forma. Preciso te pedir desculpas, se eu não tivesse pedido para sair, se a gente não tivesse demorado um pouco a mais no restaurante, sabe, desde que acordei a minha cabeça está dividida em pensar nas possibilidades que fariam você ainda está aqui e fico me perguntando o porque? Porque você e não eu, alias o papai já me deu uma resposta para essa, mas, porque? O que eu fiz para merecer ficar sozinha? Eu não vou aguentar, sinto que a qualquer momento o meu coração vai explodir de dor, ou o que restou dele, meu corpo está frio, não como o da senhora, mas tudo dói, e eu não quero viver, não sem você. Porque ninguém me perguntou? Isso é... É tão injusto. Todos me dizem que vai ficar tudo bem, MAS NÃO VAI! Eu perdi você, eu não quero viver esse tempo, eu não quero me acostumar com a sua ausência, eu não quero mamãe. Me desculpa, por não estar sendo a sua garotinha forte, mas, agora eu não sou a garotinha de ninguém, eu to sozinha entende? E a senhora sabe o pavor que tenho de ficar sozinha. A gente tinha tantos planos, para quem eu vou sorrir orgulhosa quando receber o diploma? Ou quem vai vibrar comigo, no meu primeiro emprego? Quando eu passar no vestibular? E no meu... Dona Ana e no meu casamento? Pensar nisso dói tanto, sem viagens de férias, sem abraços, sem colo, sem nada, eu fiquei sem nada e EU NÃO POSSO FAZER NADA!

Sé que tus alas se quedan conmigo
(Sei que suas asas ficaram comigo)

Que desde el cielo tu abrazo es mi abrigo
(Que mesmo no céu, seu abraço é meu refúgio)

Ángel divino me cuidas del mal
(Anjo divino me protege do mal)

Sé que camino con tu compañía
(Sei que sigo em frente com sua companhia)

Que con tu voz se me encienden los dias
(Que sua voz alegrará meus dias)

Aunque tu puerta hoy este más Allá
(Mesmo que você já tenha partido)

Te puedo escuchar
(Posso te escutar)

Me ajuda, eu não vou conseguir viver sem você. Eu tentei, eu tentei ficar ai, eu vi o papai, vocês estão juntos? Ele não me deixou ficar ai, eu queria tanto, seria tão mais fácil. Mas, de repente eu acordei naquele quarto sem vocês. Mas, ele me disse que vocês nunca iriam me deixar e eu vou acreditar nisso, eu preciso me apegar a algo, mas eu também quero fazer um ultimo pedido, apareça nos meus sonhos, me dê um abraço e me diga que vai ficar tudo bem, só escutando da sua boca eu vou tentar. Por favor, mamãe eu preciso te ver mais uma vez. Eu te amo tanto, tanto, tanto, obrigada por ter sido essa mãe maravilhosa, que sempre lutou por mim. Por favor, não me deixe sozinha, você também papai. Eu amo vocês!

En cada libro esta escrito tu nombre
(Em cada livro está escrito seu nome)
En cada verso te siento cantar
(Em cada verso sinto você cantar)

Tu mano me lleva directo a tu sombra
(Sua mão me leva para a sua sombra)
Yo se que una noche te voy a encontrar
(Eu sei que em alguma noite vou te encontrar)

Deixei um beijo doce na testa dela e desabei na cadeira, chorando como nunca chorei na minha vida, um cheiro de rosas me invadiu, era o cheiro dela, eu sabia que ela estava ali, senti um alivio uma leve sensação de paz, bem leve, porque toda a dor ainda estava circulando no meu corpo e me tirando o ar, porém, me permite acreditar que ficaria tudo bem.