Quando o telefonema terminou, ele anunciou:
– Seu avô está voando para cá afim de vê-la esta tarde.
Luiza ficou dividida entre a satisfação e a preocupação.
– Por que? – perguntou.
– Sem dúvida para pedir desculpas! – resmungou ele. – É neta dele isso significa muito para um homem com seu desastroso histórico familiar.
– Não quero que ele insista para que nos casemos espero que não seja por isso que esteja vindo – confessou ela.
– Já retirei minha proposta – disse ele. – Você tem razão, por que nos casaríamos? Temos relações sexuais maravilhosas isso basta.
Mas, em vez de relaxar com a novidade, Luiza desejou gritar e esbofeteá-lo Caio retirara sua proposta de casamento? Ele estava contente? Bem, sem dúvida ela não estava! Teria mudado de ideia Agora a julgava uma mulher fácil? Era uma suspeita terrível e mortificante.
Luiza se sentia presa em uma ilha de emoções sem encontrar a saída, precisando dele e ao mesmo tempo relutando em admitir seus sentimentos.
(.... )
Socrates Seferis se sentava em uma poltrona de vime trançado no terraço, usufruindo de um café com bolinhos; Luiza desceu a escada para encontrá-lo usando calça de linho e camiseta azul sorria de maneira hesitante.
– Fico feliz que tenha querido me ver de novo – admitiu com franqueza.
– Você e Caio são adultos, eu deveria ter cado de lado sem interferir... – O velho sorriu de modo astuto. – Mas é curioso.
– Curioso... como? – ela quis saber, servindo-se de um refresco.
– Meu afilhado nunca antes trouxe uma mulher aqui esta ilha é seu refúgio, e ele aprecia muito sua privacidade.
– Não me surpreende, vi como a imprensa se comportou quando ele apareceu no aeroporto. Não foi uma experiência divertida. – ele fez uma careta ao lembrar, mas queria sorrir diante do que o avô acabara de lhe dizer.
Era bom saber que Caio não a colocara no mesmo rol das outras, e a trouxera para conhecer a casa de sua infância.
– Já esteve aqui antes? – perguntou para Socrates.
– Só uma vez no funeral dos pais dele – murmurou o velho com secura. – Estão enterrados no cemitério particular aqui.
Luiza ficou ainda mais curiosa e se inclinou para a frente.
– O senhor os conheceu como eles eram?
– Nunca frequentei seu círculo de amizades – confessou Socrates. – O avô de Caio foi meu colega de escola, e por isso conheci sua família e fui convidado para ser padrinho do menino. Os pais de Caio eram muito ricos e muito jovens também, cada um era filho único, e suas famílias arrumaram o casamento para ser uma aliança de fortunas quando ambas as famílias ficaram felizes com o surgimento de um filho herdeiro... Caio... o casal passou a levar vidas separadas, nada de divórcio, mas também não houve um casamento de verdade.
Luiza aquiesceu com um gesto de cabeça e murmurou:
- Que triste.
– Mais triste para o filho dos dois – corrigiu Socrates. – Creio que a mãe dele não tinha instinto maternal Caio foi criado pelos empregados, e aos 8 anos seus pais o matricularam em um colégio interno inglês.
– Com 8 anos? É muito cedo para mandar um menino para tão longe de casa, porém não é de admirar que fale inglês perfeitamente. – ela franziu a testa diante do que estava ouvindo e aprendendo sobre Caio – Ele nunca fala da própria infância – concluiu.
– Deixe-me contar uma história – disse Socrates, ajeitando-se confortavelmente na poltrona de vime. – Certa vez eu estava em Londres a negócios quando de repente me lembrei de que era o décimo aniversário de meu afilhado que não visitava havia muito tempo. Decidi comprar um presente e fazer uma visita de surpresa à escola. – Respirou fundo e prosseguiu: – Quando lá cheguei, fui levado a um canto pelo diretor, que me confidenciou estar muito preocupado com a falta de contato de Caio com sua família e sua casa. Jamais recebia notícias dos pais, que não se preocupavam em visitá-lo nem quando estavam em Londres ele passava os verões aqui na ilha, mas sempre sem o pai e a mãe, apenas com a criadagem, que fazia todas as suas vontades. – Socrates fitou Luiza com seriedade. – Caio nunca soube o que era uma vida familiar normal.
Luiza estava pálida, imaginando como Caio deveria ter sido solitário na infância, com todo o conforto, luxo e diversão, mas sem o amor dos pais e sua atenção.
– Deve ter sido muito triste – comentou.
Socrates arqueou as sobrancelhas grossas.
– Ele jamais admitiria isso, mas quando eu soube que não recebia visitas na escola, resolvi visitá-lo sempre que estivesse em Londres. É claro que Caio tinha muitos amigos e frequentava as casas deles, mas eu era seu padrinho, e nossa amizade foi benéfica para o menino em formação.
Luiza ficou em silêncio refletindo, percebendo que por m tinha a solução para o caráter fechado de seu amante como ela mesma, Caio fora traído e excluído da companhia de pessoas que deveriam tê-lo amado na infância. Sua grande fortuna talvez tivesse abrandado o sofrimento, porém fora tão negligenciado quanto ela.
– Gostaria de ficar comigo em minha casa? – perguntou o avô à queima-roupa, arrancando Luiza de suas reflexões. – Será muito bem-vinda.
Luiza ficou corada e se mexeu no assento, aborrecida com a própria relutância, pois agora sabia que o avô era uma pessoa calorosa e pronta a superar os preconceitos sobre sua gravidez e fato que será mãe solteira.
– Eu...
– Não quer deixar Caio – completou Socrates com um brilho divertido nos olhos escuros. – Então vocês dois formam mesmo um casal?
– Bem, no momento... gostaria de ficar mais tempo com Caio – admitiu ela de modo apressado, já vermelha como um camarão.
– Meu convite permanece – insistiu Socrates com brandura. – Adoraria tê-la como minha hóspede e dar uma festa para apresentá-la a meus amigos e parentes – declarou com entusiasmo. – Mas isso pode esperar.
– Agradeço que o senhor compreenda – murmurou ela com remorso afinal, não fora para isso que viera à Grécia? Para ter contato com o avô? Deste quando começara a fazer de Caio o único foco de sua visita a esse país?
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