Com o passar dos dias, as coisas foram se acalmando para Jung Sooyeon. A cientista analisava cada passo e cada pessoa que tinha um pouco mais de convívio consigo, para que pudesse imaginar sobre o romance com Seo Joohyun. Ao mesmo tempo que começava a pensar em uma alternativa que não fosse devidamente prejudicial para ambas. O projeto pelo qual Sooyeon havia mais se dedicado e dado tudo de si já havia sido lançado e grande parte da população mundial já tinha pelo menos a edição base. Era complexo pensar que talvez não fizesse algo tão grande e que ficasse tão marcado quanto o Focus, mas de certo modo era uma possível realidade. Apesar de vir trabalhando em um projeto extremamente arriscado sobre úteros artificiais, Sooyeon não pensava em lançá-lo realmente. Ao menos, não até ter a solução para um pequeno problema que havia achado. E enquanto apertava alguns parafusos de um protótipo, reparava que Jongin digitava afoitamente em seu notebook. Mais do que a própria cientista, aquele rapaz parecia decidido a encontrar a origem do e-mail.
– Você pode parar e tomar um café, sabe disso, certo? – A cientista voltou a analisar a planta do protótipo.
– Agradeço a preocupação com a minha barriga e o meu sono, mas acho que estou conseguindo uma pista.
– Que tipo de pista, Jongin?
– É interessante reparar que certa pessoa não dá as caras há dias. – O tom do rapaz era sério e pelo olhar Sooyeon, podia deduzir que este se referia a Sunny Lee. – E que eu venho reparando que certo rapaz que trabalha com certa pessoa vem aparecendo em locais onde nunca imaginaria vê-lo.
– E o que isso significa no seu ponto de vista?
– Significa que a gentil pessoa está me sondando e acredito que ele não está de olho na minha pessoa como um homem jovem e solteiro, mas sim como o estagiário e a única pessoa que trabalha com a Doutora Jung.
– E o que lhe leva a crer que ela quer algo de mim? – Sooyeon pendeu a cabeça para o lado, fitando-o com uma sobrancelha erguida. – Se ela está com...
– Eu tenho quase certeza que ela está com esse projeto das máquinas.
– Como tem tanta certeza?
– Não sei, apenas sinto que devíamos investigar isso mais a fundo.
– Se ela está com o projeto das máquinas, Jongin, então não há nada que ela ainda possa querer de mim. Se ela ganhou a corrida, por que ainda está querendo algo?
– Você me disse que dentro do projeto ainda não tinha descoberto uma fonte segura e não prejudicial para que as máquinas funcionassem. – O rapaz se inclinou. – E se ela está tentando descobrir essa forma a partir do seu pensamento sobre? – E eis que uma lâmpada parecia ter sido ascendida em cima da cabeça da cientista, que somente coçou o queixo pensativamente.
– Então, seguindo o seu pensamento... Ela estaria tentando chegar em mim a partir de você?
– Indiretamente aconteceu isso antes, certo?
– Sim. – Sooyeon inclinou-se para frente e continuou, só que desta vez sussurrando. – Eu não sei há quanto tempo Sooyoung e Hyoyeon estavam trabalhando com ela e agindo duas caras comigo, mas vou te dizer algo, meu rapaz... Fique fora dessa intriga.
– Por que? – Jongin indagara incrédulo.
– Apenas me escute e não se faça de agente duplo para conseguir informações para a minha pessoa. O jogo não deve funcionar assim. Porque quando se descobre de uma traição, bem... Eu demito, já Sunny Lee eu não sei o que pode fazer. – A cientista pendeu a cabeça para o lado. – E eu sinceramente não quero pagar pra ver. – A contragosto, Jongin apenas assentiu.
--/--
[Jessica]
Antes de saírem do prédio, Jessica insistiu para que descessem olhando os andares, conseguindo finalmente encontrar a sala de trabalho da Doutora Jung. Devido a energia falha do local e alguns cabos soltos, não fora lá difícil conseguir o acesso. De todos os locais que já havia visitado até então, aquele era o mais assustador de todos. Tudo estava revirado e haviam líquidos estranhos derramados sobre o chão, assim como alguns furos nas paredes. Jessica olhou a mesa e o pequeno armário de metal que continha as ferramentas de Sooyeon. Somente o estojo da maior estava ali, mas as ferramentas em si haviam sumido. Apesar de terem conseguido entrar, alguém sem o mínimo conhecimento das tecnologias dificilmente iria conseguir passar pela porta de metal. Notou uma porta na extremidade da enorme sala, o que lhe fizera aproximar com cuidado. Estava entreaberta, então somente empurrou-a lentamente com o braço. Parecia ser um pequeno escritório e também a sala mais intacta que encontraram até agora. Jessica observou algumas fotos emolduradas em cima da velha mesa de madeira e então dera a volta para poder observá-las melhor. Segurou um dos porta-retratos com firmeza. Era Jung Sooyeon e uma mulher que ela não tinha a mínima ideia de quem era. O fundo era uma paisagem muito bem trabalhada, que causou surpresa entre as três garotas, além de que aquela era a primeira vez que Jessica via o sorriso natural e largo da cientista.
Parecia ser feliz, sem temer o futuro que lhe aguardava.
Jessica abrira o pequeno porta-retratos, retirando a foto e notando que tinha algo escrito atrás.
“Abaixo da terra, onde nem mesmo o Sol forte alcança.”
A jovem piscou confusa, tendo que ler algumas vezes para tentar entender o contexto. Elas estavam ao ar livre e não estava um sol tão forte. Decidiu por último guardar a foto em seu bolso e então voltando ao seu caminho.
A cidade mais próxima ficava a quase um dia de distância, mas o trio não se abalou. As únicas paradas que fizeram fora uma para caçar frutinhas não venenosas e outra para dormirem. Infelizmente Jessica vinha tendo insônias recorrentes nos últimos dias, então se limitava a somente observar a foto com a luz transmitida pelo Focus. Já havia se questionado algumas vezes sobre a vida de Jung Sooyeon, se ela era casada, se tinha filhos, irmãos, amigos, pais... Jessica tentava a todo instante montar o quebra-cabeça sobre a personalidade da cientista. Seja qual fosse a ligação, curiosamente gostaria de tê-la conhecido. Seu coração já entristecido e em luto pela morte de seu pai havia se enchido de esperanças ao saber da existência da Doutora Jung.
Era como se de alguma forma fosse ligada à Jung Sooyeon e parecia que de alguma forma tudo havia desabado ao saber que esta estava morta.
Não estava completamente certa daquilo, pois somente acreditaria quando visse o corpo e fizesse um backup do Focus da cientista, mas ainda sim a ideia de que esta se encontrava verdadeiramente morta era devastador.
– É como perder o rumo. – Sussurrou para si mesma. Guardou a foto em seu bolso e deitou-se para mais uma vez tentar dormir.
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Foram horas caminhando e perguntando para as pessoas se haviam visto um homem com a descrição de Kim Jongdae e sempre recebiam uma resposta negativa. Era provável que nem mesmo tivesse passado por aquela cidade, mas tinham que ter a certeza. Apenas pediram para que se o encontrassem, repassassem o recado de que a Rainha de Meridiana gostaria de conversar amigavelmente com o mesmo. Compraram comida e aproveitaram a estadia na cidade para ficarem um dia inteiro. Precisavam descansar em uma cama de verdade, nem que se fosse por poucas horas. Mesmo que a Rainha do Sol e sua mais fiel mensageira insistissem que Kim Jongdae poderia estar em outras cidades, Jessica ainda sim tinha um estranho pressentimento de que o encontraria aleatoriamente em alguma ruína do mundo metálico. E como quem nada quer, usou a desculpa de que o alojamento emergencial da corporação poderia ser o local ideal que Kim Jongdae usaria de esconderijo ou até mesmo para conseguir relíquias interessantes.
– Pensem comigo... Quer um local mais bem recheado de relíquias e coisas vendíveis do que um alojamento onde estaria grande parte dos cientistas e funcionários importantes de uma corporação? – Jessica indagara em alto bom tom, tendo um sorriso de canto agradável.
– Já pensou se essa tal de Jung não tem ligação alguma com o ataque ou com as coisas que estão acontecendo com a nossa tribo? – Taeyeon indagara com um sorriso forçado. – Eu posso entender que você queira descobrir tudo sobre ela, mas... Talvez ela não seja bem o caminho.
– Acho que devíamos nos separar. – Tiffany comentou com grande naturalidade.
– O QUÊ?! – Jessica e Taeyeon gritaram praticamente ao mesmo tempo.
– Pensem... Há uma cidade perto da localização do alojamento. Eu e Taeyeon podemos facilmente investigar o tal Kim Jongdae na cidade, enquanto Jessica confere o alojamento e procura pela Doutora Jung... Ou o que sobrou dela.
– E depois?
– Depois nos encontramos no exato meio do caminho entre um local e outro. Jessica sabe ligar e usar essa coisa de tecnologia, pode nos achar com facilidade. – A jovem dera um sorriso divertido. – Apenas parem de discutir. Saber e entender o que aconteceu também é importante.
– Eu preciso descobrir o que tem atrás daquela porta na montanha sagrada. – Jessica comentou em um tom mais baixo. – E eu sinto que Jung Sooyeon é a resposta para os meus problemas que vem bem antes da Provação.
– No meu achismo ela realmente pode ter alguma coisa a ver com isso, então prossiga. Taeyeon vai parar de resmungar... – Fitou-a com a sobrancelha direita erguida. – Não vai, Taeyeon?
– Vou. – Cruzou os braços e bufou.
– Muito bem, então vocês sigam pelo mapa e eu seguirei pelo Focus. Me liguem a hora que for, certo? Precisamos compartilhar tudo o que acharmos. – Jessica comentou seriamente. – Somos uma equipe, mesmo que alguém não reconheça muito isso. E acima de tudo, temos que nos manter vivas para pegar quem atacou a Provação.
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As duas moças trajavam roupas muito diferentes do habitual, querendo causar uma certa imparcialidade para não serem reconhecidas. Ao contrário da tática anterior, Tiffany e Taeyeon desta vez só andavam pela região e fingiam observar coisas para comprar e vender. Não sabiam o tempo exato que Jessica levaria em tal região, então ficar de tocaia era o plano perfeito. Caminhavam lentamente e com os rostos levemente abaixados. Nem mesmo imaginavam o porquê exatamente haviam escolhido esse caminho, Tiffany já se questionava por que tinha falado aquilo se nem mesmo vira o rosto de Kim Jongdae para guardá-lo. Porém, o que lhe chamou a atenção para alguns homens não era nem mesmo se tinham alguma característica do procurado e sim... Pelo o que usavam na orelha. As duas se entreolharam e começaram a caminhar um pouco mais rápido para alcançá-los.
– Percebeu as roupas? – Taeyeon indagara, tendo a morena a somente rir pela respiração. Eram parecidas com as roupas usadas pelos inimigos no ataque após a Provação. Ambas as moças desligaram o Focus para que o sinal não fosse captado. – O que é aquilo que eles estão segurando?
– Parece aquela coisa que a Jessica tirou da sala da Doutora Jung... Como se chama? Foto? – Tiffany indagara e ambas rapidamente viraram para uma lojinha de tapetes e fingiam analisá-los. O grupo mediano apenas olhara friamente para as duas jovens e continuou o seu caminho.
– Se eu fosse vocês duas, não iria me meter a besta de segui-los. – Dissera o velho vendedor, sorrindo levemente. – Eles estão à procura de alguém.
– E o senhor sabe nos informar quem seria? – Tiffany dera um gentil sorriso, enquanto apertava com força a mão de Taeyeon.
– Não sei o nome, mas tem belas características.
– Poderia nos dizer quais?
– Olhos castanhos, cabelo castanho e presos em um rabo de cavalo, os olhos puxadinhos que nem os de vocês duas... – O homem coçou a barba enquanto tentava se lembrar de tudo. – E usava uma roupa estranha, muito estranha mesmo. Nunca vi algo assim.
– Como era a roupa? – Taeyeon colocou as mãos nos bolsos.
– Parecia um casaco que vai até os joelhos, todo branco. E por baixo outra peça branca também. Eles falaram um nome, mas não o gravei.
– Jessica?
– Não, não... Era bem diferente.
– Jung... Jung Sooyeon?
– Isso!
As duas jovens somente agradeceram com a cabeça e tomaram o caminho contrário ao que se fora o grupo. Tomaram uma distância considerável e segura para que Taeyeon pudesse começar a sussurrar.
– Ou a Jung está realmente viva, ou...
– Eles acham que Jessica e Sooyeon são a mesma pessoa. – Tiffany completou e rira pela respiração. – Agora eu realmente não entendo por que acham isso.
– A questão, minha doce Tiffany, nem mesmo é por que acham que Jessica e Sooyeon são a mesma pessoa. – Taeyeon parou de andar, fitando-a um tanto quanto receosa. – Mas sim... Por que acham que Jung Sooyeon estaria viva após tantos anos?
– Então Jessica estava certa. – Comentou com os olhos confusos e voltando a andar. – Os dois problemas estão diretamente ligados. – Engolira em seco. – O ataque... E a Jung.
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Jessica andava lentamente pelo local. Este local, ao contrário do anterior, estava realmente muito bem escondido. O matagal já havia tomado o prédio por completo, mas ainda sim as paredes estavam intactas. Fazia sentido que aquele fosse o alojamento emergencial, uma vez que era realmente seguro. A porta da frente estava completamente tomada por Corruptores e nitidamente estava lacrada, o que a fizera rir. Por que justamente nas ruínas metálicas onde grandes cientistas trabalhavam estavam tomadas por máquinas? Algum ponto começava a fazer sentido em sua mente, mesmo que muito de leve. Jessica usou o lança-corda para conseguir alcançar um ponto alto e começara a cuidadosamente escalar uma das paredes. Sabia que não podia chamar a atenção de nem mesmo um Corruptor, pois este iria atrair todas as máquinas por perto. Era íngreme e um tanto quanto escorregadio, então demorou um tempo considerável para que chegasse até o topo. E o pior... É que não achava nem mesmo um único buraco para adentrar.
– Droga... – Respirou fundo e fora caminhando lentamente sobre a espécie de telhado metálico. Com muito cuidado, fora até as pontas, procurando por alguma janela e suspirando em alívio ao ver uma única janela aberta.
Era suspeito, mas tentador.
Adentrou-a sem mais dificuldades e adicionou a luz do aparelho em sua orelha, notando que o interior não estava tão conservado quanto o lado de fora. Mal adentrou e já vira alguns cadáveres. Não fizera o backup, pois os Focus pelo chão estavam completamente destruídos. Jessica então somente olhava crachá por crachá e anotava os nomes em uma folha em branco do sistema. Por dentro era deveras escuro, tornando o ambiente sombrio. Era possível escutar uma goteira no fim do primeiro corredor, tendo Jessica a pegar o arco e uma flecha e os deixar bem posicionados.
Não importa o que aparecesse em sua frente, ela atiraria.
O mais confuso é que aquele andar não tinha placas nas portas. E para piorar a situação... Eram portas com travas eletrônicas e com senhas. Quiçá fossem alguns quartos, já que Jessica avistou uma cama no fim do corredor. Não era tão, tão alto, o que fazia a garota acreditar que tinha alguns andares subterrâneos. Lembrou de um detalhe importante, abaixando o arco lentamente e dando dois toques no Focus para que a tela virtual se abrisse. Selecionou o rastreio automático pela coordenada exata que estaria o corpo e o Focus de Jung Sooyeon. Andou até as escadas, vendo o rastro vermelho lhe guiar até o andar correto. Jessica não sabia exatamente quantos andares desceu, mas quando finalmente chegou até o andar correto, eis que não havia uma única iluminação além da luz de seu Focus e o rastro da coordenada. Era muito silencioso, tendo a moça a somente ouvir a própria respiração. Quando parou rente a porta onde estaria o corpo da cientista, a Valente se questionou se queria fazer aquilo mesmo.
Empurrou a porta entreaberta com cuidado, notando que se tratava de um mediano quarto. Engolira em seco por aquilo, pois haviam muitas roupas, muitos cadernos de anotações e livros de robótica. Levou o olhar até a cama, notando uma coberta tampar um volume elevado e que curiosamente havia o formato exato...
De um corpo.
Aproximou-se com receio, colocando a mão sobre o tecido velho e sujo e então respirando fundo. Puxou a coberta com força e então observou sua descoberta. Não dera somente um passo para trás, fora andando até a parede e ali se encostou.
A respiração se encontrava ofegante quando as luzes foram acesas e a porta fora fechada automaticamente. Seus olhos se arregalaram e tudo o que Jessica podia fazer naquele momento...
Era sorrir.
Era somente um amontoado de travesseiros e um pequeno Focus que piscava em cima da cama. A frase na parede era o que lhe fazia ter os olhos a brilharem e a esperança a lhe tomar a mente. Algo que poderia ser interpretado como ameaçador e intrigante, somente fizera com que Jessica sentisse toda aquela adrenalina lhe atingir como uma rajada.
“Não vai ser tão fácil assim.”
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