Eu caminhei pelo aeroporto lentamente, carregando apenas minha bagagem de mão, porque o resto já tinha sido despachado. Shawn caminhava um pouco a frente, distraído com seu celular. Cameron já tinha ido na frente, nós nos encontraríamos na manhã seguinte em Nova York.
Eu verifiquei as passagens mais uma vez por puro hábito e Shawn parou para me esperar para alcançá-lo.
- Tudo bem? – Ele perguntou, sem entender.
- Tudo. – Eu guardei as passagens.
- Você poderia ter ficado. – Ele me analisou.
- Eu não posso ficar agora. – Eu decidi, arrumando a mala nas costas. – Eu tenho que finalizar o contrato com Cameron antes de pensar no que fazer da minha vida.
- Você vai aceitar ele de volta? – Shawn fazia muitas perguntas e eu bufei, sem paciência.
- Eu não sei, Shawn. – Eu fui sincera. – Eu perdoei Calum, mas perdoar Luke é diferente. Ele fez algumas besteiras no meio do caminho e ele precisa amadurecer. Soube que ele fez as pazes com os meninos, mas agora ele precisa fazer as pazes comigo.
- Eu tenho certeza que ele vai dar um jeito. – Shawn sorriu, passando o braço em volta do meu pescoço.
- Desde quando você torce pela gente? – Eu o provoquei, o fazendo rir.
- Eu torço pela sua felicidade. – Ele respondeu, sorrindo.
- SHAWN! – Um grupo de fãs gritava e ele se afastou de mim. Eu parei no meio do saguão, esperando que ele atendesse as fãs. Nossos seguranças se aproximaram conforme a multidão começava a crescer. Várias fotos eram tiradas e não demorou para alguns paparazzis aparecerem também. Eu cruzei os braços, séria, porque Cameron tinha me dado instruções de parecer mais magoada em público, assim todos começariam a especular que algo entre nós não estaria certo. Durante a noite, ele tweetaria alguma frase deprimida e todos os fãs estariam preparados para o que estava por vir.
Logo meu celular tocou e eu atendi, em dúvida, porque era Calum e fazia tanto tempo que ele não me ligava ou mandava mensagem.
- Alô? – Eu atendi, virando de costas para a multidão e me distanciando um pouco.
- ONDE VOCÊ ESTÁ? – Ele gritou do outro lado da linha, me assustando.
- No aeroporto, ué. – Eu falei, confusa.
- VOCÊ NÃO PODE IR EMBORA! – Ele parecia desesperado.
- Por que não?
- Porque... Porque... Ah, droga, olha! – Ele ficou mudo e eu pude ouvir uma música no fundo:
“Don’t talk, let me think it over. How are we gonna fix this? How are we gonna undo all the pain? Tell me, is it even worth it? Looking for a straight line, taking back the time we can’t replace”.
(Não fale, me deixe pensar sobre isso. Como vamos consertar isso? Como vamos desfazer a dor? Diga-me, isso ao menos vale à pena? Procurando por uma linha reta, pegando o tempo que nós não podemos reviver).
Michael cantava ao fundo ao som dos instrumentos conhecidos. Eu parei, tentando entender o que era aquilo. Em todo o tempo que trabalhei com a 5sos, nunca tinha ouvido aquela música. {N/A: Aqui, The Only Reason foi escrita pelo Luke para a Liv, ok? Ela não existia antes}.
- Ouviu? – Calum perguntou, de volta na linha.
- O que é isso? – Eu perguntei, sentindo meu coração acelerar.
- É para você, Liv. – Ele disse, baixinho. – Luke escreveu para você nesse tempo em que vocês estiveram separados. Estamos formulando melhor uma melodia e quem vai cantar qual parte. Você tem que ficar!
- Eu não posso. – Eu disse, de repente, sentindo o medo me assaltar. Eu poderia ter ficado, mas o medo de me machucar ficou maior de repente. As coisas estavam começando a parecer reais demais. Afinal, antes Luke e eu namorávamos escondidos. Mas, com o fim de todos os contratos, namorar escondido não seria necessário e com uma música sendo feita para mim, tudo ficava ainda mais intenso e mais público.
- Por que não? – Ele perguntou, confuso.
- Eu preciso ir. – Eu decidi, pensando em Cameron. Eu precisava honrar isso a ele e acabar o contrato antes de cometer qualquer besteira, então, mesmo que o motivo para fugir fosse puramente o medo, eu tinha outras razões que colaboravam para que eu entrasse naquele avião.
- Vamos? – Shawn me chamou, enquanto os seguranças o empurravam.
- Eu preciso ir. – Eu repeti.
- Não, Liv! Ele preparou tudo! – Calum se lamentou.
- Tchau, Cal. – Eu falei rapidamente e desliguei o telefone.
- Pronta? – Shawn perguntou, sorrindo e eu assenti, nervosa. Estava indo embora e não sabia se era a melhor opção. No entanto, eu não estava pronta, eu sentia tanto medo que só queria fugir. Medo de que? Eu sonhei todo esse tempo com o momento em que finalmente Luke poderia ser só meu, entre idas e vindas, Arzaylea, acusações e Camila. Ele era meu.
A pequena parte da música ficou gravada na minha cabeça. E era uma pergunta real, que também assombrava Luke para fazer aquela música. Como iríamos consertar toda a bagunça? Valia à pena? Nós não podíamos substituir aquele tempo que perdemos nos desencontrando, brigando e nos vingando.
O voo foi monótono e finalmente eu estava em Nova York. Shawn ficou no hotel, pela manhã, porque ele teria que se preparar para uma entrevista, enquanto eu segui para o centro, a fim de assinar o contrato.
- Eu vi a cara que você fez enquanto falava no celular. – Cameron falou, enquanto estávamos na sala de reunião. – No twitter, achavam que nós estávamos brigando. Ótima encenação! Sua cara parecia realmente muito mal.
- Obrigada. – Eu disse, desconfiada. Droga. Eles filmaram aquilo. – Não era encenação.
- Bom, se não era encenação, eu te digo uma coisa: Você devia estar cometendo um grande erro. – Ele disse, rindo.
- Como? – Eu perguntei, confusa.
- Sua cara era a pior, você parecia apavorada. – Cameron continuou rindo, achando graça. – Era o bicho papão do outro lado da linha?
- Era quase o bicho papão. – Eu falei, pensativa. Não era o bicho papão, era tudo que eu sentia por Luke correndo para me encontrar e me afrontar. O que era ainda muito pior. Eu nunca tive medo do que sentia por ele, eu nunca fraquejei em ficar ao lado dele durante a crise, mas nada se comparava ao fato de ter que admitir todo aquele amor em público. Não era ruim, mas era assustador. E eu ainda teria que perdoar todas as mágoas dos últimos dias. A 5sosfam me odiaria. Minha popularidade cairia drasticamente. Liz voltaria para me assombrar, provavelmente. Eu seria considerada a próxima Arzaylea. E eu não estava pronta para ser comparada com ela...
Será mesmo?
Eu levantei da mesa num pulo, assustando Cameron.
- Preciso ir.
- Precisa ir? – Ele perguntou, confuso.
- Preciso ir. – Eu repeti, tentando raciocinar. Ir para onde? Onde diabos Luke estava?
- Assina primeiro. – Cameron falou, meio confuso. Eu corri e peguei os papeis das mãos do meu advogado, sem deixá-lo terminar de ler e assinei.
- Pronto, foi um prazer namorar você, Cam. – Eu disse, meio distraída, e saí correndo da sala. Liguei para Calum, mas ele não me atendia.
Quem enfrenta seu namorado com uma namorada falsa e foge quando ele finalmente quer ficar com você? Depois de toda a crise, depois de aguentar ao lado dele e acreditar que ele nunca bateria numa mulher, quando todos duvidaram, era idiota pensar em sentir medo de qualquer coisa. Eu não tinha motivos para não perdoá-lo e continuar o afastando.
Tudo voltava aos poucos, enquanto nenhum dos meninos atendia o celular. O sorriso de Luke era a única coisa que ficava na minha cabeça. Todos os momentos, desde o primeiro beijo, as primeiras provocações ou a primeira vez que entrei na gravadora e o vi num canto, sentado, tocando a guitarra e cantando.
A decepção quando eu fiquei com Calum. As brigas, as afrontas, os ciúmes.
Quando ele estava alterado pela bebida e me puxava para a cama com ele, dizendo que eu era cheirosa e nós nem tínhamos nada ainda, mas ele sabia me fazer rir melhor do que ninguém.
Numa festa, eu estava em cima de uma mesa e ele me beijava, se entregando a mim da mesma maneira que eu me entregava a ele.
O seu rosto ao me ver partir...
Eu cheguei ao calçadão e olhei as luzes de Nova York. Eu estava perdida. Para onde eu ia? Meu celular tocou, uma única mensagem. Meu coração deu um pulo:
Luke: Vá para onde você me conheceu de verdade.
Meu coração acelerou ainda mais. Peguei um taxi e parti para o aeroporto, porque era o modo mais rápido (e mais caro, infelizmente). De volta à Los Angeles, eu só conseguia pensar em Never Be.
Um sofá. Luke e um violão. Never Be era a trilha sonora. O dia em que ele sorriu e eu caí sobre ele, encarando seus olhos azuis bem de perto. Eu o conheci naquele momento. O verdadeiro Luke.
Quase três horas depois lá estava eu a caminho da Capitol Records sentindo uma nostalgia enorme. Meu coração não parava de acelerar, me deixando enjoada.
Eu entrei pela porta conhecida da gravadora que já passei tanto tempo limpando. O saguão vazio e a imagem de Luke e a maldita maçã que caiu fora do lixo. A nossa primeira discussão depois haveria muitas outras.
Eu andei a passos largos para o setor de gravações e entrei na antiga sala após bater.
Em vez de acelerar, meu coração parou. Luke estava no mesmo sofá, distraído, afinando o violão. Eu sorri sem me controlar e ele finalmente me notou, lançando apenas um sorriso.
- Você vai cantar Never Be? – Eu perguntei, chegando perto e sentando ao seu lado.
- Se você dançar para mim como antes, posso cantar qualquer coisa. – Ele sorriu e sua voz me fez arrepiar. Como eu poderia ter medo da única coisa que me fazia melhor? Que me fazia ser cada vez mais forte? Ele era a essência de tudo, a essência de que Olivia seria uma garota mais forte e não a covarde que abandonou tudo no Brasil após a morte da sua mãe.
- Eu quero que você cante uma diferente. – Eu decidi falar, virando para ele no sofá. Ele me encarou de canto de olho, desconfiado. – O que você tem de diferente para mim?
- Talvez você goste dessa... – Ele disse, sorrindo, convencido e começou a dedilhar algo no violão, virando para mim. Eu me ajoelhei no sofá para ficar de frente para ele, era impossível não sorrir agora. Medo não existia quando ele estava ali. Nós éramos a força um do outro.
TRILHA SONORA: THE ONLY REASON – 5 SECONDS OF SUMMER
“All the crossed wires Just making us tired, is it too late to bring us back to life? When I close my eyes and try to sleep, I fall apart and find it hard to breathe. You’re the only reason, the only reason. Even though my dizzy head is numb, I swear my heart is never giving up. You’re the only reason, the only reason”.
(Todos os fios cruzados nos fazendo ficar cansados, é muito tarde para nos trazer de volta à vida? Quando eu fecho meus olhos e tento dormir, eu caio aos pedaços e é difícil de respirar. Você é a única razão, a única razão. Mesmo que a minha cabeça atordoada estar entorpecida, eu juro que meu coração nunca vai desistir. Você é a única razão, a única razão).
A continuação da música me fez sorrir. Quando todas as dúvidas sobre valer à pena recuperar o tempo perdido se resumiam a algo bem simples. A única razão de sermos quem éramos era justamente o outro. Eu não seria a Olivia que sou hoje se Luke não tivesse me dado forças para enfrentar essa indústria logo no início. Ele não seria o Luke que é hoje se eu não tivesse mostrado o caminho para ele.
“I feel you burning under my skin, I swear I see you shining, brighter than the flame inside your eyes. Bitter words are spoken, everything is broken. It’s never too late to bring us back to life”.
(Eu sinto você queimando sob a minha pele, eu juro que eu vejo você brilhando mais que as chamas dentro dos seus olhos. Palavras cruéis foram ditas, tudo está quebrado, nunca é tarde demais para nos trazer de volta à vida).
Não, nunca é tarde.
Eu não podia esperar. Eu coloquei minha mão sobre as cordas do violão e ele me encarou, confuso, parando de tocar.
- Não está tão ruim assim, Olivia. – Ele ia começar a reclamar. Tão típico dele, mas tão meu ao mesmo tempo. – Nós íamos fazer uma versão muito melhor se você não tivesse ido embora e...
Eu o interrompi com um beijo. Eu sentia ele sorrir entre o beijo e logo Luke deixou o violão de lado, me puxando para perto. Sua mão segurava meu rosto e eu o abraçava perto. Não sei quanto tempo demorou aquele beijo, talvez o suficiente para matar as saudades de todos esses meses separados. O melhor beijo, o único que eu procurei por todo esse tempo.
- Eu preciso falar. – Luke interrompeu, ofegante, me mantendo perto dele. Sua testa encostou na minha e tudo que eu enxergava eram seus olhos azuis. – Não vai ser fácil. Nunca é fácil. Desculpe. Talvez, minhas fãs te odeiem, talvez você enfrente coisas que nem imagina... Seu amor por mim vai ter que passar por muitas coisas e eu vou entender se...
- Eu já enfrentei muita coisa, Luke. – Eu disse, sorrindo, enquanto segurava seu rosto próximo do meu. – Eu enfrentei uma namorada bem babaca como a Arzaylea, uma acusação de que você espancava mulheres, uma namorada falsa e uma mentira de que eu tinha sido subornada. Eu acho que meu amor é bem forte.
- Ótimo. – Ele disse, aliviado, sorrindo para mim. – Porque, eu te amo. E eu vou enfrentar qualquer coisa, tudo e todos, se você ficar ao meu lado.
- Eu não esperava menos de você, Luke Hemmings. – Eu disse, rindo, para logo depois ele me beijar novamente.
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