1. Spirit Fanfics >
  2. Hurt >
  3. Apenas deixe as correntes soltar

História Hurt - Apenas deixe as correntes soltar


Escrita por: BubbleTeaPark

Notas do Autor


Ola pessoal <3

Olha só, falei que não iria demorar, foi rapidinho <3
Vocês estão todos cansados da situação de nosso Jongin, ne? Eu sei, todos estão.

Boa leitura ^^

Capítulo 15 - Apenas deixe as correntes soltar


Fanfic / Fanfiction Hurt - Apenas deixe as correntes soltar

Nossa solidão é um sinal combinado, como se nossos dedos fossem interligados

O amor é apenas ridículo, eu posso até saber quando você mente

Você faz isso

Como posso fazer isso?

Eu não sei como acabar assim

Lose Control – Lay

 

 

 

 

Kyungsoo entrou em uma enorme sessão de leitura que transformou em algo quase compulsivo.

Criou uma meta para si mesmo e focou em cumpri-la, apenas para provar para ele mesmo e para passar o seu tempo fazendo coisas que realmente seria legal e até educativo. Ler.

Naquele dia, ele passou o dia todo lendo um único livro, até termina-lo, só parando para ir ao banheiro e comer e beber algo. Quando leu a última frase, percebeu que aquele tipo de atividade o fazia se sentir melhor, algo momentâneo, mas era bom.

Sempre gostou de livros, mas também sempre teve preguiça e falta de tempo para lê-los. Mas, agora, ele não tinha que se preocupar com agenda lotada ou cansaço. Sua vida se transformou em tédio e tempo livre de um dia para o outro.

E, é claro que, se envolver com uma história te prende e te envolve, assim como o piloto, fazia-o se esquecer um pouco. Desligar-se por um momento porque saber o desfecho de finais fictícios era mais legal do que se preocupar com o seu.

Então naquela primeira semana Kyungsoo não saiu de seu quarto, e não viu e nem falou com ninguém além de Jongin que o ajudava.

O Kim poderia estar mais feliz, já que o amigo parecia menos abalado com tudo, mas ele sentia que no fundo era apenas um disfarce, uma camuflagem, algo para que ele se desviasse de si mesmo e só se importasse com vidas e pessoas que nem sequer existiam. Porque a realidade é sempre mais difícil de lidar.

Afinal, é possível alguém ser viciado pelas páginas de um livro?

- Hyung, você não quer comer nada? – questionou, encarando-o com a cara no livro.

- Se eu quisesse comer alguma coisa eu teria te pedido, mas se eu pedi só por água, então eu queria só água porque havia acabado. Você é idiota?

- Tudo bem... – suspirou, olhando ao redor. – Será que eu posso conversar com você um instante?

- Não.

- É rapidinho.

- Jongin... – o encarou, abaixando o livro. – Eu estou chegando no capítulo em que o Dumbledore morre, você acha que o que você tem a falar é mais importante do que a morte de Dumbledore?

- Isso é uma pergunta muito difícil. – sorriu.

- Então vai embora.

- Eu só ia dizer que seria legal você fazer outras coisas também, em vez de ficar no quarto todo dia, o tempo todo, só comendo e lendo. Saiba que tem várias outras coisas que você pode fazer e não precisa ser sozinho.

- Mas eu quero ficar sozinho e você esta tirando isso de mim. Além do mais, eu não estou no meu quarto... – apontou para o livro. – Eu estou em Hogwarts.

- E a fisioterapia? Quando vai começar a fazer?

- Quando eu quiser começar.

- Mas se demorar muito a recuperação vai ficar cada vez mais difícil.

- Não me pressione.

- É só um aviso.

- Tudo bem... – suspirou. – Vocês quer que eu implore a você? Porque já lhe dei o aviso para me deixar sozinho só que mesmo assim você continua ai parado feito um idiota no meio do meu quarto. Então saia.

Jongin então revirou os olhos, suspirando, e saiu pela porta sem dizer mais nada.

 

~

 

- Livros, livros, livros e mais livros.

- Pelo menos ler é bom. – disse Nina, encorajando-o. – Sei lá, ele poderia estar fazendo coisa pior.

- Ele poderia estar fazendo a fisioterapia.

- Não pode obriga-lo se ele não quer.

- Mas é burrice.

- Até mesmo os burros fazem suas próprias escolhas.

O moreno suspirou, cansado.

- Sempre pensei que ele fosse inteligente demais para isso.

Jongin havia perdido a conta dos dias, não olhava mais o calendário e nunca prestava atenção na data de seu celular. Passava metade do seu tempo cuidando de Kyungsoo e a outra metade pensando em algo para convence-lo de vez a começar logo a fisioterapia.

Ele não podia desistir, certo? Não podia deixar para lá seu amigo afetado em um momento sensível, deixa-lo sendo um idiota com escolhas burras.

Já eram dias demais.

- Hyung... – entrou no quarto do outro, sem bater, encontrando-o deitado de modo desajeitado na cama, com todos os livros ao seu redor. – Já acordou? O que quer comer hoje?

O Kim se aproximou e notou que mesmo que ele estivesse com os olhos abertos, ainda parecia cansado e sonolento.

- Você esta bem? – perguntou.

- Eu virei a noite lendo o último livro, Jongin, o último livro.

- Não sobrou mais nenhum?

- Eu não aguento ler mais. Eu preciso guardar os outros para quando eu for velho, isso se eu ainda estiver vivo até lá. Minhas costas estão doloridas...

- Eu vou fazer uma massagem.

O moreno o virou de costas e subiu em cima da cama, começando a massagear do jeito que sabia as costas do alvo, que permaneceu parado e com os olhos entreabertos, quase fechados.

- Porque a vida é assim, Jongin? Porque não é como nos livros?

- Porque os livros são só histórias.

- Eu queria ir pra Hogwarts. – disse sério. – Eu seria um bom bruxo, você não acha?

- Claro.

- Ou lutar na Terra Média, coisas assim, ter uma terra mágica dentro do meu guarda-roupa com um leão que fala dentro dela, sei lá...  Mas não, a vida é como um câncer, estraga a gente por dento, por fora, leva tudo como uma bactéria, um vírus. A vida é uma doença terminal, é complicada, cara e ruim, muito ruim.

- Mas não precisa ser assim. Você não escolhe ter câncer, mas a sua vida você pode escolher. Você manda nela, você é dono das suas escolhas. Você pode fazer qualquer coisa para muda-la, é só querer, é só tentar. A tentativa é melhor que nada.

- Você pode escolher me beijar agora?

Jongin parou a massagem e o seu olhar se encontrou com o dele, sem responder ele o virou de frente na cama, com cuidado, e se inclinou para beija-lo. Seu beijo foi com calma, mas o de Kyungsoo foi acelerado e meio desesperado, deixando quase óbvio o quanto o menor sentia falta daquele tipo de contato.

Quando se separaram, o Do encarou os olhos do moreno, mas logo desviou o olhar e empurrou-o para se afastar de si.

- Você estraga as coisas. – disse, sem encara-lo. – O seu olhar apaixonado me deixa com náuseas.

- De qualquer modo, eu não vou fazer sexo com você até que comece a fisioterapia.

- Tudo bem, eu faço. – murmurou.

- Jura? – sorriu.

- Quanto tempo passou desde que eu comecei a ler os livros?

- Algumas semanas, quase um mês.

- Semana que vem eu começo.

- Você esta me enrolando?

- Eu disse que vou fazer, só não disse quando vou começar. – suspirou. – Agora eu quero dormir, me deixe sozinho... E guarde todos os livros de volta na minha estante.

- Você deveria dizer algumas palavras do tipo “por favor” ou “obrigado”. Melhora a convivência. – se levantou, vendo-o com os olhos fechados. – E não me peça para te beijar e depois haja como se não fosse nada.

- Você acha que é tão valioso assim? Que precisa de momentos únicos e especiais só para te beijar? – riu de leve. – Você é engraçado, Jongin.

O mais novo não disse mais nada, apenas deixou-o pegar no sono e começou a colocar todos os livros de volta no lugar, em silêncio para não acorda-lo.

Jongin já não sabia mais se devia insistir e até mesmo tomar uma atitude mais rude ou apenas deixa-lo com essa decisão estúpida e fraca, mesmo achando que ele se arrependeria mais tarde. De qualquer modo, se for assim, o moreno ficaria preso naquela casa para sempre, cuidando do melhor amigo paraplégico.

Talvez esse era o plano de Kyungsoo?

 

~ ~

 

Kyungsoo dormiu por boa parte do dia, e, quando acordou, finalmente estava disposto a sair do quarto depois de dias trancado apenas lendo, mesmo que ainda tivessem sobrado livros.

Leu tantas histórias e se envolveu tanto com elas que a sua própria vida havia se tornado nada interessante, não só pelo acidente, mas tudo o que viveu, o que vivia e o que talvez iria viver não parecia mais legal e nem motivador.

Sentia-se mais uma vez obrigado a viver.

- O que você quer fazer, hyung? – perguntou Jongin, assim que o colocou de volta na cadeira de rodas em sua sala.

- Com você? Nada. Eu só quero dar uma volta. Sozinho.

- Claro, pode ir, mais nenhuma escada vai te atrapalhar.

O Do começou a se movimentar sozinho, indo até a cozinha. Quando Nina o viu, ela se curvou imediatamente e ia cumprimenta-lo, mas o olhar severo do alvo a fez fechar a boca e se afastar sem dizer nada. Com ele, o silêncio era quase sempre a melhor alternativa.

- Ele parece mais animado. – comentou a garota, aproximando-se do moreno que ainda permanecia perto das escadas.

- Você acha?

- Eu não sei, qualquer coisa positiva vindo dele é um avanço, não?

- Seria bom se fosse.

Para o Kim, o único avanço sério seria o mais velho começar logo a fisioterapia, era algo na qual melhoria tudo. Sua locomoção, sua autoestima e também o seu tédio. Vê-lo daquele jeito afetava Jongin também, ele não gostava de ver o amigo todo fora de si e quebrado, nem preso em uma cadeira de rodas.

A frustração e a preocupação da paraplegia tornar-se irreversível tirava as noites de sono de Jongin, fazia seus pesadelos se tornarem mais vivos e dolorosos. E não importava o quanto Nina falava ou o aconselhava, ele nunca a ouvia.

- Eu disse que não precisa.

- Me deixe pintar suas unhas, noona. – puxou a mão dela de volta, começando a passar o esmalte de tom vermelho. – Eu não tenho nada melhor para fazer, de verdade.

- É que não precisa de muito esforço, o esmalte não dura nem uma semana inteira.

- Não estou fazendo esforço.

- Você esta super concentrado, Jongin. – deu risada.

- Eu preciso de algo para ocupar a minha mente. Toda essa situação é um saco, você sabe.

- E os seus desenhos? Não esta desenhando mais nada?

- Não, antigamente eu pensava o tempo todo em Kyungsoo, agora passo o tempo todo me preocupando com o Kyungsoo. Antes ele quase não parava em casa e quando parava eu mal o via, mas agora...

- Você parece estar tomando as dores para si mesmo. – suspirou. – Eu não gosto de te ver assim.

- Eu estou bem.

- Você esta mais preso a ele do que antes, obrigando-se a ser gentil com alguém que lhe trata mal só porque ele não pode andar.

- Não é bem assim. – sorriu, erguendo a mão feminina. – Ficou bonito, certo? Eu passei direito.

- Quase. – deu risada.

- Por onde o ChanYeol anda? Ele esta meio sumido. – comentou, mudando de assunto e pegando a outra mão da garota.

- Ele não gosta de climas tensos e pesados. Ele é animado demais para situações como essa.

- Ninguém gosta de climas tensos e pesados.

- Você gosta... Você tem um gosto diferente para tudo.

- Não tenho.

- Tem sim. – sorriu. – E é diferente de um modo estranho e difícil de entender ás vezes. Nem sempre é algo bom.

- Não, eu sou bem simples na realidade, bem sem graça, não tem nada de diferente em mim. Tipo, você sabe, eu não chamo atenção. Mas eu não ligo. – deu de ombros. – Eu não me importo com atenção.

- Você é especial. – suspirou. – É uma pena que nem todo mundo nota isso.

- Pelo menos eu sei que alguém nota. – ergueu os olhos, sorrindo para ela, que correspondeu o seu sorriso de um modo meigo.

- Nossa, o que foi isso? Eu estou em uma novela? – uma voz os interrompeu, e eles viraram imediatamente para ver Kyungsoo na porta da cozinha, com um olhar curioso e bravo, com uma mão apoiando seu queixo e a outra pousada nos controles da cadeira.

Nina retirou rapidamente sua mão das mãos de Jongin, abaixando ligeiramente a cabeça, envergonhada.

- Não, o que é isso? Pode continuar, fique à vontade, Nina. – apontou, sorrindo. – Continue jogando todo esse charme de “eu sei que você é diferente dos outros e especial” para cima dele. É sério, continua, pode dar certo já que o Jongin é todo desesperado. Você vai desistir assim?

- Kyungsoo, chega...

- Não, Jongin, chega você. Esta dando mole demais para essa garota, olha aonde as coisas estão chegando. Todo esse romantismo no ar me deixa enjoado, me dá vontade de vomitar. Não façam isso nessa casa, na minha casa.

- Senhor Do, eu não tenho nenhum romance...

- Não tente se explicar, garota. Você não passa de uma vagabunda pobre tentando conquistar caras com uma vida boa, pobres de espirito e desesperados como o Jongin. Mas saiba que, o dinheiro que ele tem, sou eu que dou a ele. Então acho que você deveria tentar abrir as pernas para mim, não para ele, certo? Ah, é uma pena que você não faz o meu tipo.

- Kyungsoo, para com isso, você não pode falar com ela desse jeito, você nem tem o direito. Para de agir assim, esta sendo ridículo.

- Eu estou sendo ridículo? – apontou para si mesmo. – E o que estavam fazendo agora de pouco? Essa ceninha melosa de novela de adolescentes. Me poupe.

- Quantas vezes eu vou ter que te falar que não há nada entre a gente? Nunca teve e nunca vai ter.

- Não é o que ela deseja, não é mesmo? – voltou a encarar a garota. – Vamos, Nina, confesse. Tenho certeza que não quer se passar de mentirosa para mim. Porque eu já sei.

A cozinheira levantou o olhar e o encarou.

- Tudo bem, eu confesso. – suspirou. – Eu sou apaixonada pelo Jongin.

O moreno a encarou de modo confuso e Kyungsoo a fitou de modo sério e pensativo, até dar um sorriso forçado para ela.

- Você esta demitida. – disse, começando a se movimentar para atravessar a cozinha, mas parou de repente. – Na verdade não, não vou te demitir. Pode continuar trabalhando aqui, continuar vendo Jongin e saber que ele nunca vai te corresponder mesmo se quisesse. É uma pena, não é? – riu.

Kyungsoo voltou a se mover, saindo da cozinha e indo para a sala de cabeça erguida. Jongin olhou Nina que não o encarava e depois o caminho que o alvo tomou, hesitou na sua indecisão de saber com quem falar, mas no final acabou seguindo o mais velho, deixando-a sozinha.

- Hyung... – se aproximou.

- Jongin, eu quero tomar banho, se apresse.

- Você não pode falar com a Nina daquele jeito.

- Eu posso falar do jeito que eu quiser com quem eu quiser. Além do mais ela é só uma cozinheira, eu pago o maldito salário dela, assim como deixo ela morar de baixo do teto da minha casa.

- Isso não lhe dá o direito de desrespeitar as pessoas, não importa quem seja. Ela nunca errou no trabalho dela e sempre foi gentil e prestativa. O que você fez foi injusto.

O Do revirou os olhos e apontou para as escadas.

- Meu banho.

Jongin suspirou e hesitante o pegou no colo, tirando-o da cadeira para que ele subisse as escadas e fosse para seu quarto.

O mais novo ajudou-lhe com o banho, tirou suas roupas e preparou a água da banheira, assim como o colocou lá dentro e ajudou-o a se lavar, ainda com a mesma delicadeza e paciência que sempre teve. Mas sem expressões alegres ou qualquer pequenos sorrisos.

- Diga a ela que eu pedi desculpas. – Kyungsoo murmurou. – Eu fui rude demais.

- E quando que você não é?

- É que eu estou pensando agora, já deve ser horrível para ela ter que amar você enquanto você não esta nem ai para ela porque a pessoa que você ama sou eu. É engraçado. – sorriu. – Tadinha. Será que ela já ouviu a gente brincando no quarto e desejou ser eu? É por isso que ela fica te persuadindo a sair dessa casa, tão egoísta, quer você só para ela. Mas amizades são mais importantes do que romances bobos, não é, Jongin?

- Não trate ela mais daquele jeito.

- Claro, claro. – suspirou. – Será que ela cospe na minha comida?

- Não seja ridículo.

Kyungsoo riu, e Jongin preferiu ficar na dele, como sempre, sem dizer nada e nem sorrir ou dar risada. Apenas aguentando.

Quando o alvo já estava de banho tomado, dentes escovados e de pijama, este resolveu fazer algo diferente, então em vez de deitar na cama ele pegou o celular e o ligou pela primeira vez desde sua última postagem no instagram.

Vivia bem sem o celular, até porque achava cansativo ficar com os olhos na tela o tempo todo, principalmente por receber muitas mensagens e comentários. Não tinha muito tempo para focar naquilo em um todo, não como os outros.

No entanto, quando ligou o celular percebeu que a única mensagem que havia recebido era de sua mãe, além da mãe de Jongin que desejou melhoras.

- As pessoas levaram a sério demais a minha recuperação. – comentou com o moreno. – Eu ainda posso me divertir de vez em quando.

O Do foi em seus contatos e ligou primeiramente para Baekhyun, era aquele que sempre estava disposto para qualquer coisa que o piloto chamava.

- Ei, Baekkie? – colocou no viva voz. – Onde você esta? Porque tanto barulho?

- Estou em uma festa, não dá para falar. O que você quer?

- Esta em um festa e não me chamou? – riu. – Que deselegante da sua parte.

- Como você vai participar de festas como essa agora? Sua cadeira de rodas iria atrapalhar. Você nem conseguiria dançar.

- Eu ainda posso participar.

- Você não tem que se recuperar?

- Eu estou bem. – murmurou. – Venha amanhã aqui em casa.

- Não dá, tem uma festa na piscina para eu ir de tarde.

- Onde? Eu posso ir.

- Kyungsoo... – deu risada. – Desculpe, mas não sei como...

- O Jongin pode me ajudar a entrar na piscina.

- Coitadinho, você conseguiu transforma-lo em seu escravo para sempre. Parabéns. – riu alto. – Eu tenho compromissos todo esse final de semana, não posso ir ai, outro dia a gente se fala. Tchau.

Baekhyun desligou sem esperar a resposta de Kyungsoo, e este o xingou irritado enquanto procurava outro contato.

- Baek é um idiota. – reclamou. – ZiTao é com certeza melhor.

Então o piloto foi, de quase um a um, ligando ou mandando mensagens para todos os contatos que tinha, dos mais próximos para até aqueles que não via ou não falava a meses. Só queria sair, estar em um ambiente diferente ou apenas beber algo e encontrar velhos amigos para conversar ou jogar, como sempre fez todos esses anos.

Porém, dessa vez, parecia que não havia ninguém disponível para si.

Ou já estavam em algumas festa, ou estavam ocupados com outras coisas ou simplesmente ignoraram suas chamadas e mensagens. De todos eles, não houve nenhum.

Do mesmo modo que nenhum deles perguntou se ele estava bem, do mesmo modo que se lembrou que seu acidente já havia acontecido há dois meses e mesmo assim nenhum de seus amigos foi visita-lo no hospital e nem sequer mostraram se preocupar.

Jongin que ainda permanecia no quarto, sentado na cama do piloto, assistiu toda a frustração do amigo cada vez que era ignorado pelo seus colegas. Viu sua raiva crescer e seu rosto decepcionado aparecer enquanto apertava seu celular com força nas mãos para tentar se conter.

De novo o viu em um estado quebrável e sensível, e mesmo depois da cena que causou com Nina ainda sentia vontade de abraça-lo e dizer que tudo ficaria bem e que ele poderia chorar porque toda aquela situação era uma merda e que ele sempre teve amigos de merda.

Toda aquela rejeição após o acidente de Kyungsoo não era surpreendente para o Kim, ele já imaginava que algo assim aconteceria. O piloto nunca teve amigos, só seguidores. Sem a fama, eles apenas esquecem, somem, usam desculpas e não aparecem.

Mas o Do não, ele nunca percebeu, parecia que ele ainda sentia-se o rei, mas via seu reinado decaindo aos poucos.

- Você esta bem? – questionou o mais novo, quebrando o silêncio.

- Sim. – suspirou, olhando ao redor. – Eu nem estava afim de sair hoje mesmo.

- E o que quer fazer agora? Apenas dormir ou ainda quer sair? Eu posso te levar para algum lugar se você quiser, um pouco de ar livre é bom mesmo.

- Não, Jongin. Eu já tenho que olhar para a sua cara o tempo todo, quando vou ao banheiro, quando estou tomando banho. Sou obrigado a te ver mais do que já te via antes.

- É. E foi você que pediu.

- Sim, eu sei. – suspirou. – Me leve lá para baixo, quero passar a noite na sala de jogos hoje, eu cansei do meu quarto.

Jongin assentiu e os dois saíram do quarto, fazendo todo o processo de tirar e colocar Kyungsoo na cadeira para descer as escadas. E assim que voltou para sala, seguiu o caminho da cozinha e depois o corredor que dava para a sala de jogos.

O moreno o seguiu apenas até a cozinha, onde deixou o outro ir sozinho já que não queria a sua companhia, e também porque Nina ainda estava lá, quase que no mesmo lugar de antes, enquanto mexia em seu celular.

- Noona? – ele se aproximou, meio hesitante, e ela levantou seus olhos para encara-lo. – Por favor, me diga que o que você disse é mentira. Você não pode estar apaixonada por mim... Quer dizer, eu me sentiria mal se você estivesse.

- É mentira. – sorriu.

- Tem certeza ou só esta falando isso porque...

- Bem, eu te achei muito bonito quando te vi pela primeira vez. E quando nos conhecemos melhor eu gostei ainda mais de você, peguei simpatia por você, mas não ao ponto de me apaixonar. – suspirou. – Eu disse aquilo porque eu cansei do Kyungsoo me atacar pelo mesmo motivo, dele ficar inventando histórias e me ofendendo achando que eu amo você ou algo assim. Eu apenas confessei o que ele queria ouvir, mesmo sendo mentira. Agora ele vai parar de me acusar do jeito que faz, tenho certeza que ele esta até feliz, sádico do jeito que ele é esta adorando saber que eu estou morrendo de amores por você, enquanto você ama ele.

- É, foi um bom plano, é melhor ele achar isso do que ficar te acusando com mentiras.

- É assim que tem que viver nessa casa.

O mais novo a encarou quando percebeu um tom irritado em sua voz, assim como a expressão em seu rosto, não era como sempre foi, dessa vez ela parecia incomodada e até brava. E seus gestos, assim como o seu olhar, mostrava certo nervosismo e ansiedade.

- O que foi, Nina? Aconteceu algo?

- Sim, com você. – o encarou. – Eu não menti quando disse que você é especial, você é e mesmo assim acha que merece tão pouco. Quase nada. Você é totalmente cego, Jongin, totalmente. Você não ouve ninguém a não ser Kyungsoo e não vê ninguém a não ser ele também. É completamente cego e surdo. Se o Senhor Do fosse um assassino você esconderia os corpos que ele matou, limparia o lugar e ainda se colocaria culpado em frente a polícia só para ele não ser preso.

- Eu não acho que eu faria isso se realmente...

- Você faria. – interrompeu. – E olha, o Kyungsoo, ele não é normal, sabia? Quer dizer, eu não o conheço como você, mas as coisas que ele faz não é normal. O modo como ele age, eu não sei, ele deve ter algum trauma mental, do passado, qualquer coisa, para agir assim com você. Ele acha que você é propriedade dele, então qualquer pessoa que se aproxima de você, como eu ou o ChanYeol, ele sente como se fosse uma ameaça. O que aconteceu aqui minutos atrás foi um ataque de ciúmes, algo que poderia até ser bobo se vocês estivessem em um relacionamento, mas vocês nem estão, ele nem sequer te ama, ele nem te trata bem. Eu estou o tempo todo me perguntando agora... Se Kyungsoo te quer ao lado dele, porque ele te trata mal?

- Ele trata todo mundo mal, você sabe disso.

- E isso faz ele achar que é o seu dono, em qualquer circunstância. Ele te prende aqui e se for por ele você vai viver a sua vida inteira aqui, servindo ele do jeito que ele quiser. Eu não gosto disso, não gosto de pensar em você se inferiorizando assim e muito menos da personalidade esquisita, confusa e problemática do Kyungsoo. Além de fisioterapia, ele precisa também de um psicólogo.

- Se eu não consigo ele fazer nem a fisioterapia, imagina ir a um psicólogo.

- Eu sei que ele é o seu amigo mais antigo, mas porque você não me ouve também? Eu sou sua amiga e eu quero o seu bem. Tira essa venda dos seus olhos, Jongin.

- Me desculpa, Nina, é só que... – seu celular vibrou em seu bolso, indicando na tela que era uma mensagem de Kyungsoo. – Eu não consigo.

- Até pessoas legais, pacientes e especiais como você tem os seus limites. – suspirou – Chega uma hora que não dá mais. O meu limite ultrapassou aqui.

O Kim a viu se afastar, entrando pela porta no canto da cozinha para ir até o seu pequeno quarto de empregada, sem dizer mais nada. Jongin suspirou e guardou o celular, saindo da cozinha e pegando o caminho até a sala de jogos, onde bateu na porta e entrou devagar.

- Me chamou? – perguntou ao alvo, vendo-o sentado em sua cadeira e em frente à televisão que brilhava no menu de algum jogo.

- Entre aqui.

O moreno entrou, fechou a porta e foi até ele, sentando-se no pequeno sofá ao seu lado.

- O que foi?

- Sinto-me estranho.

- Estranho como? Mal? Esta sentindo algo?

- Só estranho. – pegou uma garrafa de cerveja que estava em seu colo e levou até a boca para um gole.

- Onde pegou a bebida?

- No frigobar, esqueceu? – apontou para o canto da sala. – Pegue uma também e beba comigo.

- Não, eu estou bem, obrigado.

- Sabe de uma coisa? – encarou a garrafa em suas mãos. – Eu odeio cerveja. O gosto é amargo e se você não beber isso rápido ela fica quente, e se ficar quente o gosto piora. É a pior bebida alcóolica que já criaram.

- Então porque você bebe?

- Eu não sei. – suspirou. – Talvez porque bebida ainda é o melhor modo de se socializar. Todo mundo bebe porque todo mundo bebe, então todo mundo se acostuma com o gosto e passa a ser não tão ruim assim. É um ciclo.

- Ninguém deveria fazer algo que não quer por causa de outro.

- Mas todo mundo faz. – sorriu.

- Não deveria, só deveriam tentar ser feliz do seu jeito. Eu acho que isso importa mais, você sabe, mais do que status.

- É por isso que você não tem amigos.

- É, é por isso.

- Você é feliz, Jongin? – o encarou

O moreno o encarou de volta, no meio da escuridão, com a pouca luz que saia da televisão e iluminava o rosto do mais velho.

- Não. – respondeu, desviando o olhar. – Você é?

- Eu costumava ser, mas não vejo mais motivos...

- Você era feliz ou apenas fingia?

- Eu não sei. – bebeu mais um gole. – Eu não sei mais de nada. – sorriu. – Mas eu sei o que aquela garota quer, a Nina, ela não me engana.

Jongin suspirou e revirou os olhos.

- Você sente ciúmes dela?

- Não.

- Eu nunca namoraria com ela.

- Eu sei.

- Então porque agir assim? Se você ao menos, sei lá, gostasse de mim, eu poderia entender, mas você... Não gosta.

- Eu gosto de você, quem disse que eu não gosto?

- Você disse.

- É que é muito difícil gostar de você, Jongin. Você é tão chato, sua existência toda é chata. Andando para lá e para cá, como um zumbi, sem caminho nenhum. Sua aura é pesada e pessimista. Além disso é introvertido, tímido. Não é legal.

- Eu não sou introvertido, nem tímido. – sorriu. – Parece isso porque eu não gosto de me socializar com as pessoas que você gosta.

- Olha só, cheio de preconceitos, é o que eu já lhe disse, abre mais seus horizontes. Isso é bom. O que lhe faria feliz agora? Nesse momento.

- Uma chance. – respondeu de imediato, como se estivesse gravado na sua cabeça.

Kyungsoo deu risada.

- Além de chato você é previsível também. Você tem que parar com isso, você sabe que não tem chance nenhuma, parece que esta desesperado para ser amado.

- Eu te amo.

- Não há nada que eu possa fazer em relação a isso.

Jongin encostou suas costas no sofá e abaixou a cabeça. O Do o encarou, e mesmo com a sala um pouco escura, deu para ver os olhos do moreno enchendo-se de lágrimas.

- Ah não, você não vai chorar, não é? – virou a cadeira, olhando-o mais de perto. – Meu Deus, Jongin, não chore. Você não é tão fraco assim, o que houve com você? Com certeza não é mais o menino que eu conheci.

- Você também não é. – murmurou baixo.

- Você esta me decepcionando. – levantou o rosto do mais novo, limpando uma lágrima que havia escapado com o seu dedo. – Não deixe ninguém ver a sua fraqueza, muito menos te ver chorando. Se eu te ver chorando por minha causa, eu vou usar isso contra você. Ainda somos amigos, okay? A gente vai ser para sempre, como prometemos. Um ao lado do outro, como sempre foi.

O moreno o encarou, franzindo o cenho.

- Nós dois sendo amigos ou eu sendo seu empregado particular?

- E qual a diferença? – sorriu. – O que importa é continuarmos aqui. Para sempre. Agora vamos parar com essa chatice e jogar um pouco, o que acha?

- Tudo bem.

- Eu acabei de te consolar, Jongin, não recebo nada em troca? Quanta consideração. Depois de tudo o que você me fez, toda a pressão com a fisioterapia.

- Obrigado. – disse, pegando um dos consoles. – Mas você ainda precisa fazer a fisioterapia.

- Você por acaso chorou para me sensibilizar e me convencer a fazer essa merda?

- Não. Você não se sensibiliza com nada.

Kyungsoo suspirou.

- Tudo bem, eu começo a fisioterapia segunda. Dessa vez é sério, sem falta. Mas me promete que não vai mais chorar na minha frente ou na frente de ninguém. Não gosto de ver você... Não gosto de ver ninguém chorando, é desagradável, eu tenho o instinto de consolar.

- Se você vai fazer a fisioterapia, isso me deixa mais feliz. – sorriu.

- Viu? Como sempre, eu sou o herói. De nada, Jongin.

O mais novo estava mais animado com o fato dele aceitar, mas parecia que o alvo ainda não havia entendido que aquilo não era um favor que ele estava fazendo ao Kim e sim estava fazendo para ele mesmo, porque só ele se beneficiaria com aquilo. Era tudo para o bem dele, mas ele ainda não compreendia.

E mais uma vez Jongin soube que não seria nada fácil.

 

~ ~

 

O resto do final de semana foi calmo, sem brigas ou surpresas.

Kyungsoo passou quase boa parte do tempo jogando vídeo game, Jongin ás vezes jogava também e os dois acabavam se divertindo um pouco juntos, coisa que não durava muito já que o bom humor do piloto nunca permanecia por muito tempo.

Quando percebia uma aproximação maior do moreno por ser mais simpático e agradável, ele logo mudava e sua simpatia virava arrogância em pouco tempo.

Nina passou a falar menos com Jongin, não por causa de Kyungsoo, mas porque, assim como havia dito, tudo já ultrapassava seu limite. E o mais novo sabia disso, sabia o porquê, mas continuava agindo do mesmo modo e cuidando de seu amigo porque precisava cuidar.

Porque sentia que ainda faltava muito para chegar ao seu limite. Outras vezes achava que ele não tinha exatamente um limite, sua paciência com o Do era naturalmente ilimitada. E sentiu de verdade que quando começasse a fisioterapia as coisas iriam mudar.

Na segunda, Kyungsoo não fugiu dos médicos, do fisioterapeuta e de todos aqueles que iriam acompanhar a sua recuperação. Ele os recebeu sem reclamar e aceitou, assim como havia dito à Jongin.

E então o seu dia a dia de alimentação regulada e exercícios constantes tornou-se diário, fazendo-o com que ele ficasse finalmente ocupado com alguma coisa realmente importante para si próprio.

Porém, logo na primeira semana, o Kim notou que não havia animação nenhuma saindo do melhor amigo em relação a sua rotina de fisioterapia. Tudo o que ele fazia era sem vontade nenhuma, não fazia esforço nenhum e seu comportamento deixava claro que ele via aquilo como uma obrigação.

Aquilo deixou o mais novo contrariado, e ainda mais preocupado do que estava antes.

- Hyung... – sentou na beirada da cama do alvo, vendo-o se acomodar com o travesseiro em suas costas. – Então... Você não esta ajudando.

- Em que?

- Na fisioterapia.

- Eu estou fazendo.

- Mas você não esta se empenhando. – suspirou. – Kyungsoo, isso é sério, você tem que se esforçar, não pode apenas fazer por fazer.

- Eu estou fazendo. – repetiu. – Não era o que você queria?

- Mas se você não se empenhar de verdade não vai adiantar nada. Você precisa entender que é para o seu próprio bem, não veja isso como uma obrigação. É o que vai fazer você voltar a andar, ir ao banheiro sozinho e sem precisar de mim para fazer quase tudo. Entende?

Kyungsoo o encarou, demonstrando impaciência.

- Sua mãe esta feliz por ter decidido fazer. – continuou - ChanYeol te ligou lhe mandando forças e animação. Nós estamos contentes por ter começado realmente a fazer, mas falta a sua parte também, falta motivação.

- Fodam-se vocês. – disse sério.

- Hyung...

- Eu sou um fardo para você? É isso? Você deve estar louco para que eu me recupere e você possa ir embora dessa casa o mais rápido possível, não é?

- Não...

- Vai dormir, Jongin. Me deixa dormir.

- Mas você...

- Saia daqui e me deixe dormir. – insistiu. – Você quer que eu me irrite com você?

O moreno suspirou e se levantou da cama, vencido.

- E peça desculpas por ser tão chato. É difícil toda essa pressão que você faz.

- Desculpa, hyung... Por ser chato e ficar pressionando.

- Ótimo. – sorriu. – Agora arrume meu travesseiro para que eu possa dormir.

 

~

 

Conforme os dias passavam, tudo ia ficando cada vez pior.

E a decepção de Jongin ia consumindo-o pouco a pouco, deixando-o cansado mesmo que não fizesse nada além de cuidar de Kyungsoo. Até que percebeu que cuidar de Kyungsoo era cansativo demais.

Nina não falava mais direito com ele, mesmo que o respondesse e ás vezes sorrisse para ele, a garota evitava qualquer interação longa demais com o moreno, apenas porque cansou de vê-lo triste, com olheiras e sempre cansado. Evitava ainda mais ver os dois amigos juntos, porque a única coisa pior do que ver o Kim triste, era ver o Do maltratando-o enquanto ele aceitava tudo sem reclamar.

Com o afastamento da cozinheira, Jongin sentiu-se sozinho e a falta de alguém com quem pudesse conversar de verdade, sem mostrar superioridade ou lhe dar ordens. Foi por isso que certo dia ele chamou Chanyeol para ir até lá, já que não poderia sair com o amigo alto pois precisava ficar sempre disposto para o piloto.

No entanto, nada foi de novo como o mais novo queria.

- Você é um grande de um filha da puta, sabe disso, não é? – o Park reclamou, encarando sério Kyungsoo.

- Você vem até a minha casa para me ofender?

- Eu vim para ver o Jongin e desejar melhoras para você, porque mesmo você sendo um babaca, eu sou uma pessoa educada...

- Você esta sentindo pena? Eu não preciso da sua pena.

- Você poderia me agradecer. Quem além de mim lhe desejou melhoras? O Baekhyun? O ZiTao? Todos os seus amigos te descartaram porque você saiu das mídias, porque sua fama esta caindo e porque não pode ir para as festas com eles e pagar o consumo deles.

- Eu não preciso de nenhum deles, muito menos da sua compaixão.

- Mas precisa do Jongin, não é? – apontou para o moreno. – Você o fez ser seu enfermeiro pessoal, alguém para comandar totalmente mais do que já comandava.

- Foi decisão dele, certo, Jongin? – encarou o amigo, sério.

- Sim, nós dois decidimos... – murmurou.

- ChanYeol, nós dois nos entendemos bem, nós nos conhecemos a anos, não se meta em algo na qual você não faz parte. Entre eu e ele são anos de amizade e você não é nada, só um intruso. – suspirou. – Então saia da minha casa e não volte mais.

- Sabe, eu pensei que no fundo você tivesse solução, que conseguisse mudar, que no fundo amasse o Jongin...

- Não. – interrompeu, impaciente.

- Mas você é louco, a pior pessoa que eu já conheci, agora eu tenho certeza.

- Jongin... – o Do virou-se para ele. – Seu amiguinho esta me ofendendo dentro da minha casa, você não vai falar nada? Me defender?

O Kim abriu a boca e franziu o cenho, abaixou a cabeça e chegou até a pensar em algo para dizer, mas não conseguiu produzir nada. Ele prolongou o silêncio em meio daquela situação em que ele não queria fazer parte.

ChanYeol suspirou, fechou os olhos por alguns segundos, já impaciente.

- Jongin... – se aproximou do mais novo. – Não me procure mais, não me mande mensagens ou ligue para mim. Eu concordo com a Nina, eu cansei de tentar fazer você entender... Só me procure quando tiver coragem de sair dessa casa.

O Park passou por ele, atravessando a sala e saindo pela porta, batendo a mesma com força.

- Você não precisa deles, Jongin. – o alvo se aproximou de si, o encarando. – Você tem a mim, já é o suficiente. Essa casa não é só minha, é sua também. Entendeu? – sorriu. – Diga que entendeu.

O Kim assentiu com a cabeça, o encarando de volta.

- Que bom. – sorriu – Não se preocupe, nós somos melhores do que eles. Acredite nisso e toda a sua dor e insegurança vai embora. Esse é o truque.

Jongin assentia com a cabeça e sorria para ele, mas no fundo não concordava, não conseguia sentir o que o outro queria que ele sentisse.

Porém, estava cansado demais para dizer o contrário.

Estava cansado de expressar suas opiniões, dizer o que achava ou tentar mudar a visão do melhor amigo. Nada adiantava e tudo o deixava ainda mais nervoso, irritado e no final era o moreno que pedia desculpas e calava a boca.

Por isso ele aprendeu que ficar ao lado de Kyungsoo significava manter seu silêncio.

E isso custou seus amigos, sua liberdade de expressão e suas horas de sono.

Havia realmente pensado que após o acidente as coisas se estabeleceriam, o Do ficaria mais grato pelas coisas e pelas pessoas, e ele teria mais tempo ao lado do piloto. Mas não, tudo ficou cada vez pior, tudo perdeu o sentido.

Jongin mal conseguia dormir à noite, e, quando acordava, sua vontade de sair da cama era nula e só se levantava dela quando Kyungsoo o chamava para ajudá-lo. Ele não mais desenhava, mal tendo tempo para si mesmo.

Mesmo nas horas em que o mais velho dormia ou queria ficar sozinho ou não precisava de sua ajuda, mesmo naquelas horas, o moreno não tinha disposição para mais nada.

E isso continuou até o humor do Do mudar novamente, quando este voltou a ignorar Jongin e passar mais de seu tempo sozinho. O problema foi quando Kyungsoo começou a diminuir a sua alimentação e recusar fazer a fisioterapia.

- Você preparou coisas legais para o almoço. – comentou Jongin com a garota, vendo-a voltar para a cozinha. – Parece delicioso.

- Ele acordou. – avisou. – Eu subi para pegar algumas roupas para lavar e ele estava acordado.

- Eu vou subir para ajudá-lo...

- Não. – o interrompeu. – Ele disse que não quer almoçar.

- Porque?

- Não disse o porquê, apenas disse que não queria comer. Nada. Nem beber um suco.

- Ah, qual o problema agora? – suspirou. – Ele não jantou ontem também, não é?

- Não.

- Eu vou subir lá. – se levantou, mas antes de ir a encarou. – Noona? Você deveria comer alguma...

- Eu já comi. – disse, sem olha-lo, dando as costas e saindo da cozinha.

Jongin abaixou a cabeça por alguns instantes e suspirou novamente, por mais que quisesse, ele não poderia mudar aquele tipo de comportamento.

Saiu da cozinha e subiu as escadas para o quarto, onde bateu na porta de Kyungsoo e entrou logo depois, vendo-o deitado em sua cama, já acordado e olhando para o teto de modo reflexivo e mesmo assim impaciente.

- Hyung? – se aproximou. – Quer alguma coisa?

- Eu quero muitas coisas, Jongin, muitas coisas...

- Um banho? – sorriu.

- Seria ótimo para começar.

O moreno fez tudo aquilo que já havia se acostumado a fazer naquelas semanas, o pegou no colo, encheu a banheira e o colocou dentro dela, deixando-o relaxar um pouco antes de ajudá-lo a se lavar.

- Você esta se sentindo bem hoje? – questionou ao alvo.

- Depende da sua definição de “bem.”

- De acordo com a sua.

- Então não estou. Há muito tempo.

Jongin o ajudou a terminar o banho, assim como o ajudou a se vestir e a colocá-lo de volta na sua cadeira de rodas.

- Eu prefiro ficar na cama. – o piloto apontou com a cabeça. – Eu quero ficar na cama, não quero descer.

- Tudo bem, mas antes disso, a gente precisa conversar.

- Já sei, vou levar algum sermão? Jongin, eu não tenho mais cabeça para qualquer sermão seu.

- Não, não é isso. – sentou-se na cama, calculando suas palavras. – Eu só quero saber o porquê de você não querer almoçar.

- Estou sem fome. – deu de ombros.

- Mas é que você não jantou ontem também, na verdade, ontem durante o dia todo você comeu praticamente nada. Não esta com fome?

- Estou bem.

- Eu estou falando isso porque me preocupo com você, precisa se alimentar, se não comer direito não vai ter forças para se recuperar.

- Eu só não estou com fome agora. – suspirou. – Me coloque na cama.

- E a fisioterapia?

- Eu estou cansado, não vou fazer hoje.

- Mas ontem você também não fez.

- São meus dias de folga.

- Folga? Isso não é um trabalho, Kyungsoo. Isso é para o seu bem, para a sua saúde. – suspirou. – Você não pode ver isso dessa forma. Pensa nisso como um novo hobbie, não como se estivesse sendo obrigado. Isso vai ajudar você.

- É um sermão? – estreitou os olhos.

- Não, não é. – sorriu. – Pense nos resultados que você vai obter no final da fisioterapia, vão ser ótimos. Você talvez até poderá correr de novo.

- Jongin, o médico disse que isso é quase impossível.

- Com esse pensamento negativo é claro que vai ser. Mas você pode fazer se tornar possível, hoje em dia as coisas podem acontecer com mais facilidade. Talvez um carro de corrida apropriado para sua condição? Não sei, algo assim. Não é impossível você voltar a correr.

- É sim, não tente ficar criando esperanças para mim fazer o que você quer que eu faça. Agora cale a boca e me coloque logo naquela merda de cama.

- Mas Kyungsoo...

- Jongin, eu já estou ficando irritado com você. – suspirou. – Você estava bem esses dias, sem questionar nada. Você é chato quando fala, chato demais, é cansativo ficar te ouvindo falar sobre a mesma coisa de novo e de novo. Vou te contar a verdade... Você só serve para me obedecer, não questionar.

O Kim suspirou, desviando o olhar.

- Eu só não quero que você fique paraplégico para sempre. Eu só não quero que você precise de mim para tudo pelo resto de sua vida. Só isso.

- Sabe, Jongin, você me deve... – se aproximou. – Não ache ruim gastar seu tempo cuidando de mim assim, porque você me deve.

- O que eu devo?

- Tudo o que você tem. – o encarou. – Toda a sua atenção.

- Porque?

- Porque você é o culpado por eu ter sofrido o acidente.

- O-Oque? Mas eu... Porque?

Jongin o encarou, confuso e transtornado, e principalmente sem entender a acusação.

- Porque eu estava tentando me concentrar antes da corrida, como sempre, então o ChanYeol apareceu lá, aliás ele é outro culpado, e começou a cuspir um monte de coisas sobre você para mim. Ficou te defendendo e dizendo o quanto eu era uma pessoa horrível por ter recusado o seu amor. Falou e falou. Me desconcentrou. Durante a corrida eu estava completamente transtornado, pensando sobre o fato de eu ser uma pessoa realmente horrível. E eu não sou uma pessoa tão horrível como vocês dizem. – sorriu. – Mas você sabe, enquanto eu corro eu não posso lembrar de nada, não posso pensar, eu tenho que me focar. Só que aquela inesperada e ridícula declaração que você me fez na noite anterior tirou o meu foco. Olha só, são raras ás vezes em que eu penso em você e quando penso, o que acontece? Eu fico paraplégico. Você é péssimo, Jongin. Tudo o que você faz acaba estragando a minha vida.

O mais novo abaixou a cabeça, com as lágrimas já querendo transbordar de seus olhos pelas palavras de Kyungsoo.

Lembrou da sua culpa pela morte do pai do amigo, da dor que sentiu e da mesma dor que sentia agora ao ser acusado de novo pela segunda tragédia na vida do Do. Revivendo tudo de novo, culpando-se tudo de novo.

Mas aquilo, tudo aquilo, o que ele falou e o que ele fazia.

Kyungsoo estava sendo injusto.

Depois de tudo o que Jongin fazia por ele, todos os cuidados, toda a paciência, cada detalhe e cada gesto. O mais velho nem sequer o agradecia por nada. Continuava o tratando do mesmo modo, com sua arrogância e usando os sentimentos do moreno como pilar para fazer ou falar o que bem entendesse.

Porque Jongin é compreensivo.

Porque Jongin é paciente.

Jongin é educado.

Jongin é seu amigo.

Jongin o ama.

É apaixonado.

É submisso.

É obediente.

Conformado.

Humilhado.

Derrotado.

E, principalmente, é também culpado.

Como Kyungsoo tinha coragem de o acusar pela segunda vez depois de tudo o que ele fez e tudo o que ainda fazia por ele?

Nada daquilo era suficiente? O que mais o Kim tinha que fazer?

Jongin fechou suas mãos em punho e, tremendo, engoliu suas lágrimas.

Não havia mais nada.

O seu limite havia sido ultrapassado.


Notas Finais


Então é isso ae ~
Acho que ver a grande explosão da bomba Jongin é o que vocês mais desejam agora dhuehdeu

Enfim, gostaram do cap? :3
Comentem ai o que acharam, por favor, irei responder os do cap anterior tbm <3

Até a próxima ~


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...