Perdedor, solitário um covarde que finge ser resistente
Um delinquente mau, no espelho, você é
Só um perdedor, um solitário, um idiota coberto de cicatrizes
Lixo sujo, no espelho sou um
Loser – BigBang
Quando Nina voltou, já era tarde.
Não havia ficado para dormir, mesmo que todos os garotos a tivessem convidado, preferia voltar para casa porque o humor de Kyungsoo era imprevisível e ela poderia ser demitida por qualquer coisa em qualquer momento.
Quando chegou, resolveu novamente entrar pelos fundos, como sempre fazia. Nunca entrava pela porta da frente, para não chamar a atenção e porque era só uma empregada. Empregados sempre entravam pelos fundos.
A casa não tinha apenas ela, mas ela era a única que morava lá. Ainda havia Alfred, o jardineiro e a diarista que aparecia duas vezes por semana para limpar, o que não chegava a ser suficiente porque a casa era muito grande. Mas Kyungsoo não queria muita gente desconhecida andando por lá.
Talvez ele realmente desejasse ficar apenas sozinho.
Quando chegou, notou que o Do ainda estava na mesa da sala de jantar, comendo e conversando com sua mãe que provavelmente havia cozinhado para ele. A cozinheira se escondeu no escuro da cozinha para não ser vista ou notada, e furtivamente começou a encher um copo de água para matar a sede.
- Tem certeza que esta bem? – a mulher voltou a perguntar, preocupada.
- Sim.
- Não quer que eu me mude para cá?
- Não.
- Tem certeza?
- Mãe, eu vou ficar bem, não se preocupe. Eu não me importo que venha me visitar, mas não precisa se mudar completamente para cá, é desnecessário. Eu sei me virar, mesmo assim.
- Sinto que vai se sentir mais sozinho, agora que Jongin saiu de casa.
- Não vai mudar tanto assim.
A Senhora Do suspirou fundo, sua expressão não era boa, mesmo estando lá ao lado do único filho.
- Você vai me falar o que houve com Jongin ou não?
- O que você exatamente quer saber?
- O que você fez para que ele fosse embora? Eu sei que você fez algo.
- Nada. – murmurou. – Ele apenas não aguentou.
- Do Kyungsoo. – ela o encarou brava e autoritária.
Ele revirou os olhos.
- Eu o culpei pelo meu acidente.
A mulher abaixou a cabeça, negando-a de modo triste.
- Porque fez isso? De novo... Como ele poderia ser o culpado?
- Eu sei que ele não é o culpado, eu é que estava dirigindo.
- Então porque o culpou?
- É complicado.
- Querido, Jongin é seu melhor amigo a anos, ele ficou do seu lado por anos. Porque você age assim com ele? Ele gosta e se importa tanto com você. Não pode perde-lo desse jeito.
- Eu já o perdi.
- Se você agisse de um modo diferente... – suspirou. – Ele é tão bom com você, mas você... Ah, não me surpreende ele ter se esgotado.
- Já estava na hora dele se esgotar, é impossível alguém ter tanta paciência quanto ele. Parecia que ele gostava de ser trouxa.
- Era pela amizade.
Kyungsoo riu.
- Amizade? Mãe, depois de tudo o que eu fiz, não valia a pena me aguentar por amizade. – suspirou, desviando o olhar. – Eu realmente o transformei em um escravo. Se você visse o modo como ele agia nos últimos dias... Era deprimente. Eu não aguentava mais vê-lo daquele jeito.
- Você fez isso com ele.
- Eu sei...
- Porque?
- Eu não sei. – respondeu, com sinceridade. – Mas culpa-lo pelo acidente foi o melhor jeito dele sair dessa casa. Eu me senti até bem quando ele saiu.
- Seu modo de ver as coisas é muito confuso.
O alvo assentiu, quieto, e quando levantou os olhos, viu que Nina estava na entrada da sala de jantar, encarando-o com uma expressão desagradável.
- Ah, você voltou, Nina?
- Você culpou o Jongin pelo acidente só para ele sair dessa casa? – ela questionou, incrédula. – Que tipo de plano louco é esse?
- Ele sair de casa já não é o suficiente para você?
- Você o iludia, fingia ser amigo dele e depois o tratava mal. O tempo todo. Se não queria ele aqui, apenas mandasse-o embora. Culpa-lo para ele sair daqui é muito baixo, você sabe como ele se sentiu com isso?
- Você acha que ele sairia se eu não tivesse o culpado? O que mais eu teria que fazer para que ele não continuasse do jeito que estava?
- Expulsa-lo é mais digno do que trata-lo mal até ele se cansar, até se esgotar. Você o torturou para que no final ele conseguisse desistir de você? Que tipo de técnica é essa? Isso é ridículo.
- Não é isso, você não esta entendendo.
- É lógico que eu não estou entendendo, é impossível entender o modo como você pensa ou age. É legal com Jongin, não é legal. Se importa, não se importa. Você parece um sociopata brincando com toda a situação apenas por diversão. É cruel.
- Você por acaso quer ser demitida?
A garota suspirou, encarou ele com raiva e depois a Senhora Do.
- Leve-o ao psicólogo. Eu faria isso se tivesse um filho que agisse assim.
Nina deu meia volta e saiu de lá, deixando-os para trás e se dirigindo até o seu pequeno quarto e se trancando lá.
- Você quer que eu marque um psicólogo para você?
- Mãe... – a encarou.
- Ela esta certa.
- Eu estou bem.
- Eu não acho... Vai pelo menos voltar a fazer a fisioterapia?
- Sim, vou fazer.
- Promete?
- Sim. – suspirou. – Já ficou tarde demais, pode ir embora agora, precisa descansar também. Eu preciso de um banho e cama.
- Quer ajuda?
- Agora eu tenho o Yixing, não estou sozinho.
- Tudo bem. – ela se levantou, indo até ele para lhe dar um beijo na bochecha. – Não seja mal com ele, vou vir te visitar mais vezes agora, irei saber se for mal com ele. Cuide-se.
A Senhora Do fez um carinho em seu cabelo e saiu da sala de jantar, atravessando a sala e se despedindo do enfermeiro que lia um livro no sofá.
Kyungsoo suspirou cansado.
Ter Jongin para fazer tudo por si era uma coisa, mas ter uma pessoa completamente desconhecida fazendo tudo por si era diferente. Era mais humilhante.
Seu orgulho já estava ficando gravemente ferido.
~ ~
No dia seguinte, Kyungsoo acordou mais cansado do que deveria estar.
Havia tido um pesadelo com o seu acidente, coisa que já havia acontecido antes e que ás vezes sua mente lhe pregava peças o fazendo relembrar do ocorrido. E quando relembrava tudo ficava pior na sua cabeça, toda sua situação.
Quando chamou Yixing, este o ajudou educadamente a se lavar, se vestir e colocá-lo na cadeira de rodas, mesmo que não soubesse se queria mesmo andar pela sua casa ou apenas ficar deitado na cama.
- Senhor Do, eu já vou indo. – disse o chinês, se curvando na sua frente. – Daqui a pouco o Minseok aparece para ficar no meu lugar, daqui meia hora ele já chega, não se preocupe.
- Ok.
- O Senhor deseja mais alguma coisa? Quer descer lá para baixo?
- Não, eu vou ficar por aqui mesmo.
- Tudo bem, nos vemos amanhã. – sorriu, se afastando e saindo do quarto.
Kyungsoo o viu indo embora e suspirou, olhou ao redor de seu quarto e começou a andar por ela com a cadeira de rodas, parando para dar vários círculos no meio do quarto por puro tédio. Fazendo isso até quase ficar completamente tonto.
Parou de exercitar seus braços quando ouviu passos subindo as escadas, no começo não se importou, achou que era o outro enfermeiro, mas em vez de vir o encontrar, a pessoa abriu a porta do quarto ao lado.
O Do ouviu barulho no quarto do Kim e isso o fez sorrir e metaforicamente correr até o quarto ao lado para vê-lo.
- Jongin? – o chamou, aparecendo na frente da porta aberta.
- Não.
Porém, ter a visão de ChanYeol ali era no mínimo desagradável.
- O que esta fazendo aqui? – o piloto questionou.
- Pegar o resto das coisas dele.
- Ah, então ele esta lá com você? – sorriu. – Eu sabia.
- Se você vier procura-lo, a gente vai te mandar embora.
- Nem para uma visita? Não sejam desagradáveis.
- Nós não queremos nenhum tipo de contato com você. Então sim, iremos ser tão mal educados quanto você.
Kyungsoo deu uma risada fraca, vendo-o guardar as roupas que o moreno havia deixado, assim como coisas pessoais importantes que ele havia esquecido.
- Ele esta bem?
Dessa vez foi ChanYeol que riu.
- Foi só uma pergunta. – disse sério.
- Agora ele esta bem, já que esta longe de você.
O Park pegou nos braços e jogou também nas costas as coisas que havia pegado, e se dirigiu para fora do quarto, mas o alvo bloqueava seu caminho com a cadeira.
- Se você não sair da frente eu vou chutar essa cadeira longe...
- Você esqueceu o caderno.
- Qual caderno?
- O caderno de desenhos dele, seu idiota. – apontou para o caderno, em cima do criado mudo. – Esta praticamente em branco, ele comprou um novo a pouco tempo.
O alto virou-se, foi até o móvel e pegou o caderno, voltando para a porta.
- Cuide bem dele.
- Melhor do que você, qualquer um consegue. – empurrou de leve a cadeira com o pé, tirando-a do seu caminho. – É maravilhoso dividir a cama com ele. – deu um sorriso, se afastando. – Adeus.
Kyungsoo o viu se afastar, descendo as escadas para ir embora.
Deu uma risada de deboche da atitude do outro.
- Babaca... O Jongin nunca namoraria com ele. – disse a si mesmo, suspirando. – Com a Nina, talvez, mas com o ChanYeol... Nunca.
O mais velho encarou o quarto vazio de Jongin, os móveis ainda estavam lá, mas a presença, a energia e até parte da decoração pessoal dele já não estava mais. Isso já deixava o quarto bem vazio, mesmo com os móveis.
- Ele vai voltar. – disse, sorrindo. – Eu sei que ele vai voltar, ele só precisa de um tempo. Quando ele voltar as coisas vão ser menos... Não sei... – fez uma pausa, observando o quarto. – É lógico que ele vai voltar.
Kyungsoo voltou ao seu aposento, decidindo se iria ler, assistir televisão ou jogar alguma coisa. Estava com preguiça de ler, então resolveu ligar a televisão para assistir algo, mas nada do seu interesse estava passando.
Tudo era chato.
Ficou entediado e sozinho por mais meia hora, até o próximo enfermeiro chegar.
- Olá, eu sou o Minseok. – se curvou. – Mas você deve se lembrar de mim pela sua fisioterapia.
- Você esta atrasado. – disse sério.
- É, eu sei. Me desculpe por isso, eu tive alguns problemas pessoais. Não vai mais acontecer.
- Claro. – cruzou os braços.
- O Senhor quer alguma coisa?
- Eu estou com sede.
- Eu vou trazer água para você. É só isso? Não quer comer nada?
- Não, só água mesmo.
- Irei trazer, espere só um segundo.
Kyungsoo esperou Minseok descer até a cozinha e lhe trazer uma bandeja com um jarro de água fresca junto com um copo vazio.
- Eu quero assistir alguns filmes. – disse, servindo-se com a água. – Ali em baixo da TV, dentro da gaveta, tem vários DVD’s antigos.
- Claro. – foi até o local, abrindo a gaveta. – Qual filme vai querer?
- Coloque aquele que tem todos os filmes do Senhor dos Anéis junto. Eu vou fazer uma maratona. – sorriu.
Minseok fez o que foi dito, e ajudou o piloto a sentar confortavelmente na cama, colocando um travesseiro nas suas costas.
- Se precisar de mais qualquer coisa, é só me chamar. – disse. – Estarei por perto.
- Tudo bem, eu chamo.
O enfermeiro saiu do quarto, fechando a porta para deixar o outro com sua privacidade.
Kyungsoo relaxou na cama e começou tranquilo a ver o primeiro filme, apesar de ser de um modo ainda entediado e até cansado, porque não tinha mais tantas coisas para ele fazer além daquilo. E mesmo que realmente tivesse, não conseguia achar vontade estando sentado o tempo todo.
Se fosse para fazer algo, que seja confortável em sua cama, mesmo vendo maratona de filmes que já havia visto e ficando livre para dormir sempre que quisesse.
Apesar de gostar de ficar sozinho, no meio do filme sentiu algo faltando.
- É a primeira vez que eu vejo esse filme sem ter o Jongin do meu lado fazendo um comentário sobre cada cena. – deu risada, suspirando. – Era realmente desagradável, aquele garoto... Agora eu posso ver no completo silêncio.
Kyungsoo sentia-se aliviado, mas ao mesmo tempo lembrava que os comentários que o amigo fazia eram sempre curiosos ou lhe faziam rir ou era apenas uma imitação de algum personagem.
- Ele imitava bem... – se lembrou. – Mas atrapalhava o filme todo.
O alvo gostava de paz naquelas horas, gostava do calmo e do sossegado.
Mas que tipo de silêncio ele gostava?
~ ~
No dia seguinte, Kyungsoo acordou mais tarde que o normal, já que não havia ido dormir cedo por causa dos filmes que havia assistido.
Ao seu lado da cama havia a jarra de água cheia, como sempre pedia, então esticou-se com força para alcança-la, inclusive o copo, e se serviu. Mesmo que tomar água mais do que comer o fazia ter mais vontade de ir ao banheiro, ultimamente ele sentia mais sede do que fome. E a vontade de ir ao banheiro ele sempre poderia segurar até quase não aguentar.
Olhou para o relógio do seu celular e notou que já havia passado faz tempo do meio dia, mas ninguém havia vindo acorda-lo.
Normalmente, ele sempre era acordado para que não dormisse tanto.
Assim que abriu a boca para chamar alguém, a porta de seu quarto foi aberta e de lá Yixing apareceu, com um sorriso bondoso no rosto.
- Ah, então você finalmente acordou? – entrou no quarto. – Olá de novo, Senhor Do.
- Que horas você chegou?
- Quando Minseok foi embora, eu sou uma pessoa bem pontual.
- É, diferente desse Minseok, ele não é muito responsável. – reclamou, desviando o olhar. – Eu dormi demais, não costumo dormir tanto.
- Gostaria de ir ao banheiro e tomar um banho para acordar?
- É claro, é o que eu mais preciso agora.
E foi o que Kyungsoo fez, e o que o ajudaram a fazer.
Quando voltou para o quarto, mais arrumado e de banho tomado, percebeu que havia uma bandeja de frutas em cima de sua cama. Estranhou porque lembrava bem que não havia pedido nada daquilo.
Nina estava em pé, parada perto de sua cama, e encarou-o quando este se aproximou.
- Foi você que trouxe? – ele perguntou.
- Sim, Senhor.
- Mas eu não pedi nada disso.
- É que o Senhor não come direito a dois dias, então eu pensei que trazendo um pouco da sua fruta preferida você poderia comer um pouco. Não é bom ficar sem comer por tanto tempo.
- E desde quando você se preocupa comigo?
- Você me paga.
- Ah, é claro. – sorriu. – Você esta ficando mais sincera ultimamente, eu gosto disso.
- É melhor o Senhor comer, não vai ter força para mais nada se continuar do jeito que esta.
- Eu não tenho força de qualquer jeito, não é como se eu fosse não ter mais força nas pernas, certo? Eu não tenho mais mesmo. – deu de ombros. – Leve isso embora, eu não estou com fome.
No entanto, apesar de sua ordem, a garota continuou no mesmo lugar, sem mover um músculo sequer.
- Você ouviu o que eu falei? – ele questionou. – Pode levar. – repetiu.
- Eu não vou levar até que a bandeja esteja vazia.
- Eu não vou comer.
- Você precisa comer.
Kyungsoo suspirou, desviando o olhar por alguns segundos, pensando.
- Jongin esta te mandando fazer isso? É por causa disso que você continua nessa casa? Para cuidar de mim para ele?
- É lógico que não, ele não se importa mais tanto com você a esse ponto.
- Você me odeia, então simplesmente me deixe morrendo de fome e leve as malditas frutas.
- Não.
- Você esta sendo irritante. – levou a mão na cabeça, fechando os olhos e suspirando fundo. – Se você não for embora do meu quarto com as frutas, eu vou joga-las no chão e você vai ser obrigada a limpar.
A cozinheira, de novo, não fez nada.
Então o Do, enquanto a encarava, empurrou a bandeja com as frutas de cima de sua cama, deixando cair tudo no chão, fazendo um barulho alto pelo choque do metal da bandeja. Usou a cadeira de rodas para passar em cima das frutas, esmagando-as e sujando ainda mais o chão.
- Limpe isso. – ele mandou, passando por ela. – Se não limpar esta demitida, então vai perder o seu grande salário e o seu quarto.
O alvo enfim saiu do quarto, chamando Yixing para acompanha-lo já que ele queria descer.
O enfermeiro observou toda a cena, e, antes de seguir o piloto, pegou a bandeja do chão e jogou as frutas de volta para ela, devolvendo tudo nas mãos de Saejin.
- Ele te paga porque você foi contratada como cozinheira, só os seus serviços, não a sua preocupação. Se ele não quer comer, então deixe-o morrer de fome. – sorriu. – No final você vai ver que tudo é birra. Tudo bem?
A garota assentiu, com um sorriso, pelo conselho que foi lhe dado.
Ela não se preocupava de fato com o Do, mas fazia pouco tempo que ela não cozinhava nada, porque ele não pedia mais nada e estava sempre sem fome. Até quando a Senhora Do veio em seu lugar, ele não havia comido nem metade do que a outra havia feito.
Nina o odiava, mas não desejava a sua morte.
Além do mais ela sabia que, se Jongin soubesse da recusa do mais velho em comer, ele poderia acabar voltando para aquela casa por preocupação.
Porém, Yixing estava certo, o máximo que ela poderia fazer era o seu trabalho: cozinhar.
Se Kyungsoo fosse comer ou não, era problema apenas dele.
~
O piloto resolveu descer aquele dia e deu uma volta pela área de fora de sua casa, passou pelo jardim, olhando de relance as flores plantadas lá, mas sem parar para observar melhor, então parou perto da piscina e ficou lá por algum tempo.
Não queria entrar na água, só ficar lá, olhando.
Ficou encarando a água limpa de sua piscina e ás vezes encarava uma fonte que tinha perto, onde alguns pássaros pousavam para beber água. Ficou ali como uma estátua até o calor e o tédio lhe dar sede, então saiu de lá e seguiu o corredor para a sala de jogos, onde entrou e foi diretamente até o vídeo game, pedindo por água em um tom de voz alto para que alguma boa alma o ouvisse.
Segundos depois Yixing apareceu com um copo cheio de água, indo até ele e entregando nas mãos do alvo.
- Você não precisa ficar em pé. – o piloto falou. – Sente-se, qual o problema?
O chinês sentou-se no sofá, acomodando-se de um modo ainda sério e meio formal demais. Não estava relaxado, parecia obrigado.
- Você esta bem, Yixing?
- Claro, Senhor. E você?
- Não.
- É uma pena.
- É... – suspirou. – Então, Yixing, me conte... Você tem namorada? Alguém?
- Sim, eu tenho. – sorriu. – Nós estamos noivos. – ele mostrou a aliança.
- Vão se casar? Legal... – tomou mais um gole da água. – Quando?
- Ano que vem, se tudo der certo.
- E você esta ansioso por isso?
- É claro, é o que eu mais quero ultimamente, me casar com ela.
- Você a ama?
- Muito.
- Por que?
- Não há exatamente um porque, eu apenas a amo.
- Então esta me dizendo que não existe motivos para amar alguém? – o encarou curioso.
- Ás vezes as pessoas amam apenas por amar, elas não sabem exatamente o motivo, só amam.
- Ela é o amor da sua vida?
- Acredito muito que sim. – suspirou. – Senhor Do, esta se sentindo sozinho ao ponto de querer conversar sobre qualquer coisa comigo?
- Eu não me sinto sozinho. – afirmou. – Quer dizer, eu estou sozinho, mas eu gosto disso.
- Sua casa é grande demais para ficar sozinho.
- Eu não preciso de ninguém. – sorriu.
O enfermeiro olhou para a cadeira, dando um sorriso e um olhar sugestivo.
- Tudo bem, eu preciso para fazer algumas coisas. – o alvo revirou os olhos. – Mas não é como se eu me importasse em ficar sozinho.
- Por isso que aquele garoto, o Jongin, foi embora?
- Talvez.
- Então você esta completamente sozinho agora.
- O que eu acabei de te falar? Você é idiota por acaso? Sabe quem eu sou? Não sou o tipo de pessoa que fica sozinho. – sorriu. – As pessoas gostam de mim.
- Se é o que você acha.
- Eu não gostei de você.
- Eu não me importo se gosta de mim ou não, Senhor Do, não estou aqui para te agradar e preencher o seu ego. – levantou-se, suspirando. – Por acaso irá fazer a fisioterapia hoje? Assim chamarei os outros para virem mais tarde.
Kyungsoo desviou o olhar, pensando, e suspirou desanimado depois.
- Não, não vou fazer hoje. – respondeu.
- Tudo bem, já tomou sua água? – pegou o copo de volta, sorrindo. – Irei sair, me chame se precisar de outra coisa.
- Você não vai reclamar por eu não fazer a fisioterapia de novo?
- Acho que esta me confundindo com alguém que se importa com as suas decisões, o que não é o meu caso.
- Ah, é claro. – sorriu. – Você é tão chatinho assim mesmo ou é só comigo?
- Não, eu sou legal... É que eu não gosto de você mesmo.
Kyungsoo deu risada.
- Você acha que isso faz alguma diferença para mim?
- É claro que não, Senhor, há milhares de pessoas que não gostam de você, eu sou só um no meio de muitos.
- Você nem sabe do que esta falando.
- Bem, com licença, eu sou pago para cuidar de você e o ajudar em suas necessidades, é o que eu faço, com todo o respeito e profissionalismo. Mas eu não sou obrigado a ter conversas com você só porque se sente sozinho. Me chame apenas quando precisar de algo importante.
Yixing saiu da sala, fechando a porta e deixando-o sozinho.
O piloto ficou um pouco perplexo pelo modo como foi tratado pelo outro, o chinês parecia ser gentil desde o começo, mas não sabia que tinha uma opinião tão ruim formada sobre o Do. Ele nem o conhecia direito, como poderia falar daquele jeito?
Ainda mais para alguém que o paga e pode demiti-lo a qualquer momento.
O modo como as pessoas ás vezes lidavam com Kyungsoo fazia-o sentir que era a pior pessoa do mundo.
Mas ele não era tão ruim assim, certo?
- É óbvio que tem gente que gosta de mim... – disse a si mesmo. – Eu sou Do Kyungsoo, o melhor piloto de corridas... Pelo menos eu era.
O mais velho pegou o celular do bolso da calça e foi direto em seus contatos. Tentou ligar para seus colegas de novo, Baekhyun, ZiTao, qualquer um... Mas novamente, ou estavam ocupados demais ou nem sequer atendiam.
Quando viu o nome de Jongin na tela, teve vontade de ligar, e por pouco ligou, mas não o fez porque pensou que o outro não atenderia, e sim porque ele não queria ser o primeiro a ir atrás. Ele não estava desesperado, ele não iria se render e pedir para o moreno voltar.
Sentia-se, naquele momento, sozinho.
Mas ainda não estava totalmente, havia seus fãs, certo?
Entrou em suas redes sociais e voltou a atualizar o seu instagram com uma foto simpática com uma mensagem agradável. No entanto, percebeu que os comentários e curtidas haviam misteriosamente diminuído quase na metade.
Quando entrou em artigos na internet referindo-se ao seu nome, notou que havia muitos comentários negativos dirigidos a ele. Por pessoas com quem havia trabalhado, jornalistas, entrevistadores, até o seu próprio agente.
Parecia que todos tinham argumentos suficientes para dizer que Do Kyungsoo não era legal com ninguém e só se importava consigo mesmo.
O seu namoro com a atriz foi revelado falso pela própria, fazendo com que os boatos de que ele fosse homossexual tivessem voltado à tona.
Na realidade, de repente, na internet toda as pessoas começaram a acusa-lo e xinga-lo, e não havia nenhuma notícia, nenhum artigo ou comentário que não fosse o desprezando por alguma coisa que ele havia feito ou deixado de fazer. Parecia que só depois que havia sumido da mídia, era que as pessoas começaram a notar os seus erros.
Não havia mais defesas em lugar nenhum, nem fãs.
Para onde foram parar as pessoas que gostavam dele?
- Idiotas. – ele xingou, apertando com força o celular. – Só foi eu sofrer um acidente, sumir da mídia, parar de ganhar dinheiro que todos começaram a me julgar por qualquer coisa. Eu não sou o único que comete erros... Eu não...
Kyungsoo trincou os dentes e jogou forte o celular no chão, que continuou funcionando, mas teve sua tela toda trincada.
- Por que todos estão agindo como se eu fosse a pior pessoa do mundo? Eu não sou tão ruim assim... Eu só... Eu...
Seus olhos marejaram, e quando ele percebeu isso, tratou de respirar fundo e engolir suas lágrimas.
- Eu não vou chorar por causa disso, por causa deles. Eu sei quem eu sou, eu sou Do Kyungsoo, eu sou o melhor...
O Do suspirou fundo, interrompendo suas próprias palavras.
Não tinha mais certeza de nada.
~
Mais tarde naquele mesmo dia, quando ia voltar ao seu quarto para dormir, ele parou no meio do caminho, na frente do quarto de Jongin.
Continuava do mesmo modo, vazio.
- Ele vai voltar. – disse a si mesmo, pegando de volta o caminho até seu quarto. – Em menos de cinco dias ele volta, eu tenho certeza. Ele não vai aguentar ficar muito tempo longe.
Kyungsoo parecia confiante, mas no fundo aquilo era mais algo que ele esperava que acontecesse do que uma certeza de que realmente aconteceria.
Confiou em suas palavras porque era tudo que tinha agora.
Quando já estava deitado em sua cama, com banho tomado e pronto para dormir, ele resolveu sentar-se levemente na cama, sozinho, e observar seu enfermeiro arrumar suas coisas para deixa-lo na manhã seguinte.
- Boa noite, Senhor Do. Até...
- Espera... – o interrompeu, fazendo-o parar a sua rápida despedida. – Preciso te fazer uma pergunta.
- Pode fazer.
- Você acha que eu sou uma péssima pessoa?
Yixing deu risada, desviando os olhos levemente enquanto ria.
- Não é para rir, eu quero uma resposta. – insistiu.
- Vai fazer diferença? Eu não sou ninguém importante, apenas seu enfermeiro.
- Eu só quero saber a sua opinião, só isso.
- Mas você não se importa com a minha opinião, nem com a de ninguém. – sorriu. – Faz o seguinte, responda você mesmo essa pergunta, já que a única pessoa que importa na sua vida é você mesmo. Você acha que é uma boa pessoa? Reveja suas ações e talvez encontre uma resposta.
Sem dizer mais nada, o chinês saiu pela porta, apagando a luz e o deixando sozinho para dormir.
Mas Kyungsoo não dormiu tão cedo.
Ficou pensando muito sobre o que o outro havia falado, ele estava certo em várias coisas. Não importava a sua resposta, o alvo não se importaria com ela. Ele era famoso e qualquer pessoa famosa sempre irá receber comentários negativos, sempre foi assim, é impossível agradar a todos. Então ele já estava um pouco que imune a elas.
No entanto, porque isso o fazia parecer egoísta agora?
Pensando sobre si mesmo, sempre teve certeza que não era a melhor pessoa do mundo, ele exagerava ás vezes e cometia erros. Mas não achava que era a pior pessoa do mundo. Longe disso.
Tudo o que queria era seguir seu sonho, mas o caminho que tomou parecia ter se distorcido.
Não era o que sempre sonhou?
Seu pai sentiria orgulho dele se ainda estivesse vivo?
Queria pensar que sim e sim.
Porém, não sentia-se a melhor pessoa do mundo, nem a pior, nem o melhor piloto e nem Do Kyungsoo.
Parecia que ele estava aos poucos se tornando ninguém.
~ ~
- Senhor Do? – ela o chamou, mas não ouve respostas. – Senhor Do?
- O que foi? – respondeu, sem encara-la.
- Não sabia que já havia acordado, o Minseok acabou de chegar. – fez uma pausa, analisando a cena que via. – Porque o Senhor esta em frente ao quarto que antes era de Jongin?
- Antes era... – murmurou.
Kyungsoo havia acordado a pouco tempo por causa de um pesadelo, Yixing já havia ido embora e Minseok ainda não havia chegado, então ele aproveitou que sua cadeira de rodas estava perto e fez força nos braços para conseguir sentar nela.
Depois foi lavar o rosto, andou pelo quarto e viu no calendário quantos dias se passaram.
Jurava que havia ouvido um barulho no quarto ao lado, mas quando foi lá para ver, não havia nada de diferente e nem ninguém. Tudo continuava vazio e quieto.
- Você sente falta dele? – Nina perguntou baixo, hesitando pela sua ousadia.
Ele virou a cadeira de rodas para ela e a olhou com uma expressão séria, mas não disse nada. Ignorou a pergunta e se afastou do quarto até as escadas.
- Minseok...
- Sim, Senhor. – o enfermeiro se aproximou, curvando-se.
- Você esta atrasado. De novo.
- Me desculpe, Senhor, eu...
- Não prometa que não vai se atrasar de novo, porque você vai, você sempre se atrasa. Nunca chega no horário certo. O Yixing pelo menos chega no horário certo, mas você... Eu poderia te demitir por isso, sabia?
- Não, não precisa me demitir, eu tenho motivos. Por favor. – pediu.
- Só se os motivos forem suficientes para eu tolerar seu atraso todos os dias.
- A minha esposa, ela esta muito doente, ela esta em casa então eu acabo me atrasando por causa dela. Eu tenho que cuidar dela também.
- Então você é casado?
- Sim. – sorriu. – Há bastante tempo.
- Entendi... – suspirou, desviando o olhar. – Tudo bem, esquece, não vai ser demitido. De qualquer modo, eu consigo me virar sozinho várias vezes, com mais prática e força nos braços eu consigo ir ao banheiro sozinho também. Muita gente assim consegue, certo?
- Tem gente que tem habilidades melhores porque ou já nasceram sem o movimento ou apenas fazem muito tempo que vivem do mesmo modo que o Senhor agora. – sorriu. – Quer dizer que hoje irá fazer a fisioterapia?
- Talvez. – murmurou. – Me ajude a preparar a banheira.
- Claro. – assentiu.
O Do virou a cadeira e pegou o caminho até seu quarto, com Minseok atrás de si.
- Senhor Do, vai querer algo delicioso para comer hoje? – perguntou, sorridente.
- Não, esta dispensada hoje.
- Porque? – o encarou confusa. – Não quer que eu trabalhe?
- Estou te dando um dia de folga. – a encarou, parando de se mover. – E eu quero que faça um favor para mim também.
- O que?
- Quero que vá visitar o Jongin.
- Porque?
- Eu só quero saber como ele esta, mas não conte a ele que eu estou querendo saber. Eu sei que você me odeia e gosta dele, mas eu só quero informações, só isso. Estou te dando folga hoje para sair e se divertir, então faça isso por mim.
A garota assentiu, ainda um pouco confusa, mas não iria recusar.
Nos últimos dias trabalhar naquela casa era sinônimo de fazer nada. E o alvo ficava cada dia mais quieto e distante em seu canto, como se estivesse exausto em ser ele mesmo, em dar broncas, em fazer comentários arrogantes.
Parecia que a sua falta de vontade de fazer a fisioterapia estava contagiando a falta de vontade de ser qualquer coisa.
~ ~
Quando Nina voltou, já era de noite, e mesmo que estivesse um pouco cansada, sentia-se feliz o suficiente para enfrentar Kyungsoo e perguntar se ele queria mais alguma coisa.
Afinal, ela havia passado o dia todo fora, e mesmo que fosse por escolha dele, fazia tempo que ela não sentia-se bem simplesmente pelo fato de quase nunca trabalhar. Ela estava ali e era paga para cozinhar, mas seus serviços pareciam cada dia mais indispensáveis para o Do.
Talvez fosse um tipo de sinal para se demitir logo e começar o novo negócio com seus amigos, mas ela ainda precisava do dinheiro do piloto, seus pais precisavam daquele dinheiro.
E ver Jongin fora daquela casa anulava qualquer sentimento ruim por ainda continuar trabalhando para Kyungsoo.
Subiu as escadas quando chegou, pretendo ir até o quarto do alvo e perguntar de novo se queria alguma coisa, já que ainda era o seu trabalho. Porém, antes de chegar ao quarto do outro, ela acabou parando antes, em frente ao quarto de Jongin.
Porque Kyungsoo estava lá dentro, pronto para dormir mas com os olhos abertos e fixos em todos os cadernos de desenho que o moreno havia deixado para trás.
Era uma cena incomum, mas Nina já imaginava o que poderia estar acontecendo.
- Com licença, Senhor Do? – ela entrou no quarto, curvando-se quando este olhou de relance para ela. – Eu acabei de chegar, quer que eu prepare algo para comer?
- Não.
- O Senhor já jantou?
- Não, eu estou sem fome. – suspirou. – Sente-se aqui, Nina. – ele apontou para a cama, onde estava espalhado todos os cadernos.
- Porque?
- Apenas sente.
A cozinheira hesitou de leve, deduzindo de primeira que levaria alguma bronca ao algo do tipo, por qualquer coisa, já que o Do não gostava de si.
- Então... – ele começou. – Você foi ver o Jongin?
- Sim.
- Como ele esta? Bem?
- Sim, ele esta bem. – sorriu.
Kyungsoo a observou atentamente, estreitou os olhos e deu um sorriso para a outra.
- Você esta feliz. – disse, fazendo-a abaixar a cabeça e tirar o sorriso do rosto. – O que foi? Acha que eu vou brigar com você só porque esta feliz? Relaxa, eu não quero brigar com você.
- Tudo bem... – assentiu inquieta, voltando a encara-lo.
- O que vocês fizeram hoje à tarde?
- Apenas ficamos no apartamento de ChanYeol, conversando e comendo. Foi algo bem tranquilo. Nós brincamos também.
- Brincaram do que?
- Nada de mais, é que o Jongin e o SeHun ás vezes fazem competições de desenhos entre eles mesmo. – sorriu. – Os dois são muito bons, mas os traços são bem diferentes, isso traz diferencial mesmo eles desenhando a mesma coisa. É divertido.
- E o Jongin gosta disso?
- Muito, ele gosta muito de desenhar, então ele se diverte bastante. Ele me disse que esta aprendendo coisas novas com o SeHun também.
- SeHun não é aquele garoto estranho que mora com o Yeol? – questionou, tentando lembrar seu rosto. – Ele nunca sequer falou comigo.
- É ele mesmo, e, realmente, SeHun-ah não é muito de falar, ele é bem na dele. Mas ele e o Jongin estão se dando bem, acho que é por causa dos desenhos.
Kyungsoo sorriu, encostando suas costas na cadeira.
- O Jongin é assim. – ele falou. – Sempre tenta se aproximar dos mais reservados, ele sempre garantiu que se tornam as melhores pessoas depois que as conhecem. Foi assim que ele se aproximou de mim, eu também não era muito sociável... Antigamente...
O alvo parou de falar, suspirou fundo enquanto seu sorriso morria aos poucos e seus olhos desciam até o chão, cheio de lembranças de sua infância onde tudo era perfeito. Tinha brincadeira, amizade, inocência. Não havia amor, paixão, não havia coração partido.
Eram só duas crianças brincando, todo dia, só isso.
Infância era a época em que todos acreditavam que tudo daria certo e seria maravilhoso. Mas depois nada foi fácil e tudo continua sendo difícil, até a morte.
- Senhor Do? – ela o chamou, vendo-o que tinha se perdido por instantes. – Esta tudo bem?
- Então o Jongin esta feliz? – ignorou sua pergunta, fazendo outra em cima.
- Sim, ele esta seguindo em frente.
- Ele por acaso perguntou sobre mim? Faz uma semana que ele saiu dessa casa, então ele não tem notícias minhas.
- Bem... Não perguntou, mas não porque não se importa, eu acho, mas é que citar o seu nome dentro daquela casa se tornou proibido. É como uma terapia, o JongDae disse. Para o Jongin pensar em outras coisas que não envolvem você.
- Então eles estão fazendo-o me esquecer? É por isso que ele não levou os antigos cadernos de desenho dele?
- A maioria desses cadernos são cheios de desenhos seu, JongDae aconselhou comprar cadernos novos e começar a desenhar outras coisas. – suspirou - É impossível esquecer, foram muitos anos, certo? É mais como tirar o foco. Pensar em outras coisas, se divertir com outras pessoas. É o que o Jongin esta fazendo para superar tudo isso.
- E ele esta conseguindo?
- Aos poucos, sim. – o encarou. – Mas não é fácil, ele te amava muito.
- E não ama mais?
- Vai aprender a não amar.
- Então eu não terei meu amigo de volta?
- A culpa é sua. – disse, se levantando. – Pare de fazer isso. – disse brava, mas sem aumentar o tom de voz.
- O que eu estou fazendo? – a encarou.
- Você esta sentindo falta dele.
- Não exatamente...
- Esta sim, mas a culpa é toda sua, foi você que o fez ir embora dessa casa. Você, apenas você. Mais ninguém. Por mais que ele tentasse, você o afastava cada vez mais, com desprezo e arrogância. Se você esta realmente sentindo falta, e se isso esta te fazendo sofrer ou se a culpa esta te consumindo, saiba que é tudo por merecer. Você não merece ter o Jongin ao seu lado, nunca mereceu.
Nina, pela segunda vez, o enfrentou, determinada e sem a intenção de voltar ou se desculpar com as suas palavras.
Kyungsoo apenas suspirou e a encarou com um rosto sem expressão.
- Eu sei. Eu nunca o mereci. – respondeu, voltando a folhear as páginas do caderno. – Pode ir se deitar, eu não estou com fome, eu já vou dormir também.
- Não me peça mais para ir ver o Jongin e para lhe dar informações sobre ele, eu não farei mais isso. Eu estou do lado dele, não do seu.
- Tudo bem, faça o que quiser. Boa noite, Nina.
A garota estranhou a indiferença do piloto, mas não ligou, deu meia volta e saiu do quarto, sem dizer mais nada, sabendo que o que havia falado estava certo e que Kyungsoo mais parecia querer se fazer de vítima em relação a situação.
Ele poderia realmente estar sentindo falta, realmente estar se sentindo mal por tudo.
Talvez esse era o motivo da sua inexistente alimentação, ou o seu desânimo constante ou toda a falta de vontade em relação a tudo.
No entanto, tudo aquilo era resultado de suas ações.
Era tudo sua culpa.
~
- Minseok, eu quero ver alguns filmes hoje de novo... – disse, já sentado em sua cama. – Coloque para mim antes de você ir dormir.
- Claro. – assentiu, indo até a televisão e abrindo a gaveta dos DVD’s. – Qual filme?
- Centopeia Humana. Pegue todos os três.
O enfermeiro fez uma careta e procurou os filmes no meio de vários.
- Não é aquele filme medonho que tem na internet? Pensei que esses filmes haviam sido banidos do país.
- Sempre há como baixar, na internet tem tudo.
- E o Senhor gosta desse tipo de filme? É meio doentio, não?
- É o filme de terror trash preferido de Jongin. – sorriu. – Ele sempre disse que se qualquer pessoa conseguisse assistir a trilogia inteira, no final ia descobrir uma mensagem até que interessante em relação a ideia doentia do filme.
- Entendi. Meu estomago é meio fraco, prefiro ficar sem saber a mensagem. – deu risada.
- É, não é qualquer um que tem vontade de vê-los mesmo. – suspirou. – Eu só estou assistindo por assistir... É o tédio...
- Você sente falta do seu amigo Jongin? – perguntou, curioso. – Porque ele teve que sair dessa casa mesmo? Eu nunca perguntei.
Kyungsoo encostou suas costas no travesseiro, relaxando e se preparando para assistir.
- Ele saiu porque eu o fiz sair. – disse, já encarando a televisão. – Boa noite, Minseok. Até amanhã.
O enfermeiro entendeu que o assunto havia acabado e assentiu sorridente, saindo do quarto para deixa-lo sozinho.
Era tudo sua culpa.
E ele sabia muito bem disso.
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