História Hurts Like Hell - Capítulo Único- Hurts Like Hell

Aquele era um dos dias mais frios do ano. A neve caía do céu e cobria Magnólia com um manto fofo e branco deixando a cidade com um ar belo e misterioso. Crianças corriam de um lado para o outro com as suas botas para a neve, gorros, cachecóis e casacos quentes numa algazarra divertida enquanto atiravam bolas de neve uns aos outros e faziam anjos e bonecos de neve. A cidade estava em clima de festa, era quase Natal e por todo o lado viam-se casas decoradas com luzes coloridas, pinheiros enfeitados com bolas de mil cores e a felicidade estava estampada na cara de qualquer pessoa. Nas diversas lojas viam-se brinquedos, peças de joelharia e qualquer outra coisa que se possa imaginar como presente para alguém especial. A cidade estava em paz.

Fazia mais ou menos um ano desde a batalha com Alvarez. Apesar das diversas adversidades e surpreendentes revelações Fairy Tail conseguira sair vitoriosa: os spriggan 12 foram derrotados, Fairy Heart estava a salvo, Zeref e Acnologia desapareceram e desde então mais nada fora do normal tinha ocorrido. Mas a guerra não afeta apenas o lado dos derrotados e muitas pessoas do lado do bem perderam as suas vidas para que o reino de Fiore pudesse emergir vitorioso. O reino agora está em paz, um ano depois as pessoas finalmente conseguiram voltar as suas vidas rotineiras, mas para aqueles que lutaram na guerra como podiam voltar a ser o que eram depois de perderem pessoas que amavam? A resposta é bastante clara: não podiam, e apesar de ao fim de um ano as coisas começarem a voltar ao normal ainda havia pessoas que não conseguiam seguir em frente sem que a dor lhes dilacerasse o coração…

Um jovem alto, musculado e de cabelos pretos caminhava pela floresta de Magnólia, a neve continuava a cair de forma regular. Estava frio mas sinceramente ele não se importava muito com isso, continuava a caminhar por entre as árvores enquanto ajeitava aquele que se tornara o seu maior tesouro, o qual o mesmo já não conseguia não usar independentemente da altura do ano: um cachecol cinzento. Era um cachecol simples, tricotado por uma mão um pouco desajeitada mas para Gray Fullbuster aquela peça valia mais que qualquer tecido de alta costura, afinal tinha sido um presente feito com amor e carinho por ela. Um sorriso triste apareceu-lhe nos lábios, não importava quanto tempo passava ele simplesmente não podia (e não queria) esquecer-se dela por mais que cada lembrança da maga da chuva lhe causasse dor.

Gray continuou a andar por mais algum tempo até chegar ao seu destino. No centro da floresta existe um pequeno lago de água cristalina com um pequeno caminho de pedras que leva a uma mini ilha coberta de flores azuis no centro do lago e nessa ilha encontrasse uma lápide feita do gelo mais puro que existe. Gray inspira fundo e caminha em direção à ilha e quando chega perto vê a inscrição na lápida: “Juvia Loxar”.

(Colocar música das notas finais)

-Hey Juvia- a sua voz estava rouca e falha- Trouxe mais algumas flores para ti.

Gray lembrava-se perfeitamente do dia em que tinha feito aquele pequeno santuário para Juvia. Tinha sido logo após a guerra terminar. Uma vez quando era pequeno e andava a fugir de uma Erza enfurecida, o mago do gelo entrara na floresta e por mero acaso tinha encontrado aquele lago, era o seu local secreto onde o mesmo sempre ia quando precisava de estar sozinho, era o local onde ele pretendia dar a sua resposta a Juvia se a tragédia não se tivesse abatido sobre ela. Era aquele o local que ele escolhera para enterrar Juvia e preparara tudo para que aquele seu lugar secreto se tornasse digno de abrigar para sempre uma das pessoas mais importantes da sua vida.

-A Fairy Tail está a voltar ao que era antes e trago-te algumas novidades- falou Gray tentando esboçar um sorriso.

-A Levy está grávida do Gajeel, o vovô finalmente se aposentou e agora o Laxus é o mestre e agora ele está casado com a Mira, nasceu o segundo filho do Alzak e da Bisca e nem imaginas o quanto a pequena Azuka está feliz por ter um irmãozinho, a Erza e o Jellal finalmente se acertaram e ah quase que me ia esquecendo, hoje o foguinho finalmente se declarou à Lucy e vai haver uma grande festa para celebrar. Parece que ficaste sem rival no amor não é- e sem que o mesmo notasse grossas lágrimas de pura dor e sofrimento começaram a descer pelo rosto- se ao menos estivesses aqui, meu Deus tudo seria diferente…Se ao menos eu tivesse mais uma chance de te ver, dir-te-ia tudo aquilo que há muito querias ouvir, se ao menos eu não tivesse sido tão estúpido e tivesse levado os teus sentimentos mais a sério desde o início talvez…Talvez ainda estivesses aqui comigo…

Gray não conseguia parar as lágrimas que escorriam livremente e chorou mais uma vez lembrando-se de todos os momentos que vivenciara com a maga da água. Todos esses momentos ainda estavam vívidos nas suas memórias e eram talvez dos melhores momentos que vivera. Gray lembrava-se da primeira vez que a vira, tinha sido no ataque da phantom, de início parecera-lhe uma rapariga estranha, uma inimiga que tinha raptado Lucy, lembrava-se também de quando a mesma os ajudou na torre do paraíso, tinha-lhe ficado muito grato naquela época. Lembrava-se também de quando a vira pela primeira vez como maga da Fairy Tail, por fora parecia indiferente mas por dentro ficara radiante por ter mais uma companheira. Lembrava-se de todas as vezes que a tinha rejeitado quando ela se declarava e só Deus sabia o quão arrependido estava. Lembrava-se também de quando os seus sentimentos ficaram ligados com os dela na ilha Tenrou, talvez tenha sido naquele momento que tomou consciência do quão era amado por esta. Lembrava-se de quando ela chorou na sua frente por ter sido responsável pela morte do seu pai. Primeiro ficou com raiva, tinha de admitir, mas ao ver a dor nos olhos azuis de Juvia ele percebeu o quanto ela estava triste e magoada com aquela situação e por isso embalado no colo da maga agradeceu, não só por ter dado descanso ao seu pai mas também por finalmente fazê-lo perceber de uma coisa muito importante: fizesse o que fizesse ele nunca conseguiria parar de a amar, não importava o quanto tentasse. Lembrou-se também do meio ano que viveram juntos antes de partir sem dar explicações, aquele momento partira-lhe o coração mas a memória mais querida sobre a maga foi quando a mesma lhe tinha dado aquele cachecol no dia do aniversário da morte da Ur. Tinha-a tratado muito mal nesse dia mas no final sem que ninguém soubesse fora buscar o cachecol que ela tinha feito com tanto amor e carinho e que era hoje o seu maior tesouro.

Mais memórias atravessavam a sua memória, eram tantos bons momentos que o mesmo não tinha sabido dar o devido valor, tantos momentos que poderiam ter sido melhores se ele não fosse tão estúpido. Juvia sempre fizera tudo por ele, amara-o como mais ninguém o amara e no final acabou por perdê-la como perdera Ur e Ultear.

Ainda estava vivo na sua memória a batalha contra Invel, quando foram acorrentados e obrigados a tentarem se matar. Gray não queria fazer aquilo, não podia fazer isso com ela. Só a ideia de magoar um fio de cabelo da azulada dilacerava-lhe o coração e foi por isso mesmo que para a manter a salvo ele decidiu por fim à própria vida, o que ele não esperava foi que a mesma tivesse tido a mesma ideia que ele. Aida se lembrava do horror que fora ver a mesma acertar em si fazendo um dano irreparável a si mesma enquanto ele fazia exatamente o mesmo com uma espada de gelo, lembrava-se de pedir a Natsu que vingasse ambos enquanto caia no chão gelado ficando encharcado com o próprio sangue e lembrava-se sobretudo do horror que foi saber que estava vivo. Lembrava-se perfeitamente da voz de Juvia dizer que tinha preparado em segredo aquela magia de transfusão de sangue pensando num cenário daqueles e lembrava-se sobretudo com muita dor e tristeza das últimas palavras da sua amada: “Juvia vai viver para sempre dentro de ti Gray-Sama e é por isso que não há razão nenhuma para ficares triste porque a vida de Juvia irá pertencer para sempre apenas a ti Gray-Sama”.

-Se ao menos eu te tivesse dito o quanto te amo…- Gray chorava desconsoladamente- Talvez fosse tudo diferente…

Gray olhava para a campa da amada, quem olhasse para ele agora entenderia o quanto ele se importava com a maga. Dor era tudo aquilo que restava nos seus olhos.

-Sinto tanto a tua falta Juvia… Queria tanto poder voltar atrás no tempo, ter a chance de poder provar os teus lábios, de te fazer minha, de poder acordar contigo nos meus braços e te dizer o quanto eu te amo… Tudo o que eu queria era poder ver-te mais uma vez, ver o teu sorriso doce enquanto olhas para mim, ver-te com ciúmes da Lucy e chamar-lhe a tua rival… Queria apenas mais uma vez para poder ver-te… Apenas isso…

E chorou durante mais um tempo até adormecer ao pé da campa. A neve parara de descer e um vento agradável fez com que a neve forma-se uma cama agradável para o mago descansar e naquela noite Gray sentiu-se aquecido como à muito tempo não estava e podia jurar que sentira uma mão afagar os seus cabelos e uns lábios doces beijarem-lhe a bochecha.

-Juvia- falou durante o sono.

-Um dia voltaremos a ver-nos Gray-Sama-falava uma voz celestial- e Juvia esperará esse momento…

O mundo sempre foi injusto. Talvez sempre o será. A morte faz parte do ciclo da vida, é algo necessário aceitar. Todos morrem um dia, uns mais cedo do que outros, e o ser humano tem de estar pronto para enfrentar a dura realidade da sua morte mas uma coisa para a qual nunca se estará pronto é ver aqueles que amamos mais do que tudo no mundo morrerem antes de nós e não interessa se é um familiar, um amigo ou a pessoa que tu amas, para aqueles que continuam a viver a dor provocada por estas mortes dói mais que o inferno.