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História I am - Capítulo 5


Escrita por: Imadeleine

Capítulo 5 - Capítulo 5


Desgraçadas sejam todas as manhãs que nasceram belas desde que ele se foi. Talvez os céus estejam celebrando o mais novo ilustre morador e jogando a sua felicidade de forma explícita em minha cara. Eu, um mero fodido e mortal que agora conta os segundos para ser levado para perto dele. Por mais que a morte tente me convencer a ir exatamente agora, minha sanidade ainda persiste em dizer que eu fique e a minha esperança diz que ele ainda não se foi. Sou tolo ao ponto de crer que ele irá deixar mais uma rosa na porta da minha casa com um bilhete perguntando o porquê nunca mais fui às aulas, que o número de telefone dele, assim que eu ligar meu celular novamente irá travar de tantas notificações do mesmo, e que assim que eu visualizar, instantaneamente, ele irá me mandar um áudio tocando minha música favorita.

Já faz um ano. Um ano que não vou às aulas, um ano que não ligo o celular, um ano que sei das notícias. O jornal do dia após o acidente, com o artigo sobre o acontecido, ainda está em cima da minha escrivaninha intacto. O leio diariamente, mas ainda é irreal. Já faz um ano que não saio do quarto, um ano que só abro a porta para pegar a comida que me é deixada pela minha mãe na soleira da porta. Meus pais tentaram nas primeiras semanas, mas com o passar dos meses desistiram de tentar me ajudar. Sou como um mero animal de estimação agora. Só dependo deles para me alimentar.

Há dias que viro noites seguidas sentado ao lado da janela olhando para a cidade ao longe, sem motivo algum, apenas criando ilusões e expectativas de uma possível volta dele. As constelações noturnas parecem desenhar seu rosto, ou os momentos bons que vivemos juntos. Até elas... Até elas me fazem lembrar ele. A Time For Us não é mais minha música favorita, pois simplesmente eu choro se ouvir. Quem sabe em um futuro próximo eu não posso ouvi-la sem chorar e ter uma memória boa de nós.

Nos primeiros dias eu chorei, chorei como um cão que foi abandonado pelo dono, como um criminoso que sem querer matou alguém que ama. O rosto inchado era meu companheiro diário. Depois veio a fase da negação, se bem que ela ainda me acompanha diariamente. Desacreditava que aquilo era real. A senhora Red me visitou algumas vezes depois do enterro, mas ela foi outra que se esqueceu de mim e nunca mais me procurou. Atualmente estou na fase de aceitação que está sendo lenta e dolorosa e sinto que não vou superá-la nunca. Aceitar que ele simplesmente... Está morto.

Será mesmo que existe um Deus? Ou algo que nos guie? Por que alguém, "destinado a morrer", como ele gostava de dizer, se foi tão cedo? Por que não eu? Qual a diferença que eu faço no mundo que ele não faz, para ter sido escolhido para viver ao invés dele? Por que eu fui tão covarde e não insisti até tirá-lo de lá? Não me importaria de morrer tentando salvá-lo. Quando tudo estava bem, quando pela primeira vez na minha vida tudo estava adequado, sem nenhum deslize, quando estávamos felizes, quando nos sentíamos seguros, quando eu finalmente tinha descoberto que é felicidade, o que é ser amado, o que é ser aceito, o que é ter a sensação de que alguém te quer bem o mundo vem e desgraça com a minha vida mais uma vez.

Ainda me lembro do nosso último beijo, do seu cheiro, do som da sua risada, da voz grossa dele dizendo eu te amo. Assim como me lembro da agonia em sua voz me chamado para salvá-lo, clamando por ajuda. Se fecho os olhos ainda consigo ver seu corpo de forma perfeita em minha frente. Tão realista quanto pessoalmente. Cada traço, cada curva, cada marca. Lembro-me da sensação de estar em seus braços, suado e cansado, e pegar no sono com nossos corpos nus e envoltos um ao outro. Lembro-me da sensação de pertencimento. Lembro-me de cada vez que acordei ao seu lado, me lembro de cada vez que adormeci admirando sua beleza. HyunWoo era tão pouco confiante, mas se todos pudessem ver o quão belo ele realmente é, não só de corpo, mas também de caráter, ele com certeza se sentiria mais seguro.

Nesse um ano que se seguiu, eu nunca cogitei tirar minha vida, apenas que ela fosse embora naturalmente. HyunWoo abominava suicídio, e não os suicidas, deixando claro. HyunWoo me ensinou que viver vale a pena e me fez prometer que eu nunca mais ia tentar me matar. Mas agora, vagando pelas ruas, desnorteado, vendo o mundo novamente desde a última vez a vontade bate forte. Parar em frente ao teatro reformado, exatamente no lugar onde acordei, exatamente no mesmo dia, exatamente onde há um ano atrás tudo aconteceu me trás sensações nada agradáveis. Nunca pensei que cometeria um crime premeditado, mas agora são cinco e quatorze no relógio. Como diria meu caro HyunWoo: Uma boa hora para se viver e uma boa hora para se morrer.

A rua está movimentada e o horário de pico está próximo, os carros passam com mais velocidade há essa hora, a lei de trânsito garante esse direito. Meu estômago revirou ao ver o lugar novamente. Minha mente me faz reviver o som de sirenes, choros, gritos, o cheiro de fogo, carne queimada, sangue, me fez imaginar novamente os escombros e reviver a cena de HyunWoo clamando por mim, gritando meu nome. O sinal de pedestre está vermelho, mas atravesso. O vento frio corta meu rosto me lembrando de que estamos no inverno. Será que vai doer? Será que morrer dói? A buzina de um carro avisa que a morte vem a galope em um cavalo apressado e sem nenhum motivo para parar. Sinto meu corpo flutuar, fecho meus olhos com força, mas não sinto o impacto.

Braços me envolveram, senti duas mãos me tocarem como se procurassem um ferimento. Será que já estou no céu? Será que é HyunWoo? Abri meus olhos lentamente com medo do que eu enxergaria a minha frente. Minhas pupilas se adaptaram a luminosidade, após meus olhos piscarem algumas vezes, tenho finalmente o vislumbre da pessoa a minha frente. Deparei-me com dois olhos tão pequenos quanto os de HyunWoo. A pele alva como uma nuvem, o rosto cheio como de uma criança, os lábios rosados e úmidos como um morango silvestre molhado pelo orvalho e o cabelo negro como a noite. Será que ele é um anjo? Seu corpo emana uma essência calma, como perfume de bebê. Um cheiro magnífico e viciante, tanto quanto o de HyunWoo.

- Você está bem? - Olhei ao redor e estávamos na rua. Na calçada em frente ao teatro. Sem carro amassado, sem corpo no chão, sem aglomeração de pessoas. Então eu não morri?

- Si-Sim - Gaguejei.

- Que bom - Ele sorriu mostrando as covinhas - Agora me diz por que você atravessou à rua sem prestar atenção no trânsito? - Ele pareceu bravo, mas ainda sim era fofo - Quer morrer?

- Talvez - Respondi - Você poderia simplesmente ter deixado - Dei de ombros com desdém. Minha voz era quase robótica.

- Seria um desperdício alguém tão bonito quanto você morrer assim... - Ele corou - Tipo... No-no - Quanto mais ele gagueja mais ele ficava vermelho - Vo-você entendeu.

- Você não diria isso se me conhecesse bem - Ele conseguiu arrancar meu primeiro sorriso, fraco, porém verdadeiro, depois de tanto tempo. Abaixei a cabeça negando.

- Eu só vou poder dizer que sim ou não se eu te conhecer - Ele segurou meu queixo e ergueu meu rosto. Ele sorriu e seus olhos se tornaram uma fina linha enquanto covinhas, como dois buraquinhos, brotavam de uma forma irresistível em suas bochechas mais uma vez - O que acha? - Ele incentivou.

- Sou Lim ChangKyun - Minha expressão estava leve, era tão bom sentir essa sensação novamente. Sentir-me sendo levado pela áurea contagiante de alguém com instinto brincalhão.

O que estou fazendo?

- Lee. Lee JooHeon. O Honey que irá adoçar a sua vida - Segurei o riso. Porque diabos honey?

...

"Uma vez, meu doce HyunWoo, você me fez indagar quem eu era. Essa lembrança me faz sorrir, e garanto que estou sorrindo nesse momento. Já faz cinco anos que você se foi, porém eu queria tanto que você tivesse tido a oportunidade de ter conhecido Jooheon assim como eu. Por mais que isso mudasse nossos destinos. Jooheon é um jovem homem que me orgulho de ter ao meu lado. Dedicado, humilde e um grande admirador de sonhos. Assim como você ele me fez voltar a viver, assim como você ele me fez sorrir e assim como você ele me fez amar novamente.

Durante todo esse tempo eu procurei uma resposta dentro de mim mesmo, e acho que agora eu finalmente sei quem eu sou. Usar adjetivos pode ser simplista e algo do senso comum, mas foi à única forma que encontrei para responder sua indagação. Eu sou uma mistura do garoto frágil, desprezado pelos pais, que gosta de meninos, que passou a maior parte da adolescência chorando. Também sou aquele que se achava inadequado para tudo, até você chegar. Sou aquele que se arrepiou quando escutou você tocar a primeira vez, sou aquele que se apaixonou pela "Fera", sou aquele que amou "O Fantasma Da Ópera", sou aquele que descobriu um universo paralelo no calor dos seus lábios, sou aquele que se sentiu completo no momento em que descobriu que te amava.

Sou aquele que chorou sua morte, sou aquele que sofreu se condenando a um crime que não teve culpa - Pelo menos Jooheon me diz isso - Sou aquele que foi salvo por um anjo, enviado com certeza por você, para me proteger. Sou aquele que tem um pouco de você dentro de mim. Você odiava que eu escutasse Florence. Segundo você, eu só escutava as músicas tristes. Porém - É cômico, mas real - Minha trilha sonora com Jooheon é uma música da Florence. Você se orgulharia de mim se eu dissesse que saí de casa? Você se orgulharia de mim se eu dissesse que eu me assumi? Você se orgulharia de mim se eu dissesse que estou com alguém? Você se orgulharia de mim se eu dissesse que estou morando com ele e que estamos praticamente casados? Você se orgulharia de mim se eu dissesse que hoje eu sou fotógrafo, que era o que eu tanto queria?

Jooheon é um ótimo companheiro. Hoje o que sinto por você ainda é amor, mas um amor diferente do que sinto por ele. Um amor de saudade, um amor de carinho, um amor de lembranças boas. Uma paixão avassaladora que se tornou um carinho quase que de irmãos. O que sinto por Jooheon é diferente do que eu sentia por você. Com você foi tudo tão romântico e carinhoso e com ele foi tudo tão intenso e quente. Jooheon me encontrou destruído, acabado, quase um morto-vivo, como um brinquedo quebrado condenando ao lixo. Ele foi meu mecânico, meu artesão, ao me consertar, e foi também a criança que recebeu a doação do brinquedo restaurado, foi a mais doce criança que eu pude receber.

A alma pura dele te envolve com um simples sorriso, ele te encanta com seus trejeitos fofos e adocicados como mel. Aliás, esse é o apelido dele. Ele me deu um cachorro, a princípio, e eu o nomeei de Honey, pois assim como seu outro dono ele é todo chorão, medroso, sentimental, manhoso e carente. Jooheon me salvou de um mar agitado, cheio de correntezas brutas e assassinas que poderiam machucar ele. Mesmo sabendo do perigo ele não hesitou um instante em se jogar nesse mar e ser o meu bote salva-vidas. Ele chegou para mim como uma luz no céu em meio à escuridão, eu estava tão pequeno e ele me envolveu em seus braços para me salvar da morte sem ao menos saber o meu nome, muito menos quem eu era.

Jooheon é como o oceano, o meu oceano. Eu cansei de me debater na água e tentar fugir dele. Eu simplesmente compreendi que afundar dentro dele seria minha salvação. Agora eu não preciso clamar, implorar, rezar, agora ele me trás a felicidade só pelo fato de estar respirando todos os dias. Agora nos tornamos um, como a mistura homogênea entre água e açúcar. Todos os dias, às vezes só em uma troca de olhares, ou em um beijo, pedimos silenciosamente um ao outro: Nunca me deixe ir.

O amor dele por mim é quase uma devoção, e esse fato me constrange por ser um mero pecador. Eu só existo por ele. Eu só respiro por ele. Eu só estou aqui hoje por ele e por você, por promessas firmadas que vou cumprir até meu último suspiro. Jooheon me livrou do inferno. Inferno esse que seria minha vida sem você, e do inferno para onde iria minha alma condenada. Sou um pecador liberto e que recebeu a graça de ser amado por alguém. Somos como quente e frio, doce e amargo, antônimos que se completam. Eu com a minha personalidade discreta e ele sempre falante.

Acho que você ficaria chocado se eu dissesse que mudei a cor do cabelo. Digamos que eu e Jooheon trocamos de tonalidade um com o outro. Não sou mais loiro, agora ele está negro como era o de Jooheon quando o conheci, porém, o meu é um preto azulado gracioso. Jooheon agora está loiro, loiro um pouco mais dourado do que o meu era, porém continua lindo. Até de cabelo vermelho rosado ele consegue ficar incrível. Sim, o cabelo dele já foi dessa cor. Não queria concluir este relato anual ao meu diário como todos os outros desde que você morreu. Você nunca vai ler isso, mas conversar com você dessa forma me tranquiliza, me acalma e me faz relembrar os bons momentos. Espero que onde quer que esteja você possa ouvir Never Let Me Go e me imaginar feliz ao lado do meu Honey."

Fecho a agenda com abelhas na capa e uma foto minha e de Jooheon. Sorrio ao lembrar do momento bom que foi o dia em que tiramos aquela foto. Escrever nesse diário todo ano, na data do ocorrido me ajudou a superar, e de certa forma eu sei que ele em algum lugar sabe de tudo isso. Passo o dedo por entre os discos de vinil da loja que Jooheon trabalha. Música é a sua vida, assim como ele é a minha. Seu sonho é se tornar um artista conhecido e sinto que seu potencial o levará a isso. Garanto, não é invenção de alguém apaixonado.

A voz de Florence adentra em meus ouvidos. Exatamente a mesma canção que acabei de citar. Fecho meus olhos extasiado pela melodia e segundos depois os abro suavemente. Viro-me deparando com a loja escura, estava esperando apenas Jooheon fechá-la para irmos para casa. Suas covinhas impertinentemente fofas estão em suas bochechas enquanto ele vem caminhando em minha direção com as mãos unidas atrás das costas e um olhar baixo de criança que vai aprontar.

- Me concede a honra dessa dança? - Ele estendeu a mão.

- Acho que já ouvi essa frase - Me lembrei de Hyunwoo.

- É algo bom?

- Depois dela não durou muito - Dei de ombros.

- Comigo vai durar - Pronunciou olhando nos meus olhos - Deixe-me corrigir - Ele riu fraco e eu acompanhei - Dança comigo?

- Até meu último suspiro.

Ele me envolveu em seus braços e começamos a nós movimentar. Afundei meu rosto na curvatura de seu pescoço e inalei o cheiro adocicado de seu perfume. Senti os lábios de Jooheon roçarem na minha orelha e sua voz sussurrar.

- Até além dele - Sorri bobo.



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