Mal estava escondida na biblioteca da grande escola de Auradon. Não queria ver ninguém, se sentia traída e sozinha, e no fundo ela sentia culpa por não ter percebido isso antes.
Seu coração doía, como todas as partes de seu corpo pelo cansaço. Sentia o pesar das palavras em suas costas, e queria acabar com isso de uma vez, queria morrer naquele segundo. Ninguém daria sua falta, todos estavam ocupados demais com suas vidas perfeitas. Carlos estava ocupado com sua nova vida de futuro veterinário da cidade, com o apoio de todos. Jay estava ocupado com os jogos, e agora ele tinha recebido uma proposta para fazer parte de um time profissional. Evie tinha conseguido o que queria, um amor que ela podia ser ela mesma, e ainda conseguiria abrir uma loja de roupas projetadas especialmente por ela.
Ninguém se importou, em notar que ela estava quebrada. Ninguém se importou, em perguntar porque ela não estava comendo. Ninguém se importou, em perguntar porque ela estava evitando Ben. Ninguém se importou, quando a viram correndo para longe, com os olhos vermelhos de lágrimas tentando escapar.
No fundo, Mal sabia que isso ia acabar acontecendo. Ninguém realmente ama ela. Nem sua mãe, nem Ben.
Ela abraçou os joelhos, e voltou a chorar. Seu mundo nunca foi um conto de fadas bonito, afinal, vilões não tem finais felizes, certo? Somente as boas pessoas tem finais felizes, e mesmo com toda a dor que passaram, elas conseguem dar a virada no fim de tudo. Mas a garota de cabelos púrpuros, não era uma mocinha, ela era uma vilã, ela era filha da fada má.
Tudo que ela já viveu, de seus 16 anos até aqui, foi uma mentira. Ela soube disso, no segundo que ouviu as palavras de Ben à seu pai.
— Tenho medo de machucar ela, Pai. Eu não à amo como ela me ama — ele falou, e baixou a cabeça. O rei de Auradon, não sabia que atrás da porta, sua namorada ouvia tudo, e sentia que tudo que viveu foi uma farsa.
As palavras foram como uma faca, lhe atingindo bem fundo. Depois, ela só lembrava de ignorar todos, e ficar sozinha. Agora estava tendo uma de suas várias crises, e tudo piorava cada vez mais. Ela piorava cada vez mais.
Ja era madrugada, e todos dormiam. Com um feitiço, ela conseguiu copiar a chave da grande porta da biblioteca, e sempre que precisava, ela vinha pra uma ponta no fundo, e ficava lá até amanhecer chorando e colocando tudo pra fora.
Não precisava dizer aquilo, não iam se importar e com certeza, dizer ser apenas um drama ou bobagem. Sua mãe diria isso, e ela certamente sempre estava certa.
Amor é uma bobagem. Não é o que você precisa.
Por que ela não ouviu isso? Por que não seguiu sua mãe? Por que não… Mas ela podia. Ela podia libertar Malévola e espalhar o mal por toda aquela maldita terra!
Se levantou, com o rosto molhado de lágrimas e olhos vermelhos, sem nenhuma emoção presente. Apenas marchou para fora do local onde estava, e seguiu até o final do corredor da escola, onde ficava o escritório da fada madrinha. Lá, onde estava sua mãe, trancafiada. Sabia que Malévola não a perdoaria de princípio, mas também sabia, que se ela lhe entregasse a varinha e a localização de outros artefatos mágicos, a mulher poderia aceita-la , ao menos isso.
Moveu sua mão, lançando um feitiço para destrancar a porta, e continuou seguindo até o cofre, que sabia estar atrás do quadro de Jane. Não acreditava o quão a fada podia amar a filha assim, mas não tinha tempo para bobagens como isso.
Ela só precisava destrancar tudo, soltar a mãe, e espalhar o caos, assim recebendo sua vingança.
Então, por quê era tão difícil ela abrir aquele cofre?
Mal?
Por que ela não consegue visualizar sua felicidade depois de destruir a beleza de Auradon?
Mal?
Por que não consegue ver seu destino como princesa do mal?
Mal!
Sentiu uma forte ardência na bochecha esquerda, lhe fazendo voltar à realidade. A primeira coisa que viu, foi castanho. Ela viu os olhos castanhos, e preocupados de Evie, seus cabelos bagunçados e ainda estava de pijama. Podia ver que ela estava quase lacrimejando, e se perguntou como aquilo aconteceu.
— O que você tá fazendo…? — ela perguntou quase como num sussurro — Acordei e não te vi na cama, e senti que algo ruim podia acontecer. Peguei o espelho e te vi chorando, então corri te procurando! O que você ia fazer?
Boa pergunta. Ela só ia causar o apocalipse junto com o ser mais cruel que ja pisou na terra, conhecido como sua mãe. Ela não respondeu, só ficou parada, com uma expressão apavorada olhando sua amiga. Não tinha desculpa para fazer o que ia fazer, e sentia que logo ela poderia desabar.
— Dor. — ela disse, tão baixo que foi quase impossível até ela mesma ouvir — Ben. Dor. Ninguém me quer.
A garota azulada, a olhou e pode enfim entender aquilo. Então, ela levantou o queixo de Mal, fazendo ela encara-la
— Hey, aqui. Eu, eu realmente não sei como começar isso, mas, eu acho que deveria começar assim: Você me diz que, ninguém quer você, e eu me pergunto, quando eu virei ninguém. — ela suspirou. Sentia que a garota à sua frente precisava daquilo. Engoliu seco, e continuou — Quer dizer, pra mim eu sou alguém, e sou alguém importante, e minha opinião importa, mas eu sou muita estúpida... So que eu realmente não sou ninguém. E quando diz, que ninguém quer você, dói, porque, eu não sei eu não sei como você diz isso, quando tem alguém lutando por você, todo dia, bem na sua frente, porque se importa com você. Então, se você não consegue me ouvir, quando eu digo isso, talvez agora vá me ouvir. Eu não sou ninguém, então você não pode simplesmente dizer que ninguém quer você, porque eu quero você! Eu luto por você todo dia, eu quero saber como você está, porque, eu não posso estar com voce o tempo todo! Mas isso não significa que eu não sou ninguém, porque eu me importo! E sabe, as pessoas que dizem que Ninguém se importa com elas, são as pessoas que mais possuem pessoas que se importam! — sentia que logo iria começar a chorar, e quando se deu conta, Mal já derramava lágrimas como antes. Sabia que a garota estava quebrada, e estava bem ali, frágil e exposta — E você não pode me dizer, que não existe felicidade, ou amor. Bem aqui. Eu sei que é uma mentira, e sabe por que? Porque eu conheço felicidade, e eu conheço amor! E você também, só está cega demais pra ver. Ok, parece que estou sendo muito dura agora, não é? Isso é amor duro, ok? Amor, amor, amor! Coloca na sua cabeça, que é real, e está bem na sua frente! — agora, ambas choravam e estava cada vez mais duro, tudo isso — só uma pessoa cega, não vê o que está na sua frente. Perceba logo isso, antes que seja tarde.
E então, tudo pareceu parar. Mal não sabia como reagir, só chorava e chorava com tais palavras. Não sabia como aquilo tinha acontecido, mas sabia, que tinha Evie. Tinha sua garota patricinha, sua princesa da Beleza, sua garota… sua amiga.
Então ela se jogou para frente, abraçando a morena. Com toda força que teve
— Então me ajude a abrir os olhos, Evie.
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