Depois do beijo na enfermaria nós voltamos para as últimas aulas, mas acabamos ficando até o final das aulas a tarde, já que era parte do castigo de Taehyung ajudar na limpeza e eu teria de esperá-lo. Depois que ele terminou, pegamos nossas mochilas e saímos.
— Seu pai ainda está no trabalho? — Pergunta enquanto vamos para casa.
— Não, hoje ele sai mais cedo. Por quê?
— A gente precisa pegar umas coisas se for passar a noite no terraço.
— Então eu...
— Não, de jeito nenhum. — Me interrompe, o olhar sério. — Você não vai voltar lá hoje. Nós vamos pra minha casa e você pega uma roupa minha.
Concordo com a cabeça, tentando não deixar o alívio de não ter que voltar para casa, nem que seja apenas por um dia, transparecer no meu rosto.
Estamos chegando perto do condomínio quando começa a chover e com chover, eu não quero dizer aquela chuva fina, quase um sereno. Eu quero dizer aquela chuva forte que chega a doer quando bate no seu rosto.
Taehyung xinga e segura minha mão, me puxando e nós corremos o resto do caminho, tentando escapar. Não adianta muito e quando passamos pela portaria, estamos encharcados.
— E agora? Não dá pra dormir no terraço se tiver tudo encharcado.
O loiro suspira derrotado e me olha, a expressão pensativa.
— Espera aí.
Taehyung tira o celular do bolso e se afasta um pouco.
— Mãe? É o Taehyung.
Ele continua falando mas minha atenção se desvia, focando nele. Eu convivo com Taehyung faz um bom tempo, muito se parar para contar, e mesmo assim sua beleza sempre me deixa sem fôlego.
Eu assisti Taehyung crescer do garoto magricela e de olhos grandes demais para o homem alto e forte que ele é agora. Me pergunto se eu mudei tanto quanto ele.
— Minha mãe vai fazer plantão no hospital — Diz depois de guardar o celular, não consigo deixar passar o alívio em sua voz. Sua mãe fora de casa significa fora do alcance das mãos de seu pai. — E ele vai passar a noite fora.
— Vamos passar a noite na sua casa?
— Vamos. Pegamos umas coisas na cozinha e trancamos a porta, caso ele resolva aparecer.
Volto a segurar sua mão e nós pegamos o elevador dessa vez, que apesar da aparência desgastada é muito limpo.
Começo a tremer de frio e de ansiedade, com medo de dar de cara com meu pai, até lembrar que o nosso apartamento não é no mesmo andar do de Taehyung.
As portas se abrem e nós saímos no décimo andar, Taehyung com as chaves já em mãos.
— Se tiver alguma coisa quebrada pelo chão — Murmura destrancando a porta. — Não estranhe.
O apartamento é espaçoso, com uma grande janela perto da TV e diferente do que eu imaginava encontrar, é limpo e organizado.
— Acho que minha mãe limpou. — Explica quando vê meu olhar de surpresa.
Continuo parado como uma estátua, sem saber realmente o que fazer. Estar com Taehyung no terraço, um lugar nosso, é uma coisa; estar na casa dele, no lugar a onde os pesadelos dele acontecem, é outra totalmente diferente.
— Relaxa — Sorriu. — Não tem mais ninguém além de mim aqui. Você não tem vergonha de mim, tem?
Reviro os olhos vendo o sorrisinho que se espalha em seu rosto.
— Até parece.
Deixo meu tênis perto do dele na porta e o sigo para o quarto, largando minha mochila perto de sua cama. Assim como resto da casa, o quarto de Taehyung é limpo e organizado, tirando as poucas coisas fora do lugar.
— Pode tomar banho primeiro, enquanto isso eu vou fazer alguma coisa pra gente comer. Tem uma toalha no banheiro.
— E a roupa?
— Pode pegar o que você quiser no meu guarda-roupa. — E sai, me deixando sozinho.
Escolho uma calça de pijama azul e um moletom preto, resistindo a vontade de enfiar meu nariz ali e sentir o cheiro de seu perfume. Não quero parecer um maluco.
— Mas se for só um pouquinho... — E respiro fundo contra o tecido, sentindo o cheiro bom que está ali.
Olho em volta assustado, procurando qualquer indício de que eu tenha sido pego e quando não vejo nada (nem ninguém) corro para o banheiro.
Tomo um banho rápido e tento não tocar muito no hematoma em meu rosto e não olhar muito para as outras manchas pelo meu corpo. Saio do banho cheirando a Taehyung.
— Você tá com o meu cheiro — Diz assim que eu entro na cozinha e me sento, colocando um prato com sopa na minha frente. — Seu pai não vai desconfiar amanhã?
— Eu tô sempre com o seu cheiro, Taehyung.
Finjo que não vejo seu sorriso quadradinho e ele que não vê minhas bochechas vermelhas.
Depois de comer e de lavar a louça, nós voltamos para o quarto dele e eu me deito, sendo acompanhado logo depois.
Taehyung não tem uma TV em seu quarto e ele não pega seu notebook, então apenas ficamos deitados lado a lado, ele olhando para o teto e eu para o seu rosto. Observo como seu cabelo loiro parece brilhar com a luz fraca de fim de tarde que passa pelas frestas na cortina.
— Ele já te bateu? — Pergunto baixinho.
Sempre quis saber se em algum momento seu pai tinha levantado a mão para ele, mas nunca tive coragem de perguntar, com medo de sua reação.
Ele não olha para mim quando responde.
— Não.
— Sua mãe não deixou. — Não é uma pergunta.
— Irônico, né? — Diz com uma risada amarga. — Ela não deixa ele me bater mas também não me deixa impedir que ele bata nela.
Seu rosto está inexpressivo enquanto ele fala, mas eu consigo ver a raiva mal contida borbulhando em seus olhos e na forma como ele fecha as mãos em punhos.
Engulo em seco e me ajeito, deitando de lado e usando minha mão para apoiar minha cabeça, ainda olhando para ele. Escolho as próximas palavras com cuidado.
— Por que vocês não vão embora? Por que ela não deixa ele?
Sua resposta é imediata.
— Porque ela o ama. Ele bate nela e ela o ama.
Desvio o olhar, me sentindo pequeno de repente. Me identifico com o que ele diz, mais do que sou capaz de admitir.
Algo deve se mostrar no meu rosto, porque em instantes Taehyung está perto demais, me olhando preocupado.
— Eu disse alguma coisa de errado?
— Não — Balanço a cabeça. — É só que... O que você disse... Eu...Eu também amo ele. Meu pai, quero dizer. Ele me bate e ainda assim eu o amo.
Sua expressão se torna suave e ele leva a mão até meu rosto, passando os dedos com carinho na minha bochecha. Eles retornam úmidos.
Eu sou mesmo um bebê chorão.
— A proposta de fugir ainda está de pé — Sussurra. — É sério, eu tenho umas economias de quando eu cuidei dos gatos da senhora Lee.
Consigo abrir um sorriso fraco, mas que provavelmente sai como uma careta. Taehyung franze as sobrancelhas, chateado.
— Odeio quando você chora.
Solto uma risada enquanto seco minhas lágrimas.
— Você odeia muitas coisas, Kim Taehyung.
— Eu não odeio você.
Sinto vontade de desviar os olhos, sentindo a atmosfera entre nós dois mudar, ficando mais densa, pesada, elétrica. A calmaria antes de uma tempestade.
Quando me dou conta, estamos nos beijando. Taehyung está com os braços apoiados em cada lado da minha cabeça, seu corpo prensando o meu contra o colchão, sua boca frenética contra a minha.
Seus lábios são quentes, levemente rachados pelo frio e tem gosto das balas de hortelã que ele é viciado. Taehyung me beija como se quisesse provar algo.
Penso se isso vai virar algo rotineiro: falar de nossos problemas e então nos beijar. Talvez ele pense que ajude. Talvez ajude mesmo.
Se eu não tivesse Taehyung estaria completamente sozinho nas mãos do meu pai e não sei se conseguiria suportar isso, muito mais do que só o meu melhor amigo ou o garoto que tem problemas com o pai, ele é o que me ajuda a me manter inteiro.
Por isso tenho tanto medo quando ele vai para o terraço sozinho, principalmente depois de uma noite ruim. Porque eu sei como ele se senta na mureta, sei como ele olha para a calçada lá embaixo.
E uma vida sem ele existe, mas não é uma opção.
— Taehyung — Minha voz sai sem fôlego e eu tremo ao sentir seus lábios deslizando pelo meu maxilar.
Encaro o teto e mordo meu lábio inferior, sentindo os beijos suaves e as mordidas que ele deixa na pele do meu pescoço. Fecho os olhos quando sinto sua língua deixar um rastro quente até o começo da minha clavícula.
Minha pele arde e eu sinto os arrepios que o ar frio causa em mim conforme ele tira minha roupa, deixando um rastro de fogo por onde sua boca passa.
Sinto vergonha também; vergonha das cicatrizes que estão em alguns lugares, principalmente nas minhas costas. Sinto vergonha dos hematomas nos meus braços e estômago.
Taehyung não me diz que eu sou lindo ou que eles mostram o quanto eu sou 'forte', ele apenas beija cada marca com cuidado, os olhos fixos nos meus.
É estranho ver ele sem roupas, mas não desagradável. Nem a vergonha e nem o medo da dor e de que, caramba, talvez isso estrague tudo, são o bastante para me impedir de traçar cada parte dele, decorando cada contorno.
Dos ombros largos, das costas e de seu peito forte, até seu rosto. Até sua boca.
Gemidos fracos deixam meus lábios conforme seu corpo roça no meu, suas mãos me apertando. Mal consigo segurar o protesto quando ele se afasta, pegando meu rosto e me fazendo levantar o olhar.
— Você confia em mim? — Confirmo com a cabeça. — Eu preciso que você diga, Hoseok. Você confia em mim?
— Sim — Ofego quando ele me deita para trás e sua ereção roça na minha. A sensação forte demais para um garoto de dezoito anos virgem e cheio de hormônios. — Taehyung, por favor.
Demora e é difícil. Taehyung parece tão perdido quanto eu depois que os toques evoluem pra algo além das preliminares e acerta meu rosto, bem no hematoma, quando se estica para pegar o lubrificante.
É doloroso quando ele me prepara e ainda mais doloroso quando desliza para dentro de mim. O tempo todo penso no quanto a sensação é demais, no quanto o machucado em meu rosto deve estar feio e nele.
Penso nele; em cima de mim, dentro de mim, gemendo no meu ouvido, sussurrando o meu nome, no seu cheiro misturado ao meu. Penso na minha voz que soa alta e aguda, nos gemidos vergonhosos que eu não consigo segurar.
E mesmo que as três palavras nunca tenham saído de sua boca, eu sei que Taehyung me ama.
Ele goza primeiro e eu vou logo depois, minha visão turva de prazer e seu nome ecoando pelo quarto. Taehyung está trêmulo quando eu o abraço, nós dois tentando regular a respiração.
Quando acaba o sol já se pôs totalmente, o quarto escuro em certas partes e iluminado pelas luzes do lado de fora da janela em outras.
Depois de usar sua camiseta para limpar nossos estômagos, Taehyung me puxa e eu deito minha cabeça em seu peito, encaixando-a embaixo de seu queixo.
Estou suado, pegajoso e dolorido, mas não consigo pensar em uma sensação melhor do que estar em seus braços dessa forma, ouvindo seu coração bater rente ao meu ouvido.
— Você sabe o que eu sinto, não sabe? — Pergunta depois de alguns minutos em silêncio, sua mão fazendo desenhos aleatórios na pele das minhas costas.
— Você me ama. — Respondo sem hesitar.
— Muito mais do que isso. — Sua voz sai vulnerável e eu me aninho mais á ele.
— É claro — Sorrio contra sua pele. — Quem poderia me amar mais do que o meu melhor amigo?
Me sinto mole, leve e não me permito pensar no meu pai ou no que eu vou encontrar quando voltar para casa. O que quer que seja, valeu a pena e eu não vou me arrepender.
— Ninguém, Hoseok — Sinto seus lábios em meu cabelo, sua voz rouca. — Ninguém poderia te amar mais do que eu.
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