Madu
- Quem é aquele cara da festa? - ele perguntou.
- É amigo do meu pai. - eu expliquei.
- E porque ele te puxou daquele jeito? Qual o interesse dele em você? - perguntou sem olhar pra mim.
- Ele fica de olho em mim a mando do meu pai, e na verdade ele me odeia. - eu ri.
- Quer saber Madu, eu cansei. - ele disse e meu corpo tremeu.
- Cansou? Como assim cansou? - me ousei a perguntar.
- Encontros escondidos, quase nunca a gente se vê, o seu pai não gosta de mim, a gente nunca teve uma primeira vez, não posso ir na sua casa, não posso te levar na dos meus pais...- ele começou a falar e as lágrimas caíram.
- Tá terminando tudo? - perguntei.
- Sim, desculpa mas assim não dá. - ele disse e eu levantei da cadeira.
- Tudo bem, entendi. - eu disse e tirei dinheiro da bolsa para pagar meu café.
Comecei a andar pelas ruas de volta pra casa completamente destruída por dentro, eu sei que a culpa foi minha por ter deixado chegar ao ponto do meu pai me castigar. Quando cheguei em casa meu irmão já havia ido pro aeroporto e meus pais tinham ido jantar fora então foi o momento certo para eu me trancar no meu quarto e chorar feito um bebê, peguei no sono de tanto chorar e o meu despertador me acordou de manhã tocando insistentemente.
- Bom dia querida, seu pai teve que ir mais cedo hoje. - minha mãe disse.
- Bom dia, não tem problema...eu pego um táxi. - eu disse abrindo a porta.
- Não vai tomar café? - perguntou.
- Estou sem fome. - respondi antes de fechar a porta.
Peguei o primeiro táxi que eu vi e foi até rápido de chegar no escritório, passei pela Ju com um simples bom dia e fui direto pra minha sala.
- Bom dia Madu, estava te esperando pra te dar isso. - Oscar disse entrando comigo na sala.
- São pra hoje? - perguntei vendo uma pilha de papéis em sua mão.
- Sim, para a noite. - ele disse colocando tudo na mesa.
- Oscar, me desculpa pelo dia da festa tá? Eu estava muito irritada com o seu amigo Thiago e acabei usando você pra fazer raiva a ele. - eu expliquei.
- Tranquilo, eu até gostei. - ele riu e eu também.
- O que rolou entre vocês dois? - ele perguntou confuso.
- Ele levou a sério quando o meu pai pediu para ele ficar de olho em mim e ele fez meu namorado...quer dizer, ex namorado ir embora. - eu disse.
- Nossa, que chato. - ele disse e eu assenti.
- Bom, vou começar isso aqui porque já vi que vou demorar. - eu sorri e ele saiu da sala.
Era tanta coisa para revisar e digitar que enquanto eu arrumava os papéis percebi que um deles veio errado, tinha o nome do Thiago e eu fui até sua sala devolver e na segunda batida ouvi sua voz me mandando entrar.
- Isso veio por engano pra minha mesa, é seu. - eu disse colocando na mesa e dando meia volta.
- Madu...- ele disse e eu me virei.
- Podemos parar com isso? - perguntou parecendo exausto.
- Olha só, desculpa ter gritado com você e ter sido infantil demais naquela noite. - eu pedi e ele me olhou surpreso.
- Eu quem deveria pedir desculpas, eu te disse umas coisas pesadas. - ele disse.
- Eu já tô acostumada Thiago. - sorri sem graça.
- É sério, somos colegas de trabalho e não deveríamos ter esses atritos bobos. - ele disse.
- Tudo bem, não vou mais te atrapalhar. Com licença. - virei-me para sair mas sua voz me parou.
- Topa um café comigo hoje depois do nosso horário, vamos tentar ser amigos. - ele disse e eu travei olhando pra porta.
- Tudo bem. - respondi e saí da sua sala.
Passei o dia todo digitando e meus dedos estavam doendo já, eu fazia algumas pausas de cinco ou dez minutos mas ainda assim eu estava cansada. Prendi meu cabelo num coque por conta do calor e quando finalmente consegui terminar tudo o que tinha pra fazer eram quase seis da noite, batidas foram dadas na minha porta e logo em seguida vi o rosto de Thiago.
- Está pronta? - perguntou.
- Sim, estou. - peguei a bolsa e quando fui pegar o celular vi que havia uma mensagem de Lucas.
"Me desculpe por magoar você...quero muito o seu bem."
Thiago.
- Tá tudo bem? - perguntei vendo ela parada olhando a tela do celular.
- Sim. - ela jogou o celular dentro da bolsa.
- Se você não estiver se sentindo bem eu posso te levar em casa. - eu disse percebendo seu incomodo.
- Não, não quero estragar o passeio. - ela sorriu.
Estou tentando mudar as minhas atitudes com as pessoas porque Oscar conversou comigo hoje pela manhã e disse que eu estava sendo muito rude e ignorante com as pessoas e que eu deveria tentar see menos antipático. Sim, ele usou essas palavras comigo.
E eu iria começar por Madu, porque ela é filha do meu chefe e eu a tratei muito mal desde que a conheci.
- Então, está curtindo o trabalho? - perguntei quando sentamos na cafeteria.
- Quando não tem muita coisa pra digitar é bom. - ela sorriu.
- Por favor, um frapuccino de floresta negra...e um cookie de geléia de uva. - ela disse e eu olhei pra ela.
- E você, o que vai querer? - perguntou.
- A mesma coisa. - sorri.
- Temos o mesmo gosto? - perguntou sorrindo.
- Acho que sim. - sorri.
- E aí, as coisas com o seu pai estão melhores? - perguntei.
- Sim, ele já até tirou as correntes dos meus pés. - ela disse rindo e eu gargalhei.
- Estava tão sério assim? - perguntei.
- Ele agora está me deixando sair sem ele ter que me levar, e me dá um pouquinho mais de liberdade dentro de casa. - ela disse.
- Acho que ele faz isso porque se preocupa muito com você, eu acho que seria assim com as minhas filhas. - comentei.
- Ele tem medo de que eu não tenha o futuro bom que ele sempre sonhou pra mim. - ela disse e o garçom chegou com os pedidos.
- Mas e o seu namorado? - perguntei bebericando meu café.
- Terminou comigo. - ela disse mordendo o biscoito.
- Posso perguntar o motivo? - perguntei quase sorrindo.
- Ele disse que é pelo fato de sermos um segredo, mas eu acho que ele percebeu que eu sou uma furada e que ele merece algo melhor. - ela disse dando de ombros.
- Sinto muito. - eu disse.
- Não sinta, amor não é pra mim sabe? Acho que nunca mais eu vou me apaixonar na minha vida. - ela disse.
- Eu disse o mesmo quando me separei. - sorri.
- E se apaixonou de novo? - perguntou.
- Não. - eu gargalhei e ela também.
- Eu sei que você me acha uma pirralha chata e metida mas eu não sou assim...as vezes eu sou bastante inconsequente e tenho uma certa marra, mas eu acho que bem no fundo eu consigo ser uma boa pessoa. - ela disse me surpreendendo.
- Um brinde então. - sorri levantando meu copo.
- Um brinde. - sorriu batendo o copo no meu.
...
- Obrigada pela conversa, eu estava precisando. - ela sorriu quando chegamos a porta da sua casa.
- De nada, foi um prazer. - sorri.
- Até amanhã, colega de trabalho. - eu disse.
- Até, colega de trabalho. - ela repetiu e me deu um beijo no rosto.
A gente se encarou por alguns segundos e foi estranho olhar para aquele par de olhos azuis e não ver ódio ou irritação, e sim um mar em calmaria. Percebendo o clima estranho que se formou eu limpei a garganta e olhei pro lado, e a porta da casa dela se abriu.
- Onde você estava, mocinha? - ele perguntou não percebendo a minha presença.
- Eu saí com o Thiago. - ela respondeu e ele olhou pra mim.
- Fomos tomar um café, muito trabalho por hoje. - sorri.
- Ahh! Então eu estou tranquilo, que bom que vocês são amigos. - ele sorriu me abraçando.
- É. - Madu sorriu sem graça.
- Até amanhã, e valeu pelo café. - ela disse antes de entrar.
- Até amanhã amigão! - Rafael sorriu.
- Até pessoal. - sorri e me afastei.
Hoje foi um dos dias mais incomuns da minha vida mas pra ser sincero, foi o mais legal.
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