História I found love where it wasn't supposed to be... - Im the one at the sail, Im the master of my sea

Caitlin entrou na pipeline silenciosamente, recostando-se contra a porta e cruzando os braços contra os seios. Por um momento ela ficou ali observando-o sentado no chão, o rosto escondido entre as mãos.

De todas as perguntas que lhe vem a cabeça, a mais proeminente é a curiosidade do que estaria se passando por sua cabeça. Estaria ele com medo da morte? Chateado por ter perdido para os heróis? Ou teria se rendido a imutável situação apenas à espera do inevitável?

E então, sua cabeça se ergue, o corpo se endireita e uma das mãos esfrega pelo lado direito de seu rosto. Ela prende a respiração, pronta para deixar o local antes que fosse percebida, mas paralisa ao ouvir a voz dele.

“Você não tomou a cura.” Ele sussurra, sem virar para ver quem se encontrava ali, não é preciso, ele podia sentir.

Ela ficou quieta por alguns segundos decidindo o que faria em seguida, ignora-lo e ir embora ou ficar e conversar? É uma batalha perdida, seus pés logo estão se encaminhando na direção do homem, perto o suficiente para poder ver um pouco das várias cicatrizes na lateral de seu rosto.

“Não.” Ela dá de ombros “Não sou apenas Caitlin Snow ou Killer Frost, eu sou algo mais... talvez até melhor.”

Como ele não pede que ela vá embora, Caitlin encontra a coragem dentro de si para fechar o espaço entre eles, sentando ao seu lado e colocando as mãos sobre a barriga, sem saber exatamente o que fazer com elas.

Depois de um longo momento de silêncio entre os dois, ela passa a encara-lo. Seus olhos estão fechados e ele está respirando devagar, pesado, como se a simples ação fosse um esforço tremendo. Caitlin encara aquela cicatriz e luta contra a vontade de passar os dedos por elas. As cicatrizes no não lhe incomodam, pelo contrário, fazia sua curiosidade se aguçar. A cicatrizes visíveis no rosto de Savitar eram lembranças de suas próprias, escondidas profundamente sob sua pele, dentro de seu coração.

Ele abre os olhos e ela desvia o olhar envergonhada. Agora era sua vez de sentir o olhar dele sobre si e imagina o que ele estaria enxergando. Uma mulher pelas metades, os cabelos brancos de Killer Frost, a única evidência óbvia da existência da mulher, de seu reinado de terror ao lado dele e seus olhos de volta aos seus castanhos. Seu coração começa a bater tão rápido que ela tem quase certeza que ele pode ouvir. Savitar pode certamente ouvir sua respiração pesada, provavelmente se perguntando o que ela estaria fazendo ali.

“Quanto tempo você tem?” Sua voz sai em um sussurro, mas a proximidade dos dois o permite ouvir.

Um olho verde e o outro acinzentado encontram os seus castanhos, mas ela já não consegue mais ler seu rosto ou as emoções nadando por ali.

“Eu acho que alguns minutos, talvez uma hora no máximo.” Ele dá de ombros como se não fosse importante. Provavelmente aceitou o seu destino. “Você veio aqui para dar seu adeus e ficar comigo, para eu não morrer sozinho?”

“N-não.” Ela gagueja. É uma parcial mentira, sim ela veio para isso, mas não apenas isso.

“É isso sim, você age como Caitlin Snow.” Ele ironizou dando uma última olhada em suas roupas, não mais o uniforme que ele havia feito para ela, mas também não as roupas que a morena usaria. Ela usava uma das blusas de Barry com a logo do Star Labs e uma legging sua que estava esquecida no armário. “Voltou ao Star Labs, quer continuar ajudando o... ele, mesmo depois de tudo que nos fez, toda a dor que lhe causou. Por acaso esqueceu que ele lhe deu poderes que nunca pediu? Que ele lhe forçou a usa-los para salvar a Iris e não deu a mínima para você perdendo o controle? Que ele não fez nada quando você morreu e se tornou Killer Frost? Ele não merece você e no entanto, está aqui de volta.”

Embora parte dela quisesse negar, ela não pode. Por muito tempo Caitlin Snow tentou justificar as ações e escolhas de Barry, por muitas vezes ela o perdoou. Desta vez, no entanto, ela sabia que ele não fez nada para lhe ajudar, nem ao menos tentou. Barry estava ocupado demais tentando salvar Iris que eventualmente foi salva por HR.

Outra pessoa sacrificada para salvar a mulher.

“Você e ele tiveram momentos emocionantes aqui.” Ele olha ao redor e ela segue seu olhar. “Vocês se abraçaram aqui três vezes se minha memória não me falha. A primeira quando ele veio com você pela primeira vez desde a morte do Ronnie e te consolou, a segunda antes dele voltar no tempo para salvar a mãe pela primeira vez, ainda lembro o quão apertado você o abraçou... A última meses atrás quando ele lhe trouxe de volta do controle de Killer Frost, você o abraçou e ele disse...”

“Chega.” Ela o interrompe lutando contra as lágrimas. “Por que está relembrando tudo isso?”

Havia um quarto abraço, aquele com Barry e Cisco, depois que Zoom a deixara ir embora, mas ela decide permanecer em silêncio, mantendo essa doce memória em sua mente e coração.

Savitar a encara e ao ver seus olhos brilhantes pelas lágrimas não derramadas, relaxa o rosto.

“Minha intenção não era te magoar... eu só... Eu vejo que você e Barry possuem uma conexão única. Você sempre acreditou nele, nas habilidades dele e apoiou suas decisões. Ele te compreendeu, passou a te entender e em pouco tempo sabia te ler como um livro aberto e fazer você se sentir melhor. Vocês compartilharam a dor da perda, foi o que os conectou no início. Essa amizade, talvez por isso eu e você fizemos um par tão excelente. E é por isso que eu sei que ele vai cuidar de você... e desse bebê que está esperando quando eu me for.”

Os olhos de Caitlin se arregalaram e sua boca abriu diversas vezes, mas nenhuma palavra saiu.

“Desde que começamos essa conversa sua mão está sobre sua barriga e eu vi você se olhando no espelho mais cedo no vestiário, tentando ver se estava visível.” Ele deu de ombros e sorriu arrependindo. “Eu nunca quis esse peso para você, Caitlin ou para Frost, um bebê meu e seu é inesperado... surpreendente...”

“Ruim?” Ela questionou temerosa, as mãos contra a barriga tremendo com a possibilidade do que ele poderia responder.

“Nada que seja metade de você pode ser ruim, eu só posso torcer que ela ou ele não herde algum problema por minha causa. Eu sou uma aberração e a última coisa que quero é que isso cause algum problema.”

“Você não é uma aberração Savitar, não para mim.” Ela envolve o rosto dele em suas mãos, seus olhos correndo por todo o rosto dele. “Você me ajudou a aceitar meus poderes, a aceitar Frost. Me ajudou a entender que não preciso temer minhas habilidades. Você matou o HR e tentou matar a Iris... e quis se livrar de mim, para ter apenas a Frost, eu deveria te odiar por isso, mas eu só consigo sentir um sentimento de perda, se tivesse qualquer coisa que eu pudesse fazer para te salvar, eu faria. Depois de tudo que você fez por mim, do que me deu. “Ela desceu uma mão pegando na dele e colocando sobre a barriga um pouco proeminente. “Eu não quero que você esteja sozinho agora... talvez isso seja uma prova de que sou uma pessoa horrível, mas...”

“Não, isso prova que você é maravilhosa. Você sempre foi boa para o Barry, para mim... eu sou um monstro e um assassino, mas saiba que eu nunca te machucaria Caitlin.”

As lágrimas caem por seu rosto enquanto ela toca suavemente a cicatriz com os dedos. Savitar respira fundo, fechando os olhos e se sentindo como o herói que merecia amá-la. Pela primeira vez em muito tempo se sentiu como Barry Allen.

“Ele vai cuidar bem de vocês, Caitlin, melhor do que eu poderia.” Savitar fechou o espaço entre eles deixando um delicado beijo nos lábios dela. “Eu acho que isso é um adeus, minha deusa.”

A voz dele parecia apenas um eco enquanto ia desaparecendo lentamente na sua frente.

“Savitar...” Ela murmura, lágrimas caindo pela lateral de seu rosto e os dedos tentando se fechar contra sua jaqueta de couro, mas em um piscar de olhos havia apenas o vazio a sua frente. Savitar desapareceu tão abruptamente que era como se ele nunca estivesse ali com ela, e Caitlin se vê novamente sozinha, sem ninguém que possa lhe compreender plenamente.

Ela limpa as lágrimas de seu rosto e solta uma respiração áspera, só agora percebendo que havia segurado a respiração.

“Cait?”

A mulher se vira devagar encarando-o envergonhada. Barry estava apoiado contra a porta assim como ela havia feito minutos atrás e a encarava com um sorriso triste, era claro que havia presenciado alguma parte de sua interação com o vilão.

Ela estava incerta do que deveria dizer, agir. Desde que havia recuperado o controle de seu corpo evitava o herói como se ele tivesse uma praga. Não queria se irritar com Barry por suas falhas em lhe salvar, teria ela realmente precisado de algum resgate? Talvez. E não dava para negar o sentimento de decepção em seu peito, ela faria qualquer coisa por Barry Allen, arriscara sua vida diversas vezes por sua segurança e seu segredo, e quando mais precisou, ele desistiu dela por muito pouco.

A magoa era grande.

Ele ter a mesma feição do homem que lhe salvou de si mesma e lhe escolheu para ser uma deusa e reinar ao seu lado também não ajudava.

“Ele se foi.” Ela informou como se não fosse óbvio.

As lágrimas ainda brilhavam em seus olhos, mas ela decidiu que não deixaria que outras rolassem por suas bochechas novamente.

“Você está bem?” Ele questiona e há algo de diferente em seu tom, em suas palavras, até sua postura.

Parecia o velho Barry. Aquele que se preocupava com ela tanto quanto se preocupava com Cisco, Iris, Joe, Wally... até Harry. Seu melhor amigo de quem ela sentira falta. E isso a compele a dizer a verdade, mesmo com a mentira na ponta de sua língua.

“Na verdade, não.” Ela responde caminhando para a saída.

Ao passar por ele, Barry segura seu pulso e ela pausa, os olhos recaindo sobre a mão dele para então subir pelo braço definido, tórax e então chegar no rosto, correndo por cada detalhe até alcançar seus olhos verdes. Ir embora e nunca mais olhar para trás teria sido muito mais fácil se ela não tivesse visto o arrependimento brilhando ali.

“Eu sei que eu falhei com você, mais do que qualquer um aqui dentro. Eu deveria ter sido o herói, o seu herói, seu amigo, ter te ajudado da forma que fosse, mas não o fiz. Eu não posso mudar meus erros, eu o faria se pudesse, mas posso corrigi-los. Não vá embora, fique aqui com a gente... comigo.”

Por hábito ou talvez por saudade dele, de seu abraço e da sensação de segurança que só Barry Allen poderia lhe passar, Caitlin remove seu braço do aperto dele e envolve seus braços ao redor da cintura dele, afundando o rosto no pescoço dele. Por sua vez, Barry também a abraçou forte, a mão acariciando levemente seus cabelos. Ela se lembrava das palavras de Savitar sobre os abraços que ela e Barry trocaram ali, se lembrou do sentimento que ele lhe causava e que retornava lentamente, através da dor da perda de Killer Frost e o medo que ambas sentiam sobre o futuro e o bebê que estava a caminho.

Ela não era mais apenas Caitlin, não era apenas Killer Frost, mas os braços de Barry ainda eram sua casa.

“Eu vou cuidar de vocês, não estão sozinhas com o bebê. Você tem a mim agora e sempre.” Ele murmurou contra seus cabelos deixando um beijo no lugar e sorrindo ao ver o corpo dela relaxando contra o seu.

E Caitlin abriu os olhos, lágrimas de tristeza e arrependimento escorrendo pela lateral de seu rosto e caindo sobre o travesseiro.

Fora apenas um sonho criado por sua mente dividida e cheia de culpa.

Caitlin e Frost nunca tiveram a oportunidade de se despedir de Savitar, de contar sobre a gravidez e agora, seis meses depois de sua derrota, duas semanas desde que ela retornara ao time Flash e auxiliara Cisco a trazer Barry de volta da Speedforce, as duas não tinham a menor ideia de como contar ao time.

‘Nós estamos, por falta de melhor palavra, fudidas.’ A loira falou em sua mente e Caitlin não pode deixar de concordar.

xx

Poucas horas depois, ainda no meio da madrugada, ela acordou irritada.

Um sentimento que a acompanhou por toda a manhã, para falar a verdade.

Começou no momento em que ao despertar, percebeu que sua vontade era virar para o outro lado e retornar ao mundo dos sonhos, no entanto, seu estômago tinha outros planos e logo ela se viu deixando o quarto e correndo para o primeiro banheiro a sua frente despejando a quase inexistente comida que havia em seu estômago no momento.

‘Como eu odeio enjoo matinal.’ Frost grunhiu em sua mente e Caitlin concordou, fechando a tampa do vaso e descansando a cabeça ali, não havia comido muito na noite anterior, no entanto, a ânsia de vomito continuava agora acompanhada de tontura, apesar de que o segundo acreditava ser culpa de sua constante preocupação.

‘Você precisa encara-los de uma vez.’ Frost falou, um eco suave na mente de Caitlin. ‘Chega de ficar se escondendo por trás daquele transmogrificador do HR.’

‘Me deixe em paz.’ Caitlin respondeu escondendo o rosto nos braços. Ela sabia que precisava contar, estava cada vez mais difícil esconder sua gravidez do resto do time, mesmo com o dispositivo de HR, mas toda vez que ela decidia falar tudo a coragem lhe falhava e ela se acovardava. Como poderia ficar na frente de seus amigos e informar que estava grávida do homem que quase destruíra o time? Que assassinou HR?

Como dizer para Barry que Frost e Savitar foram muito mais do que parceiros no crime e que isso era derivado de seus próprios sentimentos por ele?

‘E se ela ou ele for uma mini versão de você?’ Caitlin pensou, um soluço escapando por seus lábios. Ela iria amar seu bebê de qualquer forma, mas seus amigos fariam o mesmo caso o bebê saísse com olhos esbranquiçados e cabelos platinados? Com poderes impossíveis de controlar?

‘Eu não posso ver o futuro, floco de neve. Não sei.’ Frost resmungou impaciente, não era a primeira vez que Caitlin questionava isso e pareciam estar sempre batendo nessa mesma tecla. ‘O que eu sei é que não dá para você ficar indo em missões salvar a bunda do herói carregando o nosso bebê.’

‘Eu sei.’ Caitlin respirou fundo sentindo as forças voltar para seu corpo. Levantou do chão e se apoiou na pia, encarando seu reflexo no espelho. Seu cabelo estava de volta ao castanho, mas algumas partes voltavam a clarear e seus olhos piscavam entre seu castanho e o branco de seus poderes.

‘Cisco não desistiu de você mesmo quando eu tentei matá-lo, duvido muito que ele vá desistir agora.’ Ao se olhar no espelho sua aparência começava a mudar e Caitlin pode sentir sua consciência indo para o fundo, mas dessa vez não se assustou ou entrou em pânico.

Ela e Frost finalmente haviam se entendido, parado de lutar uma contra a outra e aceitado que ambas teriam que compartilhar o mesmo corpo. Caitlin não iria tentar se livrar de Frost ou supri-la em sua mente e Frost não iria sair liberando sua ira contra o time ou a cidade.

A loira colocou a mão sobre a proeminente barriga de seis meses e sorriu. Na mente compartilhada imagens de suas várias noites com Savitar repassaram como flashbacks e lágrimas surgiram nos olhos da mulher. Por mais que não admitisse, Caitlin sabia que Killer Frost havia criado sentimentos pelo Deus da velocidade e ainda sofria com a falta dele.