Março 2019 – 08:23 p.m
Minha casa
Foram dois meses, dois meses aguentando WonHo e Hirai juntos. No começo de fevereiro, eles assumiram o namoro, depois daí foi um dia pior que o outro. De um lado eu tinha que aguentar Hirai falando o quando ele era fofo, do outro eu tinha que ouvir WonHo dizendo o quanto sonhou com isso o ano inteiro. Isso doeu muito no começo, mais eu me acostumei com a dor, só estou de saco cheio de tudo. De fingir sorriso e animação quando eles vêm falar comigo, me dá raiva. O que me salva minimante é Hyungwon, que as vezes surge e me puxa para longe, me dando um tempo de descanso. Eu e ele acabamos criando um vínculo, me senti segura ao seu lado e contei a situação, ele me disse que eu deveria parar com isso, falar a real ou me afastar dos dois porque isso já está me machucando demais, porém, não sei se isso vai dar certo.
Ou talvez dê, eu já não aguento mais ficar segurando tudo, prender tudo em silêncio. Sinto que vou explodir a qualquer momento.
– Filha, um amigo seu está aqui. – ouvi mamãe dizer atrás da porta de madeira e sorri minimante, com certeza seria Hyungwon, ele vinha me visitar de vez em quando.
– Pode mandar entrar. – corri até o espelho e olhei se estava apresentável.
Voltei e me sentei em frente ao computador novamente, fechando a aba do YouTube e entrando no Facebook para ver as mesmas postagens que já tinha visto há segundos atrás.
– Oi, ________.
Congelei, aquela não era a voz de Hyungwon, não chegava nem perto. Conheço muito bem essa voz, porque já sonhei inúmeras vezes com ela me dizendo coisas bonitas, ou até mesmo sussurrando sacanagens em meu ouvido. Hoje ele estaria em um encontro com Hirai, sério mesmo que o jantar acabou e ele veio para cá?
– Oi, WonHo. – fechei meus olhos e abri novamente, colocando um sorriso falso no rosto como fiz esses dois meses inteiros e me virei para encará-lo. Shin sustentava um sorriso radiante no rosto, seus olhos brilhavam e ele parecia ofuscar até a luz do meu quarto. Já vi esse semblante várias vezes durante dois meses, e vê-lo mais uma vez me deixou desanimada. – Como foi o encontro?
Perguntei por educação e me virei novamente para a tela só computador, descendo as postagens e fingindo prestar atenção em algo que não fosse a minha vontade absurda de gritar com ele e expulsá-lo a ponta pés da minha casa.
– Foi maravilhoso, Hirai é tão fofa, educada, gentil... Eu gosto muito dela. Primeiro eu levei ela para tomar sorvete...
– Que bom. – respirei fundo.
– Depois fomos para o parque... – seu tom de voz estava estranho, mas eu não me virei para ver seu semblante.
– Hum. – murmurei.
– E ela estava tão linda naquele vestido rosa – apertei com tanta força o mouse do computador que achei que o objeto poderia se destroçar na minha mão mesmo. – _________! Que porra que está acontecendo?!
– Nada... – respondi entredentes.
Hoseok começou a tagarelar que eu estava estranha, que não estava normal, que estava grossa. Comecei a mexer minha mão frenéticamente, apertando o mouse como se quisesse amassa-lo. Minha paciência já estava esgotada, eu estava inquieta, estava à mil. Até finalmente explodir.
– CALA A BOCA! – espalmei minha mão na mesa junto com o impulso para levantar, consequente afastando a cadeira. – Cala a porra da boca. – implorei pausadamente. Parece que todas as minhas forças estavam se esvaindo ali, naquela mesa, como se eu fosse incapaz de permanecer em pé.
– _______, o que está acorrendo? – perguntou cauteloso.
– Acontece que eu cansei, WonHo, eu cansei de tudo isso. – virei-me para ele, seu semblante mesclava o medo e a confusão, mas eu já não me importava, estava esgotada. – Cansei de fingir que apóio esse namoro, quando na verdade eu torço todas as noites para que ele acabe. Eu cansei, cansei de ficar fingindo que estou contente sendo apenas melhor amiga, cansei de fingir entusiasmo quando você vem falar dela, eu cansei de esconder que gosto de você. Porra, eu sou apaixonada por você, há muito tempo, mas você nunca notou. Toda vez que eu falava com você e você respondia, cacete, eu queria gritar de alegria e dançar do jeito mais desengonçado possível para mostrar o quanto eu estava feliz. – ri sarcástica, aceitando minha própria desgraça. – Quando você veio falar comigo naquele dia, eu senti que meu coração ia pular para fora, mas ele se quebrou assim que você pediu aquilo, minha ajuda para ficar com Hirai.
Fechei meus olhos e respirei fundo, precisava ir com calma, ou iria desmaiar ali mesmo. Minhas mãos suavam, pernas bambeavam, cabeça girava, respiração falhava... Eu estava em pânico, e vê-lo daquele jeito, paralisado à minha frente, não ajudou. Então abaixo minha cabeça para prosseguir:
– Eu aguentei por muito tempo, fingi sorrisos pro muito tempo, chorei escondida por muito tempo. Mas eu cansei disso, eu não quero fingir estar feliz enquanto vejo o cara que amo ir embora com outra, não sou tão boa atriz assim, e nem tão forte para segurar a barra. – torci meu nariz quando ele começou a queimar e levantei meu rosto, olhando-o firme, como nunca olhei. Apesar das lágrimas que já desciam pelas minhas bochechas, eu estava séria. – Vai embora, agora.
– ______-
– VAI EMBORA! – gritei fechando meus olhos com força. Quando percebi que estava na beira de perder o controle, virei meu rosto para o lado como se tivesse levado um tapa e repeti, mas agora em um tom baixo, porém mais melancólico: – Sai daqui, por favor.
– Eu sinto muito... – ele sussurrou numa tentativa de amenizar a tensão, mas isso apenas piorou. Então, assim que ele saiu pela porta do quarto e eu me vi sozinha, desabei no chão em meio as lágrimas e aquela dor sufocante que parecia infinita.
Abril 2019 — 09:40 AM
Minha escola
Os dias foram passando, o outono chegou, a primavera se foi e levou com ela alguns de meus amigos. Dois, na verdade. WonHo e Hirai.
No dia seguinte àquela noite, Hirai veio falar comigo normalmente, pois não sabia de nada, mas eu não podia ficar escondendo isso dela, muito menos aguentar andar perto do dos dois fingindo que nada aconteceu, seria como continuar com o teatro, só que ainda mais pesado. Então, eu contei para ela tudo e, bem, óbvio que ela não me abraçou e disse que entendia. Na verdade, eu que saí primeiro sem dar chances para ela responder, foi imprudente e infantil, mas contar a verdade já foi carregado demais. E, bem, como ela não me procurou depois daquilo, dedusi que ou precisava respirar, ou não tinha nada para dizer.
Só sei que perder minha melhor amiga doeu muito mais do que eu esperava... Me sinto sozinha.
– Oi, _______!
Ah, espera, não tanto, ainda tenho ele. Hyungwon. Por incrível que pareça, nossa relação não ficou estranha, muito pelo contrário, ele me deu o apoio que precisava e graças a ele que estou em pé hoje.
– Oi. – mostro-lhe um sorriso, um verdadeiro dentre muitos falsos.
Bati na cadeira vazia ao meu lado indicando que queria que ele se sentasse, mas ele balançou a cabeça da direita para a esquerda, negando.
– Tenho que ir ajudar o clube de teatro a decorar as falas, só passei para perguntar se você estava bem. – sorriu, mesmo que sei olhar exalasse preocupação. Depois do que aconteceu, Won ficou mais atencioso, como se eu fosse um objeto frágil que iria se destroçar caso ele não ficasse de olho.
– Estou bem sim, e você? – forcei um sorriso.
– Estou. – olhou para o lado e eu segui o mesmo caminho, notando que na porta do refeitório, dois membros do clube de teatro olhavam para nossa mesa já esperando meu amigo. – Bem, eu tenho que ir.
– Tchauzinho. – acenei.
Observei as costas de Hyung enquanto ele se afastava. Quando o mesmo atravessou a porta do refeitório, decidi tirar minha atenção da mesma, mas o barulho dela se abrindo novamente manteve minha cabeça quieta para eu olhar os novos visitantes.
Eu deveria ter focado no quão a madeira da mesa é arranhada e clara...
Hirai e WonHo passavam pelos alunos como duas estrelas de cinema, os protagonistas de um filme de romance colegial, a líder de torcida perfeita e o capitão do time de futebol... Me dói admitir que eles ficam bem juntos, muito bem.
Juntos, como sempre, eles uniram as mãos e acenaram para os conhecidos que os cumprimentavam, como se fossem rei e rainha visitando a cidade do reino, mas os sorrisos morreram assim que notaram meus olhos queimando sobre eles.
Não bem queimando... Eu não tinha raiva, eu que cavei minha própria cova, apenas tinha raiva de não poder mudar, sabe? Evitar tido isso.
Me humilhar daquele jeito, deixar exposto para todos os alunos daquele lugar que ver os dois juntos, para mim, é como aceitar uma sentença de morte sem ao menos lutar, era algo inadmissível, então desviei o olhar de volta para a minha geladinha vermelha e mole. Sabor morango, se não me engano.
~♣~
Música é uma coisa assim... Que me ajuda extravasar. No dia que mandei a real para Hoseok, depois que ele foi embora e eu me desgastei de tanto chorar, peguei meu violão e descontei todos os sentimentos ruins nas músicas, em suas melodias e letras melancólicas. Eu faço músicas alegres, mas minhas canções geralmente refletem meus sentimentos e nesses dias eles não estão para letras cor-de-rosa e perfumadas com jasmins. Isso ficou confuso... O que eu quero dizer é que meus sentimentos estão escuros o bastante para não me deixar criar nem se quer uma linha feliz, apenas obscuridade.
Portanto, para liberar um pouco da negatividade, vim até o clube de música e me sentei em frente ao piano, outro instrumento que tenho orgulho de tocar. Decidi cantar e tocar uma música que escrevi há poucos dias, na sala de aula, assim que vi uma foto antiga de WonHo e Hirai juntos se beijando, uma foto que eu mesma tirei. A qualidade da letra me impressionou, de fato, uma das melhores que criei, expressou muito bem meus sentimentos e tirou um grande peso das minhas costas assim que terminei de compô-la, é uma das que mais me orgulho.
Devagar, passei meus dedos pelas teclas do piano como se quisesse agradá-lo logo e logo depois veio a primeira nota, e depois outra, e outra... Até que a melodia já ecoava pela sala, em seguida minha própria voz.
♪♪♪ Sentindo-me usada
Mas eu ainda estou sentindo sua falta
E eu não consigo
Ver o final disto
Só quero sentir seu beijo
Nos meus lábios ♪♪♪
Sorri de canto, sentindo mais um pouco da dor se esvair pelo ar.
♪♪♪ E agora todo esse tempo
Está passando
Mas eu não consigo dizer-lhe por que
Me dói cada vez que eu vejo você
Percebo o quanto eu preciso de você ♪♪♪
O refrão se aproximou. A sala ficou pesada de repente, como se uma presença maligna chegasse bem no momento. Comprimi meus lábios, a vontade de chorar cresceu dentro de mim e só foi aumentando, tanto que meu coração se apertou. Eu estava me sentindo aliviada há poucos segundos atrás, agora me sentia sufocada. Continuei.
♪♪♪ Eu te odeio, eu te amo
Eu odeio te amar
Não quero, mas não consigo colocar
Mais ninguém acima de você
Eu odeio você, eu te amo
Eu odeio querer você
Você quer ela, você precisa dela
E eu nunca serei ela ♪♪♪
Mordi meu lábio inferior e afastei minhas mãos das teclas do piano, meus dedos tremiam e meu lábio ardia pelas mordidas, logos as lágrimas esquentavam minhas bochechas e os soluços se faziam presente. Coloquei um dos braços deitado no piano e curvei-me para frente, cobrindo meu rosto. Não era essa reação que eu queria ter, não é essa reação que quero ter quando for aprenderam está música no Show de Talentos da escola, mas essa música expressa tão bem o que eu sinto, expressa tão bem a minha dor, que cantar ela ficou difícil de repente. Uma mudança radical.
Ouvi passos se afastando do local, mas não me virei para ver quem era, muito menos conseguiria, a visão com certeza estaria embaçada pelas lágrimas. Quem quer que fosse, testemunhou uma cena clássica e patética de uma adolescente sofrendo por amor.
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