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História I-Tec: Contos de Quatro Vidas - Gêmeas Rodríguez - Não sou uma Garota Normal


Escrita por: IcaroBP

Capítulo 21 - Gêmeas Rodríguez - Não sou uma Garota Normal


Eu tinha 14 anos de idade. Lembro-me que o papai disse que eu iria pra escola que ele construiu quando eu fizesse 15, quando estivesse no ensino médio. Bom, eu já estava no segundo semestre letivo do nono ano do Ensino Fundamental. Minha estadia no Colégio Francisco de Assis estava chegando ao fim e logo eu iria para o Colégio Isaac Brown. Mas não era daquele jeito que eu queria terminar! Desde a primeira série eu tinha prestígio naquele lugar, era a minha segunda casa. Todos gostavam de mim. No nono ano eu só queria aproveitar aquilo. Ser uma garota normal, fingir que ficaria por ali até o terceiro ano do Ensino Médio, fingir que a I-Tec não existe e que eu não tenho o peso do legado da família Rodríguez sobre meus ombros. Eu fui uma garota normal. Tive uma festa fantástica, tinha um namorado lindo e amigas que sempre estavam comigo. Que besteira!

É um saco entrar no refeitório e perceber que você é o assunto. Eu queria me sentar e comer com as minhas amigas, como faço todo dia, mas vi que a conversa acalorada delas havia se acalmado repentinamente quando Helô me avistou e deu sinal para as outras. Falsas. Não sabem nem disfarçar. Na verdade, todo mundo no refeitório estava me olhando. Olhares carregados de dó, como se eu estivesse moribunda, pedindo esmola. Odeio isso! Tem sido assim desde a quarta-feira, quando meu ex-namorado me traiu com uma garota do Ensino Médio. Quem não me olhava sentindo pena de mim, olhava debochando de mim. Quase podia ouvir seus pensamentos. “A chifruda chegou”. Fui me sentar numa mesa vazia, mais afastada. Era ali que o Eryck costumava se sentar desde que havia entrado no Colégio.

Eryck... Ele sim é um bom garoto. Não é como o Otávio. Ele não chamava a atenção de todo mundo, não fingia ser o cara mais legal pra pegar as meninas. O Eryck só era o Eryck, e eu demorei a perceber o quanto gosto de gente assim. No meu aniversário de 14 anos, que foi a minha versão do clássico aniversário de 15 anos que toda garota quer ter, ele havia me dado um desenho. Deu a Violet um desenho também, um desenho enorme do Itachi Uchiha, um personagem de Naruto que ela gostava bastante... Os dois assistiam a animação. Mas o desenho que o Eryck me deu era muito mais especial... Ele me desenhou sentada num banco de um piano de cauda com uma rosa vermelha sobre as teclas. Eu estava com os cabelos soltos e vestida como uma princesa. Era assim que ele me via, e eu não o valorizei a tempo. Achava que estava sendo uma boa amiga para o Eryck, mas a Violet tinha razão. Eu não fui uma boa amiga... Eu só tinha dó dele, olhava para ele igual metade de todos os que estavam ali me olhavam naquele momento. Até perdi a fome.

Fui andando para o único lugar em que eu me sentiria bem naquele momento: o departamento de música. O que eu não esperava é que outra pessoa tivesse tido a mesma ideia que eu. Por algum motivo, Violet não estava na biblioteca, estava na Sala da Orquestra.

_Quer tocar piano também, Vi? – brinquei, antes de perceber a música tocada no violoncelo.

Violet não estava sozinha... Dani estava ali também. Fiquei feliz em notar isso, pelo menos a minha melhor amiga não estava com aquela corja ali no refeitório.

_Na verdade eu vim te procurar – Violet me disse – Mas achei uma cena bem interessante.

Eryck, que também estava ali, sorriu e explicou:

_A Dani falou pra eu vir aqui... Disse que era uma surpresa.

_Ele disse que gosta de Naruto e tem essa musiquinha que eu achei bonita – Dani disse, enquanto descansava o violoncelo na cadeira – Man at the World. Ficaria melhor com o piano, mas... Eu meio que fiquei ansiosa pra mostrar o que tava fazendo e não te achei para pedir ajuda.

Eu me senti bem. Ninguém ali me olhava com pena ou deboche. Olhei para Dani e Eryck. Os dois eram bonitinhos juntos. Os dois nunca deixaram de ser quem eles eram.

_E como você tá? – Eryck perguntou.

_Como as duas estão? – Dani reforçou, olhando também para a Violet.

_Sabe como é... – Violet olhou para o chão.

_Estamos horríveis – respondi – Que saco, não posso nem comer em paz no recreio. Eles ficam me olhando daquele jeito.

_Nossa! – Dani disse – Eu realmente não tô reconhecendo vocês duas.

O espanto com essa frase não foi exclusividade minha. Violet também olhava para Dani com indignação e Eryck estava pasmo. O que tinha dado na minha amiga?

_Essas não são vocês! – Dani continuou – Qual é, Elliane? Você tá agindo como se tivesse perdido o Otávio!

Não entendi o que ela queria dizer com isso... Mas eu tinha perdido o Otávio para uma garota do Ensino Médio.

_Você não perdeu! – parecia que ela estava lendo os meus pensamentos – Ele que ter perdeu. Fala sério, você é a Elliane Rodríguez! E ele perdeu você, que é TUDO ISSO, pra ficar com a Karen do segundo ano. E, fala sério, o que aquela Karen é? Ela não toca piano, não é do time de vôlei, não tem uma mente genial, e nem é tão linda quanto você. Ela não tem um terço da sua personalidade... Tanto é que ninguém sabia dessa Karen até essa semana, e ela todo mundo só nota ela porque ela ajudou o Otávio a te machucar.

_Ela é do mal – Eryck continuou – Mas uma figurante. Uma figurante do mal.

_Exatamente! Uma figurante! Ela é só mais uma menina boba que dá pra todo mundo, aí o nosso querido grande Otário foi lá ver se consegue alguma coisa. Aliás, ela é bem fácil de conseguir o que ele quer, ao contrário de você. Ninguém em sã consciência se atreveria a te afrontar. Você é Elliane Rodríguez, e quem ela é?

_Ela não é nada – respondi. Dizer aquilo estava me enchendo de novo de algo que eu não sentia há tempos.

_Isso! Quem liga pra Karen? Ela não é nada. Nem ela e nem o Otávio! Eles são que nem a Aline, lembra dela? E o que a Elliane Rodríguez diria pra Aline se ela chegasse falando que pegou o Otávio?

_É mesmo? – representei a cena – Você pode ficar com ele, ele não tá à minha altura. Aliás, a fila já está enchendo pra tentar me conquistar. Pena que nenhum deles é bom o bastante, então eu deixo você tentar pegar esses também. Eles vão ter que se conformar com o segundo lugar mesmo.

_E a Elliane Rafaela de La Martínez Rodríguez voltou – Dani riu. Eu realmente estava me sentindo mais eu mesma – E o que você acha daquele pessoal lá te olhando estranho?

_Tenho dó é deles – respondi – A vida deles é tão desinteressante assim que precisam ficar focados na minha?

_É isso aí, garota! E você, Violet? – Dani se virou para ela – O que aconteceu com o seu ar de superioridade?

_Eu nunca tive um ar de superioridade – Violet rebateu – Isso é coisa da Elliane.

_E você é irmã dela! Fala sério... Você nunca se deixou abater por nada. Aquela atitude de “o que vem de baixo não me atinge”, sempre fazendo piadinhas, nunca perdendo a compostura. Não vai perder isso só porque finalmente descobriu que o Ricardo é um idiota, né?

_Claro que não. A Violet Rodríguez nunca saiu – Vi sorriu mim e depois para a Dani – Sabe... Eu achava que você era só mais uma das amiguinhas bobas da minha irmã. Você é legal de verdade, Dani.

_É claro que sou. O meu namorado é legal, também quer ser engenheiro mecânico, gosta desses animes e lê bastante que nem você. Você poderia fazer mais amigos se não ficasse aí caladona sem conversar com ninguém.

_É... Eu ficava conversando praticamente só com o Ricardo, e olha só no que deu.

_Pera aí, Dani... – Eryck interrompeu totalmente o assunto – seu namorado sou eu?

_Bom... – ela se aproximou dele e deu um beijinho no seu rosto. Dani sempre foi boa em perceber o que eu não percebia, ela merecia o Eryck – Só falta você fazer o pedido oficial ao meu pai.

Todos nós começamos a rir. Fiquei feliz em tê-los encontrado ali naquela sala naquele dia. A Dani e o Eryck não sabem sobre os segredos da minha família, mas me ajudaram a perceber uma coisa. Violet e eu não somos garotas normais, e não importa o quanto eu quisesse ter um ano “normal”, isso não era para mim. Eu não sou normal e nunca serei, e ninguém quer que eu seja. O mundo precisa de mim como eu sou. Eu sou uma Rodríguez.



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