João Gabriel definitivamente não queria ser médico. Ele tinha acabado de sair do hospital, estava até com um pirulito que ganhou por não ter chorado quando a enfermeira aplicou a vacina contra a gripe. Lidar com gente doente não parecia muito divertido para ele. João gostaria mesmo é de entrar para a I-Tec, como o seu pai.
_Você é muito pequeno para entender, João – sua mãe lhe disse – Quando crescer, vai querer dinheiro. Então é melhor você estudar bastante para se tornar um médico.
_Mas isso é muito “paia”, mãe.
_O que é que é “paia”?
_Ah... Tudo que é chato é “paia”.
_Mas ser médico não é paia - a mãe do João retrucou – Isso paga bem. Ficar sem dinheiro que é paia. O que você acha de passar no Parque Guanabara agora? Hein?
_Sério? – os olhos do garoto brilharam.
_Sério. Você quer, filho? Sei que você gosta muito do carrinho de bate-bate.
_Aham! Eu quero!
_Pois é... Mas a gente não tem dinheiro para ir. “Paia”, né?
OS ombros do João caíram por um instante, mas o garoto logo se recompôs dizendo:
_Ao tem problema, mamãe. Tem brinquedo nesse parque aqui também.
_A gente não tem dinheiro nem pros brinquedos do Parque Municipal, João.
_Mas eu tô falando daqueles que não tem que pagar nada.
_Ah... O playground – Samara suspirou – É pra lá mesmo que a gente tá indo. Muito paia.
Eles continuaram andando em silêncio por um tempo. João quase não encostou no pirulito.
_Olha, filho... – Samara retomou o discurso – Agora você tem o playground, mas não vai ter pra sempre. Um dia você via querer um carro, uma casa, uma namorada. Vai querer se casar e ter uma família. Mas você vai perceber que precisa se preocupar com o futuro, conquistar mais... Não é legal você ficar empacado num emprego só porque você gosta dele. Se não paga bem o bastante, você não vai poder ter um carro, vai morar de aluguel, e pode esquecer a namorada.
_Mas eu não quero namorada, mãe...
_Mas vai querer. Todos crescem e correm atrás de uma... Então você vai precisar se esforçar pra ter um futuro brilhante. E eu sei que você vai. Aliás, já sabe até ler.
_Mas não quando a letrinha passa rápido.
_Isso é com o tempo. Olha aqui pra mamãe – Samara se agachou e pousou as mãos sobre os ombros do João – Você é um menino inteligente e vai ter um futuro brilhante pra poder levar a mamãe no Parque Guanabara, viu? Ou melhor, no Beto Carreiro World! Você promete pra mamãe?
João assentiu com a cabeça.
_Isso aí – Samara abraçou e beijou o rosto do filho – Agora vai lá brincar, meu futuro médico.
João se virou e correu para o escorregador para brincar com as outras crianças. Apesar do que sua mãe lhe disse, não tinha nada de “paia” nisso.
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