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História I-Tec: Contos de Quatro Vidas - Thiago Wolff - Estilhaços Chance de Recomeço


Escrita por: IcaroBP

Notas do Autor


Gente, cometi um erro e esqueci de postar o capítulo final da história do Thiago. Não fica uma estética legal, mas eu não poderia deixar essa parte de fora. Então, estou editando para acrescentar ao final do "Estilhaços". Espero que entendam.

Capítulo 9 - Thiago Wolff - Estilhaços Chance de Recomeço


Estilhaços

“Quando é que você vai se declarar pra Helen, hein Thiago?”

Tudo bem. Meu pai vivia falando disso, e também os meus amigos. Até minha irmã mais nova falava, mas quando a minha mãe, que nunca foi muito de brincadeira, falou aquilo... Nossa, foi um mega balde de água fria. Já fazia um tempo desde que me toquei sobre meus sentimentos pela Helen, mas não tínhamos apenas ficado algumas vezes desde a festa de 15 anos da Natália no ano passado. Poucas vezes. Nada a impedia de ficar com outra pessoa, e isso não era tão impensável assim. O Wesley costumava dizer:

“A Helen tá ficando muito gata e muito gostosa, cara. Ela só não ganha da Marcela”.

Mas para mim ela ultrapassava a Marcela e muito. Enquanto o Wesley babava os cabelos ruivos da Marcela, eu me perdia nos olhos celestiais da Helen. Eu também tinha a impressão de que aqueles olhos azuis estavam conquistando mais pessoas, e este pensamento me enche de desespero. Eu não poderia achar outra pessoa. Aliás, quem mais iria me querer? Quando, na primeira série, a Marcela me disse que eu era feio, eu acreditei. Mas então a Helen passou a mão em meus cabelos e disse que eu era lindo, da mesma forma que ela sempre fez. Talvez eu tenha demorado a perceber, mas o que ela queria dizer é que estava comigo. Foi também o que ela disse através do nosso primeiro beijo no ano passado, ou, pensando bem, nosso segundo beijo, porque ela esteve comigo desde aquela páscoa, quando tínhamos sete anos. Helen foi a única que esteve comigo por todo esse tempo, a única que eu queria que estivesse comigo para sempre. Minha única esperança, minha única paz, minha única alegria, minha única força, meu único poder, minha única vida, meu único amor. Só o fato de eu acabar de citar uma letra de Evanescence para explicar o que sinto demonstra minha situação. A Helen que gosta de ouvir essas músicas! Eu não aguentaria viver sem ela, não dá mais para só “ficar com ela” de vez em quando, eu preciso estar com ela para sempre! Por isso, o meu plano.

Durante todo o ano segui o conselho do Wesley. Eu precisava insinuar as minhas intenções, ou então cairia nas garras da temida friendzone. O Kaique costumava me aterrorizar com imagens de uma página no facebook chamada “Friendzone da Depressão”, que mostrava vários caras levando um fora das suas amigas. “É uma guerra, sô”, ele dizia, “você não quer acabar ferido como esses soldados, quer?”. Mas falar é mais fácil que fazer.

No aniversário dela, comprei um buquê de rosas vermelhas, uma caixa de chocolate, e gravei num pen drive uma seleção das suas músicas preferidas. Ela vivia se queixando da preguiça de selecionar suas músicas dentro dos seus inúmeros álbuns completos e, apesar de ter planejado isso para seus 15 anos, me convenci de que valeria a pena usar esta carta um ano adiantado. Inicialmente, achei que tinha dado certo, mas ela me abraçou e disse que “eu era o melhor amigo do mundo”.

Através das conversas, tentei brincar um pouco com o que eu realmente queria. Planejamos nosso casamento, as músicas que seriam tocadas e até mesmo como seriam nossos dois filhos. Era como brincar de “mamãe e filhinhos” de novo, mas agora tínhamos o dobro da idade daquela época. Essa foi a última vez que nós ficamos. Antes da Helen ir embora, senti que precisava dizer alguma coisa. Segurei-a pelo braço para que ela me ouvisse:

_Helen... Eu...

As palavras haviam ficado engasgadas na minha garganta. Eu não entendia o porquê, já havia dito aquilo várias vezes pelo facebook e pelo msn. Por que era tão difícil olhando para os olhos dela? De qualquer maneira, eu enfrentei isso e fui em frente.

_Eu amo você – finalmente as palavras saíram.

Helen sorriu e por um momento eu achei que ela havia entendido, aceitado e correspondido. Sorri também. Ela voltou e me deu um abraço apertado:

_Eu também te amo, lindão – ela sussurrou no meu ouvido.

O sorriso continuou no meu rosto, mas por dentro eu não sorria mais. Ela não havia entendido... Ela achou que foi só mais um “eu te amo” corriqueiro. Amaldiçoei todas as vezes em que usei esta expressão em vão. Mas ainda havia a parte final do meu plano, a última e definitiva tentativa.

_Açaí é a sensação do momento – Wesley disse – Sorvete tá mó sem graça perto do açaí.

Então seria açaí. Perguntei ao tio Marcos onde vendia o melhor açaí da região do Barreiro (aliás, eu não poderia sair sozinho para muito longe, nem os meus pais e nem os pais da Helen deixariam) e levei a Thalita para experimentar a Utopia do Açaí. Minha test-driver e eu chegamos à conclusão de que o ambiente e o açaí eram definitivamente melhores que o nome. Aquele seria o lugar.

E aqui estou eu.

Estou tentando desesperadamente acalmar as batidas do meu coração e terminar a minha tigela de açaí, mas estou tão ansioso que meu paladar parou de funcionar. O momento estava próximo. Tudo ou nada.

_Sabe... Eu amei você me chamar pra vir aqui, mas seria um desperdício você não comer isso aí. – ela disse. Helen já tinha terminado a tigela de açaí dela.

_Eu acho que superestimei meu estômago – menti. A verdade é que eu estava ansioso demais para comer.

_Quer ajuda?

Assenti com a cabeça. Ela pegou a colher e começou a dividir o resto do meu açaí comigo. Tentei começar a falar, mas não consegui. Ela estava tão perto, estava tão bom. Eu não queria que aquele momento terminasse nunca. Mas terminou, e bem rápido.

_Tem certeza que quer pagar sozinho? – ela me perguntou – A gente sempre racha.

_Fica tranquila... É por minha conta hoje – “aliás, garota, isso é um encontro, tipo o dos filmes”.

Na verdade, não é muito no estilo dos filmes... Eu não tenho carro e nem idade para dirigir, então temos que pegar um ônibus para voltar pra casa. Saímos do Utopia e eu não disse nada ainda. É bem mais difícil do que eu pensei, mas enquanto andamos pelo Via Shopping, juntei todo o resto das minhas forças e comecei a falar:

_Helen... Eu não sei como te dizer isso, mas... – travei de novo. Que ótimo! O momento do meu discurso romântico totalmente arruinado pelo meu nervosismo.

_Mas...? Anda logo, Thiago... Você sabe que odeio quando você me deixa curiosa.

_É que já tem um tempo que eu... Que eu estou meio que apaixonado.

_Apaixonado, tipo... Apaixonado mesmo? – eu não sei como interpretar o olhar que ela me lançou.

_Sim... Tipo, apaixonado mesmo!

_E por que você não me contou nada até agora, seu idiota? – ela socou o meu ombro enquanto ria.

_Eu tô contando agora, sua chata – suspirei. É o momento – Eu nem sei como você não percebeu ainda. É tão óbvio... Tá escrito na minha testa. É meio complicado, e eu tentei deixar isso pra lá algumas vezes. Na verdade, eu demorei muito a admitir pra mim mesmo, só que... É que nem aquela música da Marjorie Estiano que você toca e canta às vezes. Eu posso até tentar esquecer, mas ela é a onda que me arrasta e me leva de volta pro mar.

Um momento de silêncio. Ela parou de andar e me olha perplexa. Há medo em seus olhos. Percebi que ela já havia entendido, a minha voz havia começado a falhar. Eu já sei o resultado daquilo, meu coração já começou a se estilhaçar, mas eu tenho que continuar.

_Quem é ela, Thiago? – Ela forçou um sorriso.

_É você... – nada importa, tudo o que eu segurei por todo esse tempo tem que sair agora – Eu amo você. Não é só porque você é a garota mais linda e talentosa que eu já conheci, mas... Eu não quero viver uma vida sem você. Eu... Eu nem entendia nada no início, mas... Agora eu sei que o meu sonho é estar com você para sempre!

Lágrimas começaram a sair pelos olhos dela. Eu entendi perfeitamente o que aquilo queria dizer.

_Desculpa, mas... Droga, Thiago! – ela está chorando mesmo

– Eu entendo que a gente começou a ir pra esse lado, mas... Você é melhor como meu amigo. É o meu melhor amigo, eu também não quero te perder, mas isso que você sente por mim... eu não sinto o mesmo. Queria sentir, de verdade, mas...

_Entendo...

Os estilhaços do meu coração começaram a se espalhar causando dores por todo o meu corpo. Eu entendia perfeitamente a situação. A gente ficou algumas vezes, mas é porque havia pintado o clima. Nem todo mundo que fica se apaixona, isso é normal. Ela não é obrigada a me amar, mas o que eu poderia fazer? Eu a amava! Mesmo entendendo o lado dela, eu não posso deixar de me sentir tão mal! Revisando a nossa história... Parecia tudo tão encaminhado. Era como qualquer história de amor que eu já havia escutado, nós sempre estivemos juntos. Ela sempre esteva comigo, passava a mão no meu cabelo e dizia que eu era lindo. Fomos uma ótima dupla por todos esses anos. Enfrentamos juntos a Marcela Guimarães e a galera dos riquinhos, criamos o Campeonato de Futebol de Prego, sempre fomos nós dois! Sempre... A lógica de todas as histórias de amor seria nós dois continuarmos juntos nessa nova fase, mas... Talvez a lógica das histórias de amor sirva apenas para a ficção.

_Eu acabei de me lembrar que tenho que me encontrar com a tia Laura ali na Itapuã – ela já havia limpado as suas lágrimas e forçou um sorriso – Ela vai mandar alguma coisa pra minha mãe, então... Eu tenho que ir lá.

Eu assenti com a cabeça.

_Me desculpa, Thiago... – ela me abraçou – Eu só... Eu só quero que nós continuemos amigos. Não quero te perder.

_Você não tem o que se desculpar – eu já não sinto mais nada. As coisas não fazem sentido, talvez tudo o que tenha sobrado do meu coração sejam estilhaços – Eu só não vou aguentar ver você com outra pessoa... Eu... Não sei qual seria minha reação.

_Mas... Eu nem posso saber quando vou achar alguém... Ninguém pode saber.

_Melhor você ir lá ver sua tia. Até mais, Helen...

Ela apertou o abraço e depois foi embora. Não dá pra me mover e nem pensar em nada, eu nem sei mais há quanto tempo estou em pé parado no shopping.

_Thiago.... O que aconteceu? – é o tio Marcos.

Eu o abracei e então todos os estilhaços começaram a sair pelos meus olhos.

Chance de Recomeço

 

Não sei como minha vida foi parar aqui. Em pensar que no início do ano eu estava feliz... Aquilo me parece um passado extremamente distante, como se eu tivesse vivido muito mais coisas nos últimos meses que em toda a minha vida. O problema é que esses meses me deixaram acabado. Estou totalmente cansado de tudo! Quando pensei que teria uma progressão na minha vida, fui pego em uma sequência de perdas que culminou nessa maior: a morte do tio Marcos. Ninguém esperava por isso. Ele tinha uma reunião em Três Corações e, na volta, um caminhoneiro dormiu no volante e o tio Marcos não conseguiu desviar. Morreu na hora, não houve nenhuma esperança de resgate. É irônico pensar que alguém que já foi sequestrado durante a Guerra da NF durante uma viagem internacional e voltou vivo e nenhum arranhão morreu tão de repente numa viagem tão corriqueira. No início eu não estava conseguindo entender que tudo isso era real, mas o enterro do tio Marcos... Aquilo foi muito revelador.

Não havia como negar a realidade enquanto eu estava chorando pela morte do meu tio e era consolado por Helen. As minhas lágrimas naquele momento foram por todas as perdas que eu tive, porque elas estavam bem diante dos meus olhos. O tio Marcos se foi para sempre, e ele morreu antes de eu conseguir uma namorada. É... Isso é a outra perda que eu tive: meu amor e minha dignidade. É claro que eu fiquei triste quando ela me deu um fora, mas... Eu entendi! Ela nunca foi obrigada a sentir o mesmo que eu sinto por ela. O problema é que o tempo foi passando e eu fui entendendo melhor as coisas. É claro que ela não era obrigada a sentir as mesmas coisas que eu sinto por ela, mas por que invadir tanto meu espaço íntimo? Por que ter ficado comigo na festa de 15 anos da Natália e em todas as outras vezes? E as brincadeiras... Nós planejamos nosso casamento, falamos de filhos. Ela me induziu a me apaixonar desde o momento em que nós nos conhecemos, mas quando eu tentei dar um passo ela simplesmente me afastou. Quando soube que ela estava namorando o João Victor, quase explodi de raiva. Ele nem a amava... Não se importava com ela. O João Victor é um daqueles caras que só se importam com status. Ele só estava namorando a Helen para estar namorando uma garota que todos consideram linda, mantendo-se assim no topo da hierarquia social idiota do pessoal da minha idade. Nem consigo explicar a intensidade que a minha raiva tomou quando descobri que a Helen é do mesmo tipo. Na verdade, ela também ficava com o João Victor mesmo na época em que estava cheia de “intimidades” comigo. A questão é que eu era uma fonte fácil de atenção e carinho, mas me namorar não a faria subir nessa hierarquia. Amor não é importante. Na verdade, nem as pessoas são importantes para esse tipo. Todo esse tempo sendo o “melhor amigo”, o “ficante”, ou seja lá o papel que eu desempenhei na sua vida foi apenas conveniente para Helen. Ela precisava de alguém para lhe dar atenção, para lhe olhar da maneira como eu a olhava, mas o objetivo primário dela era ser “popular”. Ter mais “fãs” que a Marcela Guimarães. Isso o João Victor poderia garantir.

Recebendo o abraço desta pessoa enquanto eu chorava durante o enterro do tio Marcos, percebi que apesar de tudo isso, ainda estava apaixonado. Eu não queria que ela me soltasse. Tudo bem que após ter o coração estilhaçado como eu tive, leva um tempo para voltar ao normal, mas... Eu não deveria estar me expondo a uma situação tão humilhante. Ela se aproveitou dos meus sentimentos por tanto tempo e eu deixei ela se aproximar novamente num momento de fraqueza. Isso nos leva a minha outra perda: meus amigos. Em momentos como esse, os amigos nos livram. Mas o mesmo sistema idiota de hierarquia social que tirou o amor de mim e assassinou meus sonhos levou também o Wesley. Ele conseguiu namorar a Marcela, mas para isso, teve que se colocar “no nível dela”. Andar com “manés” como o Kaique e eu não era aceitável para a Marcela. Ele teve que se juntar aos riquinhos e “populares” fúteis para conseguir sua namoradinha “garota mais bonita da turma”. O Kaique e eu estávamos nos ajudando, os remanescentes lúcidos do grupo, mas infelizmente para mim ele se mudou para o interior. Eu estava sozinho.

No início do ano eu tinha meus amigos, e com eles não existia hierarquia social. Éramos amigos e estávamos bem. Eu estava apaixonado e era correspondido – ok, tinha a ilusão de ser correspondido, mas enquanto a ilusão dura, pensamos que é realidade. E tinha o tio Marcos. Minha vida estava perfeita! Parece que isso foi há tanto tempo. Agora tudo está acabado. Eu estou sozinho. Tudo o que eu quero é um recomeço.

_Thiago... – meu pai veio conversar comigo sobre alguma coisa – Era para o Marcos estar aqui comigo para te dizer tudo isso.

_Dizer o quê?

_Bom... Apesar da morte do Marcos, acho que está na hora de falar da vida dele. A verdadeira vida dele, e também do legado que ele deixou para você.

Isso tudo está muito estranho... De repente meu pai chega com uma história dessas?

_Eu sei que parece doideira, filho... Mas é muito sério. E você vai precisar saber disso para ir aonde você vai no ano que vem

_E pra onde eu vou?

_Para o Colégio Isaac Brown.

Ainda não sei o que é, mas acho que acabei de ganhar aminha chance de recomeço.

 



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