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História Igual Que Ayer - Prólogo


Escrita por: jaimencanto

Notas do Autor


Olá pessoas! Bem, como eu disse antes, eu estava postando essa fic no "wattpad", mas muitas pessoas tiveram dificuldade de encontrá-la ou de mexer no site, então decidi postá-la aqui. Então, se tiver alguém que já a acompanha por lá, peço que tenha um pouco de paciência até eu postar os capítulos aqui, e então postarei o novo (irei atualizá-la apenas por aqui). Sei que ficou um pouco confuso, mas como algumas pessoas haviam me indicado o site, achei que seria legal postar lá. Só não sabia que seria tão complicado de mexer haha. Desculpem pelo transtorno, e espero que gostem da fic ♥

Capítulo 1 - Prólogo


Bati a porta da minha sala e segui até à minha mesa. Tirei o paletó e o joguei sobre a cadeira, me sentando pesadamente logo depois. Há muito tempo eu não colocava uma gota de álcool na boca, mas naquele dia em especial eu implorava por um conhaque. O mais forte que existisse. Queria não ter acordado naquele dia. Queria não ter que enfrentar um dia inteiro tentando fingir para todos que eu estava bem. Era a única coisa que eu conseguia fazer há 6 anos. Fingir estar bem. Embora eu não conseguisse enganar à todos.

- Fernando. - Márcia abriu a porta. - Posso entrar?

- É claro.

       Esperei que ela se aproximasse e sentasse, mas ao invés disso, ela continuou de pé, me encarando.

- Então...? - Perguntei.

- Você está bem?

- Por que eu não estaria?

- Fernando... - Suspirou. - Não se faça de desentendido.

Respirei fundo e me escorei à cadeira.

- Eu estou bem.

     Óbvio que ela não acreditou. Nem mesmo eu acreditaria naquilo. Márcia sentou-se à minha frente e se escorou à mesa.

- Sabe que pode confiar em mim, não é?

- Eu sei.

- E te conhecendo tão bem eu sei que você precisa desabafar. Principalmente nesse dia.

- Não há nada de mais nesse dia, Márcia. É só mais um dia como qualquer outro.

     Na verdade, não era um dia como qualquer outro, e Márcia sabia disso. Há exatamente seis anos atrás, nesse mesmo dia, eu perdi o amor da minha vida. Mesmo depois de tantos anos era difícil entender o motivo de Lety ter me deixado, principalmente quando estávamos planejando o nosso casamento em alguns meses. Ainda era difícil acreditar na frieza com que ela disse que não agüentava mais aquilo, e que precisava ir embora. Eu tentei por tanto tempo entender de todas as maneiras, e principalmente tentei entender o que eu havia feito de errado. Antes que isso acontecesse, estávamos muito bem. Planejando o nosso futuro juntos. Mesmo depois de seis anos eu ainda não sabia o que aconteceu para que Letícia deixasse de me amar de um dia para o outro.

- Já faz seis anos... Não é? - Márcia perguntou?

- Sim. - Respondi desanimado. - Seis anos e eu ainda não consigo entender o que eu fiz.

- Fernando, você sabe que não fez nada. Ninguém sabe o que aconteceu.

- Exatamente! Ninguém sabe o que aconteceu! E é esse o problema! Se eu soubesse, talvez não estaria fazendo papel de bobo há seis anos.

- Não diga isso... Você não quis procurá-la. Lembra?

- Mas é claro que não! Ela foi bem clara quando disse que não era para eu ir atrás, e que ela já havia tomado sua decisão.

       Mas eu me arrependi. Me arrependi que não ter procurado-a enquanto tive tempo. Me arrependi de não ir atrás e impedir que ela fosse para deus-sabe-onde. Mas, eu já não tinha mais o que fazer. Nem mesmo seus pais sabiam para onde ela tinha ido, ou pelo menos não quiseram me dizer. Eu sentia que todos sabiam o que estava acontecendo, menos eu. E essa era a pior sensação de todas.

- Eu não quero te aborrecer. - Márcia disse. - Só quero que saiba que estou aqui caso precise conversar.

- Obrigado. - Sorri agradecido.

Márcia era uma das pessoas que mais havia me ajudado durante aqueles anos. Graças à ela, Omar e meus pais, eu não tinha feito o pior. Os primeiros anos foram os mais difíceis, e eu passava noites em claro por ter pensamentos demais. Mas, graças à ajuda dos amigos, eu estava conseguindo voltar à vida normal. Embora a dor da ausência de Lety ainda me perturbasse.

- Maninho! - Omar abriu a porta. - Ah, desculpe. Estou atrapalhando?

- Não. - Márcia se levantou. - Eu já estava de saída.

- Na verdade, só vim fazer um convite. É bom que ele sirva para você também.

- Qual convite? - Perguntei curioso.

- Uma festa.

- Ah... – Exclamei desanimado. – Não precisa continuar.

- Ah, qual é, Fernando! Há quanto tempo não vamos à uma festa juntos?

- Mas eu não estou no clima, Omar.

- Você nunca está no clima.

- Hoje principalmente.

               Márcia cruzou os braços.

- O que foi? – Omar perguntou confuso.

- Hoje é aquele dia. – Márcia disse, como se eu não estivesse presente.

- Ah! – Omar me olhou. – Então por isso está com essa cara.

- É a minha cara de sempre.

- Mas nessa data piora.

               Suspirei impaciente.

- Ah, Fernando! Vamos lá! É mais um motivo para você se distrair!

- Omar tem razão. – Márcia me olhou. – Você precisa se distrair.

- Eu estou muito bem assim.

- Ah é? E o que vai fazer quando chegar em casa? – Omar perguntou.

- Oras... Vou dormir!

- Mentira! Você vai passar a noite acordado olhando para o teto pensando demais. É isso que você vai fazer!

               Omar tinha razão. Era exatamente o que eu pretendia fazer.

- Eu só não estou afim de ver pessoas...

- E nós somos o que? Bichos?

- Você me entendeu, Carvajal.

- Fernando... – Ele se aproximou, parando ao lado de Márcia. – Quantos anos faz? Cinco?

- Seis.

- Seis anos! Seis anos e você continua nesse desanimo todo. No ano passado você não disse que estava pronto para esquecer isso?

- Mas não é tão fácil.

- Não é, mas você está muito melhor do que antes. Já percebeu? Está sorrindo, está até fazendo piadinhas. Isso é um grande avanço!

- É verdade! – Márcia concordou.

- E por que bloquear isso? Por que continuar se martirizando dessa maneira? Todas as vezes que você tenta ser feliz, parece que algo o faz parar. Já tentou continuar tentando?

               Palavras duras, mas verdadeiras. Durante aqueles anos tudo o que venho tentando fazer é levar a minha vida da maneira mais normal possível. Mas, todas as vezes que eu começava a me sentir feliz novamente, uma voz dentro de mim dizia que era impossível, e que eu jamais conseguiria.

- Quer saber? Você vai à essa festa! – Márcia falou autoritária. – Na verdade, nós vamos!

- Você não gosta de festas. – Falei cruzando os braços.

- Mas farei esse sacrifício por você! Nós vamos à essa festa, e você vai se divertir! Vai esquecer que dia é hoje, e vai voltar a ser o Fernando Mendiola que conhecemos!

               Suspirei já convencido de que deveria ir àquela maldita festa para que os dois não ficassem me perturbando durante toda a tarde.

- Está bem. – Falei batendo à mesa e os dois comemoraram. – Mas, já vou deixar claro que não pretendo ficar até tarde!

- Tudo bem! Tudo bem! – Omar sorriu. – O que importa é você ir.

- Agora, será que podem me deixar em paz para eu trabalhar?

- É claro! Agora sim o deixaremos em paz. – Márcia sorriu satisfeita.

- Até mais tarde! – Omar a acompanhou até a porta, e enfim me deixaram à sós.

               Balancei a cabeça rindo e voltei a me escorar à mesa. Talvez não fosse tão ruim ir à uma festa e me distrair. Afinal, depois de seis anos eu merecia isso. Depois de seis anos dedicando minha vida à uma pessoa que eu não sabia por onde andava, com quem estava, e muito menos se ainda pensava em mim, eu merecia um dia para me distrair.

 

 

                                                                          •••

 

 

               As ruas estavam enfeitadas para o natal. Uma das minhas épocas preferidas, ou costumava ser. Talvez fosse mais uma data para eu ter a desculpa de ficar sozinho em minha casa, encarando o teto com pensamentos demais, como Omar costumava dizer. Eu não tinha motivos para comemorar o natal como costumava fazer, principalmente porque eu tinha o costume de fazer isso com Lety. Na verdade, era impossível eu pensar em algo que não me recordasse de algum momento com ela, e era isso que tornava tudo ainda mais difícil.

               Reconheci o local da festa e procurei um lugar para estacionar o carro. Por sorte a rua não estava tão lotada quanto imaginei, e logo consegui um ótimo lugar para estacionar. Ao descer do carro, ajeitei a gola da minha camisa e segui o barulho da musica, que chegava a ocupar todo o quarteirão. Subi as escadas da entrada da casa e toquei a campainha, pensando se com uma musica daquela altura alguém conseguiria me ouvir. Para a confirmação das minhas suspeitas, ninguém me atendeu, e tomei a liberdade de abrir a porta. Quando vi que a festa estava mais cheia do que imaginei, me virei para ir embora, aproveitando que ninguém ainda tinha notado a minha presença. Mas, antes que pudesse fazê-lo, Omar fechou a porta e parou em minha frente.

- Eu ainda duvidei. Confesso. – Ele disse batendo em meu ombro e me entregando um copo de bebida.

- Não quero beber por enquanto. – Falei tentando não parecer tão desconfortável com o lugar.

- Márcia ganhou a aposta.

- Vocês apostaram se eu viria?

- É claro. Não perderíamos a oportunidade.

- E onde ela está?

- Ainda não chegou.

- Se ela não vier...

- Ela vem! Relaxa! Agora, vamos dar uma volta para conhecermos pessoas novas.

- Omar, não me leve a mal, mas eu não quero conhecer pessoas novas. Só vim porque vocês insistiram.

- Tudo bem! Como quiser! Vamos arrumar um lugar para sentarmos então, pode ser?

               Concordei e nós caminhamos entre as pessoas que dançavam e conversavam. O local da festa era a casa de um amigo de Omar, que eu já havia sido apresentado algumas vezes. Era uma casa grande, mas não o suficiente para suportar tantos convidados. Eu estava me sentindo sufocado com tantas pessoas e com tão pouco espaço para eu ficar escondido, esperando que ninguém além de Omar e Márcia puxasse conversa comigo.

- Aqui, vamos ficar aqui.

               Encontramos um lugar onde não havia tantas pessoas em volta.

- Tem certeza que não vai beber? – Perguntou virando um copo de uísque na boca.

- Não. Agora não. – Coloquei as mãos no bolso.

- Fernando, o intuito de eu convidá-lo para essa festa é para você se divertir, e não ficar igual uma estátua aqui.

- Mas eu estou bem assim. E se reclamar, eu vou embora.

- Tudo bem! Não está mais aqui quem falou!

               Revirei os olhos e me escorei à parede, apenas esperando que o tempo passasse o mais depressa possível para que eu fosse embora para minha casa.

- Olha quem chegou! – Omar apontou para a entrada, onde Márcia chegou acompanhada de uma outra mulher. – Também duvidei que ela viria.

- Eu atormentaria ela por um mês inteiro se ela não viesse.

               Omar riu e agitou a mão para que ela nos encontrasse. Assim que nos viu, ela andou em nossa direção, e pelo visto havia levado alguém com ela.

- Eu não acredito! Você veio mesmo! – Exclamou me cumprimentando.

- E você também!

- Eu não perderia isso por nada! Precisei vir para registrar esse momento. Sorria!

               Antes que eu pudesse entender, uma forte luz vinda do flash do seu celular me cegou por alguns segundos.

- Que droga, Márcia! – Reclamei esfregando os olhos.

               Ouvi uma gargalhada diferente, e só então me lembrei de que Márcia estava acompanhada.

- Que coisa feia de se dizer diante de duas damas. – Reclamou ela. – Pessoal, essa é Isabela, minha amiga de longa data.

- Longa data? Como não a conhecemos antes? – Omar sorriu galanteador, e a mulher pareceu se envergonhar.

- Ela estava morando em Londres desde que nos formamos. Voltou há uma semana.

- Muito prazer. Omar Carvajal, mas pode me chamar apenas de... Amor. – Ele sorriu tomando sua mão, beijando-a.

- Prazer. – Ela respondeu um pouco desconfortável.

- E esse é o Fernando de quem eu te falei.

- Falou de mim? – Perguntei tentando não parecer tão surpreso. – E quem lhe deu esse direito?

               A moça gargalhou, como se eu tivesse dito algo bastante engraçado.

- Muito prazer. – Apenas balancei a cabeça, tentando não parecer tão indelicado.

- O prazer é meu. – Ela sorriu.

- Isabela também não queria vir, e desde que chegou está trancada dentro do apartamento. Finalmente eu consegui arrastá-la até aqui. Vocês dois tem muito em comum Fernando. Alias, vamos deixar que vocês dois se conheçam melhor. Vem, Omar. Vamos pegar uma bebida.

               Não tivemos tempo de dizer nada. Márcia pegou Omar pela camisa e saiu arrastando-o pela festa. Isabela e eu nos olhamos envergonhados, e eu não soube o que dizer. Márcia como sempre me deixando nos piores momentos.

- Ela é sempre assim? – Perguntou rindo.

- Normalmente.

- Não pensei que ela continuasse a mesma Márcia da época da faculdade, mas pelo visto continua.

- É. – Sorri.

- Então... São amigos há muito tempo, não é? Ela me fala muito de você.

- Sim, desde criança. Nossos pais são amigos há muito tempo. Nos conhecemos acho que... Desde sempre.

- Eu me lembro que ela falava de você na faculdade, mas nunca tivemos a oportunidade de nos conhecermos.

- É, eu estudei fora durante a faculdade. Voltei para assumir a Presidência na empresa do meu pai.

- Ah, que ótimo! Em que área?

- Publicidade.

- Isso é ótimo!

               Ela parecia tão empolgada em saber da minha vida, que cheguei a me sentir constrangido. Por mais que eu preferisse estar isolado em um canto, apenas observando o movimento, me senti feliz por ter alguém com quem conversar sobre coisas aleatórias. Estava cansado de sempre falar dos mesmos assuntos, e principalmente, estava cansado de conversar com pessoas que já sabiam da minha história com Lety. Era bom conversar com alguém que não sabia absolutamente nada da minha vida.

- Vou pegar uma bebida. Você quer uma?

               Eu estava preparado para dizer “não”, assim como havia feito com Omar. Mas, a verdade é que eu estava pela primeira vez me sentindo a vontade em um ambiente que não era do meu costume, e beber não parecia ser uma má idéia.

- Quero! Eu te acompanho.

               Seguimos para o outro canto da casa, onde havia um bar. Servi um copo de uísque para mim, e uma taça de vinho para ela, como ela havia pedido.

- Então... Já que nos largaram aqui em um lugar totalmente desconhecido, só nos resta brindar. – Ela ergueu sua taça.

- Exatamente. – Sorri, brindando com o meu copo de uísque.

               Há muito tempo eu não bebia, e tinha me esquecido o quão forte era o gosto do álcool. Não pude evitar em fazer uma careta, e assim que o fiz, Isabela prendeu o riso, quase cuspindo o seu vinho de volta na taça.

- A quanto tempo exatamente você não bebe? – Perguntou rindo.

- Alguns anos... – Respondi envergonhado.

- Então não acha melhor tomar algo mais fraco?

- Não... Minha masculinidade não permite que eu deixe uísque no copo e beba vinho.

- Isso soou um tanto quanto machista, sabia?

- Me desculpe, não foi minha intenção.

- Eu estou brincando. – Ela riu.

               Me peguei rindo junto à ela, percebendo que pela primeira vez em seis anos eu estava conversando com uma mulher desconhecida, e a conversa estava durando mais do que cinco minutos. E além disso, estava me fazendo rir, algo que eu não tinha o costume de fazer com facilidade. Não mais.

 

 

                                                                          •••

 

 

               Três copos de uísque depois, eu já estava me sentindo à vontade com Isabela à ponto de passarmos o restante da festa conversando sobre todo o tipo de coisa. Desde o que tínhamos o costume de comer no café da manhã até nossas cores preferidas. Há tempos eu não tinha uma conversa como essa com alguém, e de certa maneira me identifiquei com ela. Éramos parecidos em muita coisa, principalmente no fato de preferirmos ficar em casa à ir em uma festa como aquela. Isabela era uma boa pessoa, e não pude deixar de notar, uma mulher muito bonita. Cabelos longos e loiros que deixavam seus olhos cor de folha ainda mais realçados.

- Meu Deus! – Isabela exclamou olhando assustada para uma direção.

- O que foi? – Perguntei preocupado.

- Eu não acredito! A Márcia está pegando alguém! – Ela apontou na direção em que Márcia estava, abraçada à um homem.

- Ah... – Respondi rindo. – Finalmente, não é?

- Mas que danadinha! – Ela riu.

               Olhei para as taças que estavam em nossa volta, e contei que aquela que ela acabara de virar em sua boca já era a quinta taça de vinho que ela tomava. Provavelmente ela já estava um pouco mais animada do que deveria. Como se soubesse que estávamos falando dela, Márcia correu em nossa direção.

- Oi! Como estão as coisas? – Perguntou sentando-se ao meu lado no sofá.

- Nós é que devemos perguntar. – A olhei divertido.

- É verdade! – Isabela escorou-se em meu ombro. – Sua... Safadinha!

- Shhh! Ele vai ouvir.

- Não tem como ele ouvir. Está um barulho infernal aqui! – Falei.

- Dane-se. Escuta, Fernando, preciso que me faça um favor.

- Lá vem...

- Na verdade, um favor à Isabela.

- À mim? Por que?

- Eu não vou poder levá-la embora.

- Aonde você vai? – Perguntei de imediato.

- Isso não é da sua conta!

               Revirei os olhos impaciente.

- Enfim... Será que pode deixar Isabela na casa dela? Por favor?

- Não é necessário! Eu posso pedir um taxi.

- Isabela... Não começa, por favor!

- Mas...

- Tudo bem. Eu a levo. – Falei. – Mas, tome cuidado, ok?

- Ah, que fofo! Preocupado com a melhor amiga. – Márcia apertou minha bochecha, e eu suspirei irritado. – Não se preocupe. Ele é amigo do Omar.

- Isso não me tranqüiliza.

               Márcia riu e se levantou.

- Tenham juízo. – Falou divertida, se afastando.

               Isabela suspirou ao meu lado.

- Você já quer ir embora?

- Seria muito indelicado da minha parte dizer que sim?

- De maneira alguma. Estou com essa vontade há duas horas atrás.

               Ela riu e eu me levantei, esticando a mão para ajudá-la.

- Acho que bebi muito. – Comentou ao se levantar.

- Quer ajuda para chegar até o carro?

- Não. Não foi tanto assim! – Respondeu rindo.

- Então, melhor irmos. Antes que eles nos vejam e nos obriguem a ficar aqui por mais duas horas.

               Saímos às pressas da festa e finalmente chegamos ao meu carro sem nenhuma interferência. Abri a porta para Isabela entrar, e entrei logo depois.

- Então... Onde você mora?

- Na verdade, não é muito longe daqui. Por isso eu disse que não tinha a necessidade de você me levar.

- Eu não me importo de levá-la. Na verdade, é até melhor. Está muito perigoso ultimamente.

- É. – Ela sorriu sem jeito. – Pode seguir essa rua direto e virar a direita.

               Liguei o carro e segui pelos caminhos que ela me indicava. Não falamos mais nada desde que entramos no carro, provavelmente envergonhados demais para isso. Mas, embora tivesse acabado de conhecê-la, eu senti que gostaria de vê-la mais vezes. Me senti bem em conversar com ela, e melhor ainda por ela não saber o que aconteceu entre Lety e eu. Desse jeito pouparíamos tocar no assunto e os olhares de dó que todos tinham ao conversar comigo.

- É logo ali na frente.

- Já?

- Eu disse que era perto. – Ela riu.

               Parei o carro em frente à um apartamento e ela tirou o cinto de segurança, me olhando.

- Foi uma ótima conversa para uma péssima festa.

- Concordo. – Sorri.

- Bom, foi um prazer conhecê-lo, Fernando Mendiola. – Ela esticou sua mão e eu a apertei.

- Igualmente.

- E obrigada pela carona.

- Não há de que.

               Isabela abriu a porta e desceu, com certa dificuldade para se equilibrar.

- Quer ajuda? – Perguntei rindo.

- Não é necessário. Obrigada. – Ela sorriu fechando a porta.

               A observei andar em direção à sua casa, e depois de um ou dois desequilíbrios, ela conseguiu chegar à porta. Assim que a abriu, acenou para mim e eu acenei de volta. Eu estou sorrindo. Depois de tanto tempo estou sorrindo, sem nenhum esforço. Por mais que a festa tivesse sido um fracasso, eu não poderia mentir ao dizer que me arrependi de ir até lá. Conversar por duas horas com uma mulher que eu havia acabado de conhecer de certa forma me fez bem. Eu precisava daquilo, e só então percebi que havia passado seis anos da minha vida sendo totalmente infeliz. Eu deveria me dar uma chance para ser feliz.

               Olhei para o meu próprio reflexo no retrovisor e continuei sorrindo, satisfeito por ter tomado aquela decisão. Mas, algo me chamou a atenção, e fez o meu sorriso diminuir. Pendurado no retrovisor estava o colar de Lety, a única coisa que me restou dela. O colar que ela costumava usar todos os dias, e que por algum motivo ela o esqueceu quando foi embora. Eu ainda me perguntava todos os dias por que ainda guardava aquele colar, apenas para me machucar ainda mais todas as vezes que o olhava.

- Como quer voltar a ser feliz com esse tipo de lembrança, Fernando? – Perguntei à mim mesmo, tirando o colar do retrovisor. Abri o vidro do carro e preparei para jogá-lo pela janela, mas simplesmente não consegui.

               Olhei para o colar em minha mão e senti que se me livrasse dele, também estaria me livrando da única coisa que me restou de Lety, além das lembranças. Fechei a mao com força e a toquei com meus lábios. Eu não posso. Não posso simplesmente excluir Lety da minha vida, quando ela era a parte mais importante dela. Fechei o vidro do carro e guardei o colar em meu bolso. Eu não poderia ser feliz sem ter Lety ao meu lado. Eu não poderia e não conseguiria.  



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