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História Igual Que Ayer - Não Era Eu


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 3 - Não Era Eu


 

MADISON - IGUAL QUE AYER

 

 

               A ultima vez que fui ao litoral havia muitos anos. Eu nem mesmo me lembrava como era relaxante estar próximo ao mar. Talvez fosse exatamente isso que eu precisava. Isabela havia acertado em cheio ao me convidar para acompanhá-la naquela viagem. Quem sabe ali eu conseguiria finalmente tocar a minha vida em frente, e finalmente deixar toda a mágoa para trás? Depois de tantos anos preso às lembranças, eu merecia isso.

- O que achou? – Isabela se aproximou.

- É relaxante. – A olhei sorrindo.

               O som do mar me tranqüilizava, e eu poderia ficar ali admirando-o por horas.

- Estou muito feliz que tenha vindo. – Ela me olhou. – Acho que vai ser muito bom para você.

- Eu também acho.

- E então... Quer ir para o hotel? Estou faminta!

- É claro.

- A não ser que prefira ficar aqui olhando para o mar. – Ela riu.

- Não seria uma má idéia, mas também estou faminto.

               Seguimos juntos para o hotel onde estávamos hospedados, que ficava do outro lado da rua. Eu já começava a sentir a diferença no meu humor, principalmente durante o almoço. Isabela era uma pessoa divertida, e isso despertava o meu lado “bobo”, que queria sempre fazer alguma piada para fazê-la rir. E de fato, eu conseguia.

- Tudo bem. E o que você acha que aquele casal está falando? – Ela virou-se para uma mesa não muito distante.

- Hum... Ele está dizendo que não vê a hora de chegar em casa hoje.

               No mesmo instante a mulher da mesa sorriu sem jeito.

- Mas, ela está fazendo charme, e está dizendo que não vai para a cama no primeiro encontro.

               O homem segurou sua mão, parecendo implorar por alguma coisa.

- Eu acho que ela não vai aceitar. – Isabela disse.

- Ah, vai sim! Ela só está fazendo charme. Ele vai beijar sua mão...

               O homem beijou a mão dela e sorriu.

- E ela vai achar que ele é diferente dos outros. Isso vai fazer com que ela aceite o convite, e pense que ele é o cara ideal.

               A mulher sorriu satisfeita e imediatamente o homem chamou o garçom, pedindo a conta.

- Incrível! – Isabela gargalhou. – Como faz isso?

- Eu não sei. Nasci com esse dom. – Sorri divertido.

               Estávamos a quase duas horas sentados à mesa, apenas conversando e rindo juntos. De repente comecei a me sentir extremamente bem, como não sentia a muito tempo. E então, olhei para Isabela de outra maneira. Ela era uma mulher muito bonita, divertida e eu me sentia bem ao seu lado. Por que não cogitar a idéia de um dia darmos certo, e ficarmos juntos? Márcia sempre dizia que eu deveria me abrir para um novo amor, mesmo que isso parecesse impossível. Pela primeira vez pensei que eu poderia sim me abrir para um novo amor, e que depois de tantos anos, nada seria mais justo. Letícia ainda estava constantemente em meus pensamentos, e o que eu sentia por ela ainda era tão forte quanto antes. Mas, talvez se eu começasse a sentir algo forte por outra pessoa, eu finalmente conseguiria esquecê-la, e deixaria toda aquela angustia para trás.

- Ah... Eu preciso ir para uma reunião agora. – Isabela olhou em seu relógio. – Você já programou o que irá fazer enquanto eu trabalho?

- Andar. – Sorri. – Apenas... Andar.

- Tem muitos lugares bons por aqui. Talvez devesse conhecê-los.

- Sim!

- Bom... Podemos ir?

- É claro! – Fiz sinal para o garçom e pedi a nossa conta.

               Isabela insistiu para que ela pagasse ou para que ao menos dividíssemos, mas enfim consegui convencê-la de que eu não me importava em pagar tudo. Aquela cena de certa forma me lembrou dos meus primeiros encontros com Letícia. Ela nunca me deixava pagar toda a conta, e isso me deixou admirado, já que eu estava acostumado a sair com mulheres que me deixavam pagar absolutamente tudo para elas. “Está pensando nela de novo, Fernando...” Droga. Como vou tocar minha vida se tudo o que faço é me lembrar dos nossos momentos juntos? Eu preciso parar de pensar tanto nela, e enterrar nossa história de uma vez por todas.

- Então... – Isabela parou na calçada. – Nos encontramos depois?

- É claro! Você me avisa quando terminar a reunião, e se quiser eu me encontro com você.

- Perfeito! – Ela sorriu. – Fernando... Eu estou realmente muito feliz que tenha aceitado vir comigo. As viagens à negócios são sempre tão chatas, e você está fazendo com que seja uma das melhores viagens que eu já fiz. Mal chegamos e eu já estou me divertindo.

- Eu também. – Sorri sincero. – E agradeço pelo convite. Foi... Muito importante para mim. De verdade.

- Fico feliz por estar ajudando de alguma maneira.

               Não sei o que me deu naquele momento. Por algum motivo senti algo diferente, uma necessidade de mostrar à ela que eu estava mesmo agradecido por aquele convite. Quando Isabela se preparou para despedir de mim, eu a beijei. Foi como se eu tivesse perdido a noção de tudo, como se não fosse eu fazendo aquilo. Me separei do beijo rapidamente e a olhei envergonhado.

- Me desculpe. Eu... – Tentei argumentar, mas não consegui dizer absolutamente nada. Eu não sabia o que havia acontecido comigo.

- Tudo bem... – Ela sorriu sem jeito. – Não... Tem problema.

               Droga! Você estragou tudo, Fernando! Estava indo tão bem, e agora ela vai pensar que você tem segundas intenções com ela. Não é assim que as coisas funcionam! Você não pode simplesmente beijá-la por ter se sentido agradecido.

- É melhor eu ir... Se não... Eu me atraso.

- Tudo bem! – Coloquei as mãos no bolso, ainda envergonhado.

- Nos vemos depois. – Ela sorriu.

- Certo.

               Isabela se afastou, caminhando pela calçada. Fechei os olhos me sentindo o maior idiota do mundo e suspirei, tentando me recompor. Mas o que foi que deu em mim? Não é só porque eu decidi tocar minha vida que eu precisava começar naquele momento. Eu precisava conversar com alguém. Precisava de um conselho para não me sentir tão idiota. Enquanto caminhava em direção à praia, peguei o meu celular e liguei para o primeiro numero da lista.

- Por favor, não me diga que você desistiu da viagem.

               Márcia atendeu ao telefone, sem ao menos dizer “oi”.

- Não. Não desisti. – Suspirei. – Estamos aqui, chegamos há algumas horas.

- Ah! Que ótimo! – Exclamou animada. – E como estão as coisas?

- Acho que... Bem.

               Parei na calçada, tirando o meu sapato para que eu pudesse pisar na areia.

- Fernando, o que aconteceu?

- Eu acho que estraguei tudo. – Peguei os meus sapatos do chão e pisei na areia, caminhando em direção ao mar.

- Por que diz isso?

- Eu a beijei.

- O QUE?

               Afastei o telefone do ouvido quando ela gritou.

- VOCÊ BEIJOU ISABELA?

- Pode não gritar, por favor?

- Fernando! Mas... Como? Por quê? Quando?

- Estávamos em um almoço animado, conversamos bastante. Ela precisou ir à uma reunião e eu simplesmente... A beijei. Não sei o que deu em mim. Ela deve estar pensando que eu sou um idiota.

- É claro que não! Bom... Ela ao menos retribuiu o beijo?

- Eu não sei, Márcia! Não prestei atenção nisso. Durou segundos!

- Mas eu preciso que me explique o que o fez tomar tal decisão.

- Eu também não sei. Me senti feliz por estar aqui, agradecido pelo convite dela. Acho que eu não estou acostumado a me sentir tão bem, e simplesmente perdi a noção.

- Ah... Fernando, isso não tem nada de mais. Tenho certeza que Isabela não está pensando o pior de você. Ela está muito feliz por ter conseguido arrastá-lo até aí. Com certeza ela entende que você só estava feliz e tentando agradecê-la. Com a língua na boca dela.

- Não seja nojenta, Márcia! Eu não coloquei nem a língua! – Suspirei irritado. – Então, acha que ela não está se importando tanto?

- É claro que ela deve estar surpresa. Eu pergunto ela depois.

- Não! Não quero que ela saiba que eu te contei!

- Mas o que tem de mais? Vocês dois são meus amigos...

- Não. Por favor, não diga nada. Eu vou saber depois se ela ficou brava ou não.

- Você quem sabe...

               Ficamos em silencio por um tempo, e eu olhei em direção ao mar, sentando-me à areia. A praia estava totalmente vazia, talvez por não estar fazendo tanto calor como deveria. O vento frio deixava o mar agitado, e por isso senti que estava no lugar certo.

- O que você sentiu?

- O que? – Perguntei confuso.

- Quando a beijou. Você gostou?

- Não sei dizer. Foi muito rápido.

- Ah, qual é Fernando. Não seja mentiroso.

               Respirei fundo.

- Não senti nada. Foi absolutamente estranho para mim.

- Também... Depois de seis anos sem beijar na boca você queria o que?

- Engraçadinha.

- Mas você não sentiu nem mesmo... Algo especial por ela?

- Eu não sei dizer, Márcia. Estou muito confuso no momento. Isabela é maravilhosa, ela faz com que eu me sinta bem. Eu gosto de estar na presença dela. Mas não é... A mesma coisa, sabe? Sinto que ao mesmo tempo que a conheço muito bem, eu volto à realidade que na verdade não sei praticamente nada sobre ela.

- Fernando, por acaso você acha que Isabela lembra a Lety de alguma maneira?

- É claro que não!

               Márcia ficou em silencio.

- Talvez. Eu não sei!

- Fernando, você não pode achar que sente alguma coisa por Isabela apenas por ela fazê-lo lembrar da Lety. Isso seria injusto com você e com ela.

- Eu sei. – Repousei a testa em minha mão. – Eu não sei exatamente o que pensar.

- Você está no litoral. Pelo barulho, está em frente o mar. Use esse ambiente maravilhoso para aliviar a cabeça. Nós queremos que você se sinta bem, mas você não precisa forçar nada. Deixe que aconteça naturalmente.

- É... Você tem razão.

- Preciso desligar agora. O Presidente se ausenta e deixa o trabalho todo para seus escravos!

- É claro! – Falei rindo.

- Omar está aqui mandando um beijo!

- Um beijo? Diga que dispenso.

- Ele está com ciúmes que você me ligou e não ligou para ele.

- Diga que mais tarde eu ligo.

- Eu direi. Agora, me deixe trabalhar, por favor.

- Bom trabalho. Vou aproveitar a praia.

- Eu te odeio!

- Até mais.

- Até!

               Desliguei o telefone já me sentindo mais leve. Conversar com Márcia e ouvir seus conselhos era sempre relaxante. Talvez eu não devesse mesmo forçar tanto para me sentir bem. Acho que era isso que estava me atrapalhando pensar com clareza. Eu estava ansioso para começar a me sentir bem novamente, não via a hora de finalmente dizer “Eu me sinto realmente bem.” Mas, as coisas teriam que acontecer naturalmente, e eu deveria começar me desculpando com Isabela. E depois, eu teria que esquecer Letícia de uma vez por todas. Mas, como fazer isso? Como apagar tudo que tivemos juntos, e simplesmente fingir que ela não me faz falta?

 

 •••

 


Me dijo adiós un jueves por la tarde
y no dejó ninguna dirección
me dijo no
no habrá segunda parte
y prometió que era lo mejor
no le dio tiempo al corazón
para entender lo que pasó
si fuimos dos
hoy solo quedo yo

 

 

               Letícia correu para a porta de sua casa, fugindo da chuva. Fernando a seguiu e os dois riram, parados em frente a casa. A chuva os pegou de surpresa, mas mesmo molhados, os dois ainda se divertiam. Já estavam no quinto encontro, mas ambos já tinham um forte sentimento um pelo outro. E naquele dia, nem mesmo a chuva os impediu de demonstrar um ao outro o que sentiam. Fernando tocou em seu rosto se aproximando, e pela primeira vez se beijaram. Depois de cinco encontros, depois de divertidos jantares com longas conversas, a única coisa que queriam era encerrar aquele momento da melhor maneira possível. A sensação que tiveram ao sentir pela primeira vez o toque dos lábios um do outro era inexplicável, e com certeza ambos sentiam que aquele era apenas o começo. O começo de uma linda história de amor.

 

 

                                                                          •••

 

               Me escorei à parede esperando por Isabela. Depois de receber sua mensagem pedindo para que eu a encontrasse, me senti aliviado e com a esperança de que ela não tivesse se chateado com o beijo. Assim que a vi caminhando em minha direção, descruzei os braços e sorri, esperando que ela se aproximasse.

- Olá! – Ela sorriu. – Demorei muito, não é? Não pensei que a reunião fosse demorar tanto.

- Na verdade, mal vi o tempo passar. – Sorri.

- Que bom! Conheceu muitos lugares?

- Na verdade, preferi ficar sentado em frente o mar.

- Isso também é muito bom!

- Sim!

               Estávamos nitidamente envergonhados um com o outro, e mais uma vez me senti culpado.

- Podemos voltar para o hotel? – Ela perguntou quebrando o silencio.

- É claro!

               Caminhamos pela calçada e não dissemos absolutamente nada por um bom tempo. Eu não sabia o que ela estava pensando de mim, mas eu estava pensando em um modo de me desculpar pelo que aconteceu.

- Isabela... Eu gostaria de me desculpar. – Falei sem rodeios.

- Se desculpar?

- É, pelo que aconteceu mais cedo.

- Ah!

- Não foi a minha intenção fazer isso, e eu não sei o que deu em mim.

- Fernando, não se preocupe com isso. – Ela sorriu. – Isso não mudou nada.

- Au! – A olhei divertido. – É bom saber.

- Oh não! – Ela levou as mãos à boca. – Eu não quis dizer isso! Eu... Ah, meu Deus! Que vergonha!

- Tudo bem, eu entendi. – Sorri divertido. – Só estou brincando.

- É que eu... Realmente não estava esperando por isso. Quero dizer... Você é ótimo! E eu realmente me sinto bem estando ao seu lado. Na verdade, me sinto de uma maneira que não me sentia há algum tempo.

- Eu sinto o mesmo.

- Acho que nós somos apenas... Bons amigos, não é? Quero dizer... Nós dois ainda somos apaixonados por outra pessoa.

- É. Tem razão.

               Ela não poderia ter dito algo melhor.

                         - O que acha de sairmos para jantar? - Sugeri. - Você sabe... Para esquecermos o que aconteceu.

- É uma ótima idéia. - Ela sorriu.

       Entramos no hotel e seguimos para nossos quartos.

- Nos encontramos às oito então? - Perguntei parando na porta do meu quarto.

- Perfeito. - Ela sorriu.

- Então... Até logo.

- Até.

    Isabela continuou me olhando. Sorri sem jeito e abri a porta do quarto. Ela acenou para mim e eu acendi de volta, antes de fechar a porta do quarto. Me senti aliviado por Isabela dizer que éramos apenas bons amigos. De fato éramos, e apesar dela ser uma mulher bastante atraente, não seria fácil deixar de pensar em Lety. Mesmo com o passar dos anos.

 


Si la ves
dile que la extraño
que aún me hace daño recordar cuando se fue
si la ves
dile que los años
aquí no han pasado aunque miento que estoy bien
dile que la amo igual que ayer

 

 

       Oito em ponto eu a esperava no hall do hotel. Pensei que talvez estivesse sendo bobo por ser tão pontual, mas não demorou muito tempo para Isabela sair do elevador e seguir em minha direção. Estava bastante elegante, e eu não pude deixar de sorrir ao olhá-la.

- Pensei que eu era a única a ser pontual. - ela sorriu. - está muito elegante.

- Obrigado. - olhei para mim mesmo. - demorei três longos minutos para escolher essa roupa.

      Ela riu.

- Um pouco menos do que eu.

- Você também está muito bonita.

- Obrigada. - ela sorriu. - Então... Aonde vamos?

- Eu perguntei à recepcionista e ela me indicou um restaurante próximo à orla. Disse que não é muito longe e podemos ir a pé, caminhando pela praia.

- Perfeito!

- Então... Vamos?

     Seguimos para o restaurante pelo caminho que me ensinaram. Não era tão difícil já que tínhamos apenas que andar pela beira da praia. Conversávamos enquanto caminhávamos e parecia que o ocorrido de horas antes não afetou em nada.

- E então meu pai finalmente concordou que eu me formasse em Relações Publicas. Mas a verdade é que até hoje ele espera que eu diga que quero cuidar dos negócios da família.

      Isabela me contava sobre sua relação com sua família, e eu ouvia com gosto. Era bom conhecer mais sobre sua vida e saber um pouquinho mais dela.

- Acho que se um dia eu dissesse que não quero mais seguir os negócios da família, minha mãe me deserda.

      Ela riu.

- Mas você gosta, não é?

- Sim. A única coisa que não gosto é que minha mãe e Henrique nunca me deixam tomar minhas próprias decisões.

 - E você deixa que isso aconteça?

- Acho que sim. Tem sido assim desde sempre.

- E o seu irmão? Não tem a mesma cobrança?

- Ele combina mais com isso do que eu, então... Não. - Sorri. - Mas, continue falando da sua família. Você já viu de perto como é a minha.

- É verdade. - Nós rimos.

     Isabela continuou a contar sobre sua família, e mal percebemos que já havíamos nos aproximado do restaurante. Como disseram, era um ótimo local. Já havíamos saído da praia, e o restaurante se encontrava em um lugar semelhante a um sítio. Havia a parte coberta e a parte de fora. Mas, a única mesa disponível era do lado de dentro. Nos sentamos, e o garçom nos apresentou o cardápio.

- Eu não sei o que significa metade dessas coisas. - Falei olhando para o cardápio e Isabela riu.

- Prefere ir para um lugar mais... Popular?

- Não. Aqui está ótimo. - Sorri. - Acho que vou querer provar a lagosta. É a única coisa que entendi.

- Como quiser, Senhor. - O garçom anotou. - E a senhorita?

- O mesmo.

- Desejam uma bebida enquanto aguardam o pedido?

- Um vinho, por favor. - Pedi.

- Irei trazer nesse instante. Com licença.

      O garçom se afastou, nos deixando a sós.

- Funcionários bastante educados. - Falei.

- É verdade. Mas deve dar um trabalho cuidar de lugares assim, não acha?

- Acho que a pessoa que é dona de um lugar assim provavelmente é apaixonada pelo que faz.

- Tem razão.

- Mas foi muito bem planejado. Você notou que tem um tipo de lagoa aqui?

- Sim. Pode ser um local de moradia também.

- Acredito que sim. - Olhei em volta. - Eu moraria em um lugar como esse facilmente.

- Eu também. Sem ninguém para nos incomodar.

- A melhor parte. - Falei rindo.

       O garçom voltou com o nosso vinho e nos serviu. Brindamos, e conversamos ainda mais. As conversas com Isabela não eram monótonas e chatas como com a maioria das pessoas. Falávamos sobre todos os tipos de assunto, fazíamos piadas, gargalhávamos e ao mesmo tempo falávamos sobre algo sério. E durante essas conversas sérias, tocamos no assunto de Letícia mais uma vez. Mas, ao contrário de todas as outras vezes, estranhamente eu não me importava de falar sobre. Pelo contrário. Eu me sentia bem ao contar sobre Letícia para Isabela, porque eu queria que ela a conhecesse tão bem quanto eu, pelas minhas próprias palavras.

- Como se conheceram? - Isabela escorou-se à mesa, interessada.

- Ela começou a estagiar na empresa logo quando voltei da Califórnia. Lembra que eu disse que me formei lá?

- É claro.

- Então, assim que voltei e me tornei Presidente da empresa, ela já havia sido contratada pelo meu pai como estagiária. Estava em seu último ano da faculdade. - Sorri com as lembranças. - Márcia ficou encarregada de treiná-la e elas logo ficaram amigas. Com o tempo Márcia começou a levá-la nas saídas que fazíamos nos fins de semana, e fomos nos aproximando.

      Suspirei encarando o meu prato, que minutos antes carregava a lagosta que eu havia pedido.

- Ela é a pessoa mais doce que já conheci. Ria sempre das minhas piadas, mas ao mesmo tempo sentia-se envergonhada facilmente. Depois de algumas vezes que conversamos e saímos juntos, eu a chamei para um encontro. Apenas nós dois. Demorou um tempo para que ela aceitasse, mas tenho certeza que Márcia a convenceu.

- Ela é muito boa nisso. - Isabela riu.

- Sim. - Sorri. - E então, no nosso primeiro encontro ela parecia um pouco mais a vontade comigo, e... Falamos sobre tudo. - Gesticulei enquanto falava. Costumava fazer isso quando contava algo empolgante. - Tudo mesmo. E eu descobri que tínhamos mais em comum do que eu imaginava. E depois é claro, a convidei para outros encontros. E outro. E depois do quinto, nós finalmente nos beijamos. A partir daí começou a ter algo sério entre a gente, e eu a pedi em namoro depois de um mês. Foi... A coisa mais difícil que já havia feito. - Falei rindo.

- Por quê?

- Eu tinha muito medo do seu pai, e tive a brilhante idéia de ser tradicional e fui até sua casa pedir permissão.

- Que lindo! - Isabela sorriu. - E como foi?

- Um desastre! - Falei divertido. - Quebrei um copo, derramei molho na minha camisa, e gaguejei quando fui falar com seu pai. Por sorte sua mãe me tranqüilizou e ela também. Mas, por fim, seu pai aprovou. Foi um alívio.

- Eu imagino.

- Bom... E então, assim que ela se formou, eu lhe dei um presente de formatura. - Sorri abobado.

- Qual presente?

 

 

 

--------------

 

      Lety chegou ao restaurante acompanhada de seus pais. Pensava que seria apenas um jantar de comemoração pela sua formatura e sua efetivação como chefe de criação da Conceitos. Mas, o fato de Fernando ter recusado o seu convite para acompanhá-los ainda a incomodava. Durante a semana inteira ele pareceu nervoso, mas Letícia achava que o motivo para isso eram suas brigas constantes com a mãe dele.

       Assim que chegaram à porta do restaurante, Lety estranhou a falta de movimento, já que todas as vezes que havia estado ali, havia uma grande movimentação da clientela. Mas, algo chamou ainda mais sua atenção: a porta estava fechada.

- Está fechado? Hoje? - ela perguntou confusa.

- Mas que estranho! - Sua mãe exclamou. - Erasmo, você não fez as reservas?

- Oras, é claro que fiz! Deve estar havendo algum problema. Não podem fazer esse descaso!

      Erasmo empurrou a porta com raiva, e entrou. Lety e Julieta rapidamente o acompanharam, e assim que ela adentrou o restaurante, as luzes se acenderam, e todos os seus amigos gritaram "SURPRESA". Uma enorme faixa ao centro escrita "Parabéns, Lety" revelava a surpresa que planejaram para ela.

- Meu deus! - Exclamou colocando as mãos à boca. Seus pais a abraçaram animados, e logo as pessoas se aproximaram. Mas, a primeira pessoa que ela percebeu ao se aproximar foi ele.

- Aposto que foi idéia sua. - Ela sorriu e ele a abraçou pela cintura.

- E como chegou à essa conclusão?

- É a sua cara fazer isso. E ainda pedir meus pais e os outros para compactuar com isso.

- Eu tive ajuda. - Respondeu divertido.

- E teve mesmo! - Márcia se aproximou, tirando- de Fernando lhe dando um abraço. - Parabéns, Lety! Agora que está formada, pode pensar no casamento.

     Fernando a encarou com raiva e Márcia riu, se afastando. 

- O que foi? - Lety perguntou ao vê-lo encarar Márcia.

- Não é nada. - Ele a beijou no rosto. - Vem, vamos cumprimentar os outros.

     Todos os amigos próximos estavam ali, inclusive Humberto e Henrique. Menos Teresinha, mas isso Lety já sabia que não aconteceria. Depois de cumprimentar todos e receber as felicitações, ela finalmente pôde conversar com seus amigos, e tomar uma bebida.

- Cadê o Fernando? - Letícia perguntou olhando em volta.

- Da última vez que vi estava conversando com seu pai. - Márcia respondeu.

- E onde eles estão?

- Lá fora.

- Por quê?

- A curiosidade mata, Lety. - Márcia disse. - Quer relaxar? Por que está tão preocupada?

- Nada, oras.

- Então bebe isso e curte a música. Demorei muito tempo para montar essa playlist.

     Lety riu e aceitou dançar com Márcia. Ela não tinha o costume de dançar, mas aprendeu que quando está acompanhada de Márcia, ela não consegue dizer "não". Enquanto dançavam e aproveitavam a festa, foram surpreendidas com a música sendo pausada de repente. Todos reclamaram, mas Fernando chamou a atenção de todos quando surgiu no meio de todos.

- O que ele está fazendo? - Lety perguntou quando ele andou em sua direção.

- Eu sei lá.

    Mas Lety sabia que algo estava muito suspeito. As pessoas fizeram uma roda em volta dos dois, e quando ele se aproximou o suficiente, parecia bastante nervoso.

- Fiz uma coisa para você. - Ele disse sorrindo.

- O que?

- Você vai ver.

    Carinhosamente ele segurou seus ombros e a virou para um telão, que ela não tinha reparado que estava ali até aquele momento. Todos se posicionaram ao seu lado, e de repente uma música alta chamou sua atenção. Fotos divertidas de quando Lety era criança acompanhada de escritos arrancou gargalhadas de todos, inclusive dela.

 

 

 

Desde sempre, você foi uma menina estudiosa...

 

 

Alegre...

 

 

E carinhosa.

 

 

Ganhou seu primeiro prêmio de melhor aluna aos 8 anos de idade.

 

 

E desde então não parou mais de ganhar.

 

 

É claro que não poderíamos esperar menos de você, quando passou em primeiro lugar na faculdade.

 

E desde então, sua dedicação e força de vontade apenas aumentou.

 

Lety sorriu emocionada, com lágrimas nos olhos enquanto prestava atenção no telão.

 

 

 

E hoje, realizou o seu sonho e conquistou mais uma etapa da sua vida. Ser uma publicitária. Com a ajuda dos pais...

 

 

Com a ajuda de amigos...

 

 

E do amor da sua vida (um homem lindo e romântico)

 

 

Todos riram e Lety virou-se para Fernando, divertida.

- Modesto, han?

- Só disse a verdade. - Ele sorriu.

    Lety balançou a cabeça rindo e voltou sua atenção para a homenagem. Várias fotos de Lety e Fernando começaram a passar. Das primeiras até as últimas que tiraram. As pessoas exclamavam "ohhh" a cada foto romântica dos dois, e Lety já não agüentava segurar as lágrimas. A música mudou naquele momento, deixando a homenagem ainda mais emocionante.

 

Nós estamos muito felizes e orgulhosos de você, e agora, com mais essa etapa concluída, você já pode pensar na próxima.

 

 

Lety ficou confusa.

 

 

Mas nessa etapa você só precisa responder uma simples pergunta. Basta dizer sim ou não.

 

 Ainda confusa, ela virou-se para Fernando, pronta para perguntar o que quis dizer. Mas, antes de perguntar, Fernando segurou sua mão com ternura, e logo depois se abaixou, ajoelhando-se. Todos se manifestaram de alguma maneira: assobios, aplausos, gritos. Mas Lety não teve nenhuma dessas reações. Ela apenas olhava para Fernando, petrificada.

- Lety... - A voz de Fernando estava embargada, e ele quase não conseguiu terminar a frase por conta do nervosismo e emoção. - Você quer se casar comigo?

 

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Aunque aprendí
que todo se termina
que hay que seguir
con esta cicatriz
nunca entendí como vivir
por qué se quiso ir de mí
la tuve aquí
y luego la perdí

 

 

- Ah, Fernando! Que coisa mais linda! - Isabela exclamou. - Você é um romântico nato!

- É, eu... Costumava ser. - Tomei um longo gole de vinho.

- E ela aceitou, obviamente.

- Sim, para o meu alívio. - Ele sorriu.

- Então você tinha pedido a permissão do pai dela minutos antes?

- Sim! Já havíamos falado sobre isso quando estávamos a sós, mas você sabe... Eu precisava da aprovação dele.

- Que bom que ele concordou!

- É. Que bom.

       As lembranças me faziam bem, mas ao mesmo tempo me faziam mal. ficava cada vez mais difícil entender a ausência de Lety, depois de tantas demonstrações de carinho e felicidade. Estávamos planejando o nosso casamento, ela parecia empolgada, e simplesmente jogou tudo isso para o alto.

- Bom... - Suspirei. - Acho que agora você sabe tudo.

- Fico feliz por ter me contato. - Ela sorriu, segurando minha mão. 

- E eu fico feliz por ter conseguido contar.

      Apertei sua mão e seu sorriso alargou. De repente, ela levou a mão ao olho, reclamando.

- O que foi?

- Acho que foi um cisco.

- Me deixe ver.

    Me inclinei sobre a mesa e ela se aproximou para que eu olhasse. Dei um leve assopro, mas não pareceu adiantar.

- Vou ao banheiro passar uma água. Pode me dar licença?

- É claro.

    Me levantei acompanhando-a e ela seguiu rapidamente para o banheiro. Voltei a me sentar e olhei em volta. Incrivelmente eu não estava me sentindo mal após ter contado minha história com Lety. Normalmente, o desânimo e a tristeza me pegavam, e eu só queria me enfiar dentro de um quarto e não sair mais. Será que eu finalmente estava superando-a?

- Mamãe!

   Uma garotinha passou correndo pela minha mesa.

- Eu encontrei uma joaninha!

      A segui com os olhos na direção que ela correu, um pouco distante de onde eu estava, mas não consegui ver quem a acompanhava. O garçom da mesa ao lado estava tampando minha visão. A garotinha estava com os cabelos soltos caindo sobre os ombros e parecia feliz. Sorri inevitavelmente, pensando no quanto eu teria sido feliz se Lety tivesse me dado a chance de me tornar pai.

      Sua mãe a pegou no colo, e o garçom se afastou. Finalmente pude vê-la, mas quando a olhei, pulei à mesa, espantado. Não. Eu só posso estar tendo uma visão. Acorda, Fernando. Pare de pensar besteiras! Você já bebeu muito, só pode estar vendo coisas. Dei leves tapas em meu rosto na tentativa de parar com a imaginação, mas assim que a olhei novamente, fiquei ainda mais espantado.

- Pronto. Agora estou melhor. - Isabela voltou à mesa. - Eu... - Ela parou de falar. - Fernando, o que foi? Que cara é essa?

- Aquela... Mulher... - Não consegui terminar a frase. Parecia muito absurda para ser dita em voz alta.

    Isabela virou-se, olhando na mesma direção.

- O que tem ela? Você a conhece?

      Engoli à seco e minhas mãos começaram a tremer.

- Fernando!

- Aquela... É... A Lety!

     Isabela me olhou tão espantada quanto eu estava.

- Você tem certeza?

   Não. Não tenho certeza. Não posso ter certeza. Quais são as chances de encontrá-la ali, por acaso? Só posso estar louco! Mas, eu a reconheceria em qualquer lugar. De qualquer maneira. E aquela definitivamente era Leticia Padilha Solis. A minha Lety.

- Eu vou até lá.

     Me preparei para me levantar mas Isabela me segurou.

- Não pode ir lá desse jeito. Você está transtornado.

- Preciso falar com ela! - Respondi atordoado.

    De repente um homem se aproximou, beijando a garotinha no rosto. Lety sorriu para ele e ele beijou seu rosto. Meu deus! Ela está acompanhada? Com um homem?

- Mamãe! -A garotinha repetiu.

       Só então me dei conta de que ela era sua mãe. Lety, sua mãe. Lety era mãe de uma garotinha. E provavelmente já estava casada. Mas, como? Como ela pôde fazer isso?

- Fernando... - Isabela tocou em minha mão, me despertando. Meus olhos estavam marejados e eu senti uma onda de sensações passando por mim. As piores possíveis.

- Vamos embora. - Falei rapidamente, passando a mão nos olhos antes que eu chorasse e fraquejasse.

- Mas...

- Por favor.

     Isabela concordou e nos levantamos. Ela não me viu, nem ao menos olhou para a direção que eu estava. Estava ocupada demais com a sua família. A sua família. Sua filha, seu provável marido... E não era eu.

 


Si la ves
y hay alguien a su lado
quédate callado
que yo no quiero saber

 



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