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História Igual Que Ayer - "Isso é passado"


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 4 - "Isso é passado"


SI ME DAS LA ESPALDA

 


A donde fue? Como consigo olvidar
Se quedo sin terminar
Yo guardo tanto de ti
Te puedo ver, te puedo oir, te puedo sentir
Llego a creer que estas aqui.

 

 

Eu ainda não acreditava no que vi. Foi como se tivesse em um pesadelo, e era o que eu queria que fosse. Um simples pesadelo. Não pelo fato de finalmente descobrir onde ela estava depois de tantos anos, mas pela cena que eu vi. A cena do homem a beijando, mesmo que no rosto, não saia da minha cabeça. Pela intimidade que ele tinha com a garota, ela só poderia ser sua filha, e já que ela estava chamando-a de mãe...

 

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Ao sair do restaurante, Fernando respirou fundo algumas vezes tentando se acalmar, mas era impossível. Ele não foi capaz nem mesmo de esperar pelo garçom para fechar a conta, apenas deixou o dinheiro sobre a mesa para que Isabela fizesse isso. Enquanto ele a esperava, caminhava de um lado para o outro com as mãos à cabeça, transtornado. Ainda era difícil acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo.

- Fernando... - Isabela saiu do restaurante, aproximando-se. - Descobri uma coisa.

- O que? - Perguntou apreensivo.

               Estava com medo do que mais poderia descobrir naquela noite.

- Percebi que aquele homem estava conversando com alguns funcionários, e perguntei para o garçom se ele trabalhava ali. Ele é o dono do restaurante.

- Ele é... - Fernando suspirou. - Eu não acredito que estávamos no restaurante do... Do...

Ele não foi capaz de dizer "Do marido da Lety", já que ele nem mesmo sabia se isso era verdade. Ou apenas não queria acreditar nisso.

- É melhor irmos embora. Você está péssimo.

Péssimo era um elogio. Fernando estava destroçado.

 

-------------------------------

 

 

- Fernando... - Isabela tocou em meu braço quando paramos à porta do quarto.

- Eu vou ficar bem. - Menti.

- Não precisa dizer isso para me deixar melhor. Olha, por que você não volta lá amanhã? Já sabemos que ele é o dono de lá. Você pode encontrá-la lá.

- Eu... Não sei.

- Fernando, pior do que ficar magoado com o que viu, é ficar em duvida. Precisa colocar seis anos de dúvidas na mesa. Precisa falar com ela.

- Eu não suportaria, Isabela. Mal suportei quando ela disse que não me amava mais, imagina eu ouvir ela dizer que seguiu sua vida e está casada e com uma filha?

- Ainda não sabemos que é isso.

- É claro que é isso! - Aumentei a voz e ela se calou. - Desculpe. - Suspirei, passando a mão no rosto. - Só... Preciso digerir tudo isso. Ainda não estou acreditando.

- Tem razão. É melhor descansar e ficar sozinho um  pouco.

- Obrigado.

- Nós vemos amanhã então. Fique bem. - Ela se aproximou, beijando meu rosto.

     Não respondi. Estava óbvio que eu não ficaria bem.

 

 

•••

 

29 DE DEZEMBRO

 

Passar a noite em claro já era costume para mim naqueles anos. Mas, eu não esperava que fosse passar uma das piores noites da minha vida. Mais uma vez eu me encontrei sentado à cama, encarando o chão, pensando o que havia feito de errado. Onde errei para merecer tanto sofrimento? A cena de Letícia sorrindo para outro homem não saia de minha cabeça.

Pela manhã, a última coisa que eu queria era sair daquele quarto. Por mais que estivesse me matando todos aqueles pensamentos e dúvidas, eu não queria encarar a realidade. Mas, às suaves batidas na porta do quarto me fizeram levantar.

- Oi. - Isabela sorriu quando abri a porta. Sua reação ao me ver era esperada. - Você... Esta...

- Péssimo. Eu sei. - Respondi de imediato. Passar a noite em claro, chorando como uma criança boba contribuiu muito para isso.

- Eu ia dizer cansado. Você não dormiu?

- Não.

- E... Pensou sobre o que eu falei?

     Suspirei.

- Sim.

- E você vai?

- Não.

- Como não? - Perguntou abismada.

- Letícia passou seis anos se escondendo de mim, sem me dar notícias. Por que eu iria atrás dela? Por que eu iria correr atrás se ela não teve nenhuma consideração por mim?

- Porque você ainda sofre por ela. E vai sofrer ainda mais se não for atrás dela. Vai ficar arrependido, e depois não poderá voltar atrás.

- Não vou suportar, Isabela.

- Eu vou com você.

Talvez não fosse tão doloroso se ela me acompanhasse. Se por acaso eu ficasse com cara de idiota na frente dela, eu não me sentiria tão sozinho.

- E o que eu digo?

- Tudo. Pergunte tudo o que sempre quis perguntar todos esses anos.

- E se ela não quiser falar comigo?

- Ela não faria isso.

- Ela teve a frieza de me deixar sem ao menos me dar explicação. Ela faria isso sim.

- Você nunca vai saber se não tentar.

Olhei para Isabela e respirei fundo. Eu nunca iria saber se não tentasse.

 

 

•••

 

LETÍCIA

 

       O dia era como qualquer outro. Acordei às seis para levar Júlia para a escola. Fui direto para o restaurante para ajudar Guilhermo no que era preciso. Passei o dia mexendo com papéis em seu escritório, e às onze ele se prontificou a buscar Júlia. Aproveitei para ajudar os funcionários na arrumação do restaurante, que em poucos minutos estaria lotado para o horário de almoço. Mas, embora a minha rotina fosse a mesma de todos os dias, algo estava diferente. Mas, eu não soube explicar.

- Chegamos, mamãe!

     Guilhermo entrou no restaurante carregando Júlia em seu pescoço. Os dois pulavam e gargalhavam, e eu sorria enquanto os admirava. Tinham uma relação tão próxima, que era impossível não ficar feliz enquanto os olhava.

- Como foi na escola? - Perguntei quando ele a desceu e ela correu para me abraçar.

- Foi ótimo! Aprendemos a soletrar a palavra “digno”.

- É mesmo? E como é?

- D-i-g-n-o.

- Muito bem, meu amor! - Sorri orgulhosa, assim como Guilhermo.

- Sabe que dia é hoje? - Guilhermo perguntou à ela. - Dia de alimentar os patinhos.

- Oba! - Ela exclamou animada.

- Por que não vai até lá? Eu vou logo, logo.

Guilhermo entregou um saco de papel para Júlia, e ela correu em direção à saída. Nós a olhamos sorrindo, até que ele virou-se para mim.

- Como está? - Perguntou carinhoso. - Ainda com aquela sensação?

- Nem tanto. - Sorri. - Foi besteira minha.

- Tem certeza?

- Sim.

Embora eu não conseguisse mentir para Gulhermo, tentei ser o mais convincente possível para que ele não se preocupasse.

- Guilhermo, podemos arrumar as mesas? - Um dos funcionários perguntou.

- Chame os outros antes. Quero dar um aviso.

Logo todos os funcionários se postaram em sua frente, e ele sorriu animado.

- Quero parabenizar à todos pelo desempenho desse mês. Lucramos mais do que o anterior, e isso graças ao nosso trabalho em conjunto.

     Todos aplaudiram e comemoraram.

- Hoje à noite faremos uma festa de comemoração.

A animação foi ainda maior. Gulhermo sorriu para mim e eu retribui. Vê-lo feliz me deixava feliz. Enquanto os funcionários comemoravam em nossa volta, vi um casal entrar no restaurante. Olhei primeiro para a mulher, que eu jamais a vi por ali, mas logo minha atenção voltou-se para o homem ao seu lado. Senti as pernas bambearem e meu coração disparar. Isso é impossível! Impossível! À medida que se aproximaram, não tive outra reação a não ser me esconder atrás do armário que havia ali, antes que ele me visse. O coração quase saindo pela boca, as mãos suando e tremendo, as pernas bambas, e a única reação que tive foi essa. Gulhermo olhou para mim e eu apenas o olhei, implorando para que ele entendesse o meu desespero.

- Bom dia. Posso ajudá-los? - Guilhermo perguntou à eles.

- Bom dia. - A mulher respondeu.

Por favor, digam que estão de passagem. Por favor.

- Nós estamos procurando uma pessoa. Talvez possa nos ajudar.

- E qual o nome dele ou dela?

- Letícia. - Dessa vez ele respondeu, e senti que desmaiaria ali mesmo. Há tanto tempo não ouvia sua voz, ele pronunciando meu nome... - Leticia Padilha.

Guilhermo ficou em silêncio.

- Ela trabalha aqui? - A mulher perguntou.

- Digamos que sim.

Não, Guilhermo. Não diz nada, por favor.

- Mas infelizmente ela não está no momento.

Ah... Obrigada!

- E sabe que horas ela volta?

- Desculpe, não sei. Ela foi resolver um problema. Talvez demore. Mas, querem deixar algum recado? São amigos dela?

Houve um silêncio.

- Nós voltamos outra hora. Mas, obrigada mesmo assim.

- Tudo bem.

     Esperei um tempo para me certificar de que haviam realmente ido embora, até que Guilhermo parou ao meu lado de braços cruzados, desconfiado.

 

 

•••

 

FERNANDO

 

 

- Nós podemos voltar mais tarde. - Isabela disse.

- Ele estava mentindo.

- E como sabe?

- Viu só como ele ficou tenso e demorou para responder? Ele sabe quem sou eu, e obviamente ele sabe o que quero com ela.

- Fernando, nós não sabemos...

- É claro que a última coisa no mundo que ela quer é me ver. - Suspirei repousando as mãos na cintura.

- Mas você vai voltar, não é?

- Eu não deveria. Mas quer saber? Agora que sei que ela está fugindo, eu quero ainda mais tirar essa história a limpo. Ela me deve isso.

Isabela me olhou com certa pena, mas também preocupada. Eu mesmo estava preocupado em saber qual seria minha reação ao conversar com ela pela primeira vez depois desses seis anos. Ficaria aliviado? Feliz? Nervoso? Furioso? Talvez um misto de tudo isso.

- Tudo bem. Então vamos embora e mais tarde...

A frase de Isabela foi interrompida quando uma garotinha passou por nós dois, deixando um saquinho de migalha de pão cair no chão. Era a provável filha de Lety. A mesma que vimos no restaurante na noite anterior. Ela resmungou alguma coisa e se abaixou para pegar as migalhas do chão. Me apressei em ajudá-la e Isabela também se juntou para ajudar.

- Obrigada. - Ela sorriu quando terminamos de pegar tudo. É impossível não dizer que é filha de Lety. Ela é muito parecida com ela.

- Estava alimentando os patos? - Perguntei, sem ao menos saber por que eu estava conversando com ela.

- Sim! Você gosta de patos?

- Sim, eu gosto. - Sorri.

- E sua namorada também?

- Ah... Não somos namorados.

     Isabela riu.

- Desculpe.

Abri a boca algumas vezes para lhe fazer uma pergunta, mas não fui capaz de dizer. Isabela, como se lesse os meus pensamentos, fez a pergunta por mim.

- Você que é a filha da Leticia?

Ela não respondeu. Apenas abraçou-se ao saquinho.

- Tudo bem. Somos amigos dela. - Isabela sorriu.

- São? Amigos da minha mamãe?

- Bom... Ele é. - Isabela apontou para mim.

- E como você se chama?

- Me chamo Fernando. Fernando Mendiola.

Ela sorriu marota.

- Minha mãe não costuma ter amigos.

- A conheço há muito tempo.

- Eu me chamo Júlia. Júlia Padilha.

- É um nome muito bonito. - Sorri.

- Obrigada!

Ela olhou para o restaurante.

- Agora eu preciso ir. - Ela disse. - Vocês irão visitá-la mais vezes?

Isabela e eu nos olhamos.

- Acho que sim. - Respondi.

- Tudo bem. Então, até logo.

- Até.

Ela seguiu para dentro do restaurante aos pulos. Me peguei sorrindo com o olhar perdido na direção em que ela seguiu. Não pude evitar de pensar como eu gostaria de ter tido filhos com Lety, e ela seria exatamente daquela maneira.

- Ela é muito linda. - Isabela comentou.

- Sim. - Coloquei as mãos ao bolso. - É melhor irmos. Nós voltamos depois.

- Tudo bem.

Dei uma última olhada para o restaurante e seguimos de volta para o hotel.

 

•••

 

LETÍCIA

 

 

- Está mais calma? - Guilhermo perguntou ao me oferecer o segundo copo dagua.

Não respondi. Apenas continuei trêmula pensando no que havia acabado de acontecer. Quais eram as chances de Fernando Mendiola aparecer ali, depois de tantos anos? 

- Mamãe! - Júlia entrou correndo no restaurante. - Eu acabei de falar com um amigo seu.

- O que? - Perguntei apreensiva. - Que amigo?

- Ele disse que se chama Fernando. Fernando Mendiola. Disse que é seu amigo há um tempo.

Guilhermo e eu nos olhamos.

- Meu amor... O que eu disse sobre falar com estranhos? - Tentei parecer o mais calma possível.

- Mas ele não é estranho, mamãe. É seu amigo.

     Respirei fundo e virei praticamente toda a água do copo garganta abaixo.

- Lindinha, por que não vai ver se Selma precisa de ajuda na cozinha? - Guilhermo sugeriu.

- Eu posso? - Perguntou animada.

- É claro! Vá até lá. - ele sorriu.

    Júlia saiu correndo adentrando o restaurante e novamente ficamos a sós.

- O que você vai fazer? - Guilhermo me olhou.

- Como assim o que vou fazer?

- Ele vai voltar para procurar por você de novo.

- E eu vou continuar me escondendo até ele desistir.

- Lety... - Guilhermo segurou minha mão. - Não acha que deveria resolver isso, de uma vez por todas? Para o seu bem, e para o meu bem também.

- Não posso. Eu não... Estou prepara para isso.

- Você nunca estará prepara para isso. Mas já faz seis anos.

Suspirei desanimada. Metade de mim queria colocar todas as cartas na mesa. Mas a outra metade tinha medo. Medo de que nada mais fosse igual. Por tanto tempo demorei para me adaptar à um lugar novo. Por tanto tempo tentei refazer minha vida, e quando finalmente tudo está indo bem, Fernando reaparece como em um passe de mágica. Talvez tenha me procurado por todos esses anos e finalmente tenha me encontrado. Afinal, eu fui embora sem ao menos me explicar.

- Não quero ficar te perturbando com isso. – Guilhermo segurou minha mão. – Quero que fique bem. Mas, pense no que eu disse. Você jamais vai conseguir esquecê-lo se continuar se escondendo.

               Após beijar minha mão carinhosamente, ele se levantou, adentrando o restaurante. Ele tinha razão. Quanto mais eu me escondesse, pior seria. Eu teria que enfrenta-lo de uma vez por todas, e deixar claro que agora tenho uma nova vida. Uma vida que ele não fazia parte dela.

 

 

•••

 

 

               A festa de comemoração estava animada. Por um momento foi como se nada tivesse mudado, e como se eu não tivesse com um enorme problema para resolver. Guilhermo estava feliz, Julia estava feliz, e vê-los assim de certa maneira me acalmava. Mas, a imagem de Fernando entrando no restaurante acompanhado de uma mulher não saía da minha cabeça. A coincidência ou má sorte disso ter acontecido depois de tantos anos ainda me perturbava. Durante todo o tempo eu implorava para que ele tivesse desistido e simplesmente voltasse para a capital, mas, pelo que notei, ele estava apreensivo e provavelmente furioso. E se eu bem me lembro, Fernando não desistia tão fácil.

- Acabou o vinho! – Um dos funcionários gritou.

- Eu vou buscar mais! – Disse Guilhermo.

- Eu busco. – Falei. – Não quero que interrompa sua diversão. – Brinquei e ele sorriu.

               Segui para a saída a fim de buscar mais vinho na adega, que tinha a entrada do lado de fora do restaurante. Assim que saí, virei à direita em direção a porta da adega, quando ouvi alguém se aproximar. O barulho dos passos sobre o cascalho me fez virar, esperando que fosse algum cliente desavisado que não soubesse que o restaurante estava fechado. Mas, assim que me virei, prendi minha respiração. Meus batimentos se aceleraram e eu o olhei perplexa. Ele me encarava da mesma maneira, mas com uma diferença: Parecia prestes a explodir. Ele parou em minha frente, e sem dizer nada, continuou me olhando. Eu ainda não acreditava que ele estava mesmo ali, mas precisei dizer algo para não ficar com cara de boba em sua frente.

- O que está fazendo aqui? – Perguntei com a voz embargada.

- O que eu estou fazendo aqui? – Ele perguntou, sorrindo sarcástico. – Eu quem pergunto, Letícia. O que você está fazendo aqui?

               Ouví-lo pronunciar meu nome com tanto rancor me fez sentir algo que eu não sentia há muitos anos. Eu jamais esperava que aquele momento fosse acontecer, e não sabia o que fazer. Eu só queria sair de sua frente, enquanto eu ainda conseguia me controlar.

- Eu não tenho nada para conversar com você. – Me preparei para sair, mas ele segurou em meu braço.

               Sentir o seu toque me fez acreditar que aquilo era mesmo real. Até então parecia um pesadelo, daqueles que não conseguíamos acordar mesmo que quiséssemos. Mas, estava mesmo acontecendo. Fernando Mendiola estava em minha frente, depois de seis anos.

- Você me deve explicações. – Disse calmamente, mas com certo rancor em sua voz.

- Não devo nada à você. Por favor, vá embora.

- Então acha que é simples? – Embora estivesse escuro e apenas a imensa lua iluminasse o local onde estávamos, eu consegui notar seus olhos vermelhos. – Acha que agora que eu a encontrei eu simplesmente vou fingir que não a conheço e vou continuar minha vida? Foram seis anos, Letícia! Seis malditos anos que você arrancou de mim! Você simplesmente me abandonou sem explicações, e agora aparece com uma filha e com... Um... – Ele não terminou sua frase.

- Você não tinha o direito de conversar com Julia! – Falei nervosa.

- Isso não vem ao caso, droga! – Ele aumentou a voz, soltando meu braço. – Como você pode ser tão fria à esse ponto? Como você pode achar que eu sou um simples intruso e que não mereço uma explicação pra tudo que aconteceu?

- Fernando, eu não lhe devo satisfações da minha vida!

- NÃO É SUA VIDA, LETÍCIA! ESSA NÃO É A SUA VIDA!

- É A MINHA VIDA HÁ SEIS ANOS!

- E VOCÊ ACHA QUE VAI FICAR POR ISSO MESMO? VOCÊ RESOLVE ADOTAR UMA NOVA VIDA, E ACHA QUE EU NÃO MEREÇO NEM MESMO UMA EXPLICAÇÃO?

- EU NÃO TENHO MAIS NADA PARA TE DIZER, FERNANDO!

               Respiramos ofegantes depois de tanto gritarmos um com o outro, até que ele passou a mão em seu rosto e me olhou magoado.

- Vá embora, por favor! – Repeti, mas dessa vez mais decidida.

               Ele continuou me olhando e percebi quando seus olhos encheram-se de lágrimas. Tive que me segurar para ser forte em sua frente, mas eu não sabia até quanto conseguiria me segurar. Durante aqueles anos eu mudei, e me tornei uma mulher forte. Mas, aquela era uma prova de fogo, e eu não sabia se conseguiria passar por ela.

- Eu vou... – Ele disse, enfim. – Mas eu não vou embora daqui enquanto você não me der uma explicação. Eu mereço isso, depois de tantos anos. Você pode ter uma vida nova, pode ter uma nova família, mas sabe que eu mereço saber o que aconteceu. Mesmo que você seja tão egoísta.

               Eu queria respondê-lo e começar uma nova discussão, mas não tive tempo. Assim que disse isso, Fernando virou-se e caminhou para longe de mim. Quando ele já estava longe o suficiente, me escorei à parede do restaurante e perdi todas as forças. Chorei. Chorei como não chorava há um tempo, não por falta de vontade, mas por conseguir me controlar. Mas, era impossível conseguir me controlar depois disso. Eu precisava desabafar de alguma maneira, e chorar era a melhor opção.

 

 

•••

 

FERNANDO

 


Si me das la espalda, si me ahogas la verdad.
Si tus ojos no me dan la calma, se me queda el mundo atras.
Y si me das la espalda, si me niegas respirar.
Mi amor se queda igual

 

 

               Voltei ao hotel completamente atordoado. Pensei que conversar com Letícia depois de todos aqueles anos, de certa forma fosse me deixar melhor. Afinal, por mais que ela não me desse uma explicação para tudo que aconteceu, eu estava aliviado por tê-la encontrado. Mas, depois de nossa rápida discussão, eu estava ainda pior. Não conseguia entender o que havia feito de errado para que ela me tratasse com tanta frieza.

- Fernando. – Isabela abriu a porta do seu quarto e me olhou. – Você foi até lá?

- Fui. – Respondi.

- E como foi? Ela quis conversar?

- Não exatamente. Nós... Tivemos uma... Discussão.

               Ela me olhou com pesar.

- Podemos conversar aqui no meu quarto?

- É claro.

               Abri a porta e Isabela veio ao meu encontro, adentrando o quarto. Fechei a porta e ela seguiu até a cama, sentando-se.

- Eu disse que queria uma explicação para o que aconteceu, e ela se negou. Disse que não deve satisfações da sua vida para mim.

- Oh não... – Isabela suspirou. – Mas, você insistiu?

- É claro que sim! Eu disse que ela arrancou seis anos da minha vida, e que eu merecia ao menos uma explicação para isso. Mas, não adiantou. Ela continuou negando com toda a frieza.

               Andei de um lado para o outro.

- É como se eu não a reconhecesse mais. Ela mudou tanto... Parece tão... Fria.

- Foram seis anos, Fernando. As pessoas mudam.

- Eu continuo o mesmo.

- Tem certeza?

               Não. Eu não tinha certeza.

- Eu só queria saber o que eu fiz de errado. Há seis anos atrás. O que eu fiz de errado para ela me deixar e me tratar com tanto rancor assim? Eu nunca a traí, eu nunca nem sequer dei motivos para ela pensar isso. Ela me trata como se eu tivesse feito a pior coisa do mundo, mas... Eu simplesmente não sei o que fiz!

- Vocês não discutiram nesse mesmo dia? Você não disse... Algo sem pensar?

- Não. – Me sentei pesadamente ao seu lado. – Estávamos muito bem, como todos os outros dias. De repente ela ficou diferente, enquanto ainda estávamos no trabalho, e pediu para sair mais cedo. E quando cheguei em casa... – Me deitei à cama, colocando as mãos no rosto.

- Olha... É tudo muito assustador para os dois. Se foi assustador para você vê-la naquele restaurante, para ela também esta sendo. Eu tenho certeza que ela vai se acalmar e vai aceitar contar tudo à você. Só precisa de... Um pouco de calma. Não pode fazer as coisas afobado assim.

               Respirei fundo e tirei as mãos do rosto, voltando a me sentar.

- Então... Eu volto lá amanhã?

- Você não tem nada a perder.

- Apenas minha dignidade, mas acho que isso já perdi há muitos anos depois de passar tanto tempo chorando por ela, enquanto ela estava feliz aqui com sua nova família.

- Não diga isso. Ninguém sabe o que o outro passou ou está passando.

- Eu sei que a vida dela foi muito melhor que a minha.

               Isabela não disse mais nada. Apenas continuou ali ao meu lado, em silencio. Era tudo o que eu precisava. Silencio e alguém para não me deixar sozinho. Eu já não suportava mais ficar sozinho.

 

•••

 

30 DE DEZEMBRO

 

               Isabela conseguiu me convencer a voltar no restaurante no dia seguinte. Eu já não sabia mais se estava fazendo a coisa certa ou papel de bobo, por insistir tanto em conversar com alguém que simplesmente me queria longe dali. Mas, eu jamais conseguiria continuar a minha vida sem receber uma explicação de Lety. Se eu tivesse realmente feito algo tão horrível à ponto dela me abandonar sem alguma explicação, eu assumiria isso, e passaria o resto da minha vida me sentindo culpado.

               Quando cheguei à entrada do restaurante, logo avistei Letícia e sua filha brincando com as flores mais à frente. As duas sorriam e pareciam ter uma relação muito forte. Por um breve momento achei aquilo injusto. Passei seis anos da minha vida trancado no apartamento, querendo me isolar de tudo e de todos, e enquanto isso Letícia estava bem o suficiente para conseguir formar uma família. Quanto tempo será que ela demorou para conhecer aquele homem? Quanto tempo levou para ela conseguir me tirar dos seus pensamentos? Julgando pelo tamanho da garota, não havia demorado muito tempo para que ela fizesse isso. Letícia teve uma família para chamar de sua, que a ajudou a superar seja lá o que tenha feito-a ter tanta raiva de mim. E tudo o que eu fiz naqueles anos foi desejar que Letícia e eu pudéssemos ter formado uma família juntos.

- Olha, mamãe! É o seu amigo! – A garota apontou para mim e enfim Letícia me olhou, levantando-se. – Oi, Fernando! – Ela correu até mim.

- Olá. – Sorri olhando-a.

- Estávamos escolhendo flores para enfeitar as mesas do restaurante. Você quer nos ajudar?

               Ela era ainda mais parecida com Lety do que eu imaginava. Os cabelos negros estavam presos dos dois lados da cabeça, e eu pude notar mais uma vez o quanto elas se pareciam. Não soube o que responder à ela, e por sorte Letícia se aproximou, acariciando os cabelos dela.

- Filha, por que não vai lá dentro ver se precisam da sua ajuda?

- Está bem! Tchau, Fernando!

- Até mais.

               Ela correu animada em direção ao restaurante e Letícia e eu a olhamos. Ambos estávamos sorrindo. Assim que ela desapareceu de nossas vistas, Letícia virou-se para mim e ficamos um tempo em silencio. Pensei que a qualquer momento ela fosse me pedir para ir embora, e mais uma vez me dissesse que não me devia satisfações, mas ela começou a caminhar na direção contrária em que estávamos, e eu a acompanhei. Demos alguns passos ainda em silencio, até que ela foi a primeira a quebrá-lo.

- Como você me encontrou?

- Eu não estava te procurando. – Falei rapidamente.

- Não pode ter sido uma simples coincidência.

- Mas foi. Acredite ou não.

               Novamente ficamos em silencio, e eu não consegui me conter. Precisava insistir em uma explicação. Era tudo o que eu queria naquele momento.

- Você tem certeza que não vai me dizer nada? – Perguntei sem olhá-la. – Acha mesmo que eu não mereço isso?

- Não. – Respondeu com certa frieza. – Eu já disse à você tudo o que eu precisava.

- Isso é sério? – Parei de caminhar e a olhei. – Como consegue ser tão fria assim? Quando se tornou tão fria assim?

- Fernando, esqueça isso. – Embora parecesse calma, suas palavras eram frias e me cortavam por dentro. – Nós temos uma nova vida agora. Ambos seguimos nossos caminhos. Isso é passado.

               Eu preferia não ter escutado aquilo. Foi como se todos aqueles anos voltassem para mim de uma vez, e todo o sofrimento e angústia que senti caísse por cima de mim, me impedindo de dizer ou fazer qualquer coisa. Afinal, o que eu esperava? Que depois de seis anos Letícia ainda pensasse em mim como eu pensava nela? Foi ela quem me abandonou, e obviamente ela não se importava com isso. Não mais. Olhei para o restaurante e vi sua filha sentada ao lado do seu provável marido. Os dois riam juntos e pareciam se dar tão bem quanto Letícia e ela. Senti o meu coração partir ao ver aquilo, e não pude deixar de imaginar que era para ser eu no lugar dele. Ao menos eu desejava isso profundamente.

- Ela parece ser uma boa menina. – Falei colocando as mãos ao bolso.

- Sim. Ela é. – Respondeu com certo rancor. – Fernando, posso te pedir uma coisa?

               Não respondi. É claro que ela não estava no direito de me pedir nada, mas achei melhor não discutir.

- Não envolva Julia nisso, por favor. Esse assunto cabe apenas à nós dois, e não quero que ela se envolva nisso.

- Eu não tive a intenção de fazer isso. – Respondi irritado. – Não precisa pensar o pior de mim.

- Não foi o que eu disse.

- Achar que eu vou envolver uma criança que não tem nada a ver com isso? Parece que foi sim o que disse.

               Ela não respondeu. Apenas cruzou os braços e desviou o olhar.

- Não precisa me tratar assim, Letícia. Você não foi a única que seguiu sua vida. Foram seis anos.

               Ela voltou a me olhar.

- Bom... Parabéns por isso. – Respondeu com certa ironia.

               Eu não sei por que disse que tinha seguido minha vida, quando na verdade minha vida continuava a mesma de sempre. Exceto pelo fato de eu ter passado tantos anos me isolando. Mas, eu queria que ela pensasse que eu estava tão bem quanto ela estava, e que não tinha passado todos aqueles anos sofrendo sua ausência.

- Preciso voltar para o restaurante.

               Antes que ela se afastasse, segurei seu braço e ela abaixou a cabeça sem me olhar.

- Só me responda uma coisa... – Falei calmamente. – Você realmente me esqueceu durante esses anos?

               Demorou um tempo, e por pouco pensei que ela não responderia.

- Sim. – Respondeu ainda de cabeça baixa.

- Então diga isso olhando nos meus olhos.

               Ela ergueu a cabeça e me olhou. Nossos olhares se cruzaram e eu percebi os seus enchendo-se de água. Se ela conseguisse dizer isso olhando nos meus olhos, eu a deixaria em paz, para sempre. Mas, Letícia soltou-se de minha mão e me deu as costas, voltando para o restaurante. Aquilo não era uma certeza, mas eu não desistiria de saber o que aconteceu para nossa história chegar ao fim. Continuei alguns minutos parado em frente o restaurante, até me virar pronto para ir embora.

- Hey!

               Ouvi alguém me chamar e me virei. Era o homem que acompanhava Letícia. Seu provável marido e o pai de sua filha.

- Como vai, Fernando?

               Era óbvio que ele sabia quem eu era.

- Bem. – Respondi sem dar muita atenção.

- Muito prazer. Sou Guilhermo.

               Não respondi. O que ele queria comigo?

- Posso fazer uma pergunta? – Ele se aproximou.

- Sim.

- O que quer com a Lety?

               Mas que pergunta idiota!

- Desculpe. Esse assunto cabe apenas a Letícia e eu.

- Entendo. Bom... Ela já me contou tudo sobre vocês, então de certa forma eu posso imaginar o que você quer com ela.

               Então por que perguntou?

- Que bom. – Respondi com frieza. – Espero que sejam muito felizes.

- Nós seremos.

               A minha vontade era de socar a cara daquele homem, mas eu consegui me controlar. Ele não merecia esse gostinho, e nem Letícia. Assim, ela saberia que eu ainda me importava com ela, e por mais que isso fosse verdade, ela não precisava saber. Não mais.

 

 

•••

 

LETÍCIA

 

               Guilhermo e eu estávamos sentados nos degraus da escada de entrada. Julia já havia adormecido, e pudemos conversar à vontade, sem nos preocuparmos se ela iria escutar.

- Acha que amanhã ele irá voltar ao restaurante? – Guilhermo perguntou.

- Não. Acho que não.

- Ele tem ido lá há dois dias.

- Ele não vai mais.

- Como tem tanta certeza?

- Eu não tenho. Só que uma hora ele vai desistir.

- Eu acho que não.

               O olhei.

- Você ainda não conversou com ele como deveria.

- E nem vou.

- Então ele vai continuar indo atrás de você.

               Não respondi.

- Ele ainda está magoado, Lety. E isso é notável. Ele não vai descansar enquanto não disser à ele o que aconteceu.

- Não cabe a mim fazer isso.

- Cabe sim.

- Eu estive magoada por todos esses anos! E eu não pretendo voltar atrás na minha decisão.

- Eu só quero que você seja feliz. Não quero vê-la sofrer.

               Sorri agradecida e segurei sua mão.

- Mas eu sou feliz.

               Ele retribuiu o sorriso e me puxou para um abraço. Ao menos eu pensava que era feliz.

 

 

•••

 

FERNANDO

 

31 DE DEZEMBRO

 

               Eu já não tinha mais o que fazer naquele lugar. Isabela não podia me fazer companhia por ter que trabalhar, mesmo naquele dia. As ruas estavam movimentadas e provavelmente a única preocupação do restante das pessoas era o que fariam na virada do ano. Algumas pessoas faziam compras para festas, outras vendiam ingressos para shows que haveriam na orla. Isabela insistiu para que fizéssemos algo, mas ainda não tínhamos combinado. Eu não estava no clima para comemorações, mas também não queria que ela se isolasse por minha causa. Ela já havia tomado as minhas dores por muitas vezes, e eu devia isso à ela.

               Pela manhã, achei melhor dar uma volta aos arredores do hotel, na esperança de conseguir espairecer e me animar ao menos um pouco para encarar uma festa de fim de ano. Por mais que as pessoas em minha volta estivessem animadas, eu não conseguia me juntar à elas. Encontrei uma praça no caminho e decidi dar uma volta por ela. Me sentei em um dos bancos e olhei para as crianças que se divertiam nos brinquedos.

 

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- Três. – Letícia disse enquanto acariciava os cabelos de Fernando.

- Quatro.

- Quatro é demais! – Ela riu.

- Mas eu quero uma casa cheia. – Ele ergueu a cabeça para olhá-la.

- Três já é suficiente, não acha?

- Talvez... Mas ainda acho pouco.

- Não somos coelhos. – Ela riu.

- Está bem. Serão então duas meninas e um menino. Precisamos de alguém para vigiá-las enquanto eu não estiver.

- Você já está sendo possessivo? – Gargalhou.

- É claro! Acha que vou deixar qualquer um se aproximar das minhas filhas?

- Está bem. Duas meninas e um menino.

- Os nomes. Precisamos pensar nos nomes.

- Primeiro eles precisam ser concebidos, e depois pensarmos em um nome.

- Teremos uma menina primeiro.

- Ora, você é um vidente por acaso? – Ela brincou e ele se levantou, sentando-se ao lado dela na cama.

- Eu sei que teremos.

- Você me assusta quando diz essas coisas com tanta certeza.

- Podemos pensar em um nome para ela.

- Qual nome você gosta?

- São tantos...

- Eu também. Não consigo pensar em um agora.

- Mas, tem um que eu gosto mais.

- Qual?

- Helena.

- O nome da sua avó?

- Sim. Acha que seria muito bobo da minha parte querer homenageá-la?

- É claro que não. – Letícia sorriu carinhosa. – É lindo! Eu gosto de Helena.

- Então, decidimos. Nossa filha se chamará Helena.

- Sim, decidimos.

               Fernando a olhou apaixonado e se inclinou sobre ela.

- Não vejo a hora de ter uma filha sua. – Ele sorriu, olhando-a com ternura.

- E eu também não vejo a hora. Aliás... Poderíamos começar a treinar agora, o que acha?

- De novo? Acabamos de fazer um treinamento pesado! – Ele riu.

- Está cansado demais para isso?

- Para você? Nunca.

- É claro que é para mim. A não ser que treine com outra pessoa...

- Mas é claro que não!

               Ela gargalhou.

- Estou brincando. Bobo.

- Se dependesse de mim, já a planejávamos agora mesmo.

- Sim. E então sua mãe o deserda por ter me engravidado antes do casamento.

- Já estamos noivos. Que diferença faz?

- A diferença de um “aceito” e um par de alianças.

- Já temos um par de alianças.

- Como você é teimoso! – Ela riu, tocando em seu rosto carinhosamente. – E eu o amo muito!

- Eu também te amo. – Fernando a beijou rapidamente. – Mas... Se quiser mudar de idéia... Não precisaremos mais disso. – Ele pegou o pacotinho de preservativo em cima da cômoda.

               Letícia gargalhou e ele sorriu divertido, voltando a beijá-la.

 

 

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               Me peguei sorrindo enquanto olhava para as crianças brincando na praça. Eu daria tudo para ter tido a oportunidade de formar uma família com Letícia. Eu teria sido o homem mais feliz do mundo. Mas, já não tinha mais a oportunidade. Ela já havia feito isso com outra pessoa. Por coincidência, enquanto pensava nisso, vi Julia brincando com as outras crianças. Procurei por Letícia, que provavelmente estava acompanhando-a, mas não a encontrei. Julia olhou para mim enquanto eu procurava por sua mãe e correu em minha direção, sorridente.

- Olá Fernando! – Ela disse ofegante por estar correndo com as outras crianças.

- Oi. – Sorri. – Você está sozinha? Onde está a sua mãe?

- Nas quintas feiras nós viemos para a praça brincar. Temos uma “babá”

- Inclusive no ano novo?

- Minha mãe tem muito trabalho no restaurante hoje. Acho que ela não se importa.

- E onde está essa babá?

- Ali. – Ela apontou para uma mulher um pouco distante de onde estávamos. Ela mexia em seu celular e parecia não se preocupar com as crianças em sua frente.

- Ótima babá. – Brinquei e ela riu, sentando-se ao meu lado.

- Ela é um pouco louca.

- Notei. Você está conversando com um completo estranho e ela nem notou.

- Você não é estranho. É amigo da minha mãe.

- É verdade. – Sorri.

               Eu não sabia a idade de Julia, mas dava para notar que herdou a inteligência de sua mãe.

- Sua mãe fica todos os dias no restaurante?

               Ainda era estranho dizer “sua mãe” e saber que estávamos falando de Letícia.

- Sim! Todos os dias!

- Estranho... Pensei que por Guilhermo ser dono do restaurante ela não precisasse trabalhar.

- Mas ela insiste. Ela diz que não consegue ficar sem fazer nada.

- É. É exatamente o que ela diria. – Sorri.

 - Como vocês se conheceram?

- Foi há alguns anos...

               Julia parecia interessada na história, e achei que não teria problema contar. É claro, omitindo a parte que nós tivemos um relacionamento e ela simplesmente me abandonou. Ao fim da história de como Letícia e eu nos conhecemos, ela pareceu ainda mais animada e interessada em nossa conversa.

- Ela nunca disse nada sobre você. Pelo menos para mim. – Ela disse.

- É. Eu já imaginei. Talvez Guilhermo não goste de ouvir falar sobre mim.

               Eu simplesmente não conseguia dizer “seu pai”, e ela provavelmente estranhava isso. Mas não era nada fácil para mim ter que admitir que Letícia tinha uma filha com outro homem.

- Talvez. – Ela balançou as pernas no ar, bem distante de conseguir tocar no chão. – Mas, ele não é assim. Ele é muito compreensível e está sempre se esforçando para fazer minha mãe feliz.

               É claro que ela iria defende-lo, e eu não poderia dizer absolutamente nada.

- É melhor assim. – Virei o rosto, voltando a encarar as crianças brincando no parque. – Ela merece ser feliz.

- Muitas pessoas dizem que eles fazem um casal muito bonito.

- É, eu imagino.

- Eu gosto quando estamos juntos. Ele me leva para brincar, me dá presentes... Eu acho muito legal!

- Bom... É o mínimo que ele tem que fazer. Ele é seu pai.

               Julia me olhou no mesmo instante, e voltei minha atenção para ela. Sua feição era confusa e abismada, e eu me preocuparia se ela não tivesse dado uma risada abafada logo depois.

- O que foi? – Perguntei.

               Ela parecia se divertir com o que eu acabei de dizer, e eu não conseguia entender qual era a graça, até ela me jogar uma bomba:

- Guilhermo não é meu pai.

 

 

         


Notas Finais


Bom pessoas, eu parei nesse capítulo no wattpad, então para não deixar vocês ainda mais ansiosas (para quem já tinha lido esse cap), eu postarei o próximo mais tarde. Eu sei, sou muito boazinha. Quero muitos comentários como agradecimento haha ♥


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