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História Igual Que Ayer - Ela se parece muito com você


Escrita por: jaimencanto

Capítulo 7 - Ela se parece muito com você


FERNANDO

 

 

Depois de um dia de trabalho intenso, cheguei em casa jogando o paletó sobre o sofá. Segui direto para o meu quarto e me joguei sobre a cama pesadamente. Olhei por cima da cômoda e um pequeno objeto me chamou a atenção. Peguei a pequena concha rosa sobre o móvel e sorri olhando-a para minha mão. Eu não pensava que fosse tão difícil ficar afastado de Júlia. Não conseguia conter a felicidade de que agora poderíamos nos ver com freqüência. Enquanto olhava para a concha pensativo, senti o meu celular vibrar em meu bolso. Assim que o tirei e olhei para a mensagem que apareceu na tela, senti meu coração disparar inevitavelmente.

*Letícia: Está ocupado?

               Eu deveria esperar ao menos alguns minutos para respondê-la e não parecer desesperado, mas não consegui me conter e logo comecei a digitar.

*Fernando: Não. Aconteceu alguma coisa?

*Letícia: Não, na verdade. Você disse que estava ansioso para ver a Julia.

*Fernando: Sim, estou.

*Letícia: Ela também está ansiosa para te ver. Falou de você o dia todo. Você se importaria de vir até a casa dos meus pais?

*Fernando: Não, é claro que não. Estou indo agora mesmo.

               Não consegui conter a ansiedade.

*Letícia: Ótimo! Vou te mandar o endereço.

               Endereço? E desde quando eu precisava de endereço para saber onde os pais de Letícia moravam? Eu sabia o caminho de cor.

*Letícia: Esqueci de dizer que eles estão morando em outro lugar agora.

               Ah...

*Fernando: Tudo bem.

               Me levantei rapidamente e fui tomar um banho. Assim que saí ainda enrolado à toalha conferi duas novas mensagens de Letícia no meu celular. Uma com o endereço, e outra que dizia que Julia estava ansiosa. Eu também estava, mas não apenas para rever Julia. Desde quando voltei à capital, Letícia não saiu dos meus pensamentos, para variar. Embora eu estivesse magoado e decepcionado com ela, eu não conseguia parar de pensar nela um minuto sequer.

 

 

•••

 

 

 

               Fernando avistou Márcia e Omar caminharem em sua direção e se levantou, esperando eles se aproximarem. Assim que o avistaram, sorriram animados e o cumprimentaram com um forte abraço.

- Quanto tempo, maninho! – Omar dizia batendo nas costas de Fernando.

- Não foi tanto tempo assim. – Márcia comentou.

- Que falta de consideração. – Fernando a olhou.

- Está bem. Agora, você tem muita coisa para nos contar.

- Sentem-se.

               Os três sentaram à mesa e Fernando pediu ao garçom três sucos.

- Então... – Omar o olhou. – Como está a vida de pai?

               Fernando sorriu orgulhoso.

- Estou ansioso para elas se mudarem logo.

- Ansioso porque sua filha vai morar perto de você ou porque ela vem acompanhada da mãe dela? – Márcia o provocou e Fernando torceu a boca.

- Vocês tem se falado? – Omar perguntou.

- Quem?

- Oras... Você e sua filha.

- Ah! Sim! Eu ligo para ela todos os dias.

- E ela está ansiosa? – Márcia perguntou.

- Muito. – Fernando disse animado. – Ela também não vê a hora de mudar.

- Ela já te chama de pai?

- Acho que ainda é muito cedo para isso.

- Aposto que você vai chorar quando ela te chamar de pai.

- Cala a boca. – Fernando riu.

- Olha só pra ele. Já fica todo abobado falando dela. – Márcia riu.

- É, maninho... O seu sonho se tornou realidade.

- É, mas não do jeito que eu queria. – Fernando suspirou triste.

- Ah, não fica assim! – Márcia disse. – Ser pai era um sonho seu.

- É claro, e pegar minha filha no colo logo quando ela nasceu também.

               Márcia e Omar se olharam.

- E como seus pais reagiram? – Omar perguntou.

- Ah... Como era de se esperar. Meu pai ficou surpreso, mas por fim me apoiou. Disse que assim que elas chegarem ele quer conhecê-la.

- E sua mãe? – Márcia perguntou curiosa.

- É obvio que não ficou satisfeita. Mas acho que com o tempo ela se acostuma.

- Até porque a garotinha não tem culpa, não é?

- Não. Nós sabemos muito bem de quem é a culpa.

- Ah, Fernando. Não fala assim! Você ainda não sabe os motivos dela ter feito isso.

- Nada justifica, Márcia.

               Ela preferiu não responder. Fernando ainda estava claramente magoado, e nada do que ela dissesse mudaria isso.

- Enfim... Nos conte sobre a Julia. Já vimos que mal está se segurando de vontade de falar tudo sobre ela.

               Fernando sorriu satisfeito. De fato ele estava ansioso para dizer tudo o que sabia sobre Julia, e todos os seus planos para ela.

 

 

-----------------------------

 

 

               Cheguei ao endereço enviado por Letícia e parei o carro de frente à um enorme muro. Um lugar totalmente diferente de onde os seus pais moravam anos atrás. Desci do carro e toquei o interfone que estava ao lado do portão. Ouvi uma voz feminina atender e me identifiquei. Logo o portão se abriu e eu entrei, observando o lugar à minha volta. Assim que coloquei os pés para dentro do portão, notei um enorme jardim com várias flores e plantas espalhadas por ele. Dona Julieta sempre gostou de flores e plantas, e aquele lugar combinava muito bem com ela.

               Mas, chamando ainda mais minha atenção, avistei Julia brincando mais ao fundo. Assim que ela me viu, gritou meu nome e correu em minha direção. Sorri animado e me abaixei abrindo os braços, pronto para envolvê-la em um abraço. Ela pulou em meu pescoço e eu a carreguei enquanto a abraçava. Estava me sentindo aliviado por abraçá-la depois de pouco mais de um mês que não nos víamos, e só então percebi que senti mais falta do que eu imaginava.

- Como você está? – Perguntei ainda abraçando-a.

- Muito bem! – Respondeu animada.

               A coloquei no chão e ela logo segurou minha mão, me puxando pelo jardim a fora.

- Sabia que agora vamos morar aqui? Só por um tempo, é claro! Mas não é legal?

- Sim! Muito legal!

- Vem, eu vou te mostrar o jardim.

               Logo avistei Seu Erasmo com toda a sua seriedade parado no centro do jardim. Engoli seco e minhas mãos começaram a suar. Eu sempre tive um certo “medo” de Seu Erasmo, desde quando Lety e eu estávamos juntos. Mas, naquela situação, eu estava ainda mais tenso por revê-lo depois de tanto tempo. Mesmo que eu não tivesse motivos para isso. Afinal, não fui eu quem abandonou Lety e escondeu uma filha dela por seis anos. Foi o contrário.

- Fernando... – Ele disse sério, esticando sua mão para mim.

- Como vai, Seu Erasmo? – Apertei sua mão tentando não parecer tão tenso.

- Estou bem.

- Que bom!

- Fernando, o meu avô estava me ensinando uma brincadeira nova, você quer aprender?

- É claro. Mas... Onde está sua mãe?

- Ali. – Ela apontou para a entrada da casa, onde Lety e Dona Julieta vinham em nossa direção. Acompanhadas de... Guilhermo.

- Eu não sabia que ele viria. – Deixei escapar com certa surpresa.

- Elas precisavam de ajuda com a mudança e ele se ofereceu. – Respondeu Seu Erasmo.

               Eu poderia ter feito isso.

- É um bom rapaz.

               Senti certa provocação em sua frase, mas achei melhor não demonstrar incômodo. O clima já estava muito tenso para isso.

- Quanto tempo, Fernando. – Dona Julieta disse ao seu aproximar.

- É... Muito tempo. – Respondi sem saber se a cumprimentava ou não. Optei pela segunda opção, já que ela não parecia muito feliz em me ver.

- Como está?

- Bem. E a Senhora?

- Bem, também.

               Eu gostaria muito de saber por que os pais de Letícia estavam me tratando com tanta frieza. Claramente não ficariam contra a própria filha mesmo depois de tudo o que ela fez, mas era como se eles me culpassem por alguma coisa, sendo que a única coisa que fiz todos aqueles anos foi buscar por notícias de Lety. Ao menos até eles trocarem de telefone e eu não manter mais contato com eles.

- Oi. – Letícia disse.

- Oi. – Respondi no mesmo tom. – Guilhermo...

- Como vai, Fernando? – Perguntou ele.

- Bem.

               Eu já estava cansado de dizer que eu estava “bem”. O clima estava um tanto quanto pesado, e obviamente todos já tinham notado aquilo. Se eu soubesse que seria assim, teria me encontrado com Julia em outro lugar.

- Você quer aprender a brincadeira agora? – Julia perguntou, quebrando o silencio.

- É claro. – Sorri.

- Vem, eu vou te ensinar.

               Julia me puxou pela mão, me afastando de todos. De certa forma me senti aliviado por não ter que ficar naquela cúpula de frieza, mas eu não conseguia parar de olhar para Letícia, e principalmente para Guilhermo que estava sempre ao seu lado.

 

 

 

•••

 

 

LETÍCIA

 

 

               Enquanto ajudava minha mãe a preparar o café, não pude deixar de notar como Fernando e Julia estavam se dando bem. Eu os observava pela janela da cozinha enquanto brincavam no jardim, e davam gargalhadas juntos. Eu conseguia notar o quanto Julia estava feliz, e ultimamente, o motivo dessa felicidade era estar com Fernando, ou até então, receber alguma ligação dele. Desde que foi embora do litoral, não passou um dia em que ele não ligasse e conversasse com ela, e isso sempre a deixava feliz e animada para que mudássemos para a capital o mais rápido possível. Julia costumava ser uma criança bastante feliz, e qualquer um conseguia notar isso. Mas, eu não poderia negar que era notável que ela estava muito mais feliz agora.

- Ele se dá muito bem com ela. – Minha mãe comentou parando ao meu lado.

- Sim. – Sorri abobada enquanto os olhava.

- Ah... Quanto tempo eu não a via sorrindo. – Guilhermo comentou divertido, entrando na cozinha.

- Eu não estou sorrindo. – Desviei o olhar, voltando a lavar as louças.

- Você não precisa mentir. – Guilhermo riu, se aproximando da janela. – Ele é um bom pai para ela.

- Ele ainda precisa saber muita coisa sobre ela. – Comentei sem tirar a atenção das louças.

- Não precisa julgá-lo tanto, Lety... Não é culpa dele.

- Então de quem é? – Perguntei irritada, olhando-o. – Quem se recusou a ler a carta onde eu explicaria sobre a minha gravidez foi ele! Ele se negou a conversar comigo e também a me procurar. Então, ele não ter conhecido Julia antes foi por inteira culpa dele!

               Guilhermo e minha mãe me olharam.

- Não estou defendendo ele... – Guilhermo disse carinhoso. – Só acho que deveria dar uma segunda chance para ele fazer a coisa certa. Ele está se esforçando para isso.

               Ele se aproximou e beijou o topo da minha cabeça.

- Eu preciso ir. Vou voltar para o hotel e descansar um pouco.

- Tem certeza que não quer ficar? – Perguntei olhando-o. – Tem um quarto a mais que você pode dormir.

- Obrigado, mas você tem muita coisa para resolver. – Sorriu. – Além do mais, não me importo de ficar em um hotel.

- Bom... Tudo bem então.

- Nos vemos depois.

- Certo.

- Até logo, Dona Julieta.

- Vá com Deus, meu filho. – Minha mãe se despediu.

               Guilhermo piscou para mim e saiu da cozinha, nos deixando a sós.

- Sabe que ele tem razão, não é? – Minha mãe disse tirando a louça das minhas mãos.

- Mas, eu...

- Vá até lá. – Minha mãe disse autoritária.

               Suspirei revirando os olhos e saí da cozinha, indo em direção ao jardim. Eu não conseguia entender minha mãe. Ao mesmo tempo em que ela dizia para que eu tomasse cuidado para não me machucar mais uma vez, ela parecia insistir para que eu e Fernando tivéssemos uma boa relação. É claro, isso era uma preocupação com Julia, e obviamente nós não poderíamos continuar nos alfinetando perto dela, como fizemos no litoral. Mas, como ter uma boa relação com ele sem lembrar de todos os momentos que passamos juntos?

- Olha mamãe! – Julia exclamou quando me viu aproximar. – Fernando me ensinou a virar estrelinha.

- É mesmo? – Perguntei empolgada.

- Olhe só.

               Julia colocou as mãos no chão e esticou as pernas, girando o corpo e parando de pé logo depois.

- Viu só?

- Muito bem, meu amor! – Bati palmas animada. – Logo você ficará craque nisso!

- Ah, mamãe... Eu posso entrar nas aulas de ginástica? Por favor, por favor!

               Fazer tudo para Julia era a minha meta para a vida. Eu não queria negar nada à ela, e sempre que pudesse, faria tudo para vê-la feliz. Mas, naquela situação, sem emprego e morando na casa dos meus pais, infelizmente eu não poderia fazer tudo.

- Nós... Conversamos sobre isso depois. – Forcei um sorriso.

- Julia! – Minha mãe gritou da janela da cozinha. – Os biscoitos estão prontos.

- Oba! Biscoitos! – Julia pulou. – Fernando, você quer comer biscoitos?

- Eu vou em um minuto. – Ele sorriu.

               Julia saiu correndo em direção à casa e eu sorri olhando-a.

- Ela parece animada. – Fernando comentou, sentado ao banco que estava na sombra.

- É, ela está. – Falei me sentando ao lado dele.

- É uma bela casa.

               O olhei.

- A dos seus pais.

- Ah... Sim. Eu esqueci de comentar que eles haviam se mudado.

- Fizeram um bom negócio.

- É. Eles sempre quiseram um lugar maior, e com o dinheiro que eu recebia trabalhando com Guilhermo eu consegui ajudá-los a comprá-la.

- Eu me lembro que você sempre falava que quando pudesse os ajudaria a comprar uma casa maior.

- Sim. – Mordi o lábio inferior, tentando não lembrá-lo que ele me apoiou totalmente, e disse que me ajudaria com isso.

               Ficamos alguns minutos em silencio, até que Fernando o quebrou tocando no assunto que sempre iniciava nossas discussões.

- Você não vai mesmo me contar o que aconteceu?

               Sem olhá-lo, dei um longo suspiro.

- Talvez um dia.

               Para a minha surpresa, ele não insistiu. Ouvimos as gargalhadas de Julia vindas de dentro de casa e eu tomei um tempo para olhá-lo. O tempo havia feito bem para ele, e embora não tivesse mudado muita coisa, alguns fios grisalhos cresciam nas laterais do seu cabelo, o que o deixava ainda mais charmoso. Sempre achei Fernando um homem muito bonito, e mesmo depois de tudo o que passamos, eu continuava tendo esse pensamento.

- Eu queria saber tudo sobre ela. – Ele disse olhando em direção à casa. – Sobre a Julia.

- Bom... Ela é alérgica a nozes. Sua comida preferida é espaguete, e sua cor preferida é vermelho. Ela não gosta de assistir desenhos bobos, mas adora assistir documentários do Discovery channel. Ela ocupa o tempo livre desenhando ou lendo alguma coisa, mas também adora quando alguém lhe conta uma história. Por isso é tão curiosa. – Sorri e Fernando riu.

- Bom... Temos algumas coisas em comum pelo visto. Também adoro espaguete e sou alérgico à nozes.

- Eu sei. – Falei sorrindo. – Ela se parece com você mais do que imagina.

- É? – Ele me olhou. – Como o que?

- Ela é bem teimosa quando quer. Gosta de ajudar os outros e se importa muito com os problemas alheios. Por isso está sempre tentando ajudar as pessoas. E é muito carinhosa.

               Ele sorriu satisfeito e desviou o olhar.

- Ela se parece muito com você na aparência também. – Falei.

- Acho que temos sim uma semelhança. Mas acho que ela parece mais com você.

- É porque você não viu quando ela era mais nova.

               Droga. Não era para ter dito isso. Notei que o sorriso dele diminuiu e que seu olhar ficou perdido enquanto ele encarava o chão. Por mais que eu ainda achasse que de certa forma ele tinha culpa por não ter conhecido Julia desde quando ela nasceu, eu não me sentia bem ao falar sobre isso com ele.

- Você quer ver algumas fotos dela? – Tentei amenizar o que eu havia dito.

               Fernando me olhou e sorriu de lado. Aquele sorriso ainda conseguia fazer o meu coração disparar.

- Eu adoraria.

 

 

-----------------------------------

 

 

               Letícia olhava para sua filha em seus braços e não conseguia parar de sorrir. Guilhermo estava ao seu lado, assim como seus pais. Eles foram as únicas pessoas que ficaram ao lado dela durante as cinco longas horas de trabalho de parto. Mas, mesmo que estivesse totalmente agradecida à eles e feliz por tê-los ao seu lado, ela sentia falta de alguém. Embora a mágoa ainda fosse grande, Lety daria tudo para ter Fernando ao seu lado, segurando sua filha pela primeira vez. Ela imaginou o quanto ele ficaria feliz ao vê-la, e com certeza ficaria emocionado ao saber que se tornara pai de uma princesa linda, e que se parecia tanto com ele.

- Já escolheu o nome? – Guilhermo perguntou olhando para as duas.

- Sim. – Lety disse sem tirar os olhos de sua filha. – Vai se chamar Julia.

               Sua mãe sorriu emocionada e Erasmo a abraçou, tambem contente.

- Julia Helena.

- Helena? – Julieta perguntou. – Por quê?

               Lety tinha os seus motivos para colocar aquele nome em sua filha, mas seus pais não precisavam saber. Na verdade, ninguém precisava saber. Ela apenas se sentiria bem por homenagear uma pessoa especial que ela não chegou a conhecer, mas que de certa forma fazia parte da vida de Julia.

- Eu gosto de Helena. – Ela os olhou. – Não gostaram?

- É lindo! – Guilhermo sorriu, e também seus pais.

- Eu também achei. – Julieta disse.

- Então assim será. – Lety acariciou o rosto de sua filha recém nascida. – Julia Helena.

- Eu acho que vou tomar um café. – Erasmo disse. – Vocês querem alguma coisa?

- Não, obrigado. – Guilhermo sorriu.

- Eu vou com ele. – Disse Julieta.

- Eu cuido das duas. – Ele disse, sentando-se ao lado de Lety.

- Obrigada.

               Os dois saíram, deixando Letícia e Guilhermo a sós.

- Ela é tão linda... – Ele comentou ao lado de Lety.

- Sim! – Letícia sorriu. – E acredite ou não, ela se parece muito com o pai dela.

- Mesmo?

- Sim. – Letícia o olhou.

- Bom... Vamos torcer para que ela cresça e se pareça mais com você, não é?

               Letícia riu. Sabia que Guilhermo estava brincando, principalmente porque ela dizia para quem quisesse ouvir que Fernando era dono de uma beleza exuberante. Julia se parecer com ele era uma vantagem, e se a medida que crescesse se parecesse ainda mais, então ela seria ainda mais linda do que já era.

- Vai colocar o sobrenome dele? – Guilhermo perguntou e o sorriso de Lety diminuiu.

- Não sei se eu deveria.

- Por que não?

- Simples. Ele não quis saber sobre ela.

- Mas ele continua sendo o pai dela.

               Letícia suspirou.

- Quando ela crescer, vai querer saber quem é o pai dela, e então você vai contar a história. Se ela quiser ir atrás dele, vai precisar comprovar que é filha dele. E ter o sobrenome dele é uma prova muito concreta.

- Você acha?

- Sim! Não precisa dizer à ela que ela se chama Julia Helena Mendiola. Mas...

               Letícia sorriu ao ouvir o nome completo de sua filha. De fato, Julia Helena Padilha Mendiola era um nome forte, assim como sua filha seria.

 

 

 

•••

 

FERNANDO

 

 

               A medida que eu olhava as fotos de Julia, não conseguia parar de sorrir. De certa forma me senti próximo à ela, mesmo que eu não tivesse presente em sua vida naqueles momentos. Ela sempre havia sido uma menina linda, e eu adoraria ter segurado ela nos braços nos seus primeiros dias de vida.

- Não posso negar, ela se parecia muito comigo. – Falei sorrindo.

- Eu disse. – Letícia riu.

- Ela parece ter tido uma infância muito feliz.

- Sim, ela teve. – Letícia se mexeu inquieta no sofá. – Guilhermo e eu sempre fizemos o possível para que ela fosse feliz.

- É, eu notei que ele está em praticamente todas as fotos com ela.

- Eles sempre foram muito grudados.

- Ela nunca quis saber se ele era seu pai, ou algum dia já o chamou de pai?

               Não pude disfarçar o ciúme em minha pergunta.

- Não. Sempre deixamos claro que ele não era seu pai, apesar de se portar como um.

               Fiquei em silencio e continuei olhando as fotos. De repente uma onda de tristeza tomou conta de mim, e eu me senti péssimo por não ter estado presente naqueles momentos. Nos primeiros passos, nas primeiras palavras. Embora estivesse feliz por Julia finalmente estar perto de mim, eu não poderia disfarçar a dor de não tê-la conhecido antes.

- É uma pena que eu não pude conhecê-la antes. – Falei com a voz embargada.

               Percebi quando Letícia me olhou com pesar e aquilo foi o limite para mim. Eu não precisava que ela tivesse pena, principalmente porque ela sabia das conseqüências de ter escondido Julia de mim por seis anos. Fechei o álbum de fotos e me levantei, limpando a garganta.

- Eu preciso ir... – Falei sem olhá-la. – Esta ficando tarde.

               Ela se levantou imediatamente e eu não lhe dei tempo de dizer mais nada. Segui a voz de Julia pela casa e parei à porta da cozinha, onde ela conversava animada com seus avós.

- Eu já estou indo. – Falei forçando um sorriso para ela.

- Mas já? – Julia se aproximou. – Você não vai dormir aqui?

- Não. – Falei rindo. – Eu preciso ir para minha casa.

- Eu posso conhecê-la um dia?

- É claro que sim!

               Ela sorriu.

- Nos vemos amanhã, tudo bem?

- Está bem!

               Ela me deu um forte abraço e eu beijei seu rosto.

- Até mais Dona Julieta, Seu Erasmo.

- Até. – Responderam me olhando.

               Sorri para Julia e me virei, indo em direção à porta. Letícia estava parada, me olhando da mesma maneira que me olhou segundos antes.

- Até logo. – Falei rapidamente, abrindo a porta e saindo disparado. Não esperei que ela dissesse nada. Eu precisava ficar sozinho.

 

 

•••

 

 

               Cheguei em casa e logo me joguei à cama, pegando o celular e lendo uma mensagem de Isabela, que havia sido enviada quando eu estava a caminho de casa.

*Isabela: Como foi? Você a viu?

*Fernando: Sim. Foi tudo bem...

*Isabela: Que bom!

*Fernando: Até eu perceber que perdi tanta coisa da vida da minha filha.

*Isabela: Ah, Fernando...

*Isabela2: Eu sinto muito.

*Fernando: Está tudo bem. Amanhã faremos um passeio, apenas nós dois. Espero que eu me sinta melhor.

*Isabela: Eu também espero!

*Fernando: Eu vou ser o pai que ela merece.

*Isabela: Eu sei que sim!

*Isabela2: Tenho certeza que logo tudo irá se ajeitar.

*Fernando: Assim espero.

*Isabela: Também tenho uma novidade.

*Fernando: Qual?

*Fernando: ????

*Isabela: Adivinha quem reapareceu?

*Fernando: Quem?

*Isabela: O meu ex. Aquele que eu te falei sobre. Pediu para que nos encontrássemos amanhã, e vamos almoçar juntos.

*Fernando: É mesmo? Que ótimo! E como você se sente sobre isso?

*Isabela: Com medo. Muito medo. Mas estou feliz! Finalmente vamos poder conversar sobre o que aconteceu.

*Fernando: Tenho certeza que dará tudo certo!

*Fernando2: Agora eu vou dormir. Estou exausto.

*Fernando3: Boa sorte amanhã.

*Isabela: Você também. Boa noite!

*Fernando: Boa noite!

               Bloqueei o celular e o coloquei sobre a cômoda, tampando o meu rosto com o braço logo depois. Eu estava realmente exausto, e poder finalmente deitar em minha cama e aproveitar o silencio do meu apartamento era relaxante. A ansiedade de passar um dia inteiro com Julia no dia seguinte me fez virar na cama algumas vezes sem conseguir pegar no sono. Eu a levaria para conhecer meus pais, e estava ansioso para ver a reação de todos. Henrique chegaria de viagem no dia seguinte e eu também queria apresentá-la à ele. Tinha certeza que meu pai e meu irmão se dariam bem com ela, mas a atitude de alguém me preocupava. Minha mãe não tinha ficado nada feliz com a notícia, e mesmo que não tivesse sido totalmente sincera como queria, eu percebi que demoraria um tempo para ela se acostumar que Julia era minha filha. Já havia sido uma surpresa para todos eu dizer que reencontrei Lety depois de tantos anos, e ainda mais quando disse que tínhamos uma filha juntos. Eu pensei que minha mãe desmaiaria ali mesmo, mas ela conseguiu se segurar, por incrível que pareça.

               Eu já estava acostumado com suas reclamações sobre Lety e sobre nosso relacionamento, mesmo que aquilo me incomodasse. Mas, de maneira alguma eu permitiria que ela tratasse Julia da mesma maneira. Além dela ser uma criança que não tinha culpa de nada que aconteceu, ela era minha filha, e era meu dever protegê-la até mesmo da minha própria mãe. Eu estava pronto para enfrentá-la se fosse preciso. Pronto para enfrentá-la como deveria ter feito há seis anos.

 

 

-------------------------------

 

 

- Eu já não agüento mais isso, Henrique! Ela está passando dos limites! Mamãe está ficando louca! – Fernando falava andando de um lado para o outro.

- Eu sei disso! E é por isso que estou dizendo que você precisa enfrentá-la. – Henrique disse. – Se você ficar calado, a situação só irá piorar. Já imaginou o quanto é ruim para a Lety ser tão reprovada por ela?

- E é isso o que mais me irrita. Eu não posso deixar que ela fale tão mal da Lety! – Fernando disse nervoso. – Eu sempre fiz tudo o que eles quiseram! Sempre! Por que ela não pode simplesmente aprovar meu casamento com a Lety e pronto?

- Sabe que vai ser difícil, mas você precisa enfrentá-la. – Henrique insistiu.

- Eu concordo. – Disse Omar. – Sua mãe sempre o manipula, Fernando. Precisa colocar um basta nisso.

- Exatamente. – Henrique concordou. - Precisa dar um jeito nisso, irmão!

- Eu vou dar um jeito nisso, Henrique! – Disse Fernando. – Eu não agüento mais isso! Mas como eu vou dizer isso a ela?

- Primeiramente você precisa ser sincero, ou então as coisas só irão piorar.

- Eu sei. Mas... Eu não quero magoá-la.

- Eu sei... Mas mesmo que você a ame muito, precisa ser sincero. Mesmo que isso a magoe.

- Vai ser melhor para nós dois. – Fernando disse. - Eu sei que vai.

- É claro que vai! – Henrique concordou.

- Eu vou falar com ela mais tarde, então. Não vou deixar que ela destrua minha família. Não mesmo!

- É assim que se fala! – Henrique disse.

               Os três mal perceberam que Letícia ouvia atrás da porta, e depois de ouvir metade da conversa, saiu chorando sem sequer saber de quem estavam falando.

- Então quer dizer que você já pensa em sua família? – Omar zombou, quebrando o clima tenso.

- Claro que sim. – Fernando sorriu. – Lety é a minha família, e logo nós vamos oficializar isso. E logo vamos ter filhos, e não quero minha mãe se metendo como está fazendo agora. Ela não vai destruir minha família como está fazendo aos poucos com a dela.

               Henrique balançou a cabeça concordando.

- Vai ser difícil enfrentá-la. – Omar sentou-se à cadeira. – Precisa estar preparado.

- Eu estou. – Fernando disse decidido. – Estou disposto a fazer isso por Lety e por mim.

               Fernando diria tudo aquilo para sua mãe à noite, logo depois de falar com Letícia. Mas, foi então que tudo aconteceu. Ela o deixou... Antes mesmo que ele tivesse a oportunidade de lutar pela sua futura família com Lety.

 

 

 

 



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