Yoongi
Eu realmente odeio sair de casa.
Odeio com todas as forças sair até para comprar pão na padaria do outro lado da rua. Que dirá para ir a uma festa, socializar. Realmente, não é comigo, não mesmo. Prefiro minha linda e macia cama, um computador bom e uma ótima internet para ver séries.
Porém, como o universo não colabora comigo — ele está contra mim mais especificamente —, me vi obrigado a sair para uma. Certo, não obrigado, mas eu precisava fazer as pazes com o Hoseok — um verdadeiro saco, mas eu precisava.
Então, quando prestei realmente atenção no que estava fazendo, eu já estava vestido — com meu, lindo e inseparável, sobretudo que eu tanto gosto — para sair e com as chaves do carro nas mãos. Decidi que já chega dessa merda de não demonstrar sentimentos — pelo menos para o Hobi —, e me jogar de cabeça nessa joça e depois ficar em depressão e chorar muito, e muitos “es” com um Q de muita tristeza.
Eu realmente ‘tô na merda.
Quando cheguei à festa — vulgo orgia —, caminhei lentamente até a entrada e fiquei lá, parado, por uns bons minutos; até que o dono da festa Baekhyun — o cara mais oferecido da face da Terra — viesse me abraçar e dizer o quanto estava triste e feliz por mim ao mesmo tempo.
Quê?
— Você não engana ninguém, Yoongi. Eu nunca me engano com os sentimentos dos meus saengs — falou sorrindo. Ele segurava um copo de vidro (o que eu acho bem perigoso, levando em consideração que ele é um desastrado com potencial para se tornar um Namjoon da vida) com uma bebida rosa, suas pupilas estavam dilatadas e ele sorria muito. O cara ‘tava bêbado.
— Mas hein? — questionei. O moreno suspirou, pegou em meu pulso (ainda com o sorriso bobo nos lábios) e me puxou para dentro da casa. — O que voc-
— Dá para você esperar um pouco?! — perguntou alto por causa da música que tocava (estourava meus tímpanos) alta; e eu neguei.
— Pare de enrolar, Byun. Diga o que quer — respondi mais baixo e ele me encarou com o cenho franzido.
Suspirou e continuou me puxando. Quando finalmente ele parou de me arrastar, já estávamos na cozinha — junto com um monte de pessoas bêbadas transando nos cantinhos.
Por que eu saí de casa mesmo?
— Eu sou seu hyung, me respeite — disse e bebericou sua bebida. Murmurei um “Cala a boca e fala logo o que quer, merda”. — Essa festa é minha, seu mal educado. — Sentou-se no balcão da cozinha e balançou os pés, como uma criancinha.
— Tanto faz. Fale logo o que quer, tenho coisas para fazer — retruquei, e recebi um olhar bravo como resposta.
O Byun bufou. — Eu realmente queria te dar essa notícia de um jeito melhor, mas já que você insiste em ser um trouxa, não vou ter piedade — disse num tom acusatório e bebericou novamente a bebida. Ficou em silêncio por alguns segundos (infelizmente), e ouvimos gemidos logo ao lado; fiz cara de tédio e o estimulei a continuar. — Bem... Você gosta do Hobi, não é? — perguntou um pouco inseguro se eu não lhe daria um soco. Assenti. Ele se levantou e pegou outra bebida na geladeira. — Mas tipo, ahn, como namorado? — frisou a palavra “namorado” e eu o encarei confuso.
Pensei um pouco. — Talvez. — O quê? Como assim eu disse isso? E tão facilmente! Será que eu estou virando gay? O que minhas mães vão pensar se tiverem um filho gay? Será que vão me deserdar? Será que eu-
— Calma! — exclamou o moreno a minha frente. — Tire essa expressão de pânico do rosto e me escute — disse calmo e bebeu novamente a bebida rosa. Eu devo mesmo ouvir conselhos de um Byun, o que já suficientemente ruim considerando que ele é o Byun, e ainda por cima com cachaça no sangue? Assenti e me sentei no balcão com ele. — Pelo que me parece, você está deixando esse lado “sou hétero, caralho” de lado e aceitando seu lado purpurinado! Aí que orgulho do meu dongsaeng! — exclamou e eu dei um tapa forte naquele braço magrelo.
— Cala a boca, hyung de merda! — gritei sentindo um pouco de indignação. — Eu não ‘tô aceitando lado brilhante coisa nenhuma!
— Claro que não! Que cabeça a minha... — brincou e eu lhe dei outro tapa. — Credo, Yoongi. Essa tua mão pesa, hein.
— Direto ao ponto, Byun. Direto ao ponto — falei e peguei sua bebida, dando um gole na mesma.
Sorriu malicioso. — Direto ao ponto, Yoongi — gemeu manhoso e eu fiz cara de nojo.
— Crendeuspai, Byun. Saí dessa. — Fiz o sinal da cruz e ele riu.
— Se você não me quer, tem quem queira. — Fez biquinho.
Baekhyun por si só já é uma pessoa totalmente aleatória e sem foco. Com álcool no sangue ele piorava umas mil vezes.
— Baek, eu realmente não quero perder tempo aqui. Preciso achar o Hoseok. E acho que ficar falando com você sobre o que eu sinto, ou deixo de sentir por ele, não vai ajudar em nada nessa busca. — Pulei do balcão, pronto para ir embora, mas ele segurou meu braço.
— Yoongi — chamou com a língua enrolada. — Deixa eu te falar... — continuou e soltou meu braço. O encarei. — O Hobi e o TaeTae estão ficando. — Bebericou sua bebida e eu fiquei estático. — Calma! Ele ainda gosta muito de você. Tenho minhas fontes. — Fez uma careta emburrada e sentou-se de perna de índio encima do balcão. — Eu também gosto dele. — Fez bico. — E de você também.
— Resumindo: você é uma piranha — brinquei, mas por dentro eu queria era sair dali correndo, achar Taehyung e socar ele até aquela biscate perder todos os dentes. Mas me limitei a zoar o Byun.
— Cala a boca! — Suspirou. — Me alcança mais uma bebida, seu escroto.
— Não.
— Uma bebida, por uma informação. — Suspirei e peguei outra garrafa na geladeira. — Bom menino.
— Para de enrolar, pelo amor de Deus, Baekhyun! — gritei já de saco cheio daquela ‘encheção de linguiça’.
— Ok, ok. — Abriu a garrafa. — Hobi ainda gosta de você, por mais incrível que isso possa parecer, e não me pergunte o porquê disso, porque eu realmente não faço ideia. Taehyung por mais gostoso se seja, ainda é um tapado quando o assunto e cuidar de alguém, ou simplesmente fazer qualquer coisa que não seja respirar. — Ele falando mal do Kim me fez lembrar de mim mesmo. — E o seu precioso amigo Hobi, está aos cuidados do maluco. — Gelei. Eu realmente não quero enterrar o Hoseok tão cedo. — O desgraçado, e muito gostoso do Jimin, o deixou sozinho com aquele maníaco. — Suspirou e bebeu novamente, só que agora, diretamente na garrafa. Seu fígado te ama, hein Byun. — Você acredita que ele queria me assassinar só por abraçar aquela delícia que é o Hoseok? — Colocou a mão no peito dramaticamente. Eu queria mesmo era colocar minha mão na cara dele, mas me limitei apenas a concordar e não matar ninguém.
Ele ficou um bom tempo em silêncio — pensei até que tinha dormido de olhos abertos — e eu troquei o peso do corpo para a outra perna.
Limpei a garganta e ele deu um pulo. — E?
Encarou-me confuso. — E o que você ainda está fazendo aqui? — questionou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Esperando você continuar, ué.
— E precisa continuar? — Suspirou. — 'Tá legal, vou falar com todas as palavras já que você é um tapado: Vai. Atrás. Do. Teu. Macho — disse pausadamente apontando para a porta com uma das mãos, e eu senti vontade de me socar.
Porra, Yoongi!
Virei de costas, e já estava correndo até a porta da cozinha quando o moreno gritou um “Sou muito mais você, Yoongi!”
Sorri para mim mesmo e saí às pressas daquele pequeno motel que uma vez foi uma cozinha.
Empurrei muitas pessoas até conseguir achar Hoseok, e cara, eu sinceramente não queria tê-lo encontrado. O motivo? Fora ele estar com a língua na garganta do Taehyung, mais nenhum.
Eu fiquei com tanta raiva, mais tanta raiva, que as pessoas a minha volta chegavam a ficar desfocadas e o centro delas era aqueles dois se pegando. Meus dedos doíam de tanto que eu os pressionava contra a palma da minha mão. Eu realmente ia matar Kim Taehyung.
Assim que eles se separaram, vi minha chance de espancar aquele loiro desgraçado. Andei até eles, enquanto Hoseok conversava com o Kim, e eu acho que não gostou nenhum um pouco do que o Jung disse, mas não pôde dizer mais nada, porque meu punho já estava de encontro a sua face desgraçada; o garoto logo cambaleou e algumas pessoas o impediram que caísse no chão.
— Mas que mer- — disse o Kim um pouco desnorteado enquanto se desvencilhava dos braços que o mantiveram de pé.
Ignorei e iria partir para cima dele, se Hoseok não tivesse em minha frente, impedindo-me de quebrar aquela cara falsa do Taehyung.
— Yoongi... seu desgraçado! — gritou o ruivo.
Ele estava bêbado. Taehyung o beijou bêbado! Eu vou matar esse desgraçado!
— Saí da frente, Hoseok! — gritei de volta.
As pessoas já formavam uma espécie de roda a nossa volta. Alguns cochichavam, outros estimulavam a mim ou a Taehyung a brigar. Odeio essas coisas.
— Não... Yoongi! Você me deixou sozinho aqui... — Seus olhos fechavam e voltavam a abrir, lentamente, a cada palavra pronunciada. — Suga, eu nã- — Seus olhos fecharam e ele caiu em um baque no chão.
— Meu Deus! — gritei e corri para acudir o garoto no chão.
— Saíam da minha frente, merda! — Era Baekhyun abrindo espaço para entrar na “rodinha”. — Leve o lá para cima, Yoongi — disse sério e eu assenti.
Andamos até o quarto e coloquei Hoseok deitado na cama. Ele fica tão bonitinho dormindo. A única coisa que estava ajudando meu mau humor a crescer cada vez mais — se é que isso é possível — era Taehyung ali.
Eu o fuzilava com o olhar enquanto segurava a mão do meu amigo em praticamente coma alcoólico.
— Bem... — começou Baekhyun tentando desfazer a tensão daquele quarto. — Eu vou descer porque a festa não pode parar! — Levantou uma mão como uma líder de torcida do colegial (com direito ao pezinho no ar) e sorriu sem graça logo após. Eu sinceramente ainda não entendi como o Baekhyun ainda está de pé depois de tanto álcool que ele ingeriu. Sério, o que ele tomou, somente na minha frente, provavelmente é o tanto que Hoseok tem dentro do corpo. E compare os dois: um em coma e o outro fazendo gayzisses praticamente sóbrio. — Certo... Preciso ir. Não se matem. — Virou-se e caminhou até a porta, segurou a maçaneta e nos encarou de novo.
— Taehyung vai com você, Byun — decretei com os dentes cerrados e o loiro negou com a cabeça olhando para mim.
— Não vou — retrucou firme. — Vou ficar com o Hobi!
— Vaza daqui, Kim. Quando era ‘pra estar com o Hoseok, você o deixou bêbado e desacordado. — falei sério, encarando o loiro. Meu sangue fervia. — Ficar aqui só vai resultar em brigas, e aumentar minha vontade de bater sua cabeça na parede, seu irresponsável! — gritei e ele desviou o olhar. Suspirei tentando me acalmar. — Vá embora que quando ele acordar eu te aviso — disse mais calmo e ele assentiu devagar, ainda com feição de culpa. Tudo culpa sua, idiota!
—Paz! — gritou o Byun e abriu a porta, se esgueirando para fora. Taehyung o seguiu e de despediu com um “Me ligue qualquer coisa, por favor!” Vou ligar é uma cerra elétrica para cortar sua cara. Babaca.
Fiquei em torno de três horas com Hoseok; eu estava praticamente dormindo no chão com a cabeça escorada na cama, quando ele acordou chamando meu nome de um modo sonolento. Levantei num pulo e ele gemeu de dor. Aí, droga!
— Desculpe — pedi, enquanto sentava na beirada da cama, e ele gemeu um “Uhum”.
— Yoongi — disse e abriu os olhos devagar. Peguei em sua mão e o estimulei a continuar com um “Hum?”. — Eu estou muito emocionado... Você é tão lindo... — Olhou para mim e começou a chorar. Meu Deus, socorro!
— Por que está chorando, Hobi?! — perguntei desesperado, enquanto acariciava seu rosto com a mão esquerda.
Fungou e colocou sua mão por cima da minha. — Meu crush está cuidando de mim. É muito emoção... — Fungou. — Para o meu pobre coraçãozinho. — E desandou a chorar.
— Meu Deus! — exclamei desacreditado que ele ainda estava bêbado. — Hoseok! Deita aí, agora! – ordenei quando ele se sentou na cama.
— Não, Yoongi... — Ele travava uma batalha, difícil de ser ganha, com seus olhos que insistiam em ficar fechados. —Preciso ver isso de perto. Digo, meu crush cuidando de mim... — Sua língua enrolava a cada frase me fazendo rir internamente daquela cena. —... Preciso ver de pertinho. — Arregalou os olhos para mantê-los abertos e eu ri.
— Cala a boca, pelo amor de Deus, Hoseok. — Coloquei minha mão em seu peito o empurrando para baixo, para que se deitasse novamente, mas ele nem se mexia. Quando foi que ele ficou forte?
— Yoongi, pare de me molestar e cuide de mim direito — disse malicioso. Olhou para o teto e começou a chorar de novo. — Sabe Suga, eu ‘tô emocionado... porque nunca... porque nunca pensei que meu senpai me n-notaria. — Fungou e começou a rir que nem um retardado.
Eu, sinceramente, estava ficando com medo.
— Hobi... — comecei, torcendo para que ele parasse de tagarelar e me ouvisse. Coisa que não aconteceu. — Aí, Jesus Cristo! Jung Hoseok me escuta! — gritei e nada do garoto parar de falar merda, ou de chorar.
Para falar a verdade, eu já estava de saco cheio daquela boca linda ficar se mexendo sem necessidade. Então, fiz o que qualquer um na minha situação: calei Hoseok. Porém, meu diferencial foi que fiz isso com a minha boca.
Os lábios dele eram tão macios quanto aparentavam ser, seu corpo amoleceu completamente quando minha língua tocou a sua. O beijo tinha gosta de álcool e tangerina — o que era uma ótima combinação. Segurei em seu ombro com uma de minhas mãos, e a outra fora para seus cabelos macios. Hoseok agarrava minha blusa como se fosse a única coisa que o matinha de vivo. O ósculo teve fim pela falta de ar, que os nossos pulmões tanto pediam. O encarei por alguns segundos. Ele sorria como uma criança que ganha seu doce preferido e seus lábios estavam um pouco inchados e vermelhos; me permiti sorrir pela cena.
Até que minha calma momentânea se desfizesse por causa do ruivo, que resolvera sorrir mais, e simplesmente, desmaiar na cama.
Fiquei estático olhando para o corpo do meu amigo ali naquela cama, ainda com um sorrisinho bobo nos lábios.
O que aconteceu aqui?!
Ele ‘tá morto? Não, ‘tá respirando ainda.
Eu beijei um Hoseok bêbado?
Sim, o beijei. E o pior: eu gostei muito.
Será que eu estou mesmo “Aceitando meu lado purpurinado?”
E o pior, eu tenho “Um lado purpurinado?”
Eu não sou gay.
Ou sou?
Ah, foda-se.
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