História I'm afraid - Singing

Hoseok

— Vamos a algum lugar divertido amanhã? Só nos dois. Vai ser legal, eu prometo!

Por que, vida? É legal me ver tomando no cu?

— Ahn... Tae, eu... — tentei falar alguma coisa, inventar uma desculpa, mas não consegui. Encarar o nada, com a boca aberta, que nem um bobão, e pensar nas merdas que eu faço diariamente me pareceu mais interessante.

— Você não quer ir, Hobi? Por mim tudo bem. Eu... Desculpa... — Eu sou tão idiota! Taehyung, por que você sai comigo mesmo?!

— Não! Você entendeu errado! — Então explica ‘pra ele, Hoseok! Explica que vai sair com outro macho, babaca!

Minha consciência me ajuda tanto nesses momentos.

— Sério, Hobi. Tudo bem mesmo-

— Não! É que eu tenho uns assuntos ‘pra resolver amanhã. Pode ser na terça? — Diz que sim! Diz que sim!

— Claro! Por mim tudo bem — deu uma pausa. — Mas tem certeza de que quer ir mesmo? Se você não quiser, Hobi, tudo bem mesmo. Eu-

— Kim Taehyung, eu quero sair com você mesmo! Eu gosto muito de você, ok? — E do Yoongi também, né, não esquece.

Cala a boca consciência escrota! Quando era ‘pra me impedir de aceitar sair com o Yoongi ‘cê não disse nada. Ficou até toda felizinha. Traíra.

— Ahnn Hobi! Que vontade de te morder! Eu também gosto muito de você! — Repete comigo: eu não mereço o Taehyung. — Preciso desligar, Hobi. Minhas primas chegaram. — Dei um riso soprado lembrando-me de como ele chegou aqui em casa depois que suas primas o “arrumaram”. Rendeu-me muitos risos.

— Tudo bem, TaeTae. Tchauzinho. — Nossa, Hoseok. Que gay.

— Nos vemos amanhã. Beijo, Hobi — disse e fez um som de beijinho.

E foi com essas lembranças que eu acordei na terça-feira de manhã, psicologicamente acabado para mais um dia de escola, mas com um sorriso no rosto ‘pra disfarçar.

E o pior de tudo: acho que estou apaixonado.

Agora, por quem, eu não tenho certeza. Mal sei que dia do mês é hoje, que dirá saber sobre meus sentimentos — que são mais confusos que transformação triângulo-estrela*.

Com a vontade de viver negativa, fui me arrumar para dar uma passadinha lá em Edom, também conhecida como escola pelos adultos, enquanto tentava juntar forças focando minha mente no meu encontro com Taehyung à noite.

— Bom dia, Hobi hyung! — cumprimentou-me todo amorzinho Taehyung com um abraço apertado daqueles que só ele sabe dar, quando cheguei naquele lugar horrendo que cheira a dor. A escola.

— Bom dia, Tae. — Beijei aquela bochecha fofa até ficar vermelha.

Bem que eu queria beijar outra coisa...

— Oi, Hobi. Oi, Tae — disse Yoongi sorrindo, enquanto passava por nós.

Dá um pause na cena porque meu raciocínio fica mais lento de manhã do que normalmente é: Yoongi? Sorrindo? De manhã cedo? Yoongi sorrindo de manhã cedo? Para mim e ‘pro Taehyung? Yoongi sorrindo de manhã cedo para mim e ‘pro Taehyung?

Sequestraram meu melhor amigo e colocaram outro no lugar?

Isso não ‘tá certo, produção!

 Aí tem! Escreve o que eu ‘tô dizendo.

— Hobi? — Taehyung estalava dois dedos em frente a minha cara. Gente, quanto tempo eu vegetei?

— Oi, Tae — dirigi minha atenção ao outro deus grego na minha frente. Que coxas, hein,Taehyung, meu Deus do céu... ‘Tá de parabéns.

— Pode ser? — deixei de secar ‘discretamente’ as coxas do menino e me forcei a somente olhar naqueles olhos, naquela boca... Que boca, hein, Taehyung. Meu Deus...

— Pode ser o que?! — Acho que saiu um pouco desesperado demais porque ele me olhou um pouco espantado. Calma, pode fazer o que quiser comigo, sem problema nenhum-

— Eu te pegar as sete? — Se quiser pode ser a noite toda, gato.

— Claro! — Gente, ‘tô cachorrão demais ultimamente. Cadê aquele garotinho que chorava vendo Naruto?

As aulas passaram como qualquer outro dia comum, em uma escola comum, com alunos comuns: muito desespero, fome e sono. Nada de novo.

Exceto pelo fato do Yoongi ter conversado super de boa comigo e com o Taehyung.  Juntos!

Eu acho que o apocalipse ‘tá vindo.

Você pode não saber, mas eu sou um exagerado. Sempre fomos amigos, mas por algum motivo misterioso — mais misterioso que o porquê de ter filosofia no currículo escolar — eles não se falam como antes.

Eu já disse que aí tem? Por que aí tem!

Voltei ‘pra casa me arrastando pelas ruas com Yoongi no meu encalço. O lado bom é que ele fica quieto e me deixa sofrer calado. O ruim, é que eu ‘tô em silêncio com o crush enquanto me arrasto pelas ruas e sofro calado.

Que merda essa tal de vida, hein?

 — Você quer ir jogar vídeo game lá em casa, Hobi? Saiu aquele jogo que a gente ‘tava esperando. — Bem, talvez eu não esteja tão na merda quanto estava pensando.

— Sim! — exclamei e me joguei no crush/melhor amigo, porque, cara, eu ‘tava muito feliz! Era o jogo do Naruto que eu ‘tava esperando há uma vida! Sou bem otakinho mesmo, não gostou me processa. — Mas preciso ir embora cedo, Yoon. — Traduzindo: preciso sair cedo da sua casa para encontrar o outro esquema.

— Tudo bem — disse e sorriu doce.

— Ganhei ‘saporra de novo! — gritou aquele louco que atende por Yoongi, enquanto comemorava sua vitória (comprada) chacoalhando o quadril para lá e para cá. Isso ai é meu crush por que mesmo? — Se ajoelhe perante minhas habilidades! — Só eu que pensei besteira? Aí, socorro! Acabei de descobrir que sou um pervertido.

— Aquieta o facho, toquinho de amarrar bode — disse me levantando do chão e dando alguns tapinhas na minha calça para tirar o pó dali.

— O que tu disse? — Andou em minha direção com os punhos cerrados e uma expressão muito amedrontadora. Ui.

— Nada não, migo — dei um beijinho em seu nariz. — Eu preciso ir, depois conversamos. — Abri a porta e já estava me esgueirando para fora do quarto quando Yoongi segurou meu pulso esquerdo delicadamente.

— Você vai ir ver o Taehyung, não é? — perguntou, encarando meus olhos profundamente. Senti-me tão nu naquele momento.

Assenti um pouco inseguro.

Omitir detalhes é uma coisa, mentir é outra.

Yoongi soltou meu braço e eu já esperava que brigássemos feio. Imagina se o cara que você ‘tá saindo, estivesse saindo com outro cara, enquanto sai com você? Merda na certa.

Quando senti os braços de meu amigo me envolverem, jurei que ele iria me matar sufocado.

— Bem, parece que a concorrência é grande — falou calmo e me deu um beijo na bochecha, sorrindo. — Bom encontro, Hobi. Até amanhã. — E fechou a porta, deixando um retardado, vulgo eu, com a maior cara de “WTF” para trás.

Resolvi que ficar ali encarando a porta do quarto do meu melhor amigo não ia me deixar lindo e cheiroso ‘pro outro boy — eu sei, dá vontade de me bater por ser cachorrão desse jeito —, então logo desci as escadas da casa de Yoongi e fui para a minha a mil por hora.

Quando eram sete horas — em ponto! —, Taehyung buzinou na frente da minha casa e eu fui andando todo glamoroso até seu carro.

— Você está belíssimo, Senhor Jung — declarou Taehyung, todo metido a galanteador e extremamente formal, enquanto eu lutava contra o cinto de segurança.

Soltei aquela arma do satã e analisei o Kim de cima a baixo. — Você também está um chuchuzinho, Senhorito Kim.

— Oh, muito gentil da sua parte, Senhor-

— Me chame só de Hoseok.

— Oh, muito gentil da sua parte, Hoseok — repetiu.

 Nos encarávamos como dois retardados, segurando o riso para manter o papel de interpretação ruim que fazíamos no carro cheiroso do meu futuro marido. Desisti de parecer sexy quando Tae começou a gargalhar loucamente, fazendo às vezes o som de um porquinho. Muito fofo. E nada sexy.

— Bota essa carroça ‘pra andar porque eu ‘tô curioso ‘pra saber aonde a gente vai — falei brincalhão enquanto ele recuperava o fôlego depois de tanto rir.

— ‘Pra já, madame. — Ligou o carro e a música, e fomos para o local do nosso “encontro”.

E que local!

Se você ‘tá pensando que é algum restaurante chique, que eu preciso vender boa parte dos meus órgãos internos para ter somente a reserva, está totalmente enganado.

Uma vez, Tae e eu estávamos conversando sobre coisas que gostávamos e bem... Ele ainda lembrava! Olha que boys maravilhosos eu tenho, lembram de tudo!

— Taehyung eu te amo! — cochichei exclamativo para o loiro ao meu lado que sorriu bobo aquele sorriso quadrado de tirar o fôlego... Essa sua boca é minha perdição, Taehyung!

— Que bom que gostou, Hobi — declarou, enquanto pegava em minha mão e me guiava para dentro do local; meus olhos brilhavam analisando o local e Taehyung suspirava baixinho e aliviado para si mesmo, e eu ouvi até um ‘ufa’ vindo dele.

O karaokê era muito grande e barulhento — melhor para as pessoas que tivessem que me ouvir cantar —, então não foi surpresa nenhuma quando me perdi de Taehyung umas, sei lá, quatro vezes — resultando em um desesperado na cabine do DJ do local procurando pelo namorado ruivo, eu, perdido.

No final na noite, ele já estava próximo do cara.

— Hobi! — A criatura loira me abraçou forte enquanto eu gritava seu nome para que pudéssemos ir logo cantar mais uma música. — Para de sumir assim! — repreendeu-me meu dongsaeng.

Isso mesmo que você leu: meu dongsaeng!

Eu sou uma vergonha mesmo.

— ‘Tá — murmurei um pouco emburrado e ele me deu um beijinho no nariz. — Vamos logo, eu quero cantar uma especial agora! — gritei para que me ouvisse e o arrastei até uma das televisões grandes do local.

— O que nós vamos cantar agora, Hobi? — perguntou-me desconfiado o loiro. — Não é Touch My Body* de novo, né? Nada contra, mas vamos outra antes...

— Achei! — gritei para que ele parasse de resmungar da minha música preferida. Qual é, foi só umas vinte, ou trinta vezes...

Taehyung olhou para a tela e riu como um velho quando bate aqueles momentos de nostalgia.

— Vamos mandar ver, Hobi senpai! — exclamou meu futuro marido, de modo muito gay, e deu play na música do meu anime preferido.

Yakusoku no Kizuna* não é qualquer música, não viu? É minha segunda música predileta, então se você acha que pode falar que ela é enjoativa, ‘tá muito enganado!

Cantamos aquela maravilha sonora — mas que em nossa voz pareceu um garfo raspando num prato —, com direito a coreografia e tudo, afinal, TaeTae também é fã do anime! Olha só, quantas vantagens de namorar esse lindo.

Mas o Yoongi olha Naruto comigo... Tae não gosta da raposinha...

Eu já disse que eu ‘tô fodido, hoje? Pois é, eu ‘tô.

— Quer comer alguma coisa, Hobi senpai? — Eu já disse o quanto adoro que me chamem de senpai? Gosto mais que hyung.

— Onde? — questionei, segurando sua mão que me guiava para a saída.

Tchau, karaokê!

— Você escolhe. Lancheria ou restaurante? — Olhei em meu relógio e vi que já era bem tarde. O máximo que encontraríamos aberto eram aqueles restaurantes caros, ou os barzinhos de esquina... Se bem que tomar umas não seria tão mal...

— Qualquer coisa. Eu ‘tô com fome de qualquer coisa. — Essa frase fez menos sentido do que a minha vida.

— Que tal eu? — perguntou-me sorrindo malicioso e acariciando minha mão.

‘Pera...

Meu Deus! Meu Kami! Meu Alah! Meu Santo Gd!

“Que tal eu?” “Que tal eu, Taehyung?!” Socorro!

Eu estaria traindo o Yoongi se pegasse esse outro deus grego na minha frente? Porque, menina, eu não estou em condições de negar, nem se eu quisesse, o Taehyung.

Argh! Não me provoque, Kim Taehyung!