História I'm afraid - Surprise

Hoseok

Aonde ele foi? E por que fez isso?

O simples fato de termos tido uma “briga” já fez minha fértil imaginação pensar em mil e umas possibilidades, e em todas a culpa era minha.

Resolvi perguntar ao Kookie sobre o paradeiro do garoto, até porque ele era a dupla do Min. Ele disse que não o viu desde o começo da manhã, quando eu saí da conversa e ele me seguiu.

Droga.

Pensei em mandar mensagem, ou ligar, mas o conhecendo como conhecia, sabia que ele me ignoraria.

Então, resolvi aquietar a cabeça e prestar atenção na professora. Quando a aula acabasse eu iria procurá-lo.

As horas se arrastavam, eu já nem ouvia o que a professora falava. Estava em outro mundo. Quando, finalmente, o sinal do intervalo tocou, resolvi que iria procurar Yoongi no mesmo momento.

Disse aos garotos que iria para casa porque não estava me sentindo muito bem.

Eles assentiram, desejaram melhoras e que depois passariam lá em casa para me levar, vulgo arrastar, para o cinema caso eu já estivesse um pouco melhor.

Concordei sorrindo e fui.

Eu tinha os melhores amigos do mundo.

Andei até a casa de Yoongi, que não era muito longe da escola e ao lado da minha, sabendo que ele estaria lá.

Peguei a chave que estava no vaso de plantas ao lado da porta e entrei.

Andei pela sala, cozinha e nada do menino.

— Deve estar no quarto. — disse para mim mesmo e subi as escadas.

Quando estava no corredor ouvi gemidos e vozes.

Não simples vozes.

Vozes masculinas.

Paralisei na frente da porta do quarto de meu amigo.

Estava com medo de abrir a porta e dar de cara com uma cena que eu sei que acabaria comigo, mas a curiosidade era demais para mim.

Abri a porta, lentamente, logo em seguida congelando em frente à cena que vi.

Yoongi

Lembro-me como se fosse ontem quando conheci Hoseok.

Era um dia ensolarado de primavera, eu tinha sete anos e estava sentado em frente à porta de minha casa, jogando algum jogo qualquer, quando um caminhão de mudança estacionou ao lado dela.

Não tínhamos vizinhos há uns anos, segundo minha mãe, e agora teríamos.

Não vi ninguém além de homens que descarregavam os móveis do veículo, para logo em seguida entrarem na casa carregando os mesmos.

No dia seguinte, um feriado de segunda-feira, nossos novos vizinhos chegaram.

Minhas mães estavam tão empolgadas e queriam logo fazer amizade com aquele pessoal desconhecido.

Logo uma delas foi à casa ao lado convidar nossos novos vizinhos para jantar em nossa casa e eles aceitaram.

Passei o dia todo entediado e lendo algum livro aleatório sozinho, até que minha mãe bateu na porta do meu quarto avisando que era para eu ir ao outro banheiro que minha outra mãe estava lá para me dar banho. Assenti e fui.

Minhas mães são as melhores mães do mundo, uma se chama Ayumi e a outra Jiwoo; uma é japonesa e a outra coreana. Elas superaram a barreira do idioma, do país e a do preconceito; e eu as amo mais que tudo.

Ayumi me deu banho de banheira; ela é sempre tão carinhosa e cuidadosa comigo.

Enquanto tomava banho minha outra mãe fazia o jantar no andar de baixo, ela era a melhor cozinheira do mundo.

Depois que tomei banho, fui me vestir enquanto minha mãe também ia para o banho para depois assumir a cozinha e Jiwoo ir tomar o seu.

Quando Ayumi terminou e estava descendo as escadas a campainha tocou, fazendo-a ir atender.

Entraram um casal e um garotinho menor que eu.

Cumprimentaram-se e foram se sentar no sofá para conversar.

Eu ia subir novamente para meu quarto quando minha mãe, Ayumi, me chamou e me disse para levar o garoto comigo. Assenti a contragosto e puxei o garoto escada acima comigo.

Quando entramos em meu quarto, sentei-me sobre minha cama encarando o pequeno garoto que estava escorado na porta fechada, menor ainda por estar encolhido.

— Meu nome é Min Yoongi, e o seu? — o garoto me olhou assustado com minha fala repentina.

— Ho...seok — disse com a voz baixa.

— Hum, ‘tá bom, Hoseok. — disse enquanto o garoto ainda me encarava com aquela expressão assustada. — Olha, minha mãe mandou ser legal e fazer amizade, mas se você não quiser falar comigo e quiser continuar com essa cara de cachorro assustado, pra mim ‘tá beleza. – Continuei enquanto deitava na cama e arrumava travesseiros em minha volta para ficar mais confortável, ignorando o menino em minha frente.

— Qual delas é sua mãe? — ele perguntou.

— As duas — disse, nem me dando ao trabalho de levantar a cabeça para olhá-lo, mas sabia que estava com uma expressão confusa.

Não é muito comum você ter duas mães.

— Mas como... — ele falou confuso, talvez tentando criar alguma hipótese para explicar isso.

Sentei-me na cama encarando o garoto que estava no mesmo lugar, mas agora tinha uma expressão confusa em seu pequeno semblante. Soltei um riso soprado com a cena; ao me ver rir ele logo ficou vermelho.

— Ora, o que foi? — perguntou um pouco bravo.

— Você aí, criando hipóteses para minhas mães. Não é todo mundo que tem o “casal” tradicional como família. – respondi um pouco sério.

— Desculpe, não foi minha intenção... — disse se desculpando.

O problema era: pelo que ele se desculpava?

— Você não disse nada de mais, não peça desculpas. —falei e fiquei em silêncio por alguns instantes. — Ayumi e Jiwoo, japonesa e coreana, minhas mães, as duas, igualmente. E sua família? — perguntei vendo o garoto já abrir um grande sorriso.

— Jihyun e Kyuson — respondeu ele ainda sorrindo.

Ele era realmente muito adorável.

— Você quer jogar alguma coisa? — perguntei e ele assentiu.

Jogamos até o jantar ficar pronto, depois descemos e comemos.

Já era tarde quando eles foram embora.

O tempo se passava e havia muitos jantares em ambas as casas, me tornando cada vez mais próximo de Hoseok. Minhas mães ficaram muito amigas dos nossos novos vizinhos e são até hoje em dia.

O garoto com expressão de cachorrinho assustado tornou-se meu melhor amigo.

Mas de um tempo pra cá, acho que amizade não é mais a palavra que defina meus sentimentos para com Hoseok.